A confissão de Westminster afirma que Desde
toda eternidade, Deus, pelo muito sábio e santo conselho de sua própria
vontade, ordenou livre e inalteravelmente tudo quanto acontece, porém de modo
que nem Deus é o autor do pecado nem violentada é a vontade da criatura, nem é
tirada a liberdade ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas
(3.1). Essa afirmação cuidadosa diz que:
1. Tudo o que acontece é ordenado pela
vontade de Deus.
2. Deus
não é o autor do pecado.
3. Nenhuma violência é feita à vontade da
criatura.
4. A contingência das causas secundárias é
estabelecida pela preordenação divina.
Essas afirmações implicam uma visão específica da relação que Deus tem com o pecado e outros males. Eles estão todos inclusos na ordenação livre e imutável de Deus, ao mesmo tempo em que Deus não é o autor do pecado. Isso é assim: primeiro, porque Deus não viola a vontade humana, forçando as pessoas a pecar contra elas e, segundo, porque as causas secundárias que dão surgimento ao pecado são asseguradas em suas operações pelo mesmo sábio e santo conselho que assim ordena. Deus é a primeira causa de tudo o que acontece (incluindo todos os males), porque como Criador ele causa tudo quanto acontece. As “causas secundárias” são as últimas coisas na sequência dos eventos (como Satanás, Adão e eu), de quem os pecados procedem diretamente. Essas causas secundárias são os autores do pecado, porque elas são a causa direta do pecado. Segundo a Confissão de Westminster, Deus é santo e separado do meu pecado por não ser a causa direta (o autor) dele. Uma causa pode ser última (da qual Deus é a causa original) ou pode ser imediata. Portanto, o pecador, não Deus, é o autor do pecado pela mesma razão que um pai não é o autor do livro de seu filho.
A concepção de que a Confissão
tem desse assunto sumariza a visão do próprio João Calvino em seu tratado Sobre a Eterna Predestinação de Deus (1552).
Primeiro, deve ser observado que a vontade de Deus é a causa de todas as coisas que acontecem no mundo; e, todavia, Deus não é o autor do mal (pág.169), Porque a causa imediata é uma coisa, a causa remota é outra (p.181). Todavia, certas pessoas sem-vergonha e mesquinhas nos acusam com calúnia de sustentar que Deus é o autor do pecado, se sua vontade é considerada a causa primeira de tudo o que acontece.
Calvino rejeita especificamente o desvio de que os males vêm a existir, não por sua vontade, mas meramente por permissão (p.176). Ao contrário, a vontade de Deus é a causa principal de todas as coisas. Mas as causas remotas ele esconde em si mesmo, de forma que dentre elas o que ele torna possível por elas é necessário. Deus não faz nada sem a melhor das razões. Mas visto que a regra mais certa de justiça é sua vontade, ela deve ser, se eu posso dizer, a razão principal de todos os nossos raciocínios.
Primeiro, deve ser observado que a vontade de Deus é a causa de todas as coisas que acontecem no mundo; e, todavia, Deus não é o autor do mal (pág.169), Porque a causa imediata é uma coisa, a causa remota é outra (p.181). Todavia, certas pessoas sem-vergonha e mesquinhas nos acusam com calúnia de sustentar que Deus é o autor do pecado, se sua vontade é considerada a causa primeira de tudo o que acontece.
Calvino rejeita especificamente o desvio de que os males vêm a existir, não por sua vontade, mas meramente por permissão (p.176). Ao contrário, a vontade de Deus é a causa principal de todas as coisas. Mas as causas remotas ele esconde em si mesmo, de forma que dentre elas o que ele torna possível por elas é necessário. Deus não faz nada sem a melhor das razões. Mas visto que a regra mais certa de justiça é sua vontade, ela deve ser, se eu posso dizer, a razão principal de todos os nossos raciocínios.
O leitor é remetido à seção
10, intitulada Providência (pág. 162-185), onde o grande Reformador resume sua
posição.
