Vamos deixar claramente
afirmado aqui que o problema do mal pode ser resolvido de uma maneira honesta e
franca propondo-se que, se Deus decide predestinar ou decretar males
específicos, por qualquer propósito que possa ter, quem somos nós para discutir
com Deus (Romanos 9: 19-24)? Contudo,
não importa quão aborrecido isso possa ser para mente carnal, Deus é o ponto de
referência para tudo que é bom, não eu, um pecador. Se já houve uma aplicação
prática da oração de Jesus não seja feita a minha vontade, mas a sua (Lucas
22:42), foi esta. O bem é bom porque Deus determina assim, não porque ele se
ajusta à minha irrelevante concepção inata de como as coisas deveriam ser. É
totalmente fora de propósito que eu possa pessoalmente preferir que as coisas
sejam de modo diferente. O sofrimento humano é um corpo de dados que deve ser
interpretado de acordo com as pressuposições antes que ele possa ser entendido
em qualquer sentido. Ele não significa nada por si mesmo, não obstante quão
horrível nós o possamos achar.
Mas os “padrões ordinários” do
bem e do mal são exatamente os que estão sendo questionados pelo cristão que
quer que o incrédulo desista de si mesmo
como padrão final e clame a Deus por justiça. Isso não é um problema para o
cristão. Ao contrário, é o ponto principal da chamada do evangelho ao arrependimento.
Um arrependimento que não toca nas suposições controladoras de uma pessoa e
demasiadamente superficial para valer a pena. Com relação a nossa “[adoração]
do poder em si”, esta é uma deturpação estranhamente reducionista de nossa
posição, que no mesmo capítulo ele esteve ansioso para mostrar, que tem
implicações internas importantes muito além da soberania criada ‘per
se’.
Flew dificilmente consegue
esconder a sua ira (ou repugnância) para com aqueles de nós que sustentamos
essa posição, mas ele está determinado a ser franco a respeito do que isso
significa. Ele admite novamente que, se Deus é o seu próprio para o bem, isso
oferece uma solução decisiva para o problema do mal (parágrafo 5.21, p. 109).
Mas ele não pode parar por aí. Ele deve fazer essa admissão parecer demasiada e
horrivelmente dúbia para ser atraente. Ele insinua que ela não é “decente” (p.50), e logo depois
“desconfortável” e o “último refúgio” da apologética (p.51). Ele chega a
invocar a autoridade de Piaget chamando-a de “infantil”. Anteriormente ele
havia chamado de “górdia”, uma referência à história grega a respeito de
Alexandre, que resolveu o problema de como desatar o nó misterioso cortando a
corda arbitrariamente (p. 110).
Mas meus argumentos não
cortaram nenhuma corda. Eu simplesmente discordo do dogma humanista da
autonomia do pensamento humano, nos quais estão todas as objeções a Deus. Para
os crentes não há, em primeiro lugar, nenhuma necessidade aceitar o amarrar do
nó. É somente o autonomismo que faz o nó parecer necessário.
Mesmo um teísta como Antony Flew pode perceber que o problema do
mal não é um problema para alguém que simplesmente confia em Deus. Essa foi a
resposta de Jó aos seus “confortadores”, que insistiam em que ele devia ter
feito algo terrível para que fosse tratado daquela forma. Deus respondeu-lhe do
redemoinho fazendo-lhe simplesmente a pergunta: Onde estava tu, quando eu
lançava os fundamentos da terra? (38:4). Essa foi também a resposta de Paulo em
Romanos 9: 19-20.
Deus nunca teve dúvida de que
Jó era de fato um homem extraordinariamente reto, embora pelos padrões de Deus
todos são pecadores e que, por justiça estrita, todos fazem jus à morte. E Jó
concordou com isso. Anteriormente ele já havia observado à sua incrédula esposa
que é bom pra nós aceitarmos as coisas boas de Deus, devemos estar dispostos a
aceitar as adversidades também. As boas dádivas que Deus lhe havia dado tanto
podiam ser dadas por Deus como tomadas por ele (1.21). Jó sustentou a posição
correta na questão da soberania: Bem sei que tudo podes e nenhum de seus planos
pode ser frustrado (42.2). Parece que Jó não era arminiano!
Autor: R.K. MacGregor Wright