Muitas pessoas lutam com a soberania de Deus na eleição, porque acreditam que ela exclui a prática do evangelismo. Elas se perguntam: se as pessoas são ou não eternamente eleitas, que bem fará a pregação? Que diferença fará? No entanto, como a Escritura ensina, a soberania de Deus na eleição e a prática do evangelismo não são inimigas, mas amigas. O evangelismo está enraizado na eleição, e enquanto o homem planta e rega a semente do evangelho, Deus traz o crescimento.
Os
Meios e os Fins
A soberania de Deus na
salvação é mais clara e nitidamente vista no ensino da Escritura sobre a
eleição. A eleição é incondicional, isto é, a escolha de Deus não
se baseia em nada de bom ou meritório do escolhido, algo louvável que tencione
ou influencie Deus em sua escolha. Ao invés disso, a escolha de Deus é feita
exclusivamente com base na Sua boa vontade.
Pode parecer que essa escolha
faz qualquer atividade humana desnecessária. Como poderia uma criatura afetar
algo? Mas considere este simples exemplo: suponha que Deus quer eternamente que
você receba uma carta minha. Para que isso ocorra, outras coisas devem
acontecer primeiro. Obviamente, eu devo escrever a carta, e em seguida dar um
jeito de entregar a carta para você. Essas atividades - a escrita e o envio da
carta - não acontecem à parte da vontade e propósito do Deus Todo Poderoso, mas
como parte de Sua vontade e propósito. Elas são meios para o fim: você receber
uma carta minha.
O que isso mostra? Mostra que
nos desígnios divinos, meios e fins estão conectados. Talvez, ao eleger pessoas
"em Cristo", Deus poderia ter imediatamente os glorificado. Mas, de
acordo com a Escritura, Ele não escolheu fazer isso; antes, ele usa
meios. Ele nos apresenta as boas novas da salvação. Como Ele faz isso? Ele com
certeza poderia ter feito isso transmitindo as boas novas de forma imediata à
mente de alguém através de um sonho ou um "sussurro". Mas, na
verdade, Ele o faz pela dupla ação da "Palavra" e do
"Espírito".
A Escritura tem várias
maneiras diferentes de deixar isso claro. Nos Evangelhos, tem a parábola do
semeador: Eis que o semeador saiu a semear. A semente é a Palavra,
os vários tipos de solo são os diferentes tipos de corações. Quanto ao
que foi semeado em boa terra, este é aquele que ouve a palavra e a compreende.
Ele dá fruto (Mt 13.23). Portanto, existe a semente semeada, e existe
fruto, de acordo com o tipo de solo. E isso representa ouvir a Palavra,
entendendo-a e sendo frutífero. Ninguém pode entender a Palavra
sem ela ter sido semeada primeiro.
Aqui está um segundo exemplo.
Vejamos as palavras da Grande Comissão encontrada no final do evangelho de
Mateus: Ide, portanto, fazei discípulos
de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo,
ensinando-os a observar tudo que eu vos tenho mandado (Mt 28.19-20). Jesus
instrui ou ordena aos Seus onze discípulos para "fazerem discípulos". E
como eles farão isso? Ensinando-os [as pessoas de todas as nações] a
observar tudo o que vos tenho ordenado. Discipulado vem através do ensino
que Cristo ordenou a Seus primeiros discípulos.
Paulo usa uma linguagem muito
semelhante a de Cristo na parábola do semeador, quando descreve seu ministério,
tanto a importância quanto as limitações deste; ele escreve: Eu plantei, Apolo regou, mas Deus deu o
crescimento (1Co 3.6). O que ele
está dizendo aqui? Que ele semeou a semente e seu companheiro, o pregador Apolo, acompanhou e, por meio do que ele ensinou, regou o que Paulo havia
semeado. Mas quem fez crescer? Só Deus, através do Seu Espírito, deu vida, entendimento, fé e obediência àqueles que se tornaram crentes em Corinto.
Da mesma forma, outras coisas
que Paulo escreve ecoam o ensino da Grande Comissão de Jesus. Por exemplo, em
Romanos 10, Paulo discute a relação entre invocar a Cristo, a confiar nele e
pregar a necessidade de rogar pelo Salvador:
Como,
pois, invocarão aquele em quem não creram? E como crerão naquele de quem não
ouviram falar? E como ouvirão, se não houver quem pregue? E como pregarão, se
não forem enviados? ( Rm 10.14-15).
As perguntas de Paulo
respondem a si mesmas: sem a fé não haverá súplica; sem o ouvir não haverá fé;
sem a pregação não há como ouvir e sem o envio não haverá pregação.
