Hoje em dia, uma preocupação
comum parece surgir onde quer que os ministros se reúnam: o ministério pastoral
está mais estranho do que costumava ser. Não que o ministério esteja mais
difícil, mais cansativo ou mais exigente... está apenas diferente – e cada vez
mais estranho.
Esse sentimento de estranheza
deve-se à propagação da cultura e da filosofia pós-modernista; provavelmente, o
movimento cultural e intelectual mais importante do atual século XXI. Que
diferença o pós-modernismo tem causado? Para saber, basta olhar para a mídia
moderna, para a cultura popular e para a forma como algumas pessoas arregalam
os olhos, desconcertadas, quando falamos sobre a verdade, o sentido da vida e
moralidade.
O pós-modernismo
desenvolveu-se entre os acadêmicos e artistas, mas rapidamente se espalhou para
toda a cultura. O pós-modernismo refere-se basicamente ao desaparecimento da
modernidade e ao surgimento de um novo movimento cultural. A modernidade,
cosmovisão dominante desde o Iluminismo, foi suplantada pelo pós-modernismo,
que tanto amplia, como nega certos princípios e símbolos centrais da era
moderna.
É claro que muito da
literatura a respeito do pós-modernismo é absurda e difícil de ser levada a
sério. Quando a maioria dos personagens eminentes do pós-modernismo fala ou
escreve, geralmente o resultado é uma linguagem inarticulada que se parece mais
com um teste de vocabulário do que com um argumento bem fundamentado. No
entanto, o pós-modernismo não deve ser deixado de lado como algo sem
importância ou irrelevante. Essa não é uma questão de preocupação somente entre
os acadêmicos e a vanguarda – esse novo movimento representa um desafio crucial
à igreja cristã e ao pastor.
Na verdade, o pós-modernismo
pode não ser considerado como um movimento ou uma metodologia. Ele pode ser
melhor descrito como uma disposição mental que se afasta das certezas da era
moderna. Essa disposição mental é o cerne do desafio pós-moderno.
O que delineia essa disposição
mental pós-moderna? Esse novo movimento é útil para a nossa proclamação do
evangelho? Ou a era pós-moderna traz um grande afastamento da verdade cristã?
Uma olhada nos aspectos fundamentais do pós-modernismo pode ser útil.
A
Desconstrução da Verdade
Ainda que a natureza da
verdade venha sendo debatida ao longo dos séculos, o pós-modernismo tem
transformado esse debate em seu carro-chefe. Embora a maioria dos argumentos ao
longo da história tenha se focalizado nas afirmações antagônicas acerca da
verdade, o pós-modernismo rejeita até mesmo a mera noção da verdade como algo
imutável, universal, objetivo ou absoluto.
A tradição cristã compreende a
verdade como algo estabelecido por Deus e revelado através da auto revelação de
Deus nas Escrituras. A verdade é eterna, imutável e universal. Nossa
responsabilidade é regrar a nossa mente em conformidade com a verdade revelada
de Deus e testemunhar essa verdade. Servimos a um salvador que identificou-se
como sendo "o Caminho, a Verdade e a Vida" e exigiu fé nEle.
A ciência moderna, em si mesma
um produto do Iluminismo, rejeitou a revelação de Deus como fonte da verdade e
colocou o método científico em seu lugar. A modernidade tentou estabelecer a
verdade baseada na precisão científica, através do processo do pensamento
indutivo e da investigação. As outras disciplinas tentaram seguir o exemplo dos
cientistas, estabelecendo uma verdade objetiva por meio do pensamento racional.
Os modernistas estavam confiantes de que a sua abordagem produziria verdades
universais e objetivas por intermédio da razão humana.
Os pós-modernistas rejeitam
tanto a abordagem dos cristãos quanto a dos modernistas no assunto da verdade.
Conforme a teoria pós-modernista, a verdade não é universal, não é objetiva ou
absoluta e não pode ser determinada pelos métodos normalmente aceitos. Ao invés
disso, os pós-modernistas argumentam que a verdade é construída socialmente,
que ela é plural e inacessível à razão universal.
Conforme afirma o filósofo
pós-moderno Richard Rorty, a verdade é fabricada e não descoberta. De acordo
com os desconstrucionistas, uma ramificação influente dos pós-modernistas, toda
verdade é construída socialmente. Ou seja, os grupos sociais constroem a sua
própria "verdade" para servir aos seus interesses. De acordo com o
argumento de Michel Foucault, um dos teóricos pós-modernistas mais importantes,
toda reivindicação da verdade é construída para servir àqueles que estão no
poder. Dessa forma, o papel do intelectual é desconstruir a reivindicação da
verdade para libertar a sociedade.
Aquilo que tem sido entendido
e afirmado como sendo a verdade, declaram os pós-modernistas, nada mais é do
que uma estrutura de pensamento conveniente, planejado para oprimir aqueles que
não estão no poder. A verdade não é universal, porque cada cultura estabelece a
sua própria verdade. A verdade não é objetivamente real, pois toda verdade é
meramente construída – como afirmou Rorty, a verdade é fabricada e não
descoberta.
Não é preciso ter muita
imaginação para perceber que esse relativismo radical é um desafio direto ao
evangelho cristão. A nossa reivindicação não é pregar uma verdade entre muitas.
