6 de setembro de 2016

Legalistas e Libertinos


De que maneira os crentes navegam sobre as áreas cinzentas da vida? Quando se trata de atividades, diversão, ou qualquer outra coisa que a Palavra de Deus não aborda especificamente, como os cristãos conscientes devem determinar o que eles podem e não podem fazer? Enquanto as áreas cinzentas podem variar ao longo do tempo ou por localização, a igreja sempre enfrentou as questões sociais, as tendências populares e os pormenores da conduta pessoal que a Escritura não fala diretamente. Dançar, beber e fumar são alguns exemplos clássicos, mas a vida pós-moderna é repleta de escolhas sobre eventos e atividades que não aparecem na Palavra de Deus.

Normalmente, muitos crentes tendem para um dos dois extremos em resposta às áreas cinzentas da vida. Vejamos, pois:

Legalismo

Algumas pessoas gostam de regras. Elas se sentem mais confortáveis com um ascetismo estritamente regulamentado, governado por uma extensa lista de prós e contras que eles esperam que todos observem. Sistemas legalistas reduzem a vida do crente abaixo da conformidade básica que ele ou ela está convencida do que significa a verdadeira espiritualidade.

Com esta abordagem simplista da vida, não há nenhuma necessidade para a fé pessoal e o verdadeiro andar no Espírito. Em vez disso, o legalista vive essencialmente a mentalidade retratada na oração do fariseu da parábola de Cristo, em Lucas 18.11-12:

O fariseu, posto em pé, orava de si para si mesmo, desta forma: Ó Deus, graças te dou porque não sou como os demais homens, roubadores, injustos e adúlteros, nem ainda como este publicano; jejuo duas vezes por semana e dou o dízimo de tudo quanto ganho.

Nas igrejas legalistas, o crescimento espiritual é substituído por uma rígida aderência a regras, e a prova incisiva de maturidade espiritual é simplesmente o que uma pessoa faz ou deixa de fazer.

Você pode ter congregado algum tempo em uma igreja assim, em que os princípios bíblicos sobre como viver a vida cristã são mais ou menos supérfluos. E você pode entender porque tal sistema irá apelar para homens e mulheres cansados de lutar. Afinal de contas, a conformidade é fácil, e a lista de prós e contras às vezes funciona como um modelo de declaração de fé. Não há pensamento crítico, não há decisões a serem tomadas, não há perguntas difíceis de responder.

Todavia, não é assim que os cristãos foram destinados a viver. Retidão e [a verdadeira] maturidade espiritual não são alcançadas pelo que as pessoas fazem ou deixam de fazer. Como Paulo escreveu:

É, porventura, a lei contrária às promessas de Deus? De modo nenhum! Porque, se fosse promulgada uma lei que pudesse dar vida, a justiça, na verdade, seria procedente de lei (Gálatas 3:21).

O legalismo usurpa a obra do Espírito Santo. É um curto-circuito na consciência a criação de uma regra falsa, produzida pelo “homem santo”. Ele sacrifica a liberdade cristã, e juntamente com ela, todas as oportunidades para crescer e amadurecer através desta liberdade. Em vez disso, ele incentiva a religiosidade vazia, hipocrisia e arrogante dos fariseus.

Legalistas acreditam que suas regras e diretrizes não influenciam pecaminosamente a vida dos outros. Eles tentam impor a santidade através de normas estritas e separatistas. Contudo, a verdade é que o farisaísmo deles é tão enganoso e espiritualmente fatal como a rebelião, a blasfêmia, se não mais do que esses.

Libertinagem

Este outro extremo é igualmente perigoso, mas por razões opostas. Ao invés de submeterem-se a uma lista interminável de regras inexoráveis, muitos na igreja hoje vão para outra direção, resolutos a explorar e experimentar a plenitude da liberdade. Eles utilizam a liberdade que possuem em Cristo como licença para todos os tipos de comportamento, atividades e objetivos. Desenfreados, eles impulsionam todos os limites para abraçar e desfrutar tudo o que for possível do mundo.

Na verdade, a não ser que algo seja terminantemente proibido nas Escrituras, eles vão tentar. E eles vão incentivar outros para o bem, as vezes de forma beliciosa. Ostentando a liberdade, eles não podem cessar de falar sobre o que estão ouvindo, vendo e lendo, onde estão indo, o que estão comprando, o que estão fumando ou bebendo; o que eles têm tatuado em seus corpos, ou qualquer outra coisa que estejam fazendo para expressar e desfrutar da liberdade em Cristo. E eles não podem entender o motivo de você não estar fazendo o mesmo.

Este tipo de espírito libertino tem agido desenfreadamente na igreja nos últimos anos, e suas consequências desastrosas são mais que evidentes. Muitos crentes que professam ter sacrificado a verdadeira liberdade em Cristo tornaram-se escravos de interesses mundanos. O testemunho deles está manchado ou foi definitivamente refutado pela conduta inapropriada, e o serviço para o Senhor e Sua igreja impedidos por amor ao mundo. A evidência sugere que esse tipo de cristianismo libertino não é nada mais do que um convite para a tentação, para a corrupção e, finalmente, para o naufrágio moral.

O que podemos aprender sobre a nossa liberdade?

Estes dois extremos conduzem a preferências, perspectivas e desvios perigosos. Legalistas tendem a se isolar e obrigar a todos se amoldarem às suas regras inflexíveis. Para eles, todos os que estão fora do castelo de regras, incluindo outros crentes, são julgados como pecadores rebeldes. No lado oposto, os libertinos mundanos endurecem a consciência, apagando cada linha até os limites bíblicos uma vez evidentes, mas que agora já não são mais perceptíveis. Não há nenhuma reflexão sobre o exemplo que se dá ou sobre a tentação do convite do estilo de vida deles os impele, e qualquer instrução acerca da moderação disciplinada é considerada legalismo. Ao passo que estas duas visões de mundo não podem ser mais opostas, todavia elas são dois lados da mesma moeda. Ambas têm a mesma capacidade de confundir e corromper os crentes em relação à liberdade em Cristo.

A liberdade em Cristo não é algo a ser temido, nem é uma licença para viver de qualquer maneira. É um presente de Deus que muitas vezes serve como campo de provas para a nossa fé, onde ela é testada, fortalecida e refinada. E, como tal, precisamos saber como usá-la e aproveitá-la devidamente.




Autor: Jeremiah Johnson
Fonte: Grace to You
Tradução (Brasil): Leonardo Dâmaso
Tradução (Portugal): Joel Lopes
Divulgação: Reformados 21



Você está autorizado a compartilhar os artigos deste blog para republicações, desde que informe o autor, tradutor (quando houver) e as fontes principais e intermediárias, inclusive o Reformados 21. Não é permitido a alteração do conteúdo original e a utilização para fins comerciais.