29 de janeiro de 2016

Crescimento numérico


A mentalidade de que crescimento numérico é evidência do favor de Deus domina o meio evangélico há várias décadas. Tanto é assim, que a qualidade do ministério de um pastor ou o suposto grau de aprovação de uma igreja diante de Deus são medidos, muitas vezes, exclusivamente com base nesse critério. Por causa disso, se a gente apontar para os desvios doutrinários absurdos, o mundanismo, a falta de real devoção e os escândalos tão comuns nas mega igrejas que há por aí, logo aparece um santarrão espiritualóide dizendo: "Se esse pastor e essa igreja são tão ruins como você fala, por que Deus os tem abençoado tanto? Você já viu como seus cultos são lotados?". 

28 de janeiro de 2016

Epistemologia Cristã contra o Relativismo


De acordo com o Relativismo epistemológico, não existem verdades absolutas e universais, mas todas as “verdades” são construídas socialmente e dependem de um determinado contexto histórico-cultural. Michael Foucault dizia que a verdade era apenas uma questão ideológica de manutenção do poder (Reis, Assis, Cardoso e Borges, 2014).

Não existe a verdade, mas verdades. A verdade é alguma coisa subjetiva, na mente de quem interpreta um texto, mas não no texto propriamente. A verdade está na forma como eu a vejo, mas não objetivamente. O que é verdade para mim pode não ser verdade para outra pessoa. Por essa razão, ninguém pode reivindicar estar com a verdade objetivamente. Ela não está em nenhum lugar que não seja na mente do indivíduo. O pós-modernismo tem sido caracterizado por "uma aversão endêmica pelas questões da verdade." (Campos, 1997)

26 de janeiro de 2016

O dom de línguas (3/4)


3. A LIMITAÇÃO DO DOM DE LÍNGUAS (14.26-28)

Vimos anteriormente que o espetáculo das “línguas” faladas no culto sem interpretação produz um efeito nocivo na igreja por parte dos incrédulos. Geralmente eles ridicularizam os crentes dizendo que estão loucos (vs.23). A relutância em observar o padrão estabelecido por Paulo no uso organizado das línguas no culto gera o comportamento exagerado de muitos crentes pentecostais e neopentecostais. A consequência disso é que escandalizam muitos descrentes.

Em vez de atraí-los para Cristo através do bom testemunho, que envolve o domínio próprio, a moderação e o bom senso, os que “falam em línguas” sem tradução no culto em “êxtase frenético” repelem os incrédulos. Em contraste, quando a Palavra de Deus é exposta de maneira fiel, produz humilhação, quebrantamento, confissão de pecados, regeneração e fé nos incrédulos (vs.24-25).29 O foco de Paulo neste trecho é que haja a convicção de pecados por parte dos descrentes que estão presentes no culto.

22 de janeiro de 2016

Você está descontente?


Cristãos devem ser pessoas contentes. Nós vemos isto demonstrado nas Escrituras através da vida do apóstolo Paulo (Fp 4.9-11). Também vemos que isso nos é ordenado em Hebreus 13.5. Bom, o que é contentamento? Eu defini da seguinte forma: Contentamento é o tranquilo espírito interior que alegremente se submete à providência de Deus.

Como você sabe que está Descontente?

20 de janeiro de 2016

O dom de Línguas (2/4)



2. A APLICAÇÃO DO DOM DE LÍNGUAS E SUA RELAÇÃO COM OS NÃO CRENTES (14.12-25)

Tendo tratado acerca do dom de línguas relacionado aos crentes, Paulo, agora, discorre sobre o dom de línguas relacionado aos não crentes. O apóstolo enfatiza a importância da mente para o entendimento do que ocorre no culto público. Ele ensina que os atos “no Espírito” envolvem o uso do intelecto (vs.12-17), e instrui os coríntios no uso das línguas em face dos visitantes no culto (vs.20-25).  
  
a) A aplicação das línguas (vs.12-25)

Paulo aplica o princípio do entendimento das línguas ao crente que as fala, aos demais crentes da congregação e, por fim, aos não crentes. Vejamos, pois:  
     

18 de janeiro de 2016

A ideia cristã do Estado (2/2)


1. TOMÁS DE AQUINO E A NATUREZA HUMANA: "NATUREZA COMO PORTAL DA GRAÇA" 

Cristo, o Verbo que se fez carne, deixou de ser visto como a Nova Raiz da ordem da criação, como o Retificador da verdadeira natureza. Declarou-se que a “natureza”, concentrada na “razão”, é autossuficiente e autônoma em sua própria área, a cosmo-ordem temporal. Tomás de Aquino, o ícone do escolasticismo católico romano, concebeu a razão natural como independente da revelação  de Deus em Cristo Jesus. A erudição, a moralidade, a vida política e a “teologia natural’ foram, então, tal como áreas autônomas da razão natural praticadas de uma forma pagã-aristotélica. Entretanto, além dessa ideia intrinsecamente pagã de “natureza”,  uma área “supratemporal” da graça que transcende a razão natural e que só pode ser apreendida à luz da revelação de Deus foi construída. A “Natureza” tornou-se um portal menor e autônomo da graça, e essa última somente traria a primeira à “mais elevada perfeição”. 