Não cremos que o evangelho cristão é uma verdade construída pela sociedade, mas
sim a Verdade que liberta pecadores do pecado – e ela é objetiva, universal e
historicamente verdadeira. E como o falecido Francis Schaeffer nos instruiu, a
igreja cristã deve lutar pela verdade verdadeira.
A
Morte da Metanarrativa
Visto que os pós-modernistas
acreditam que toda verdade é construída socialmente, devemos resistir a
qualquer apresentação de uma verdade absoluta, universal e estabelecida. Todas
as vastas e maravilhosas asseverações acerca da verdade, do sentido da vida e
da existência humana são rejeitadas como "metanarrativas" que
reivindicam muito mais do que aquilo que podem oferecer.
Jean-François Lyotard,
provavelmente o mais famoso pós-modernista europeu, definiu o pós-modernismo
nestes termos: Simplificando ao extremo, pós-modernismo é a incredulidade
contra as metanarrativas.1 Assim sendo, todos os grandiosos
sistemas filosóficos estão mortos, e todas as asseverações culturais são
limitadas; tudo o que resta são histórias aceitas como verdade por diferentes
grupos e culturas. As afirmações sobre uma verdade universal – as
metanarrativas – são opressivas, "totalitárias" e devem ser
rejeitadas.
O problema nessa questão, é
lógico, é que o cristianismo não faz sentido sem o evangelho – que é uma
metanarrativa. Na verdade, o evangelho cristão é nada menos do que a
Metanarrativa de todas as metanarrativas. Para o Cristianismo, abandonar a
reivindicação de que o evangelho é uma verdade universal e objetivamente
estabelecida é o mesmo que abandonar o ponto essencial da nossa fé. O cristianismo
é a grandiosa metanarrativa da redenção. Nossa história começa com a criação do
Deus soberano e onipotente; continua por meio da queda da humanidade no pecado
e da redenção dos pecadores por intermédio da obra substitutiva de Cristo na
cruz; e promete um duplo destino eterno para toda a humanidade – os redimidos,
para sempre com Deus, na glória; e os não-redimidos, no castigo eterno. Essa é
a mensagem que pregamos – e ela é uma metanarrativa gloriosa e transformadora
de vidas.
Não pregamos o evangelho como
se fosse uma narrativa dentre muitas narrativas verdadeiras ou como a nossa narrativa, paralelamente às narrativas autênticas dos outros.
Não podemos recuar, afirmando que a verdade bíblica é simplesmente para nós. A
nossa reivindicação é que a Bíblia é a Palavra de Deus para todos. Isso é
profundamente ofensivo para a cosmovisão pós-modernista, que ataca, com
imperialismo e opressão, a todos quantos asseveram verdades universais.
O
Falecimento do Texto
Se a metanarrativa está morta,
logo, os maravilhosos textos por detrás das metanarrativas também estão mortos.
O pós-modernismo afirma que é uma falácia atribuir significado a um texto, ou
mesmo ao que o autor disse. O leitor é quem estabelece o significado, e nenhum
controle limita o significado da leitura. Jacques Derrida, líder da
literatura desconstrucionista, descreve essa mudança nos termos "morte do
autor" e "morte do texto". O significado fabricado, mas não
descoberto, é criado pelo leitor no ato da leitura. O texto deve ser desconstruído
para que possa libertar-se do autor e permanecer um texto vivo, como uma
palavra livre.
Esse novo método de
hermenêutica explica muitos dos correntes debates na literatura, na política,
no direito e na teologia. Todos os textos – quer sejam as Sagradas Escrituras,
a Constituição dos Estados Unidos ou as obras de Mark Twain – são submetidos ao
criticismo e à dissecação esotérica, tudo em nome da libertação.
Segundo os pós-modernistas, os
textos revelam uma mensagem oculta, com intenções opressoras da parte do autor
e, por essa razão, devem ser desconstruídos. Essa não é uma mera questão de
importância acadêmica. É o argumento por detrás das muitas interpretações
contemporâneas da Constituição, feitas pelos juízes; das apresentações dos
assuntos na mídia e da fragmentação da erudição bíblica moderna. O surgimento
de escolas de interpretações voltadas para grupos de interesse como o das
feministas, dos liberalistas, dos homossexuais e vários outros é a questão
central desse princípio pós-moderno.
Consequentemente, a Bíblia é
submetida à uma reinterpretação radical, geralmente com pouca ou nenhuma
consideração pelo significado óbvio do texto ou pela intenção evidente do autor
humano. Os textos que não agradam a mente pós-modernista são rejeitados como
opressivos, patriarcais, heterossexuais, homofóbicos ou deturpados por outros
preconceitos ideológicos ou políticos. A autoridade do texto é negada em nome
da libertação, e as interpretações mais fantasiosas e ridículas são celebradas
como convincentes e até mesmo autênticas.
É claro que a noção de morte do autor assume um significado completamente novo quando
aplicado às Escrituras, pois reivindicamos que a Bíblia não é meramente
palavras de homens, mas sim a Palavra de Deus. A insistência pós-modernista na
morte do autor é inerentemente ateísta e anti sobrenatural. A reivindicação de
uma revelação divina é descartada como apenas mais uma das exteriorizações do
poder opressivo. Quando a verdade é negada, o que prevalece é a terapia. A
questão crucial muda de O que é a verdade? para "O que faz com
que eu me sinta bem?". Essa tendência cultural tem se desenvolvido ao
longo do século, mas agora tem alcançado proporções épicas.
