Objeção. E
quanto a Balaão querer morrer a morte dos
justos (Nm 23:10)? E quanto a Herodes que, perplexo, ouvia a João de boa
mente (Mc 6:20)?
Resposta. Não
há dúvida de que os não regenerados podem cumprir deveres externos que são por
si mesmos bons. Podem mesmo desejar a Deus como aquele que, segundo creem, pode
lhes trazer a perfeita felicidade, muito se esforçando para serem iguais a ele
e agradá-lo. Contudo, como esses são desejos e esforços meramente naturais, que
não procedem de uma vida espiritual interior nem de uma natureza regenerada,
não são aceitáveis a Deus.
Embora não haja desejos
espirituais nos não regenerados, todavia os anseios que de fato têm e os
esforços que fazem para ficar mais perto de Deus resultam da operação do poder
de Deus sobre eles, seja por meio da consciência, seja pela pregação da lei e
do evangelho ou pelo exemplo de homens piedosos. Tais desejos e esforços em
direção a Deus no ímpio não procedem de nenhum bem encontrado neles — pois bem
nenhum habita na carne (Rm 7:18) — mas resultam da operação do poder de Deus
sobre eles e neles, sem contudo levar à regeneração.
O desejo de ser bom, e todo o
esforço de agradar a Deus através das boas obras mostrados pelos não
regenerados, não procedem de nenhuma vida espiritual que neles há, nem produzem
o desejo de serem regenerados. São gerados tão somente pelo poder de Deus
através da consciência, da pregação ou do exemplo piedoso. Os homens que estão
espiritualmente mortos podem ter o forte desejo de não morrer eternamente, e
fazem muitas coisas para impedir aquele terrível juízo que lhes sobrevirá, mas
tal desejo de salvação não indica que sejam de fato salvos, nem mesmo que
desejam ser regenerados para serem salvos.
Autor: John
Owen
Trecho extraído do livro O Espírito Santo, pág 69-75. Editora: Os Puritanos