F. Perigo do Consumismo Teológico
O pluralismo pós-modernista
traz consequências imperceptíveis a muitos paladares. Uma delas é o consumismo
em que vivemos em todas as áreas. Tudo tem a ver com a falta de verdade
objetiva, absoluta. Todas as áreas são tratadas na esfera do comercialismo. O
que se vende tem que ser de acordo com os mais variados paladares dos
consumidores. "O pós-modernismo encoraja uma mentalidade de consumismo,
fornecendo às pessoas o que elas gostam e querem."30 Esta mentalidade tem atingido a esfera da
teologia e da liturgia. Quando a verdade objetiva e absoluta não existe mais,
as teologias e liturgias passam a refletir o gosto do tempo presente. A
teologia acompanha as filosofias vigentes. É curioso notar que, após a entrada
do período pós-moderno, muitas teologias e liturgias têm surgido no cenário
religioso, uma após outra, como os produtos de um supermercado. Elas fazem
sucesso por algum tempo e, depois, outra surge para substituir o produto
anterior. Há uma sede de novidade quase incontrolável. Não há nada que dura
para sempre. Por quê? Porque não há verdade absoluta.
Charles Colson adverte sobre o
consumismo na igreja porque ele dilui a mensagem, muda o caráter da igreja,
perverte o evangelho e nega a autoridade da igreja.31
G. Perigo da Mudança da
Pregação
O perigo do consumismo
teológico trouxe este outro. As palavras na teologia vêm perdendo o seu
significado, justamente por causa da mudança constante das teologias. Cada uma
delas dá uma conotação diferente aos termos teológicos tradicionais, ou usam
novos termos para expressar os seus conceitos.
Colson conta-nos de uma igreja
evangélica que decidiu crescer em número de membros. Então, o pastor fez uma
espécie de pesquisa de mercado. Descobriu que muitas pessoas tinham resistência
ao termo Batistas. A igreja resolveu mudar de nome. A pesquisa
mostrou que as pessoas estavam procurando uma igreja de acesso fácil. Então,
eles mudaram o local de reunião, construindo um novo templo. A pesquisa também
mostrou que as pessoas estavam procurando conforto e comodidade. Então, eles
construíram o templo com todas as coisas apontando para o conforto. Também a
pesquisa mostrou que as pessoas não queriam símbolos religiosos no templo.
Então, tirou a cruz e os outros símbolos cristãos que pudessem fazer as pessoas
desconfortáveis. Afinal de contas, as pessoas é que escolhem o tipo de igreja
que querem.
Por essa razão, o pastor veio
a descobrir que tinha que mudar o uso da linguagem teológica. Ele resolveu
mudar o vocabulário comum da teologia. Esse pastor disse: "Se eu usar as
palavras redenção ou conversão, as pessoas vão pensar que estamos falando a
respeito de prisão." Ele parou de pregar sobre o inferno e sobre a
condenação divina, resolvendo falar sobre tópicos mais amenos e positivos,
compatíveis com o espírito do tempo presente. "As pessoas não mais gostam
de doutrina nos dias de hoje," raciocinam esses pastores. Nem as pessoas
do tempo presente gostam de "faça isto" ou "não faça
aquilo."32 Quando as
pessoas desprezam o verdadeiro sentido das palavras, não fazendo caso da
doutrina, certamente a sua ética também será alterada. Este é o grande
postulado do pós-modernismo: mudar os conceitos mudando as palavras. Ao invés
de pregar a redenção que há em Cristo Jesus, levando as pessoas ao arrependimento
de seus pecados e à fé em Cristo, os pregadores entregam mensagens cujo
objetivo é fazer com que seus ouvintes sintam-se bem, expressando a religião de
uma cultura terapêutica. A tônica do nosso tempo é fazer com que as pessoas
sintam-se psicologicamente bem, satisfeitas consigo mesmas. O importante é o
bem-estar, não a verdade. Esta não é levada em conta, porque tudo é relativo.
Não existe verdade absoluta. Este é o valor controlador do pluralismo do
pós-modernismo. A maioria dos líderes religiosos que aceitam o pluralismo pensa
assim. Líderes cristãos estão embarcando neste perigo do pós-modernismo.