A cultura que confrontamos
está quase que completamente submissa ao que Philip Reiff chamou de triunfo
da terapêutica. Num mundo pós-moderno, todas as questões acabam girando
em torno do eu. Portanto, tudo o que resta como alvo de muitas abordagens
educacionais e teológicas é elevar a auto estima. Categorias de palavras como
"pecado" são rejeitadas como opressivas e prejudiciais à auto estima.
As abordagens terapêuticas são
dominantes numa cultura formada de indivíduos que não têm sequer a certeza de
que a verdade existe – mas que estão convictos de que nossa auto estima deve
permanecer intacta. O certo e o errado são descartados como lembranças
obsoletas de um passado opressivo. Em nome de nossa própria
"autenticidade", rejeitaremos todos os padrões morais inconvenientes
e substituiremos a preocupação com o certo e o errado pela afirmação dos nossos
direitos.
A Teologia é igualmente
reduzida à terapia. Sistemas teológicos inteiros, bem como suas abordagens, são
construídas de modo a reduzir o seu alvo a nada mais do que à elevação da
auto estima de indivíduos e grupos especiais. Essas teologias do "sentir-se
bem" dispensam a "negatividade" dos textos bíblicos ofensivos ou
até mesmo a Bíblia inteira. Categorias de palavras como "perdição" e
julgamento ficam de fora. No lugar delas estão as vagas noções sobre aceitação
sem arrependimento e completude sem redenção. Podemos não saber (ou nos
importar) se somos salvos ou perdidos, mas certamente nos sentimos bem melhor
acerca de nós mesmos.
O
Declínio da Autoridade
Visto que a cultura
pós-moderna está comprometida com uma visão radical de libertação, todas as
autoridades devem ser subvertidas. Dentre todas as autoridades destronadas
estão: textos, autores, tradições, metanarrativas, a Bíblia, Deus e todos os
governos no céu e na terra. Exceto, é claro, a autoridade dos teóricos
pós-modernistas e dos personagens eminentes da cultura, que exercem o seu poder
em nome dos povos oprimidos em toda parte.
Segundo os pós-modernistas,
aqueles que estão em posição de autoridade utilizam seu poder para continuarem
no poder e servirem aos seus próprios interesses. Suas leis, tradições, textos
e verdade nada mais são do que aquilo que é projetado para
mantê-los no poder.
Assim, a autoridade dos
líderes governamentais passa a ser corroída, da mesma forma como a autoridade
dos professores, dos líderes comunitários, dos pais e dos pastores. Enfim, a
autoridade de Deus é rejeitada como sendo totalitária e autocrática. E como os
pastores são representantes dessa deidade autocrática, devemos resistir à
autoridade deles de igual modo.
Doutrinas, tradições, credos e
confissões de fé – tudo deve ser rejeitado e taxado como algo que limita a
auto expressão e representa& a autoridade opressiva. Os pregadores são
tolerados, contanto que apóiem as mensagens terapêuticas que elevam a
auto estima; e resistidos, sempre que introduzem reivindicações sobre a
autoridade divina ou à verdade universal em seus sermões.
A
Destituição da Moralidade
Ivan, na novela de Fyodor
Dostoyevsky, Os Irmãos Karamasov, estava certo; se Deus está morto, tudo é
permissível. O Deus permitido no pós-modernismo não é o Deus da Bíblia, mas sim
uma vaga ideia de espiritualidade. Não há tábuas da lei, nem os Dez
Mandamentos... não há regras.
A moralidade, juntamente com
outros alicerces culturais, é descartada como opressiva e totalitária. Um
relativismo moral abrangente é a marca da cultura pós-moderna. Não estou
dizendo que os pós-modernistas relutam em utilizar uma linguagem moral. Ao
contrário, a cultura pós-modernista está recheada de discurso moral.
A homossexualidade, por
exemplo, é abertamente defendida e aceita. O avanço dos estudos sobre gays e
lésbicas nas universidades, o aparecimento do poder político homossexual e as
imagens eróticas homossexuais, agora comuns na cultura popular, marcam essa
dramática reviravolta moral. A homossexualidade não é mais considerada um
pecado. A homofobia é criticada como se fosse pecado, e as reivindicações por
tolerância aos "estilos de vida alternativos" agora se transformaram
em reivindicações públicas para a celebração de& todos os estilos de vida
como moralmente iguais.
Michael Jones descreveu a
modernidade como "promiscuidade sexual racionalizada", e a
pós-modernidade é a sua extensão lógica. Michael Foucault, que argumentou que
toda moralidade sexual é um abuso de poder, clamou para que o pós-modernismo
celebrasse a "perversidade polimorfa". Ele viveu e morreu
dedicando-se a esse estilo de vida, e sua profecia tem se cumprido nesta
década.
