Eu escutei várias vezes uma
objeção ao calvinismo bastante semelhante ao título deste post. O argumento é
que a graça irresistível vai contra a natureza de Deus, já que Ele deseja que O
amemos livremente. Paul Manata apresentou uma resposta sucinta a esse tipo de
argumento.
Gostaria de apenas
complementar algumas reflexões sobre os pontos apresentados pelo meu amigo
Paul. Frequentemente ouvimos que o ensino calvinista da graça irresistível é,
de certo modo, equivalente a um estupro divino. Essa analogia é necessariamente
equivocada. Primeiramente, porque o estupro envolve violação da vontade da
vítima. Contudo, a graça eficaz de Deus não viola a vontade do homem, antes, a
transforma. O ato da regeneração, que procede de Deus e muda completamente o
homem, não é uma coerção da vontade (como no caso do estuprador), nem é um
engodo da vontade (como o faz um hipnotista). Deus efetivamente muda os desejos
de uma pessoa de forma que ela deixa de odiar a Deus e de imaginar que O ama,
passando a amá-Lo verdadeiramente.
Em segundo lugar, em adição ao
fato de que Deus ordena o amor (que é justamente o ponto abordado de forma
bastante competente pelo meu amigo Paul), Deus também ameaça com a punição
aqueles que não amam. Roger Olson tecnicamente pode sustentar a posição de que
"para que possa haver um relacionamento de amor, é necessário ser
factualmente possível para ambas as partes a possibilidade de dizer não para o
outro", mesmo em face de uma ordem. Afinal de contas, as pessoas de fato
dizem não para os mandamentos divinos de amar a Deus e amar ao próximo.
Todavia, se essa saída é empregada, a analogia do estupro automaticamente cai
por terra. Afinal, ainda consideraríamos como vítima de um estupro uma pessoa
que desse seu consentimento somente após ter uma arma apontada para sua cabeça,
mesmo se tecnicamente dissesse sim. Contudo, o poder coercitivo da mensagem de
Jesus é mais forte ainda: Eu, porém, vos mostrarei a quem deveis temer: temei
aquele que, depois de matar, tem poder para lançar no inferno. Sim, digo-vos, a
esse deveis temer (Lc 12:5).
Logo, por um lado, a graça
irresistível não é uma coerção, e, por outro, Deus (inegavelmente) emprega a
coerção. Então a objeção levantada por Olson não pode se sustentar porque ela
perde de vista a questão e porque ela se depara com um ponto que Olson deve
aceitar como verdadeiro. Olson (e outros não-calvinistas) deve admitir que Deus
emprega a coerção por meio das ameaças de castigos sobre aqueles que não fazem
o que lhes é ordenado. Todavia, a graça irresistível é um meio usado por Deus
que, em si mesmo, não envolve coerção, mas sim, transformação.
Fonte: turretinfan.blogspot.com.br
Tradução: Fabrício Tavares
Via: Matérias de Teologia