Primeiro, reações físicas como
o cair e o rolar no chão, tremores, choro alto, contorções, saltos, risos
descontrolados, e coisas semelhantes, não são jamais encorajadas nas
Escrituras, e nem mesmo apresentadas como sinal da presença de Deus. O mesmo
pode se dizer dos avivamentos históricos. No geral, até onde sei, reações
físicas e emocionais com essas características nunca foram encorajadas,
promovidas ou buscadas por seus líderes (embora houvesse uns poucos líderes
leigos que fizessem o contrário). E nem sempre foram consideradas como
evidências claras da atuação do Espírito de Deus.
Eu creio que se Jonathan
Edwards estivesse pregando hoje, e de repente alguém caísse durante sua
pregação, ele provavelmente diria: “Levante-se para ouvir o resto, eu não
acabei ainda de falar a Palavra do Senhor!” O próprio João Wesley era bastante
crítico deste tipo de manifestação, embora ele nunca as proibisse, pois tinha
receio de ir contra a obra do Espírito. Entretanto, ele era extremamente
cauteloso e reservado quanto a esse tipo de manifestação. Essas reações físicas
nos tempos bíblicos e durante os avivamentos históricos nunca foram encorajadas
pelos líderes, e nunca foram vistas como sendo a evidência da atuação do
Espírito Santo; portanto, não eram um fim em si mesmas.
Em contraste, o que se vê hoje
são pregadores que procuram conscientemente provocar esse tipo de reação.
Coisas como “cair no Espírito” são encorajadas. Na Igreja de Toronto, onde se
originou o “riso santo”, existe até mesmo uma equipe de “apanhadores” —
voluntários da Igreja que se colocam atrás das pessoas para “apanhá-las” na
hora da queda. Quando visitei aquela igreja, percebi uma obreira que,
literalmente, ao orar por uma mulher, a empurrou para baixo, para que caísse.
Outras reações físicas, como o riso, tremores, palpitações, são enfatizadas, elogiadas,
e os crentes são encorajados a buscá-las.
A segunda grande diferença, e
a meu ver mais importante do que a primeira, é que nos avivamentos históricos
grande parte dessas reações físicas foi resultado de uma percepção por parte
das pessoas, das grandes verdades de Deus, de forma tão clara e tão grandiosa,
que a estrutura física não suportou e entrou em colapso. Um bom exemplo disto é
o avivamento de 1841-1842 no norte da Irlanda, em Skye. Pastores batistas e
presbiterianos que estiveram presentes, ao escreverem seus relatórios, deixaram
claro que este tipo de fenômeno físico era, invariavelmente, o resultado da
pregação da Palavra nos cultos, quando pessoas caíam devido a convicção de
pecado, e em angústia de alma, choravam em voz alta, soluçavam, e às vezes
caíam como mortas ao chão.
Pensemos no que ocorreu na
igreja de Jonathan Edwards naquela manhã em que pregou o memorável sermão
“Pecadores nas mãos de um Deus irado”. O que aconteceu? O que provocou aquela
reação nas pessoas, que se lançaram às colunas da Igreja, e se abraçaram à
elas? As pessoas ali presentes viram de forma tão clara o juízo de Deus e a ira
de Deus contra o pecado, que entraram em profunda angústia de alma. O Espírito
Santo de tal maneira iluminou as suas mentes, que eles tiveram uma visão
extremamente nítida dos horrores da condenação eterna. Esta compreensão foi tão
clara, que era como se eles estivessem vendo diante de seus olhos o próprio
inferno aberto, pronto para tragar as almas dos ímpios. A percepção da grandeza
da ira de Deus e o terror que sentiram do dia do juízo foi tão incisivo que
perderam o controle de si mesmos.
Observe, então, que se poderia
dizer a mesma coisa do que acontecia com a pregação de João Wesley, George
Whitefield, e de alguns pregadores puritanos quando ocorriam essas reações
físicas. Elas aconteciam porque as pessoas se conscientizaram, de uma forma
como talvez nunca haviam feito antes, do caráter santo da lei de Deus, dos
horrores da ira de Deus, ou da profundidade da graça, da bondade, e do amor de Deus,
o ponto de seus corpos não suportarem. O fato é que suas mentes ficaram
impactadas pelas verdades de Deus, e em decorrência disto, seus corpos
reagiram.
Mas hoje em dia, o que se
percebe é alguma coisa absolutamente diferente. A grande maioria dessas
manifestações físicas não são resultado da pregação clara, inequívoca, direta,
das grandes verdades de Deus, o ponto de o povo não aguentar a glória celestial
do que está sendo dito. Uma das principais características dos movimentos que
promovem este tipo de coisa é exatamente a pregação superficial, sem teologia,
antidoutrinária, que gira em torno de um amontoado de versículos que são usados
como base para exortações gerais, recheadas de relatos de experiências,
pregação da prosperidade e declarações de vitória e sucesso. Estão ausentes
exatamente os temas que mais provocaram esse tipo de reação no passado, que são
a santidade, a ira, a justiça de Deus, bem como seu amor redentor em Cristo
Jesus.
Autor: Augustus Nicodemus Lopes
Trecho extraído do livro Cheios do Espírito, pág 31-33. Editora: Vida