O
Ministério Cristão numa Era Pós-moderna
O pós-modernismo representa o
único desafio a ser encarado pelo Cristianismo nesta geração. Walter Truett Anderson descreveu a realidade
pós-moderna em seu engenhoso livro Reality Isn't What it Used to Be (A
Realidade não é Como Costumava Ser).2 Walter Truett Anderson,
Reality Isn't What it Used to Be. San Fran"2
Esta é a reivindicação central do pós-modernismo: a realidade não é o que
costumava ser, e jamais o será novamente. Agora, a humanidade é maior de idade;
faremos nossa própria verdade; definiremos nossa própria realidade e nos
empenharemos pela nossa auto-estima.
Nessa cultura, o ministério
pastoral é mais estranho do que costumava ser. Atualmente, os conceitos
pós-modernos de verdade reinam na era pós-moderna, e até mesmo nos bancos das
igrejas pós-modernas. Pesquisas indicam que a maioria crescente daqueles que
professam ser cristãos rejeitam até mesmo a noção de uma verdade absoluta.
A morte do texto
fica evidente pela resistência à pregação bíblica em muitas igrejas. Os ouvidos
pós-modernos não querem mais ouvir o assim diz o Senhor do texto
bíblico. Uma vez que a verdade é fabricada e não descoberta, podemos projetar a
nossa própria religião ou espiritualidade pessoal e omitir doutrinas e
mandamentos morais inconvenientes. O pós-modernismo promete que o indivíduo
pode construir uma estrutura pessoal de espiritualidade, livre de
interferências ou autorização externas. Sob o lema: Não existe outra
verdade como a minha verdade, as crianças do pós-modernismo estabelecerão
seu próprio sistema doutrinal e desafiarão a correção.
Gene Veith, deão da Faculdade
Ciências Humanas, na universidade de Concórdia, contou-nos sobre um jovem que
afirmava ser cristão, professava crer em Cristo e amava a Bíblia, mas também
cria na reencarnação. Seu pastor confrontou sua crença na reencarnação
dirigindo o jovem para Hebreus 9.27. O texto foi lido: "E, assim como aos
homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo". O
jovem voltou o olhar para o seu pastor e respondeu: Bem, essa é a sua interpretação.3
Em nome do pós-modernismo,
qualquer coisa pode ser explicada como uma questão de interpretação. O conceito
dos jogos de linguagem wittgensteindeclara que cada sentença deve ser avaliada
com cuidado. Um conceito tão claro e óbvio como a primeira linha do Credo
Apostólico: Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da
terra deve ser analisado nos termos das intenções do falante. Essa
confissão assevera a crença de que Deus é, de fato, o criador do céu e da terra
ou essa afirmação é um mero sentimento pessoal?
A estranheza do ministério
pastoral na era pós-moderna pode ser vista em estudos bíblicos que não estudam
a Bíblia, mas são exercícios psicológicos de auto conhecimento, com o tipo de
moralidade self-service, praticada por muitos membros de igreja; e a crescente
aceitação de outras religiões como caminhos válidos para a salvação.
A cultura moderna é revoltada
contra a verdade, e o pós-modernismo não é nada senão a forma mais recente
dessa revolta. Nesses tempos estranhos, o ministério pastoral clama por
convicções não diluídas e por uma apologética fiel. As tentações para
comprometer a mensagem são grandes, e a oposição que se levanta contra todo
aquele que tem a pretensão de pregar a verdade absoluta e eterna é severa.
Entretanto, essa é a tarefa da igreja cristã.
Precisamos compreender o
pós-modernismo, ler os escritos de seus teóricos e aprender sua linguagem. Isso
é muito mais um desafio missionário do que um exercício intelectual. Não
podemos nos dirigir a uma cultura pós-moderna a menos que entendamos sua mente.
Devido a sua própria natureza,
o pós-modernismo está condenado à auto destruição. Seus princípios centrais não
podem ser aplicados de maneira consistente. (Apenas peça para que um acadêmico
pós-moderno aceite "a morte do texto" nas cláusulas de seu contrato).
A igreja deve continuar a ser o povo da verdade, apegando-se às reivindicações
de Cristo, e batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.
O pós-modernismo rejeita qualquer menção a uma verdade que foi entregue
"uma vez por todas", mas a igreja não pode comprometer o seu
testemunho.
O ministério pastoral está
mais estranho do que costumava ser. No entanto, esta é uma era de grandes
oportunidades para evangelização, pois à medida que os deuses do pós-modernismo
morrem, a igreja testemunha a Palavra da Vida. Em meio à uma era pós-moderna,
nossa tarefa é testemunhar a Verdade e recolher os cacos à medida que a cultura
se despedaça.
NOTAS:
1. Jean-Francois
Lyotard, The Postmodern Condition: A report on Knowledge, trans. Geoff
Bennington and Brian Massumi, "Theory and History of Literature,"
vol. 10. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1984. p. 24.
2. Walter Truett
Anderson, Reality Isn't What it Used to Be. San Francisco: Harper and Row,
1990.
3. Gene Veith,
"Catechesis, Preaching, and Vocation," in Here We Stand, ed. James
Boice and Ben Sasse. Grand Rapids: Baker Book House, 1996. pp. 82-83.
Autor:
Albert Mohler Jr.