Não é raro encontrar líderes
evangélicos no Brasil desviando os crentes da verdadeira mensagem de redenção,
convertendo-a numa redenção para o aqui e o agora. Muitos ouvintes de pregações
modernas não mais são dirigidos para um interesse genuíno no céu ou na nova
terra (como prescreve a Santa Escritura), mas são direcionados para ter o céu
aqui neste tempo presente. Por isso a pregação que eles ouvem diz respeito a
milagres, a promessas de prosperidade, de libertação da opressão, de sucesso ou
de crescimento numérico, uma espécie de teologia da glória neste presente
mundo. Esses pregadores se esquecem de que antes da glória, eles têm que pregar
a teologia da cruz, da negação de nós mesmos, lutando contra os nossos próprios
pecados. É dessa redenção que a Escritura fala, a qual precisamos pregar.
H. Perigo da Mudança de Modelo
Teológico
Essa mudança no foco da
pregação tem sido o resultado de uma mudança ainda maior chamada de
"mega mudança" devido à sua enorme influência no pós-modernismo.33 É a mudança da pregação do protestantismo
clássico do pré-modernismo para a pregação do pós-modernismo, dando origem a um
entendimento totalmente diferente do que realmente significa o evangelho de
Cristo. Michael Horton explica essa mega-mudança através de uma série de
contrastes nos dois cristianismos: o pré-moderno e o pós-moderno:34
1. Deus35
Enquanto o cristianismo
pré-moderno enfatiza a transcendência de Deus e sua imutabilidade, onipotência
e onisciência, o modelo do cristianismo pós-modernista enfatiza a imanência de
Deus, que é dinâmica, capaz de mudança, e em parceria com a sua criação.
2. Pecado36
Enquanto o cristianismo
pré-moderno vê o problema do homem como tendo origem na queda de Adão, tendo
como resultado a culpa e a consequente corrupção, e o pecado como sendo uma
condição, o cristianismo pós-modernista nega a queda universal. Os homens não
são culpados por causa da queda de Adão. O pecado não é uma condição, mas um
ato, simplesmente.
3. Cristo
Enquanto o cristianismo
pré-moderno ensina que a morte expiatória de Cristo é uma morte substitutiva
para mostrar como Deus nos ama, enviando alguém de si próprio para morrer em
nosso lugar, o cristianismo pós-modernista ensina que a morte de Cristo não foi
um sacrifício substitutivo, mas um exemplo para nós. Morrendo, Jesus mostrou
como devemos amar uns aos outros. Quanto mais percebemos o seu sofrimento na
cruz, mas podemos sentir o amor de Deus por nós. Isto muda as nossas vidas e
nos faz amar uns aos outros, segundo o pensamento pluralista.
4. Salvação
Enquanto o cristianismo
pré-moderno ensina que não há salvação à parte da obra expiatória de Cristo e
sua consequente fé nele, o cristianismo pós-modernista postula que muitos serão
salvos à parte de Cristo, e que o Espírito Santo poderá trazer salvação mesmo
aos que não conhecem a Cristo.
5. Escatologia
Enquanto o cristianismo
pré-moderno crê no ensino bíblico sobre a condenação final dos homens, que
serão lançados na segunda morte, estando para sempre debaixo da ira divina, o
cristianismo pós-moderno ensina que Deus não pode lançar o homem na condenação,
pois é um Deus de amor, e não lançará na condenação aqueles que são ignorantes
da fé cristã. O cristianismo pré-moderno ensina que o eterno estado dos homens
é no céu ou no inferno. O pós-modernista ensina que todos vão para o céu ou
que, no mínimo, os ímpios serão aniquilados.
Essa mega-mudança é plenamente
aceitável porque combina com os pressupostos do pluralismo vigente em nossos
dias. O cristianismo pré-moderno é exclusivista, enquanto o cristianismo
pós-moderno é inclusivista. A fim de estar alinhado com o pluralismo, o
cristianismo pós-modernista tem que estabelecer essa mega mudança. Do
contrário, seria excluído do grande guarda-chuvas do pluralismo.
Essa mega mudança reflete
todos os princípios pós-modernistas: a rejeição dos absolutos; a desconfiança
na transcendência; a preferência pela "mudança dinâmica" em vez da
"verdade estática"; o desejo pelo pluralismo religioso, de modo que as
pessoas de outras culturas e religiões sejam salvas; a rejeição da autoridade
divina sobre nós; o tom de tolerância, sentimentos aquecidos e psicologia
popular.37
V. Os Desafios da Igreja no
Pluralismo Pós-Modernista
Há três saídas para o
cristianismo do século XXI: continuar no pós-modernismo relativista; voltar ao
fundamentalismo racionalista; ou voltar mais atrás ainda, ao fundamentalismo
religioso.38
Há os que têm tentado voltar
ao fundamentalismo racionalista, que é o modernismo. Esses têm percebido a
nefasta influência do pós-modernismo, e querem os princípios do Iluminismo de
volta ao século XXI, reinstalando o modernismo. Na esfera da religião, o
domínio da razão já acabou. Em termos religiosos, essa volta seria a
reimplantação da teologia liberal, que é fruto do modernismo. Seria uma tolice
voltar a esse tempo, pois é a negação de toda a sobrenaturalidade e intervenção
de Deus.
