A
carta de Jesus à igreja de Éfeso é também a carta de Jesus à nossa igreja.1
Ela é oportuna, necessária e atual. Esta carta não retrata somente a situação
espiritual da igreja histórica de Éfeso, que havia deixado de praticar o amor,
mas também demonstra a situação espiritual que assola a igreja hodierna, que
também deixou de vivenciar o amor.
INTRODUÇÃO
Na igreja primitiva, as pessoas consideravam Éfeso
uma cabeça de ponte na província da Ásia, isto é, a cidade mais importante; por isso ela a primeira entre as sete igrejas a receber uma carta e ser denominada a
igreja mãe da província da Ásia.2
O
esboço analítico desta carta pode ser dividido em 4 seções:
1.
O caráter
glorioso de Cristo (vs.1)
2.
Um catálogo de elogios (vs.2-3,6)
3.
Uma severa avaliação (vs.4-5)
4.
Uma Promessa de Jesus aos vencedores (vs.7)
EXPLANAÇÃO
1. O caráter glorioso de Cristo
(2.1)
a) O remetente e o destinatário da carta (vs.1a)
A palavra anjo,
no grego άγγελος (aggelos), significa “mensageiro, aquele que anuncia ou ensina algo”. Nesse caso, refere-se
ao presbítero da igreja de Éfeso.3 Conforme é descrito na passagem, Jesus instruiu João a escrever uma
breve carta destinada aquele que representava a igreja em Éfeso.
Todavia, foi o Senhor Jesus que instituiu aos presbíteros
a responsabilidade de serem os líderes da igreja (Ef 4.11), cuja função é
administrá-la/supervisioná-la, ensinar a Palavra de Deus, orar, visitar os
irmãos e zelar pela vida de todos, seguindo o exemplo de Cristo, como o supremo
e o bom pastor que é (Jo 10.11). Assim sendo, os presbíteros também prestarão contas a
Deus das almas que estiveram sob a égide deles (Hb 13-17b).
b) O
contexto de Éfeso (vs.1a)
Éfeso era a capital e a cidade mais rica e
importante da província Romana da Ásia menor. “Era tanto um centro comercial
quanto religioso (muitas vezes chamado de o mercado da Ásia) e também
político”.4 Eles cultuavam a deusa Ártemis ou Diana, uma deusa da
fertilidade e da abundância. Diana foi
identificada com a deusa grega Ártemis,
que depois absorveu a sua identificação.
O templo da deusa Diana constituía uma das sete
maravilhas do mundo antigo; era uma das grandes atrações turísticas daquela
época. Uma das indústrias mais importantes de Éfeso era a fabricação de imagens
dessa deusa (At 19-24, 31,38). Por conseguinte, Éfeso era uma cidade mística,
supersticiosa e também um dos centros do culto ao imperador Domiciano.
Paulo
chegou nesta cidade no final de sua segunda viagem missionária (At.18-18-19),
por volta do ano 52 d.C., iniciando sua terceira viagem missionária,
permanecendo lá por 3 anos (At 20-31). A estadia de Paulo em Éfeso foi a sua
mais longa permanência em um só lugar em comparação com suas outras viagens
missionárias.
A
maioria dos judeus e gentios que residiam em Éfeso rejeitaram a mensagem do apóstolo, onde se tornaram seus perseguidores hostis e implacáveis (At 19.23-41). Por
outro lado, alguns receberam de bom grado o Evangelho e foram convertidos por
Deus.
Houve
sinais de avivamento em Éfeso (At 19-18, 19). Ao ouvirem o Evangelho, as
pessoas denunciavam publicamente as suas obras; romperam totalmente com o
ocultismo, queimando seus livros mágicos; o Evangelho espalhou-se dali por toda
a Ásia menor.5
Não
obstante, após ter sido preso em Roma, por volta do ano 62 d.C., Paulo escreve
uma carta aos Efésios, onde Timóteo estava pastoreando a igreja na época, combatendo
falsas doutrinas disseminadas por alguns falsos mestres, entre eles, Himeneu e
Alexandre, os quais eram provavelmente presbíteros em alguma das congregações em
Éfeso (1Tm 3.3-20).