Todas essas passagens têm uma
coisa em comum. Elas revelam a conexão, conexão estabelecida na sabedoria de
Deus, entre comunicar o evangelho através da pregação semeando, ensinando,
chamando, regando e a crença - fé e invocação do Senhor, a conversão a
Cristo em seus diversos aspectos. Portanto, sob circunstâncias normais, a
pregação e o ensino são os meios indispensáveis do
Senhor para trazer homens e mulheres à fé em Cristo. É claro que apenas a
pregação não é suficiente. O próprio Deus deve preparar o coração e, pelo Seu
Espírito, só Ele pode dar o crescimento. Mas Ele normalmente o faz
pela Palavra proclamada pelos ministros do evangelho.
Eleição
Há uma passagem que acima de
todas as outras na Bíblia claramente estabelece o âmbito desta interação entre
meios e fins, a eleição de um lado e a glorificação de outro. Em Romanos 8,
Paulo ensina que o propósito final de Deus para o Seu povo é a sua conformidade
à imagem de Seu Filho. Como devemos entender isso?
A resposta de Paulo leva
primeiramente o leitor de volta para aqueles
que são chamados segundo o seu propósito (v. 28). Estes, segundo ele, são
pré-conhecidos por Deus. Isto é, Ele sabe antes de nascerem quem são essas
pessoas, pois Ele os escolheu. E Ele os predestina para serem conformes à
imagem de seu Filho, Jesus Cristo (v.29). E o que esta predestinação envolve?
E
aos que predestinou, também os chamou, e aos que chamou, também os justificou,
e aos que justificou, também os glorificou (v. 30). Em poucas
palavras, o apóstolo leva o leitor de eternidade a eternidade. Para enfatizar a
certeza e a plenitude desse processo, Paulo usa o verbo no passado, como se
todos os santos já estivessem desfrutando da glorificação. Mas, para o nosso
objetivo, precisamos destacar duas palavras que são essenciais e importantes:
chamou e justificou. Elas salientam a necessidade do eleito de ser glorificado
através da ação do Espírito de tirá-los da escuridão espiritual - o novo
nascimento - e a necessidade deles mudarem sua condição, uma vez que seus
pecados foram perdoados e a justiça de Cristo é imputada a eles.
Quando essas mudanças, a saber, regeneração e justificação ocorrem? A resposta é: durante a vida terrena dos
homens e mulheres. Por quais meios? Pela comunicação e apresentação do
evangelho através da pregação e do ensino. Além disso, essas mudanças ocorrem
pela ação soberana de Deus, o Espírito Santo, que abre os olhos para a
compreensão, renova a vontade, concede o arrependimento e a fé que justifica e
permite o crescimento da virtude cristã, isto é, a santificação.
Vendo
por Outro Lado
Assim, a pregação é
normalmente um meio indispensável para chamar os eleitos de Deus. De forma
paralela, ouvir e fazer esforço para compreender a pregação do evangelho é
indispensável. Não faz sentido algum dizer: Ou
eu sou eleito ou não sou. De qualquer maneira, não há porquê ouvir uma boa
pregação. Pois, se eu sou eleito, de um jeito ou de outro Deus vai me levar
para o céu. E se eu não sou, eu posso encontrar maneiras melhores de gastar o
meu tempo do que indo à igreja. Jesus, por exemplo, destacou a importância
de ouvir com atenção: Aquele que tem ouvidos
para ouvir, ouça (Mt 13.43). O que Jesus queria dizer? Que devemos ouvir
atentamente, com o objetivo de adquirir entendimento. Depois de Sua
ressurreição, Jesus passou um tempo abrindo o entendimento dos discípulos para
compreenderem a Escritura (Lc 24.45). Se estamos confusos e perplexos, devemos
continuar a examinar a Escritura com todas as nossas forças - uma vez que a
Escritura interpreta a Escritura e rogar a Jesus por entendimento. Paulo
conta como os cristãos de Tessalônica vieram a fé em Cristo da seguinte forma: Quando você recebeu a palavra de Deus, que
de nós ouvistes, a recebestes, não como palavra de homens, mas como aquilo que
realmente é, a palavra de Deus (1Ts 2.13).
A linha de raciocínio que diz:
Ou eu sou eleito ou não, de qualquer forma, é inútil atentar à Palavra de
Deus, comete o mesmo erro da crença de que a eleição eterna de Deus faz a
pregação desnecessária. Eles separam o fim da eleição, a renovação na imagem
de Cristo dos meios de comunicar o evangelho através da pregação e as outras
maneiras que Deus ordenou. Isso divide o que Deus tem, de fato, unido. O
que Deus uniu não separe o homem.
Autor: Paul Helm
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