As Escrituras, entretanto, não
apresentam o Evangelho dessa forma. Nelas, o Evangelho é expresso em termo de
arrependimento de nossos pecados e na crença (isto é, na confiança total) em
Cristo para a salvação. Se tu crês em Cristo e te arrependes de teus pecados,
Deus há de ter misericórdia de ti.
Há um universo de diferenças
entre estas duas mensagens: uma faz uma declaração incondicional com relação
àquilo que Cristo realizou; a outra, por sua vez, faz uma declaração
condicional acerca do que Deus vai fazer.
Todavia, mesmo entre aqueles
que afirmam que o Evangelho não consiste em anunciar que “Jesus morreu por ti”,
há alguns que não apreciam a ideia da salvação sendo oferecida àqueles para
quem Deus não forneceu as condições necessárias. De fato, nossos amigos
amiraldistas e arminianos por vezes nos pressionam com a ideia de que tal
oferta condicional não é “sincera”, a não ser que Deus tenha algo preparado
para essas pessoas.
Contudo, a simples ausência de
condições para que todos sejam salvos não explica essa objeção. Imagine que uma
empresa ofereça a “qualquer um que esteja disposto a vir até nossos escritórios
e ouvir nossos funcionários explicarem as vantagens de nosso novo trator” um
incentivo de “U$ 5, bastando apenas se dirigir até aqui e escutar o que temos a
dizer”. Ninguém consideraria tal oferta “insincera” caso a empresa não possua o
valor total que resulta de U$ 5 vezes o número de pessoas que hão de ouvir a
oferta, contanto que ela possua o valor total resultante de U$ 5 vezes o número
de pessoas que eles julgam que vão aceitar a oferta.
Portanto, contanto que as
condições sejam suficientes para aqueles que irão “aceitar” a oferta, não
vemos, pois, a oferta como “insincera”. Uma vez que, de acordo com a visão
calvinista, Deus forneceu condições para todos aqueles que virão a Cristo, a
oferta do Evangelho deve também ser considerada como sincera mediante esse
critério.
Por trás da objeção permanece,
todavia, a objeção de que uma “oferta” não é sincera, caso não se tenha
intenção de dar realmente a coisa ofertada para aqueles a quem se oferece. Por
exemplo, quando uma criança oferece seu sorvete acontece por vezes de ser
apenas uma imitação da oferta que um dos pais também faz de dividir seu
sorvete. Caso o pai ou a mãe tente aceitar a oferta da criança, esta pode
recusar, gulosamente, a dividir com eles um pedaço. Logo, a criança somente
ofereceu dividir o sorvete porque pensou que a oferta seria recusada. Uma
oferta como esta é insincera.
Sem dúvida, neste ponto
lidamos com o tipo de objeção que um amiraldista, ou alguém como Ponter, não
pode sustentar de forma consistente. Afinal de contas, o problema com a oferta
da criança não é que ela não tenha um sorvete para dividir, mas sim que ela não
pretende abrir mão dele. O amiraldista admite que Deus não pretende salvar os
não-eleitos. Consequentemente, se as circunstâncias são fornecidas ou não é um
ponto completamente discutível.
Contudo, para aqueles que
insistem que Deus deve ter a intenção de salvar, podemos ainda questionar
legitimamente a validade dessa objeção. Não basta que Deus pretenda salvar
todos aqueles que “aceitam” a “oferta”? A ideia de que Deus deve ter a intenção
de salvar todos aqueles que Ele sabe que hão de rejeitar parece absurda quando
expressa desse modo. Desse modo, podemos concluir que embora tal objeção possa
apresentar um certo apelo intuitivo limitado, ela não resiste à análise
intelectual.
Autor: Turretinfan
Fonte: turretinfan.blogspot.com.br
Tradução:
Fabrício Tavares
Via:
Matérias de Teologia