Depois
de 40 anos em que a igreja de Éfeso havia sido fundada, possivelmente por
Priscila e Áquila (At 18.18-26), o apóstolo João se muda para lá e se torna o
pastor dos Efésios, em meados do ano 90 d.C.. Agora, “na segunda geração de
crentes, Jesus envia uma carta à igreja, mostrando que ela permanecia fiel na
doutrina, mas já havia se esfriado em seu amor”.6
c)
O poder de Cristo na sua igreja (vs.1b)
O
verbo conservar διατήρηση (kratein),
no grego, “sinaliza que Jesus tem poder e autoridade para guardar seus
servos. Todo o seu povo está em sua mão, a fim de que nenhum dano ocorra a
qualquer um deles fora da sua vontade”.7 Cristo
não preserva somente as sete estrelas,
que representam os presbíteros das sete igrejas da Ásia, mas, também, toda a
igreja. Jesus tem a sua igreja em suas mãos, que indica poder para agir e
governar (1.16). Não é uma instituição denominacional visível que está na mão de
Cristo; antes, a sua igreja invisível, que é composta por cada eleito
individualmente espalhado por todo o mundo que se reúne como “igreja
local/institucional” para cultuá-lo. Esta é a igreja que Cristo protege.
William
Barclay diz que a nossa segurança e nossa própria vida depende de estarmos
sustentados por Jesus. Quando a igreja se submete ao controle de Cristo, sua
doutrina e sua vida deixou de correr perigo.8
João 10.28-29 – Dou-lhes a vida eterna, e
jamais perecerão (perder a salvação); e ninguém as arrancará da minha mão. Meu
Pai, que as deu para mim (as ovelhas), é maior do que todos; e ninguém poder
arrancá-las da mão de meu Pai. (Almeida Século 21)
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*Não existiam somente sete igrejas na Ásia menor, isto é, em cada cidade mencionada não tinha uma congregação apenas, mas sim várias delas espalhadas por cada cidade. Simplesmente o número sete aqui é um simbolismo, e descreve a totalidade das igrejas.
d)
A presença de Cristo na sua igreja (vs.1b)
Cristo
não somente tem poder sobre a sua igreja para conservá-la em todos os aspectos,
mas também está presente nela (Lv 26.12; Dt 23.14; 1.12-13). Os sete candeeiros
de ouro, descritos por João, eram candeeiros portáteis que sustentavam lâmpadas
de óleo (Zc 4.2). Cada candeeiro representa uma igreja (1.20), da qual a luz da
vida que é Cristo resplandece. Na Escritura, o número sete indica perfeição.
Os
sete candeeiros aqui denotam a igreja de Cristo num todo, isto é, “são os
membros das igrejas sobre quem os olhos de Jesus repousam incessantemente”.9
Dessarte, Jesus fala com autoridade para com o presbítero da igreja em
Éfeso e espera que ele desempenhe de maneira logre o seu papel como um bom
ministro do Senhor. Era como se Jesus dissesse: Ao pastor líder da igreja em Éfeso: Estas são as palavras daquele que
tem a sua igreja em seu poder e que está presente no meio dos seus.
2. Um
catálogo de elogios (2.2-3,6)
a) Fidelidade no serviço a Deus (vs.2,6)
Jesus
elogia aos efésios por se manterem firmes e fieis no serviço cristão com três
substantivos: Obras, labor e perseverança.
Jesus declara categoricamente: Conheço as
tuas obras, que ressalta a sua onisciência [atributo incomunicável] em
relação ao conhecimento perscrutador de todas as coisas (Sl 139.1-4).
“O
uso do singular significa que o presbítero a quem Jesus se dirige é responsável
pelo bem estar espiritual da igreja. Mas também este singular fala a cada
membro individualmente”.10 O substantivo obras é bem vasto em seu
significado, tendo um duplo sentido. Refere-se tanto as boas atitudes quanto as
más atitudes. Entretanto, baseado no contexto, a ênfase é centrada mais no lado
positivo, ou seja, nas boas obras e no exímio serviço que os efésios prestavam
a Cristo.