15 de janeiro de 2016

Jesus odeia Religião? Mesmo?


Eu acho que frases de efeito como Jesus é maior do que religião, ou ainda Jesus odeia religião, ou mesmo Eu sigo a Jesus; cristianismo é religião, não ajudam muito. Elas precisam de algumas definições para fazer sentido. 

14 de janeiro de 2016

Uma teologia trinitária da salvação em miniatura


A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de Deus, e a comunhão do Espírito Santo sejam com todos vós – 2 Coríntios 13.13 

B. B. Warfield, há muito, observou que os escritos apostólicos não desenvolvem a doutrina da Trindade, mas a pressupõe. O Novo Testamento não é a evidência de um estágio de transição da evolução da fé trinitária, a qual teria sido conceituada e codificada nos séculos seguintes. O Novo Testamento demonstra a presença, na igreja apostólica, de uma fé trinitária profundamente enraizada, a qual, quase sem esforço, articula a si mesma em resumos trinitários dos eventos ocorridos nos evangelhos (Gálatas 4.4-7), formulações trinitárias da prática sacramental (Mateus 28.19), explosões trinitárias de louvor (Efésios 1.3-14) e bênçãos trinitárias, como a que temos em 2 Coríntios 13.13.

13 de janeiro de 2016

O dom de línguas (1/4)


Texto base: 1 Coríntios 14.2,4a, 13-17, 21-25, 27-35

INTRODUÇÃO

No capítulo 14, Paulo estabelece algumas diretrizes para corrigir a forma desorganizada de culto que a igreja de Corinto estava realizando. Para isso, o apóstolo se concentra em dois dons espirituais – o dom de profecia e o dom de línguas. Segundo Paulo, esses dons estavam sendo usados no culto público de maneira equivocada, e, portanto, não estava promovendo a edificação dos participantes.

Todavia, os coríntios pareciam não se importar com relação à ausência de entendimento que havia nos cultos públicos. Eles sequer procuravam compreender tudo o que acontecia. Esse desprezo pelo uso da mente para a compreensão intelectual das coisas estava sendo substituído por um culto eivado pela histeria e focado nas experiências emocionais, as quais eram confundidas com verdadeiras experiências espirituais.

12 de janeiro de 2016

O Pecado do Orgulho Espiritual


Uma espécie de orgulho espiritual que cresce como erva daninha no meio do trigo e que Satanás usa para atacar o cristão é o orgulho da graça. Os dons nos são dados para agir; a graça nos é dada para ser. Estamos falando aqui sobre a medida da graça ou dos atributos de santidade que Deus concede a uma pessoa. Sabemos que tudo o que possuímos nesta vida está sujeito à corrupção. Nada do que o cristão tenha ou que faça está isento deste verme do orgulho. O orgulho é o maior responsável pelas áreas fracas em nossas virtudes, que são altamente vulneráveis. Não é a natureza da nossa graça, mas o sal da aliança de Deus que preserva a pureza dela.

De que maneiras, então, pode um santo tornar-se orgulhoso de sua graça?

11 de janeiro de 2016

A ideia Cristã do Estado (1/2)



Tendo apresentado aos nossos leitores o conceito calvinista de biocosmovisão, elaborado pela tradição neocalvinista holandesa, iniciaremos, desta vez, uma série de duas publicações de textos do professor, teólogo e filósofo calvinista Herman Dooyeweerd.  O presente artigo é resultado de uma palestra proferida no dia da Juventude anti revolucionária, em 3 de outubro de 1936. A palestra está publicada no livro Estado e Soberania, Ensaios Sobre Cristianismo e Política

Indubitavelmente, os argumentos apresentados por Herman Dooyeweerd ao longo do artigo surgem como uma poderosa arma não só contra o reducionismo gnóstico que restringe o cristianismo a esfera da vida privada, mas também contra a ideia nociva do Estado total defendida pelos ideólogos e pensadores de esquerda que, infelizmente, ganhou vida nos últimos anos na América Latina e no Brasil.    

A IDEIA CRISTÃ DO ESTADO

9 de janeiro de 2016

Perseverança: o remédio para o desânimo


Texto base: Hb 12.1-3

INTRODUÇÃO

Dentre os vários temas que permeiam a carta aos Hebreus, temos a necessidade e a importância da perseverança na vida cristã. Vemos praticamente por toda a carta que o autor encoraja os seus leitores a permanecerem obedientes e firmes no evangelho da graça de Deus (2.1-4; 3.1, 12-19; 4.1-3, 11, 14-16; 6.1-3, 11-12; 10.19-39; 12.1-28; 13.1-25).

Se fôssemos para resumir o tema da carta aos Hebreus em uma só frase, o tema seria Perseverança na fé no filho de Deus!    

8 de janeiro de 2016

Cosmovisão Reformada (3/3)



REDENÇÃO

A restauração da criação exigirá um trabalho inspirado pelo Espírito Santo de construção de instituições de cuidado e de hábitos revitalizantes.