Tradução:
Waléria Coicev
Fonte:
Ministério Fiel
Hoje em dia, uma preocupação
comum parece surgir onde quer que os ministros se reúnam: o ministério pastoral
está mais estranho do que costumava ser. Não que o ministério esteja mais
difícil, mais cansativo ou mais exigente... está apenas diferente – e cada vez
mais estranho.
Esse sentimento de estranheza
deve-se à propagação da cultura e da filosofia pós-modernista; provavelmente, o
movimento cultural e intelectual mais importante do atual século XXI. Que
diferença o pós-modernismo tem causado? Para saber, basta olhar para a mídia
moderna, para a cultura popular e para a forma como algumas pessoas arregalam
os olhos, desconcertadas, quando falamos sobre a verdade, o sentido da vida e
moralidade.
O pós-modernismo desenvolveu-se entre os acadêmicos e artistas, mas rapidamente se espalhou para toda a cultura. O pós-modernismo refere-se basicamente ao desaparecimento da modernidade e ao surgimento de um novo movimento cultural. A modernidade, cosmovisão dominante desde o Iluminismo, foi suplantada pelo pós-modernismo, que tanto amplia, como nega certos princípios e símbolos centrais da era moderna.
É claro que muito da
literatura a respeito do pós-modernismo é absurda e difícil de ser levada a
sério. Quando a maioria dos personagens eminentes do pós-modernismo fala ou
escreve, geralmente o resultado é uma linguagem inarticulada que se parece mais
com um teste de vocabulário do que com um argumento bem fundamentado. No
entanto, o pós-modernismo não deve ser deixado de lado como algo sem
importância ou irrelevante. Essa não é uma questão de preocupação somente entre
os acadêmicos e a vanguarda – esse novo movimento representa um desafio crucial
à igreja cristã e ao pastor.
Na verdade, o pós-modernismo
pode não ser considerado como um movimento ou uma metodologia. Ele pode ser
melhor descrito como uma disposição mental que se afasta das certezas da era
moderna. Essa disposição mental é o cerne do desafio pós-moderno.
O que delineia essa disposição
mental pós-moderna? Esse novo movimento é útil para a nossa proclamação do
evangelho? Ou a era pós-moderna traz um grande afastamento da verdade cristã?
Uma olhada nos aspectos fundamentais do pós-modernismo pode ser útil.
A
Desconstrução da Verdade
Ainda que a natureza da
verdade venha sendo debatida ao longo dos séculos, o pós-modernismo tem
transformado esse debate em seu carro-chefe. Embora a maioria dos argumentos ao
longo da história tenha se focalizado nas afirmações antagônicas acerca da
verdade, o pós-modernismo rejeita até mesmo a mera noção da verdade como algo
imutável, universal, objetivo ou absoluto.
A tradição cristã compreende a
verdade como algo estabelecido por Deus e revelado através da auto revelação de
Deus nas Escrituras. A verdade é eterna, imutável e universal. Nossa
responsabilidade é regrar a nossa mente em conformidade com a verdade revelada
de Deus e testemunhar essa verdade. Servimos a um salvador que identificou-se
como sendo "o Caminho, a Verdade e a Vida" e exigiu fé nEle.
A ciência moderna, em si mesma
um produto do Iluminismo, rejeitou a revelação de Deus como fonte da verdade e
colocou o método científico em seu lugar. A modernidade tentou estabelecer a
verdade baseada na precisão científica, através do processo do pensamento
indutivo e da investigação. As outras disciplinas tentaram seguir o exemplo dos
cientistas, estabelecendo uma verdade objetiva por meio do pensamento racional.
Os modernistas estavam confiantes de que a sua abordagem produziria verdades
universais e objetivas por intermédio da razão humana.
Os pós-modernistas rejeitam
tanto a abordagem dos cristãos quanto a dos modernistas no assunto da verdade.
Conforme a teoria pós-modernista, a verdade não é universal, não é objetiva ou
absoluta e não pode ser determinada pelos métodos normalmente aceitos. Ao invés
disso, os pós-modernistas argumentam que a verdade é construída socialmente,
que ela é plural e inacessível à razão universal.
Conforme afirma o filósofo
pós-moderno Richard Rorty, a verdade é fabricada e não descoberta. De acordo
com os desconstrucionistas, uma ramificação influente dos pós-modernistas, toda
verdade é construída socialmente. Ou seja, os grupos sociais constroem a sua
própria "verdade" para servir aos seus interesses. De acordo com o
argumento de Michel Foucault, um dos teóricos pós-modernistas mais importantes,
toda reivindicação da verdade é construída para servir àqueles que estão no
poder. Dessa forma, o papel do intelectual é desconstruir a reivindicação da
verdade para libertar a sociedade.
Aquilo que tem sido entendido
e afirmado como sendo a verdade, declaram os pós-modernistas, nada mais é do
que uma estrutura de pensamento conveniente, planejado para oprimir aqueles que
não estão no poder. A verdade não é universal, porque cada cultura estabelece a
sua própria verdade. A verdade não é objetivamente real, pois toda verdade é
meramente construída – como afirmou Rorty, a verdade é fabricada e não
descoberta.
Não é preciso ter muita
imaginação para perceber que esse relativismo radical é um desafio direto ao
evangelho cristão. A nossa reivindicação não é pregar uma verdade entre muitas.