Champlin
escreve:
As obras que Jesus conhece representam as
condições espirituais em geral da igreja e não apenas aquilo que chamamos de
serviço ativo. A palavra obra neste caso indica o caráter geral, a natureza da
pessoa que age, mas também aquilo que ela faz. Esta expressão equivale ao termo
veterotestamentário temor do Senhor, que é usado para exprimir as condições
espirituais em geral daquele que professava tentar agradar a Deus, reconhecendo
seu senhorio”.11
Portanto,
as obras em geral mencionadas
por Jesus são compostas pelo labor εργασία (kopos), que indica “trabalho árduo até a exaustão”; 12 pela perseverança
επιμονή (Hupomone), que denota “resistência, permanência; significa firmeza e constância sob condições adversas”,13 isto é, “resistência nesse labor (trabalho), sob as perseguições”.14
APLICAÇÃO
PRÁTICA
Hernandes Dias Lopes escreve:
A igreja de Éfeso não era
apenas teórica, ela agia. Havia labor, trabalho intenso. Os crentes eram
engajados e não meramente expectadores. A congregação se envolvia, não era
apenas um auditório. A igreja não vivia apenas intra muros. Não se deleitava
apenas em si mesma. Por meio dela o evangelho espalhou-se por toda a Ásia
Menor. E Jesus pode dizer o mesmo ao nosso respeito? Temos sido uma igreja
operosa? Temos sido cristãos frutíferos? Ou apenas temos sido um membro
dinâmico no corpo de Cristo”? 15
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* BARCLAY
salienta que o substantivo kopós descreve o trabalho que nos faz suar, o
trabalho duro, que nos deixa exaustos; é a classe de trabalho que demanda de
nós toda nossa reserva de energia e toda nossa concentração mental (Apocalipse, pág 72). Ele também descreve que a
palavra grega Hupomone, traduzida por perseverança, é a coragem que aceita os sofrimentos e as
dificuldades, a luta e a derrota, mas é capaz de sair sempre vitoriosa. Em
qualquer situação, é a virtude daquele que sabe finalmente alcançar a graça e a
glória (Apocalipse, pág 73).
b) Fidelidade na doutrina (vs.2,6)
Esta é mais uma qualidade que compreendia o
conjunto de excelentes obras da igreja de Éfeso. A igreja estava enfrentando
oposição de homens maus e dos falsos apóstolos, que se auto intitulavam apóstolos
de Cristo, mas que estavam ensinando heresias perniciosas.
A igreja rejeitou esse grupo de homens intitulados
como homens maus, os quais pervertiam
o evangelho de Cristo. Eles não eram
um grupo distinto de pessoas além dos falsos apóstolos, mas os próprios falsos
apóstolos, mediante o contexto do versículo 6 atesta. No capítulo 2.14-15, os Nicolaítas também são mencionados. Contudo, não é possível saber a verdadeira identidade deles. Provavelmente eram
os mesmos falsos apóstolos da igreja de Éfeso que também propagavam o ensino de
Balaão, na igreja de Pérgamo.
Tendo em mente a recomendação que Paulo havia
feito aos presbíteros da igreja em Éfeso acerca da possibilidade do surgimento
de falsos mestres, cujo intuito é enganar e corromper a fé dos cristãos (At
20.29-31), a igreja de Éfeso exercia o
discernimento.
Eles sabiam como avaliar homens que
reivindicavam liderança espiritual por meio de sua doutrina e comportamento (1Ts
5.20-21; 1Jo 4.1).16 Portanto, os efésios foram intolerantes com a
heresia e com a libertinagem que os Nicolaítas queriam propagar na
igreja.
APLICAÇÃO
PRÁTICA
O neoevangelicalismo tem gerado crentes opostos
aos crentes que vemos descritos na Escritura. Crentes fieis e sérios, de todas
as idades, desde o jovem até o idoso, como José, Daniel, Priscila e Áquila,
Timóteo, sua mãe e sua avó, Lídia, entre outros. Os crentes de hoje não são
como os Bereianos (At 17.11), que eram estudantes assíduos da Palavra de Deus, que
examinavam meticulosamente se o que era pregado estava baseado ou não na
Escritura, nem como os crentes de Éfeso, fiéis à doutrina.