A Responsabilidade Novamente
Eu já observei que a palavra responsável é simplesmente sinônima de responder por, e que a Bíblia baseia a responsabilidade humana em três coisas:
1. Há o direito do Criador de
fazer o que ele quer com sua criação (Mt 20:15; Rm 9:18-23). Portanto, a
criatura está obrigada a prestar contas a Deus, se assim for chamada para fazer. Neste sentido mais
fundamental, Deus não pode ser responsável por tudo o que ele faz, porque não
há ninguém a quem ele tenha que prestar contas. A alternativa oferecida pelo
arminianismo é que eu chamo a Deus para
que preste contas simplesmente porque apelo para minha consciência instintiva
de que, nesse caso, deve haver um bem supremo que é maior que o próprio Deus.
Simplesmente essa não é uma solução cristã para o problema. É apenas um
humanismo escondendo-se por detrás da linguagem da piedade tradicional.
2. Somos responsáveis no
sentido em que um cozinheiro é responsável pela comida que ele faz, isto é, ele
é quem a faz. Portanto, os pecadores pecam, e tendo pecado, são responsáveis
pelo que eles fizeram. Do mesmo modo Deus é responsável pelo mal em três
sentidos:
a. Ele criou um mundo no qual
o mal era inevitável, dadas as condições iniciais da Queda.
b. Ele permite muitos males
que facilmente ele poderia evitar ou aliviar.
c. Ele continua a sustentar a
existência do mundo de tal modo que os males continuam.
Para o cristão, este é o mundo de Deus. Ele não é possuído por Satanás, nem é feito de uma matéria misteriosamente má, emergindo de uma caos anterior (compare com Flew, God and Philosophy, parágrafo 2.34, 2.39, p. 43-47).
Todavia, Deus não é
responsável pelo mal no sentido em que ele não é responsável perante ninguém.
Ao contrário, o, pecador é responsável diante de Deus. Esta é claramente a
perspectiva de Paulo em Romanos 9:11.
3. Há graus de
responsabilidade de acordo com os graus de conhecimento que temos. Aqueles que
pecam tendo mais conhecimento serão punidos mais severamente. Enquanto Deus tem
um conhecimento de todos os seres passados e futuros, não há ninguém contra
quem ele possa pecar, porque sua vontade é o padrão do bem, diz Calvino, contra
Sócrates.
Se temos essa base bem clara
na Bíblia para nosso conceito de responsabilidade, que necessidade mais temos
de uma teoria extra bíblica que realmente solapa a conexão entre a pessoa e o
ato, legando uma vasta esfera da realidade ao caos e a antiga escuridão, sem
ter a sustentação para a responsabilidade?
Precisamos chegar a um acordo
com todos os dados da Bíblia sobre o alto grau de controle divino tanto sobre
os eventos físicos como mentais. Se minha ideia de Deus não pode estar à altura
desses dados da revelação, tanto pior
para “minha ideia” de Deus. Quanto mais omitimos da Bíblia em nosso ensino para
essa geração, mais a próxima geração se sentirá livre para se afastar ainda
mais longe do que nós da plenitude e da coerência da cosmovisão cristã.
Quando Paulo despediu-se dos
presbíteros de Éfeso (Atos 20:17-35),
ele assinalou dois pontos que são
relevantes aqui. Ele os advertiu dos falsos mestres que estavam surgindo na
própria igreja e disse-lhes que deviam ensinar todo o conselho de Deus, não apenas as poucas coisas que as pessoas
queriam ouvir. Na sua última carta, ele disse que tempo viria quando a Sã
Doutrina se tornaria universalmente impopular e que, quando isso viesse sobre
as igrejas, a resposta correta seria ensinar, de algum modo, todo corpo da
verdade revelada (2Tm 4:1-5).
A questão da
responsabilidade é, portanto, a reflexão
na esfera moral da relação entre a criatura e o Criador, da ontologia do
próprio fato da criação. Ela está severamente prejudicada pela introdução do
vírus auto reprodutor do autonomismo apóstata num programa coerente sob outros
aspectos.
Autor:
R.K.
MacGregor Wright
Trecho extraído do livro A Soberania Banida, pág 216-218.
Editora: Cultura Cristã