Há ainda aqueles que querem
continuar com o status quo do pós-modernismo, tendo as mais variadas opções que
o pluralismo consequente traz, sobre as quais já estudamos. A igreja vive
inquestionavelmente num mundo pós-moderno e ela deve aceitar essa verdade. Há
um sentido em que devemos nos alegrar pelo fato do pós-modernismo ter criticado
o modernismo, pois este foi extremamente prejudicial para a vida da igreja, mas
o pós-modernismo traz consigo vários perigos contra os quais devemos estar
avisados.
Contudo, deve haver, o quanto
antes possível, a volta aos princípios do cristianismo pré-moderno. Não é uma
volta ao tempo, mas aos princípios originais que nortearam a vida da Igreja
antiga por séculos. Não é um retrocesso, mas um progresso para o que é santo,
justo e verdadeiro.
O cristianismo não deve
somente voltar aos princípios da religião pré-moderna, com suas crenças, mas
ele deve ser a melhor opção para as pessoas de nossa sociedade. A fim de que o
cristianismo seja essa opção, ele tem que colocar as coisas em ordem. Para que
o cristianismo seja essa opção, ele não precisa sucumbir ao liberalismo
teológico do modernismo, porque ele mostrou-se ineficiente para resolver os
problemas mais fundamentais do homem; nem precisa o cristianismo atender às
reivindicações do pluralismo do pós-modernismo. Alguns setores evangélicos
sucumbiram aos apelos da mega mudança da cultura de nosso século. Foram
engolidos pelo encanto do pós-modernismo. Hoje não sabem como safar-se dessa
situação. O pós-modernismo tem colocado as pessoas num beco sem saída. Não há
uma mensagem redentora, porque não há uma verdade objetiva. As pessoas não têm
um norte para seguir, porque não existe paradigma confiável.
Qual é a saída para o
cristianismo pós-moderno? O que fazer? Há vários desafios a serem aceitos:
A. O desafio da volta à
verdade objetiva
Por verdade objetiva, estou
querendo dizer um código de leis sob o qual o ser humano tem que pautar a sua
vida. Todavia, que não seja um código de leis nascido nos próprios interesses
ou na subjetividade do ser humano. Esse código tem que ser o de Alguém que
possui supremacia sobre o homem — o Criador-Redentor-Rei.
Esta é a primeira grande coisa
que foi perdida nesta nossa sociedade pluralista. Ela tem que ser recuperada a
qualquer custo, ou nunca o cristianismo será aquilo que o seu Redentor é: Verdade.
O mundo pré-moderno e o
moderno possuíam uma verdade objetiva. O primeiro cria em verdades
transcendentais, enquanto o segundo não; mas ambos criam em padrões, mesmo
que diferentes. O pós-modernismo luta contra a verdade objetiva. Para ele não
existe padrão absoluto de verdades.
A nota triste é que muitas
comunidades cristãs estão aceitando alguns princípios pós-modernistas,
rejeitando a objetividade da verdade. Leith Anderson disse que "temos uma
geração que está menos interessada em argumentos cerebrais, pensamento linear,
sistema teológico, e mais interessada em encontrar o sobrenatural."39 O resultado dessa nova tendência é que muitos
ministros de igrejas cristãs vêm operando com um novo paradigma de
espiritualidade. As verdades objetivas e logicamente formuladas não têm mais
lugar no pensamento deles.
O que vale agora é a
experiência com o sobrenatural, sem o controle da verdade objetivamente
examinada. Havia um antigo princípio no cristianismo pré-moderno: "Se você
tem o ensino correto, certamente terá experiência com Deus." É o ensino
correto a respeito de Deus que o levará a um relacionamento correto com Ele.
Mas a ordem foi invertida. O novo princípio do cristianismo pós-modernista é:
"Se você experimenta Deus, você terá o ensino correto." Em outras
palavras, é a experiência que você teve com o sobrenatural que lhe dará as
diretrizes que deve seguir. Não há qualquer padrão de verdades estabelecidas
que você deva seguir. Elas virão dependendo de sua experiência. Ao invés da
verdade objetivamente revelada determinar a validade da experiência, é a
experiência que determina a doutrina.