Estamos vivendo uma geração de analfabetos
bíblicos. Crentes ingênuos, ávidos por experiências místicas, como sonhos, visões,
revelações, etc... Crentes interessados somente em novidades gospel e
ensandecidos por milagres e bênçãos materiais. Há indolência mental e pouco
interesse na Palavra de Deus.
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*
Os Nicolaítas significa (destruidores do povo) pregavam uma nova versão do
Cristianismo. Eles pregavam um evangelho sem exigências, liberal, sem
proibições. Eles queriam gozar o melhor da igreja e o melhor do mundo. Eles
incentivavam os crentes a comer comidas sacrificadas aos ídolos. Eles ensinavam
que o sexo antes e fora do casamento não era pecado. Eles acabavam estimulando
a imoralidade. Mas a igreja de Éfeso não tolerou a sua heresia e odiou as suas
obras (Hernandes Dias Lopes. Apocalipse,
pág 21).
*
Sobre a possível identidade dos Nicolaítas, temos alguns estudiosos que
associam essa seita a Nicolau, prosélito de Antioquia, um dos sete discípulos
da igreja de Jerusalém (Atos 6.5). Outros, porém, acham que era uma seita
gnóstica conhecida por Os Nicolaítas.
Outra posição diz que o Nicolau em
foco foi um personagem histórico, que residia em Éfeso ou naquela
área em geral, embora não deva ser identificado com o homem do mesmo nome, que
de Jerusalém.
E,
por fim, exsite aqueles que supõem que não devemos imaginar que Nicolau fosse o
nome de alguma pessoa real e viva, mas que tudo não passa de um titulo de
dominador do povo ou destruidor do povo escolhido para representar a heresia
que havia em Éfeso e
que ameaçava à
igreja
cristã dali. Até mesmo nesse caso, é quase certo que alguma forma de
gnosticismo esteja sob consideração. (Champlin. Enciclopédia
da Bíblia de Teologia e Filosofia, vol 4, pág 498).
c) Fidelidade em meio ao sofrimento (vs.3)
Após elogiar os Efésios pela sua fidelidade no serviço e na sã
doutrina, Jesus, agora, os elogia pela sua perseverança em resistir aos sofrimentos
pelo seu nome e por manterem-se firmes, sem desanimar.
Ser
crente em Éfeso não era popular como hoje é no Brasil. Lá ficava um dos maiores
centros do culto ao imperador. Muitos crentes estavam sendo perseguidos e até
mortos por não se dobrarem diante de César. Outros estavam sendo perseguidos
por não adorar a grande Diana dos Efésios. Outros, ainda, estavam sendo seduzidos a
cair nos falsos ensinos dos falsos apóstolos. Mas os crentes estavam prontos a
enfrentar todas as provas por causa do Nome de Jesus.17
A
expressão não te deixaste esmorecer κουραστεί (kopos), a mesma palavra usada no versículo 2, indica labor ou trabalho. Porém,
aqui, o sentido vai mais além, sintetizando o labor ou o trabalho até a exaustão, “o que levaria qualquer
pessoa a desistir do evangelho”.18
Indelevelmente,
os efésios não se cansaram em meio às perseguições e tribulações que os
assolavam, que tentavam fazê-los retroceder e desistir; pelo contrário, eles continuavam
perseverantes no caminho da fé. Kistemaker observa:
Os crentes de
Éfeso eram zelosos do nome de Jesus e eram incansáveis em promover sua honra.
Em oposição ao moto: César é o Senhor, ousadamente confessavam que Jesus é o
Senhor. Ao honrarem o nome de Cristo e prontamente suportarem perseguição e
dificuldades, os efésios demonstraram que não chegaram à exaustão em sua vida
espiritual.19
APLICAÇÃO PRÁTICA
Hernandes
Dias Lopes ressalta:
A igreja atual está perdendo a
capacidade de sofrer pelo evangelho. A igreja hoje prefere ser reconhecida pelo
mundo do que ser conhecida no céu. Perdeu a capacidade de denunciar o pecado.
