9 de novembro de 2015

O Escrituralismo é bíblico?


O Escrituralismo possui uma epistemologia não-escriturística – ironicamente. Tomemos, por exemplo, esta definição:

Uma cosmovisão cristã consistente declara que o ponto de partida epistemológico é o monopólio da Bíblia sobre a verdade... visto que todo conhecimento necessariamente provém de proposições (que são ou verdadeiras ou falsas), e dado que os sentidos, na interação com a criação, não fornecem proposições, a sensação não pode conduzir ao conhecimento [o artigo na íntegra se encontra aqui

Comparemos essa afirmação acima com as Escrituras. Ora, uma das funções dos luminares celestiais é permitir que os humanos tenham noção da passagem do tempo:

Disse também Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e anos (Gn 1:14).

Contudo, se negarmos a confiabilidade geral dos sentidos, então como os luminares celestiais poderão desempenhar sua função divinamente prescrita? De semelhante modo, existem as leis de "quarentas" no código mosaico, segundo as quais (apenas para exemplificarmos), o sacerdote deve realizar exames físicos periódicos num paciente com alguma moléstia cutânea, a fim de verificar se estava limpo.

Disse o SENHOR a Moisés e a Arão: 

O homem que tiver na sua pele inchação, ou pústula, ou mancha lustrosa, e isto nela se tornar como praga de lepra, será levado a Arão, o sacerdote, ou a um de seus filhos, sacerdotes. O sacerdote lhe examinará a praga na pele; se o pelo na praga se tornou branco, e a praga parecer mais profunda do que a pele da sua carne, é praga de lepra; o sacerdote o examinará e o declarará imundo. Se a mancha lustrosa na pele for branca e não parecer mais profunda do que a pele, e o pelo não se tornou branco, então, o sacerdote encerrará por sete dias o que tem a praga. Ao sétimo dia, o sacerdote o examinará; se, na sua opinião, a praga tiver parado e não se estendeu na sua pele, então, o sacerdote o encerrará por outros sete dias. O sacerdote, ao sétimo dia, o examinará outra vez; se a lepra se tornou baça e na pele se não estendeu, então, o sacerdote o declarará limpo; é pústula; o homem lavará as suas vestes e será limpo. Mas, se a pústula se estende muito na pele, depois de se ter mostrado ao sacerdote para a sua purificação, outra vez se mostrará ao sacerdote. Este o examinará, e se a pústula se tiver estendido na pele, o sacerdote o declarará imundo; é lepra. (Lv 13:1-8). 

Se, todavia, negamos a confiabilidade dos sentidos, logo um sacerdote não pode confiar na sua própria visão. Outro exemplo:

Depois de ouvirem o rei, partiram; e eis que a estrela que viram no Oriente os precedia, até que, chegando, parou sobre onde estava o menino (Mt 2:9).

A estrela era um objeto sensível que foi divinamente incumbida de guiar os magos ao lugar onde se encontra a família de Jesus. Assim, as Escrituras não são o ponto de partida epistemológico do escrituralismo. Ninguém que tenha passagens como Gênesis 1:14, Levítico 13 ou Mateus 2:9 como seu ponto de partida epistemológico concluirá que a percepção sensorial não conduz ao conhecimento. Dito de outro modo, ninguém que tenha partido de passagens como essas acima negará a confiabilidade geral dos sentidos. Pelo contrário, a epistemologia escrituralista se origina de objeções filosóficas extra-bíblicas ao conhecimento sensorial. Podemos nos perguntar, em primeiro lugar, a opinião dos escrituralistas quanto ao fato possuirmos cinco sentidos diferentes. Por que os olhos são diferentes dos ouvidos, por que Deus nos dotou com ambos, se o conhecimento sensorial é impossível? Em tempo: não estou afirmando que todo conhecimento provém dos sentidos. Não subscrevo o empirismo “tábula rasa”. Basta ver a crítica devastadora de Poincaré ao logicismo. Nossa intenção presente é apenas apresentar o testemunho das Escrituras com relação ao conhecimento sensorial.




Autor: Steve Hays
Tradução: Fabrício Tavares
Divulgação: Reformados 21