Não cremos que o evangelho cristão é uma verdade construída pela sociedade, mas
sim a Verdade que liberta pecadores do pecado – e ela é objetiva, universal e
historicamente verdadeira. E como o falecido Francis Schaeffer nos instruiu, a
igreja cristã deve lutar pela verdade verdadeira.
A
Morte da Metanarrativa
Visto que os pós-modernistas
acreditam que toda verdade é construída socialmente, devemos resistir a
qualquer apresentação de uma verdade absoluta, universal e estabelecida. Todas
as vastas e maravilhosas asseverações acerca da verdade, do sentido da vida e
da existência humana são rejeitadas como "metanarrativas" que
reivindicam muito mais do que aquilo que podem oferecer.
Jean-François Lyotard,
provavelmente o mais famoso pós-modernista europeu, definiu o pós-modernismo
nestes termos: Simplificando ao extremo, pós-modernismo é a incredulidade
contra as metanarrativas.1 Assim sendo, todos os grandiosos
sistemas filosóficos estão mortos, e todas as asseverações culturais são
limitadas; tudo o que resta são histórias aceitas como verdade por diferentes
grupos e culturas. As afirmações sobre uma verdade universal – as
metanarrativas – são opressivas, "totalitárias" e devem ser
rejeitadas.
O problema nessa questão, é
lógico, é que o cristianismo não faz sentido sem o evangelho – que é uma
metanarrativa. Na verdade, o evangelho cristão é nada menos do que a
Metanarrativa de todas as metanarrativas. Para o Cristianismo, abandonar a
reivindicação de que o evangelho é uma verdade universal e objetivamente
estabelecida é o mesmo que abandonar o ponto essencial da nossa fé. O cristianismo
é a grandiosa metanarrativa da redenção. Nossa história começa com a criação do
Deus soberano e onipotente; continua por meio da queda da humanidade no pecado
e da redenção dos pecadores por intermédio da obra substitutiva de Cristo na
cruz; e promete um duplo destino eterno para toda a humanidade – os redimidos,
para sempre com Deus, na glória; e os não-redimidos, no castigo eterno. Essa é
a mensagem que pregamos – e ela é uma metanarrativa gloriosa e transformadora
de vidas.
Não pregamos o evangelho como
se fosse uma narrativa dentre muitas narrativas verdadeiras ou como a nossa narrativa, paralelamente às narrativas autênticas dos outros.
Não podemos recuar, afirmando que a verdade bíblica é simplesmente para nós. A
nossa reivindicação é que a Bíblia é a Palavra de Deus para todos. Isso é
profundamente ofensivo para a cosmovisão pós-modernista, que ataca, com
imperialismo e opressão, a todos quantos asseveram verdades universais.
O
Falecimento do Texto
Se a metanarrativa está morta,
logo, os maravilhosos textos por detrás das metanarrativas também estão mortos.
O pós-modernismo afirma que é uma falácia atribuir significado a um texto, ou
mesmo ao que o autor disse. O leitor é quem estabelece o significado, e nenhum
controle limita o significado da leitura. Jacques Derrida, líder da
literatura desconstrucionista, descreve essa mudança nos termos "morte do
autor" e "morte do texto". O significado fabricado, mas não
descoberto, é criado pelo leitor no ato da leitura. O texto deve ser desconstruído
para que possa libertar-se do autor e permanecer um texto vivo, como uma
palavra livre.
Esse novo método de
hermenêutica explica muitos dos correntes debates na literatura, na política,
no direito e na teologia. Todos os textos – quer sejam as Sagradas Escrituras,
a Constituição dos Estados Unidos ou as obras de Mark Twain – são submetidos ao
criticismo e à dissecação esotérica, tudo em nome da libertação.
Segundo os pós-modernistas, os
textos revelam uma mensagem oculta, com intenções opressoras da parte do autor
e, por essa razão, devem ser desconstruídos. Essa não é uma mera questão de
importância acadêmica. É o argumento por detrás das muitas interpretações
contemporâneas da Constituição, feitas pelos juízes; das apresentações dos
assuntos na mídia e da fragmentação da erudição bíblica moderna. O surgimento
de escolas de interpretações voltadas para grupos de interesse como o das
feministas, dos liberalistas, dos homossexuais e vários outros é a questão
central desse princípio pós-moderno.
Consequentemente, a Bíblia é
submetida à uma reinterpretação radical, geralmente com pouca ou nenhuma
consideração pelo significado óbvio do texto ou pela intenção evidente do autor
humano. Os textos que não agradam a mente pós-modernista são rejeitados como
opressivos, patriarcais, heterossexuais, homofóbicos ou deturpados por outros
preconceitos ideológicos ou políticos. A autoridade do texto é negada em nome
da libertação, e as interpretações mais fantasiosas e ridículas são celebradas
como convincentes e até mesmo autênticas.
É claro que a noção de morte do autor assume um significado completamente novo quando
aplicado às Escrituras, pois reivindicamos que a Bíblia não é meramente
palavras de homens, mas sim a Palavra de Deus. A insistência pós-modernista na
morte do autor é inerentemente ateísta e anti sobrenatural. A reivindicação de
uma revelação divina é descartada como apenas mais uma das exteriorizações do
poder opressivo. Quando a verdade é negada, o que prevalece é a terapia. A
questão crucial muda de O que é a verdade? para "O que faz com
que eu me sinta bem?". Essa tendência cultural tem se desenvolvido ao
longo do século, mas agora tem alcançado proporções épicas.