Esquemas de corrupção já estão se infiltrando dentro das igrejas. Já temos
igrejas empresas. A igreja está se transformando em negócio familiar. O púlpito
está se transformando num balcão, o evangelho num produto e os crentes em
consumidores. Pastores com ares de super espirituais já não aceitam ser
questionados. Estão acima do bem e do mal. Estão acima dos outros e até da
verdade. Consideram-se os "ungidos". Dizem ouvir a voz direta de
Deus. Nem precisam mais das Escrituras. E o povo lhes segue cegamente para a
sua própria destruição”.20
3. Uma severa avaliação (2.4-5)
Jesus, desta vez, passa dos elogios para uma íntima avaliação. Essa avaliação sondadora é baseada em quatro imperativos. Senão vejamos:
a) Uma singela repreensão (vs.4)
Após avaliar os efésios,
Jesus os repreende enfaticamente por terem abandonado o primeiro amor.
“A luta pela ortodoxia, o intenso trabalho e as perseguições levaram a igreja à
aridez”.21 Michael Wilcock
salienta que a busca constante pela preservação
da verdade levou a igreja em Éfeso a perder o amor, qualidade sem a qual todas
as outras não têm sentido (vs.2-3,6).22
O primeiro amor não são
as emoções fortes que nos faziam sentir a presença de Deus no inicio da fé,
pois não se pode esperar que elas permaneçam em todo o tempo. O primeiro amor é
o zelo por Deus que tem de ser renovado dia após dia pela convicção de pecados,
pelo arrependimento e pela constante consagração.
O que os efésios haviam
abandonado era esse intenso e fervoroso amor que nos faz amar e estarmos sempre
na presença de Deus, usufruindo da alegria de uma comunhão profunda com Ele
através da oração, da comunhão com os irmãos e dos louvores (Sl 16.11b).
Adolph Pohl diz que a
igreja de Éfeso havia abandonado o primeiro amor não como um ato de rejeição, e
sim de esquecimento. Como se empenhavam com disposição pelo presente e pelo
futuro (vs.2-3), assim sofriam de um esquecimento perigoso do seu tempo inicial
e originário.23
Simon
Kistemaker expande a questão a lume:
Quando Jesus diz que os
Efésios haviam perdido o seu primeiro amor, ele não quer dizer que eles vivam e
agiam sem sentir amor por Deus ou pelo seu próximo. O adjetivo primeiro
enfatiza que a igreja em que Jesus se dirigiu não mais consistia de crentes da
primeira geração, mas de cristãos da segunda e terceira geração. Tais pessoas
eram destituídas do entusiasmo demonstrado por seus pais e avós. Eles não mais
agiam como propagadores da fé cristã, mas apenas como zeladores e guardiões.
Em contrapartida, a primeira
geração dos crentes fizeram um extraordinário esforço para que em Éfeso a
palavra do Senhor se difundisse amplamente e crescesse em poder (At 19.20). Nos
últimos anos, Paulo escreveu uma carta e os elogiou por sua fé no Senhor Jesus
e seu amor por seus irmãos (Ef 1.15). Os filhos e netos dessas pessoas se
opunham a heresia e demonstravam persistência no preenchimento das necessidades
da igreja, porém seu entusiasmo pelo Senhor era muito pouco”.24
APLICAÇÃO
PRÁTICA
Assim como os efésios, nós podemos perder o
amor por Deus quando o trocamos pelo trabalho, pelo zelo doutrinário e quando
denunciamos hereges e heresias. É possível trabalhar diligentemente para Deus,
perseverar em meio ao sofrimento, glorificando a Cristo, ser um profundo
conhecedor e exímio defensor do Evangelho sem amor por Deus.