Temos que restaurar o
princípio da verdade objetiva que vigorou no tempo do cristianismo pré-moderno.
Do contrário, a igreja cristã perderá totalmente a sua identidade.
B. O desafio de não ter medo
da verdade
Muitos dos nossos jovens
cristãos estão sendo acuados pelo caos teológico em que vivem, ao ponto de não
terem coragem de assumir a verdade do cristianismo em face das pressões que
sofrem em nossa sociedade pluralista. É muito difícil para eles assumirem a
verdade de Deus e serem íntegros. A vida moderna tende a levar todos nós a um
comportamento hipócrita e de padrões duplos. Não somente os estudantes, mas
todos nós enfrentamos situações muito difíceis, porque a sociedade
contemporânea não aceita que haja um padrão de verdade e ninguém pode sair por
aí pregando e vivendo a verdade. É assim o ambiente em que os nossos filhos
estão crescendo. Em tal ambiente é extremamente difícil ser o povo da verdade.
Precisamos educar os nossos
filhos e o povo de Deus a não terem medo de expressar a sua fé na verdade da
Palavra de Deus. É exatamente para esse fim que o povo de Deus tem sido
convocado: para falar da verdade e para vivê-la. Como um povo da verdade, os
cristãos devem resistir à tentação de ficarem em silêncio e de terem que
assumir uma vida de padrões duplos. O silêncio e a hipocrisia podem minar a
verdade, e o cristianismo pode vir a cair no descrédito. Além disso, estaremos
minando o conceito de verdade se "todas as verdades são igualmente
verdadeiras." O protesto dos cristãos diante desse status quo é urgente e
absolutamente necessário, a fim de que Deus seja honrado através de nosso
testemunho da verdade e vida na verdade.
C. O desafio para não sermos um
gueto
Devido ao pluralismo religioso
admitido em nossa sociedade pós-moderna, alguns grupos religiosos têm a
tendência de se isolarem em suas verdades. O cristianismo não tem fugido à
regra. Muitas comunidades cristãs genuínas se isolam em seu casulo com medo de
serem invadidas. Quando questionadas em seus padrões, as igrejas e denominações
têm a tendência de se isolar em um refúgio para permanecerem num lugar de
segurança, que Veith chama de "gueto cristão."40
A bem da verdade, ninguém
escolhe viver num gueto, pois os que vivem nele, vivem por causa da
discriminação.41 O cristão, num certo sentido, é discriminado em
todas as sociedades, mesmo onde ele é a maioria nominal. Quem vive num gueto é
porque está excluído do ambiente geral.
A Igreja cristã não deve se
isolar, embora deva proteger a verdade. Se ela se acovarda emburacando-se em
uma caverna, como Elias fez diante das investidas de Jezabel, a igreja vai
perder a sua verdadeira identidade.
Ela deve aceitar o desafio de
contrariar o espírito do tempo presente como uma espécie de contracultura, saindo para minar os campos alheios. Ela não deve
ensimesmar-se (ou isolar-se), porque se o fizer, estará negando a sua missão de
ser proclamadora do reino, de ser sal no meio desta geração pervertida e
corrupta. Ela não deve temer a crítica ou o desprezo. Ela tem que sair do gueto
para ser luz! Se ela sair, não será destruída, porque o Senhor dela, na sua
fidelidade, se encarregará de abençoá-la. O Senhor haverá de protegê-la
enquanto ela lutar contra as outras "verdades" do pluralismo
religioso e teológico.
Sair do gueto significa entrar
na ofensiva da proclamação e da mostra prática da verdade teórica. Diogenes
Allen, professor de Princeton, alerta que a era pós-moderna é uma grande oportunidade
para o cristianismo sair da defensiva, posição que tem ocupado desde a
implantação do Iluminismo: "Não pode o cristianismo ser colocado da
defensiva, como tem sido nos últimos 300 anos ou coisa que o valha, por causa
da visão estreita da razão e da confiança na ciência clássica, que são as
características da mentalidade moderna."42
Se o cristianismo quer ser uma
alternativa para este mundo pós-modernista, ele tem que confessar a sua fé e
prová-la com atitudes. Isso implica num conhecimento intelectual e experiencial
da fé, que tem faltado a tantos chamados cristãos. Pela falta dessa confissão e
pela falta da genuinidade da experiência, é que o cristianismo tem permanecido
acuado pelo modernismo, dentro do seu próprio gueto. Sair dele é um imperativo
para a sobrevivência e para a expansão do reino de Deus. Essa saída do gueto
tem que ser vitoriosa, não pela derrota do modernismo, mas pelo retorno à vida,
pelo conhecimento advindo do real estudo da Escritura e pela experiência
genuína com o Senhor Jesus. Somente quando isto acontecer, é que a igreja terá
coragem de entrar na ofensiva contra as hostes espirituais do mal, que estão
entrincheiradas nas filosofias pós-modernistas.