A cultura que confrontamos
está quase que completamente submissa ao que Philip Reiff chamou de triunfo
da terapêutica. Num mundo pós-moderno, todas as questões acabam girando
em torno do eu. Portanto, tudo o que resta como alvo de muitas abordagens
educacionais e teológicas é elevar a auto estima. Categorias de palavras como
"pecado" são rejeitadas como opressivas e prejudiciais à auto estima.
As abordagens terapêuticas são
dominantes numa cultura formada de indivíduos que não têm sequer a certeza de
que a verdade existe – mas que estão convictos de que nossa auto estima deve
permanecer intacta. O certo e o errado são descartados como lembranças
obsoletas de um passado opressivo. Em nome de nossa própria
"autenticidade", rejeitaremos todos os padrões morais inconvenientes
e substituiremos a preocupação com o certo e o errado pela afirmação dos nossos
direitos.
A Teologia é igualmente
reduzida à terapia. Sistemas teológicos inteiros, bem como suas abordagens, são
construídas de modo a reduzir o seu alvo a nada mais do que à elevação da
auto estima de indivíduos e grupos especiais. Essas teologias do "sentir-se
bem" dispensam a "negatividade" dos textos bíblicos ofensivos ou
até mesmo a Bíblia inteira. Categorias de palavras como "perdição" e
julgamento ficam de fora. No lugar delas estão as vagas noções sobre aceitação
sem arrependimento e completude sem redenção. Podemos não saber (ou nos
importar) se somos salvos ou perdidos, mas certamente nos sentimos bem melhor
acerca de nós mesmos.
O
Declínio da Autoridade
Visto que a cultura
pós-moderna está comprometida com uma visão radical de libertação, todas as
autoridades devem ser subvertidas. Dentre todas as autoridades destronadas
estão: textos, autores, tradições, metanarrativas, a Bíblia, Deus e todos os
governos no céu e na terra. Exceto, é claro, a autoridade dos teóricos
pós-modernistas e dos personagens eminentes da cultura, que exercem o seu poder
em nome dos povos oprimidos em toda parte.
Segundo os pós-modernistas,
aqueles que estão em posição de autoridade utilizam seu poder para continuarem
no poder e servirem aos seus próprios interesses. Suas leis, tradições, textos
e verdade nada mais são do que aquilo que é projetado para
mantê-los no poder.
Assim, a autoridade dos
líderes governamentais passa a ser corroída, da mesma forma como a autoridade
dos professores, dos líderes comunitários, dos pais e dos pastores. Enfim, a
autoridade de Deus é rejeitada como sendo totalitária e autocrática. E como os
pastores são representantes dessa deidade autocrática, devemos resistir à
autoridade deles de igual modo.
Doutrinas, tradições, credos e
confissões de fé – tudo deve ser rejeitado e taxado como algo que limita a
auto expressão e representa& a autoridade opressiva. Os pregadores são
tolerados, contanto que apóiem as mensagens terapêuticas que elevam a
auto estima; e resistidos, sempre que introduzem reivindicações sobre a
autoridade divina ou à verdade universal em seus sermões.
A
Destituição da Moralidade
Ivan, na novela de Fyodor
Dostoyevsky, Os Irmãos Karamasov, estava certo; se Deus está morto, tudo é
permissível. O Deus permitido no pós-modernismo não é o Deus da Bíblia, mas sim
uma vaga ideia de espiritualidade. Não há tábuas da lei, nem os Dez
Mandamentos... não há regras.
A moralidade, juntamente com
outros alicerces culturais, é descartada como opressiva e totalitária. Um
relativismo moral abrangente é a marca da cultura pós-moderna. Não estou
dizendo que os pós-modernistas relutam em utilizar uma linguagem moral. Ao
contrário, a cultura pós-modernista está recheada de discurso moral.
A homossexualidade, por
exemplo, é abertamente defendida e aceita. O avanço dos estudos sobre gays e
lésbicas nas universidades, o aparecimento do poder político homossexual e as
imagens eróticas homossexuais, agora comuns na cultura popular, marcam essa
dramática reviravolta moral. A homossexualidade não é mais considerada um
pecado. A homofobia é criticada como se fosse pecado, e as reivindicações por
tolerância aos "estilos de vida alternativos" agora se transformaram
em reivindicações públicas para a celebração de& todos os estilos de vida
como moralmente iguais.
Michael Jones descreveu a
modernidade como "promiscuidade sexual racionalizada", e a
pós-modernidade é a sua extensão lógica. Michael Foucault, que argumentou que
toda moralidade sexual é um abuso de poder, clamou para que o pós-modernismo
celebrasse a "perversidade polimorfa". Ele viveu e morreu
dedicando-se a esse estilo de vida, e sua profecia tem se cumprido nesta
década.
