A MISSÃO DOS CRISTÃOS NO MUNDO
(2.9b-10)
2.9b ... a fim de proclamardes
as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz; 10
vós, sim, que, antes, não éreis povo, mas, agora sois povo de Deus, que não
tínheis alcançado misericórdia, mas, agora, alcançaste misericórdia.
Após descrever quatro
características da privilegiada identidade dos cristãos como o povo escolhido
de Deus (vs.9a), Pedro termina este capítulo sobre o crescimento espiritual dos
cristãos falando da missão deles como igreja. Como na parte anterior do versículo
9, Pedro, nesta segunda parte, também recorre não diretamente, mas
implicitamente ao Antigo Testamento, aludindo, desta vez, a Isaías 42.16.
Qual é a missão da igreja no
mundo? Evangelizar, que consiste em:
Pedro afirma que os seus
leitores históricos e todos os cristãos foram comissionados a propagar as
grandezas de Deus em suas vidas. Sendo assim, quais são os feitos que devem ser
anunciados?
O
chamado das trevas para a luz
Pedro salienta que, em tempos
passados, especificamente antes da conversão (1.14, 18), os cristãos viviam em
trevas. A palavra virtudes, no grego ἀρετας
(aretes), “era um termo amplamente difundido na época e muito importante na
concepção ética e religiosa do helenismo. Estão em vista as grandes obras de
Deus na história do seu povo. Esses feitos maravilhosos de Deus tratam da vida,
morte e ressurreição de Jesus Cristo como a transformação libertadora do homem
e do seu mundo”.46
A ideia do êxodo (libertação)
do povo de Deus da escravidão do pecado alude a Isaías 43.20-21. “As grandezas
de Deus que Isaías tem em vista são manifestadas na libertação de seu povo do
exílio. As grandezas que Pedro tem em vista manifestam-se na salvação e
transformação de seu povo e na esperança de que eles venham a consumar essa
transformação — a qual foi alcançada pelo ministério, morte e ressurreição do
próprio Filho de Deus”.47 Não obstante, também estão patentes aqui
as virtudes de Deus, “como poder, glória, sabedoria, graça, misericórdia, amor
e santidade. Por meio de sua conduta, os cristãos devem testemunhar que são
filhos da luz, e não das trevas (lTs 5.4)”.48
Todavia, Pedro descreve o
chamado para a salvação através das figuras trevas e luz, as quais sinalizam um
austero contraste (veja Jo 3.19-21; At 26.18; Rm 2.17-19; 2Co 6.14). As trevas
ilustram o caminho de perdição; o estado de escuridão moral e espiritual em que
os homens não convertidos se encontram. “São o emblema da ignorância, do pecado
e da miséria, e refere-se à condição do homem antes da conversão”.49
Destarte, vemos que Pedro, aqui, enfatiza o estado de “ignorância espiritual
e depravação moral” em que o homem se encontra: completamente morto em
pecado (Ef 2.1-3; Cl 2.13).
A “corrupção radical” ou “depravação total” é uma
das doutrinas centrais da fé cristã. A luz, por sua vez, “representa o estado
daqueles que são levados ao conhecimento do evangelho”;50 denota o
caminho da salvação neste contexto (veja Cl 1.13; 1Ts 5.4-5). O adjetivo maravilhosa indica que a luz que liberta
o homem das trevas é algo “extraordinário, surpreendente, admirável”.
Contudo, Pedro declara
implicitamente que os homens, na condição de morte espiritual, são incapazes de
se voltarem das trevas para luz, e que somente Deus, pela sua graça soberana,
pode chamar eficazmente seus eleitos ainda não convertidos das trevas para a
sua inefável luz. O que ele faz é simplesmente lembrar os seus primeiros
destinatários e os cristãos em geral que o chamado das trevas da
perdição para a luz da salvação é soberano, poderoso e impossível de ser
rejeitado por aqueles que tiveram seus corações transformados pela regeneração
(veja Ez 36.26-27; At 16.14). Portanto, vemos mais uma doutrina central da fé
cristã destacada aqui, a saber, a “graça irresistível” ou “chamado eficaz”.
APLICAÇÃO PRÁTICA
Hernandes Dias Lopes acentua
que Somos embaixadores dos atributos de Deus e de seus gloriosos feitos. Não
podemos calar nossa voz. Não podemos guardar para nós essa mensagem. Precisamos
proclamar em alto e bom som quem é Deus e o que ele fez por nós em Cristo
Jesus.51 Uwe Holmer ratifica, dizendo que quem experimentou a
intervenção resgatadora de Deus em sua vida não pode silenciar a esse respeito,
uma vez que sabe que foi arrancado do âmbito de poder das trevas e transferido
para o senhorio libertador do Ressuscitado.52 A nossa missão, como
igreja de Cristo, consiste em declarar através do evangelismo as maravilhas que
Deus fez e tem feito na vida do seu povo.
NOTAS:
46. Ênio Mueller. 1 Pedro – Introdução e Comentário, pág
137.
47. D.A. Carson. Comentário do uso do Antigo Testamento no
Novo Testamento. 1 Pedro, pág 1262.
48. Simon Kistemaker. Epístolas de Pedro e Judas, pág 127.
49. Albert Barnes. Comentário
Expositivo online de 1 Pedro, disponível em: http://www.studylight.org/commentaries/bnb/1-peter-2.html
50. Ibid.
51. Hernandes Dias Lopes. 1 Pedro, pág 76.
52. Uwe Holmer. Comentário Esperança. 1 Pedro, pág 34.
Autor:
Leonardo Dâmaso
Trecho extraído do Comentário Expositivo de 1 Pedro do
autor.