D. O desafio da volta à
confessionalidade
O modernista Ernest Gellner,
lutando contra o espírito pós-modernista, presta um tributo de respeito aos que
ele chama de fundamentalistas religiosos, dizendo: "Os fundamentalistas
merecem o nosso respeito, tanto como reconhecedores da singularidade da verdade
que evitam a superficial auto-ilusão do relativismo universal (e merecem nosso
respeito), quanto como nossos ancestrais intelectuais. Sem provocar uma
excessiva adoração de nossos ancestrais, nós lhes devemos uma medida de
reverência."43 Embora
ele não concorde com os fundamentalistas religiosos, certamente Gellner entende
que o fundamentalismo é uma grande opção para a sociedade contemporânea.
É importante observar que o
fundamentalismo religioso aqui descrito não tem nada a ver com o
fundamentalismo de outras religiões, como o fundamentalismo islâmico, por
exemplo. O que Gellner tem em mente é a religião pré-moderna, especialmente o
cristianismo revivido na Reforma e pós-reforma.
Se o cristianismo quer ser a
melhor opção para o homem pós-moderno, ele tem que voltar às suas origens
históricas. Primeiramente, às Escrituras e, consequentemente, à Reforma do
século XVI. Muitos teólogos estão redescobrindo a Escritura, voltando a ela, e
redescobrindo a história (os pais da igreja e a espiritualidade que os
caracterizou). É curioso que, para satisfazer as necessidades espirituais do
homem pós-moderno, tenhamos que voltar à mensagem do homem pré-moderno.
Portanto, o desafio da igreja
é a volta aos princípios da Reforma do século XVI. Os luteranos que voltem aos
seus credos, os calvinistas aos seus, e os outros que não possuem credos, que
voltem às raízes do movimento, conquanto estas combinem com o verdadeiro ensino
da Palavra, e que todos tenham a verdade restaurada objetivamente, sem,
contudo, cair num confessionalismo frio e árido, que caracterizou a segunda
metade do século XVII e o século XVIII. É necessário que as igrejas cristãs
históricas voltem a ter uma fé ortodoxa, viva e piedosa; uma fé que dê lugar ao
intelecto e aos sentimentos: uma fé racional, mas não racionalista, com emoções,
mas não emocionalista; uma fé baseada na verdade de Deus como revelada nas
Santas Escrituras.
NOTAS:
30. Veith, Postmodern Times, 212.
31. Charles Colson, The Body: Being Light in Darkness
(Dallas, Texas: Word, 1992) 44-47.
32. Ibid., 43-44.
33. Veith, Postmodern Times,
214.
34. Michael Horton,
"Theology at a Glance," em Modern Reformation (Janeiro-Fevereiro
1993) 33.
35. A parte da teologia
sistemática onde se estuda o ser de Deus é chamada de teontologia. Também nessa
parte são comumente estudadas as obras de Deus.
36. A área da teologia
sistemática que estuda a doutrina do homem em relação ao pecado é denominada
hamartiologia.
37. Veith, Postmodern Times, 214.
38. Estes três nomes italicizados foram cunhados pelo
antropólogo inglês Ernest Gellner em seu livro Postmodernism, Reason and
Religion (London: Routledge, 1992).
39. Leith Anderson, A Church for the Twenty-First
Century (Minneapolis: Bethany House, 1992) 20.
40. Veith, Postmodern Times,
210
41. Exemplos de guetos podem
ser vistos na África do Sul, onde os negros ainda vivem em lugares isolados
feitos especialmente para eles; há, ainda, exemplos de algumas comunidades de
negros norte-americanos, onde eles vivem quase que exclusivamente para si
próprios, sem contato maior com a comunidade dos brancos. Eles criam seu
próprio estilo de vida e linguagem. Houve, também, o exemplo clássico dos
guetos dos judeus no tempo da guerra na Polônia, Alemanha e outros lugares da
Europa.
42. Diogenes Allen, Christian Belief in a Postmodern
World (Louisville, KY: Westminster/John Knox Press, 1989) 2.
43. Ernest Gellner, Postmodernism, Reason and Religion
(London: Routledge, 1992) 95-96 (citado por Veith, Postmodern Times, 217).
Autor: Heber Carlos de Campos
Fonte: Mackenzie