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* Existem pelo menos 3 linhas de interpretação sobre o possível significado deste amor que os Efésios haviam perdido. 1) O amor por Cristo; 2) o amor pelos irmãos; 3) o amor pelas pessoas em geral. Ao meu entender, a melhor interpretação acerca do significado do amor perdido pelos Efésios, e que não causaria problemas hermenêuticos, seria o amor por Cristo (veja Mt 22.37-40).
b) Um alerta solene (vs.5a)
Agora, os efésios são alertados por Cristo a relembrar-se
de sua queda. A igreja não deveria relembrar em qual situação ou em que pecado caiu, mas de onde caiu, ou seja, de qual posição havia caído.
A igreja deveria refletir e trazer a memória os
tempos passados, quando a devoção por Cristo de seus antepassados e familiares
há 40 anos era intensa e fervorosa, e com isso fazerem uma comparação com o seu
estado espiritual presente, reconhecendo sua queda. A perda do primeiro amor é
considerada por Jesus uma queda.
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*
O verbo caiu está no pretérito
perfeito, assinalando que se passou algum tempo desde que começou o declínio da
igreja de Éfeso.
c)
Uma ordem imediata (vs.5b)
O termo “arrepende-te, no grego μετανοώ (metanoeo), significa “mudar de mente, pensar
diferente”.25
A ordem
para arrepender-se está no tempo aoristo, que sublinha uma ação única que está
para terminar de uma vez por todas.26
Jesus diz com esta
ordem que os efésios deveriam se arrepender imediatamente e sinceramente de sua
lúgubre condição espiritual. Esse arrependimento deveria consistir no retorno da
prática das mesmas obras que os seus antecessores praticavam no início da
igreja.
Essas obras não são classificadas como novas obras, antes, são as
mesmas obras que já estavam sendo praticadas pelos efésios, como zelo no serviço
cristão, pela sã doutrina e a perseverança em meio ao sofrimento. Porém,
essas obras deveriam ser motivadas pelo ardente amor por Cristo, e não como uma
mera obrigação (Rm 12.11).
APLICAÇÃO PRÁTICA
Arrependimento
não é emoção, é decisão. É atitude. Não precisa existir choro, basta decisão. O
Filho pródigo não só se lembrou da Casa do Pai, mas voltou para a Casa do Pai.
Lembrança sem arrependimento é remorso. Essa foi a diferença entre Pedro e
Judas. Arrepender é mudar a mente, é mudar a direção, é voltar-se para Deus.26
d) Uma grave ameaça (vs.5c)
Se
os efésios falhassem em não colocar em prática tudo o que Jesus havia lhes
ordenado, isso culminaria numa drástica consequência, a saber, a remoção do
candeeiro. Esse fato faz alusão a Jesus executar o seu juízo, riscando
definitivamente do mapa a igreja de Éfeso; seria o fim da existência desta
igreja (1Pe 4.17).
Contudo, a igreja de Éfeso deixou de existir. A cidade de Éfeso deixou também de existir.27
Este acabou sendo o fim de Éfeso: seu candeeiro foi removido. A cidade
nunca mais reconquistou seu primeiro amor. Os mongóis, (um exercito de
caçadores e rebanhistas guerreiros) destruíram-na em 1403.28 Hoje, só existem ruínas
e a lembrança de uma igreja que perdeu o amor por Deus.29
_________________________________________________________________________________
*
Uma década após João haver escrito o apocalipse, Inácio escreveu uma carta à
igreja de Éfeso, na qual ele enaltece os cristãos locais por sua perseverança e
sua resistência aos enganos. Ele nota que algumas pessoas da Síria se
transferiram para Éfeso com ensinos nocivos, porém os Efésios se recusaram a
dar-lhes ouvidos. Ele os elogia por serem de uma só mente com os apóstolos no
poder de Jesus Cristo. (Simon Kistemaker citando Inácio. Efésios
3.1; 6.2; 8.1; 9.1; 11.2).
CONCLUSÃO
4.
Uma promessa de Cristo aos vencedores
(2.7)
a) Um
chamado a obediência (vs.7a)
Depois
dos elogios, da avaliação critica e da exortação, Jesus agora conclui sua
mensagem a igreja de Éfeso convocando-os os a aplicarem todo o conteúdo
descrito nesta carta na vida prática e mostrando o resultado doravante a essa
aplicação.
