11 de novembro de 2015

Oferta sincera, eleição e expiação limitada – Por Turretinfan


Essa é uma objeção recorrente levantada particularmente por parte dos amiraldistas e arminianos. Se tu crês que o Evangelho consiste em afirmar: “Jesus morreu por ti”, então essa objeção de fato faz sentido. Se devemos dizer às pessoas, indiscriminadamente, que Cristo morreu por eles, quando Ele não o fez, a oferta efetivamente não parecer ser muito sincera.

As Escrituras, entretanto, não apresentam o Evangelho dessa forma. Nelas, o Evangelho é expresso em termo de arrependimento de nossos pecados e na crença (isto é, na confiança total) em Cristo para a salvação. Se tu crês em Cristo e te arrependes de teus pecados, Deus há de ter misericórdia de ti.

Há um universo de diferenças entre estas duas mensagens: uma faz uma declaração incondicional com relação àquilo que Cristo realizou; a outra, por sua vez, faz uma declaração condicional acerca do que Deus vai fazer.

Todavia, mesmo entre aqueles que afirmam que o Evangelho não consiste em anunciar que “Jesus morreu por ti”, há alguns que não apreciam a ideia da salvação sendo oferecida àqueles para quem Deus não forneceu as condições necessárias. De fato, nossos amigos amiraldistas e arminianos por vezes nos pressionam com a ideia de que tal oferta condicional não é “sincera”, a não ser que Deus tenha algo preparado para essas pessoas.

Contudo, a simples ausência de condições para que todos sejam salvos não explica essa objeção. Imagine que uma empresa ofereça a “qualquer um que esteja disposto a vir até nossos escritórios e ouvir nossos funcionários explicarem as vantagens de nosso novo trator” um incentivo de “U$ 5, bastando apenas se dirigir até aqui e escutar o que temos a dizer”. Ninguém consideraria tal oferta “insincera” caso a empresa não possua o valor total que resulta de U$ 5 vezes o número de pessoas que hão de ouvir a oferta, contanto que ela possua o valor total resultante de U$ 5 vezes o número de pessoas que eles julgam que vão aceitar a oferta.

Portanto, contanto que as condições sejam suficientes para aqueles que irão “aceitar” a oferta, não vemos, pois, a oferta como “insincera”. Uma vez que, de acordo com a visão calvinista, Deus forneceu condições para todos aqueles que virão a Cristo, a oferta do Evangelho deve também ser considerada como sincera mediante esse critério.

Por trás da objeção permanece, todavia, a objeção de que uma “oferta” não é sincera, caso não se tenha intenção de dar realmente a coisa ofertada para aqueles a quem se oferece. Por exemplo, quando uma criança oferece seu sorvete acontece por vezes de ser apenas uma imitação da oferta que um dos pais também faz de dividir seu sorvete. Caso o pai ou a mãe tente aceitar a oferta da criança, esta pode recusar, gulosamente, a dividir com eles um pedaço. Logo, a criança somente ofereceu dividir o sorvete porque pensou que a oferta seria recusada. Uma oferta como esta é insincera.

Sem dúvida, neste ponto lidamos com o tipo de objeção que um amiraldista, ou alguém como Ponter, não pode sustentar de forma consistente. Afinal de contas, o problema com a oferta da criança não é que ela não tenha um sorvete para dividir, mas sim que ela não pretende abrir mão dele. O amiraldista admite que Deus não pretende salvar os não-eleitos. Consequentemente, se as circunstâncias são fornecidas ou não é um ponto completamente discutível.

Contudo, para aqueles que insistem que Deus deve ter a intenção de salvar, podemos ainda questionar legitimamente a validade dessa objeção. Não basta que Deus pretenda salvar todos aqueles que “aceitam” a “oferta”? A ideia de que Deus deve ter a intenção de salvar todos aqueles que Ele sabe que hão de rejeitar parece absurda quando expressa desse modo. Desse modo, podemos concluir que embora tal objeção possa apresentar um certo apelo intuitivo limitado, ela não resiste à análise intelectual.




Autor: Turretinfan
Tradução: Fabrício Tavares
Via: Matérias de Teologia