O
Ministério Cristão numa Era Pós-moderna
O pós-modernismo representa o
único desafio a ser encarado pelo Cristianismo nesta geração. Walter Truett Anderson descreveu a realidade
pós-moderna em seu engenhoso livro Reality Isn't What it Used to Be (A
Realidade não é Como Costumava Ser).2 Walter Truett Anderson,
Reality Isn't What it Used to Be. San Fran"2
Esta é a reivindicação central do pós-modernismo: a realidade não é o que
costumava ser, e jamais o será novamente. Agora, a humanidade é maior de idade;
faremos nossa própria verdade; definiremos nossa própria realidade e nos
empenharemos pela nossa auto-estima.
Nessa cultura, o ministério
pastoral é mais estranho do que costumava ser. Atualmente, os conceitos
pós-modernos de verdade reinam na era pós-moderna, e até mesmo nos bancos das
igrejas pós-modernas. Pesquisas indicam que a maioria crescente daqueles que
professam ser cristãos rejeitam até mesmo a noção de uma verdade absoluta.
A morte do texto
fica evidente pela resistência à pregação bíblica em muitas igrejas. Os ouvidos
pós-modernos não querem mais ouvir o assim diz o Senhor do texto
bíblico. Uma vez que a verdade é fabricada e não descoberta, podemos projetar a
nossa própria religião ou espiritualidade pessoal e omitir doutrinas e
mandamentos morais inconvenientes. O pós-modernismo promete que o indivíduo
pode construir uma estrutura pessoal de espiritualidade, livre de
interferências ou autorização externas. Sob o lema: Não existe outra
verdade como a minha verdade, as crianças do pós-modernismo estabelecerão
seu próprio sistema doutrinal e desafiarão a correção.
Gene Veith, deão da Faculdade
Ciências Humanas, na universidade de Concórdia, contou-nos sobre um jovem que
afirmava ser cristão, professava crer em Cristo e amava a Bíblia, mas também
cria na reencarnação. Seu pastor confrontou sua crença na reencarnação
dirigindo o jovem para Hebreus 9.27. O texto foi lido: "E, assim como aos
homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo". O
jovem voltou o olhar para o seu pastor e respondeu: Bem, essa é a sua interpretação.3
Em nome do pós-modernismo,
qualquer coisa pode ser explicada como uma questão de interpretação. O conceito
dos jogos de linguagem wittgensteindeclara que cada sentença deve ser avaliada
com cuidado. Um conceito tão claro e óbvio como a primeira linha do Credo
Apostólico: Creio em Deus Pai, Todo-poderoso, Criador do céu e da
terra deve ser analisado nos termos das intenções do falante. Essa
confissão assevera a crença de que Deus é, de fato, o criador do céu e da terra
ou essa afirmação é um mero sentimento pessoal?
A estranheza do ministério
pastoral na era pós-moderna pode ser vista em estudos bíblicos que não estudam
a Bíblia, mas são exercícios psicológicos de auto conhecimento, com o tipo de
moralidade self-service, praticada por muitos membros de igreja; e a crescente
aceitação de outras religiões como caminhos válidos para a salvação.
A cultura moderna é revoltada
contra a verdade, e o pós-modernismo não é nada senão a forma mais recente
dessa revolta. Nesses tempos estranhos, o ministério pastoral clama por
convicções não diluídas e por uma apologética fiel. As tentações para
comprometer a mensagem são grandes, e a oposição que se levanta contra todo
aquele que tem a pretensão de pregar a verdade absoluta e eterna é severa.
Entretanto, essa é a tarefa da igreja cristã.
Precisamos compreender o
pós-modernismo, ler os escritos de seus teóricos e aprender sua linguagem. Isso
é muito mais um desafio missionário do que um exercício intelectual. Não
podemos nos dirigir a uma cultura pós-moderna a menos que entendamos sua mente.
Devido a sua própria natureza,
o pós-modernismo está condenado à auto destruição. Seus princípios centrais não
podem ser aplicados de maneira consistente. (Apenas peça para que um acadêmico
pós-moderno aceite "a morte do texto" nas cláusulas de seu contrato).
A igreja deve continuar a ser o povo da verdade, apegando-se às reivindicações
de Cristo, e batalhando pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos.
O pós-modernismo rejeita qualquer menção a uma verdade que foi entregue
"uma vez por todas", mas a igreja não pode comprometer o seu
testemunho.
O ministério pastoral está
mais estranho do que costumava ser. No entanto, esta é uma era de grandes
oportunidades para evangelização, pois à medida que os deuses do pós-modernismo
morrem, a igreja testemunha a Palavra da Vida. Em meio à uma era pós-moderna,
nossa tarefa é testemunhar a Verdade e recolher os cacos à medida que a cultura
se despedaça.
NOTAS:
1. Jean-Francois
Lyotard, The Postmodern Condition: A report on Knowledge, trans. Geoff
Bennington and Brian Massumi, "Theory and History of Literature,"
vol. 10. Minneapolis: University of Minnesota Press, 1984. p. 24.
2. Walter Truett
Anderson, Reality Isn't What it Used to Be. San Francisco: Harper and Row,
1990.
3. Gene Veith,
"Catechesis, Preaching, and Vocation," in Here We Stand, ed. James
Boice and Ben Sasse. Grand Rapids: Baker Book House, 1996. pp. 82-83.
Autor:
Albert Mohler Jr.
Tradução:
Waléria Coicev
Fonte:
Ministério Fiel