A
primeira expressão, quem tem ouvidos para
ouvir, denota a capacidade de uma pessoa ouvir e uma disposição acompanhada
de dar ouvidos. A segunda expressão, ouça
o que o Espírito, é uma ordem
para ouvir atentamente e de maneira obediente às palavras de Jesus ditas por
meio do Espírito.30
A
última expressão, diz as igrejas, significa que a mensagem desta carta
não foi restrita somente a igreja de Éfeso, mas foi destinada e se aplicava as
outras igrejas das outras cidades da Ásia menor e também se aplica a igreja de
todas as épocas.
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*
A expressão quem tem ouvidos, ouça, foi
usada muitas vezes por Jesus durante ser ministério terreno (Mt 11.15; 13.9,
43; Mc 4.9,23; Lc 8.8;14.35; ver também Ap 13.9). Aqui uma versão extensa
aparece com as palavras o que o Espírito
diz às igrejas, ocorrendo em cada uma das 7 cartas (2.7, 11, 17, 29; 3.6, 13, 22).
b)
O resultado da obediência (vs.7b)
Através
da resposta em aplicar a lista dos imperativos apresentados por Jesus na vida
prática, a pessoa é considerada por ele como vencedor. E como resultado disso, o vencedor terá direito a se alimentar da árvore da vida que está no
paraíso de Deus.
O
vencedor aqui é o cristão sincero que permaneceu fiel, sendo zeloso no
serviço a Deus, zeloso pela sã doutrina; é aquele que se opôs aos falsos mestres
sendo perseverante no sofrimento, glorificando o nome de Jesus (vs.2-3).
Todavia, essas exigências não são a condição para que alguém possa ser salvo. Pelo
contrário, observar essas exigências demostram o genuíno caráter do cristão como
vencedor (Tg 2.14-26). Em outras palavras, o cristão não obedece as palavras de
Jesus para ser salvo, mas é salvo para obedecer as palavras de Jesus, e por
isso obedece (Ef 2.10).
No grego, o termo paraíso παράδεισος (paradeisos), traz a ideia de um jardim fechado. Essa palavra descreve
também a vida mais que abençoada que os verdadeiros cristãos terão no novo céu
e na nova terra, onde não haverá mais choro, dor, angustia e sofrimento; haverá,
sim, uma alegria indizível, paz e uma doce comunhão inefável com os irmãos e
com Deus em Cristo Jesus para sempre.
NOTAS:
1. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 20.
2. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 151.
3. James Strong. Dicionário do Novo Testamento Grego, pág
2029.
4. Rubens Szczerbacki. Revelando
os Mistérios do Apocalipse, pág 45.
5. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 20.
6. Ibid.
7. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 151.
8. William barclay. Apocalipse, pág 71.
9. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág
151.
10. Ibid, pág
152.
11. Russel Norman Champlin. Apocalipse, pág 387.
12. Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave Linguística do Novo Testamento Grego, pág 607.
13. Rubens Szczerbacki. Revelando
os Mistérios do Apocalipse, pág 47.
14. Russel Norman Champlin. Apocalipse, pág 387.
15. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 22.
16. Bíblia de Estudo MacArthur. Notas de Rodapé, pág 1780.
17. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 22.
18. Rubens Szczerbacki. Revelando
os Mistérios do Apocalipse, pág 48.
19. Simon Kistemaker. Apocalipse,
pág 154-155.
20. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 22.
21. Ibid.
22. Michael Wilcock. A mensagem de Apocalipse, pág
18.
23. Adolph Pohl. Comentário
Esperança, Apocalipse, pág 57.
24. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 155-156.
25. Fritz Rienecker e
Cleon Rogers. Chave
Linguística do Novo Testamento Grego, pág 607.
26. Simon Kistemaker. Apocalipse,
pág 156.
27. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 24
28. Ibid.
29. Rubens Szczerbacki. Revelando
os Mistérios do Apocalipse, pág 49.
30. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 24.
Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21