Mateus 23:37 – Jerusalém, Jerusalém, que matas os profetas e apedrejas os que te são enviados! Quantas vezes quis eu reunir os teus filhos, como a galinha ajunta os seus pintinhos debaixo das asas, e vós não quisestes.
Nada é mais comum na boca e na
literatura dos arminianos do que essa Escritura, prontamente apresentada por
eles em qualquer ocasião contra as doutrinas da eleição, redenção particular e
do poder irresistível de Deus na conversão; e em favor da graça suficiente e do
livre arbítrio e capacidade do homem; embora com pouquíssimo proveito, conforme
se patenteará, quando as observações a seguir forem expostas.
Por Jerusalém não devemos
entender a cidade, nem todos os habitantes dela, mas seus regentes e
governantes civis e eclesiásticos, especialmente o grande Sinédrio lá sediado,
ao qual cabia melhor o caráter descritivo de quem mata profetas e apedreja os
que lhe são enviados da parte de Deus, além de serem manifestamente
diferenciados de seus filhos; sendo o habitual referir-se aos cabeças do povo,
tanto civis como eclesiásticos, como pais (At 7.2 e 22.1), e aos súditos e
discípulos, como filhos (At 19.44; Mt 12.27; Is 8.16, 18).
Além disso, todo o discurso do
Senhor, na totalidade do contexto, é dirigido aos escribas e fariseus, os líderes
eclesiásticos do povo, aos quais os governantes civis davam especial atenção.
Fica, assim, evidente que os tais não são as mesmas pessoas que Cristo queria
ter reunido, os quais não quiseram. Não está dito:
Quantas vezes eu quis vos ter
ajuntado, e vós não quiseste, como o Dr. Whitby [oponente arminiano de John
Gill], mais de uma vez, cita o texto inadvertidamente; nem ele queria ter
ajuntado Jerusalém , e ela não quis, como o mesmo autor transcreve em outra
passagem; nem ainda, ele os teria ajuntado, os teus filhos, e eles não
quiseram; mas Eu queria ter ajuntado todo os teus filhos, e vós não quisestes,
cuja mera análise basta para destruir o argumento encontrado nessa passagem em
favor do livre arbítrio [...]
Para descartar e subverter a
doutrina da eleição, reprovação e redenção particular, seria necessário provar
que Cristo, como Deus, queria ter ajuntado, não Jerusalém e apenas os que nela
habitavam, mas toda a humanidade, ainda que ela não seja salva no futuro, e
isso num modo e processo de salvação espiritual peculiares a Deus mesmo, do
qual não há o mínimo indício nesse texto; e para determinar o caso de a graça
de Deus poder ser resistida pela vontade perversa do homem ao ponto de
anulá-la, dever-se-ia provar que Cristo queria ter convertido salvadoramente
essas pessoas e que elas não quiseram ser convertidas; e que ele concedeu a
mesma graça sobre elas e sobre outras pessoas convertidas.
Embora a essência dessa
passagem reside nessas poucas palavras, que Cristo, como homem, movido pela
estima compadecida pelo povo judeu, ao qual fora enviado, queria tê-lo ajuntado
sob o seu ministério, e os ensinado no conhecimento de si mesmo como o Messias;
conhecimento que, se tivessem recebido apenas nacionalmente, os teria protegido
com a pintos sob a galinha dos juízos iminentes que depois caiu sobre eles.
No entanto, seus governantes,
e não eles [os judeus], não quiseram, ou seja, não quiseram deixar que fossem
ajuntados dessa maneira e impediram-nos, o tanto que puderam, de dar-lhe
crédito como o Messias. Se ele tivesse dito – e eles não quiseram, teria apenas
sido um triste caso de perversidade da vontade do homem, a qual sempre se opõe
tanto ao seu bem temporal bem como ao espiritual.
Autor: John Gill
Fonte:
Citado por Gordon Clark, em seu livro Deus
e o Mal, o Problema Resolvido, págs 48-50. Editora Monergismo.