Que amor é esse que assume tais riscos?

O Deus do pacto de Israel e Pai de Jesus Cristo é um Criador pródigo e inventivo, que – no que pode nos parecer quase loucura – confiou o cuidado e o desenvolvimento1 da criação a nós, Suas criaturas, comissionadas como portadoras de Sua imagem.

Comissionados e dotados de forma a cumprir essa missão de cultivo da imagem de Deus, nós trabalhamos e descansamos, fazemos amor e arte, cultivamos a terra e transformamos seu fruto no pão nosso de cada dia ao mesmo tempo em que concretizamos nossos sonhos mais extravagantes em catedrais e arranha-céus. Essa criação da cultura de portador da imagem [de Deus] será mais frutífera quando tomar para si a responsabilidade do grão do universo – isto é, quando nosso trabalho e lazer forem semeados nos “sulcos” das normas vivificantes de Deus. 

7 de janeiro de 2016

Você é um gnóstico evangélico?


É fascinante o quanto uma filosofia herética dos primeiros séculos pode permear o pensamento cristão em pleno século 21. Uma atividade interessante é se perguntar: Consigo imaginar Jesus Cristo fazendo atividades comuns? Veja como sentimos uma aversão inexplicável quando é sugerido que Cristo ria de piadas, tomava vinho com seus irmãos judeus, assistia algum evento esportivo, conversava sobre temas políticos ou apreciava uma música cultural. Parece-nos impossível que Jesus tenha ‘perdido seu tempo’ com atividades ‘comuns’, porque no fundo, acreditamos que tudo – exceto as conversas teológicas ou cultos religiosos – sejam banais para Deus. Somente o espiritual tem algum valor.

6 de janeiro de 2016

Como saber como satanás está tentando você


Martinho Lutero certa vez comparou o cristão a um homem bêbado tentando andar a cavalo. É uma comparação comicamente adequada. Este homem sobe por um lado do cavalo, e imediatamente cai do lado oposto. Aí ele sobe daquele lado, e cai direto pelo outro. Lutero quer dizer que, como Cristãos, somos propensos a extremos. Quando não estamos virando bem longe em uma direção, estamos desviando demasiadamente em outra.

5 de janeiro de 2016

A predestinação e a providência de Deus


Consideremos agora o seguinte: tendo-se em vista de que a Aliança da Vida não é pregada igualmente a todos, e também onde é pregada não é recebida igualmente por todos, vê-se nessa diversidade um admirável mistério do juízo de Deus. Não há dúvida nenhuma que essa variedade atende ao seu beneplácito, agrada ao seu querer. Pois bem, como é evidente que isso é feito pela vontade de Deus - que a salvação oferecida a uns e os outros são deixados de lado - daí decorrem grandes e altas questões, as quais só se resolvem ensinando aos crentes o que eles podem compreender da eleição e da predestinação de Deus.

4 de janeiro de 2016

Atos 19.11-12 corrobora o ato profético?


O ato profético é um ritual que faz parte de algumas igrejas pentecostais e das ditas igrejas neopentecostais. É uma influência mesclada do judaísmo do AT e suas implicações simbólicas, das religiões afro, do espiritismo, das artes mágicas e do ocultismo em geral. Neste artigo, não irei analisar detidamente as várias passagens no AT nem os elementos utilizados como um tipo de “ato profético. Limitei-me apenas em Atos 19.11-12, visto que é um dos principais textos utilizados pelos adeptos do ato profético como base para ratificar tal prática. Sendo assim, vejamos, pois, o que Atos 19.11-12 verdadeiramente quer dizer.  


2 de janeiro de 2016

Apóstolo era um dom espiritual? (2/2)


Efésios 4.11

Passemos agora a analisar a segunda passagem onde “apóstolos” figuram ao lado de outros ministérios ou dons espirituais.

E ele mesmo concedeu uns para apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e outros para pastores e mestres, com vistas ao aperfeiçoamento dos santos para o desempenho do seu serviço, para a edificação do corpo de Cristo (Ef 4.11-12).

Clark corretamente avalia que “estes versículos são cruciais para o entendimento restauracionista da necessidade da continuação do ministério apostólico”.33

1 de janeiro de 2016

Calvinismo e Política (4/4)


No quarto e último  artigo  sobre Calvinismo e Política,  retirado da obra Calvinismo, de Abraham Kuyper, encerramos  a série de transcrições que fizemos das palestras proferidas pelo grande teólogo holandês no Princeton University and  Seminary em 1898. Esperamos, sinceramente, contribuir para o justo entendimento que o Calvinismo que tanto amamos e respeitamos não se resume a soteriologia, mas, antes, é um completo sistema de compreensão do mundo criado, fundado estritamente na perfeição da Palavra de Deus. Homens como Abraham Kuyper são baluartes incontestáveis da Teologia Reformada. Sua obra surpreendentemente rica e vasta contribuiu, sobremaneira, para o ajuste preciso entre a correta hermenêutica e a Glória de Deus. 

A Soberania na Igreja