Desculpe, mãe, eu entendo o
que você estava tentando fazer, mas a instrução moral não vai servir para aqueles
garotos crescerem em maturidade. Seu desafio será aprender quando é necessário
lutar, e de que maneira, conforme determina a Bíblia, a combater o bom combate
da fé.
E sobre a igreja? É sempre
apropriado para os cristãos e as igrejas se envolverem em controvérsias? Claro,
a resposta é sim. Há momentos em que os crentes estão divididos sobre questões
sérias e pretensiosas, e o debate é um resultado inevitável. A única maneira de
evitar qualquer controvérsia seria não considerarmos nada importante o
suficiente para defendermos, e nenhuma verdade muito dispendiosa para nos comprometermos.
O Novo Testamento não é
evasivo, pois revela graves e consequentes controvérsias dentro das primeiras
congregações, até mesmo entre os líderes cristãos. O apóstolo Paulo defendeu o
evangelho com empenho quando entrou em uma polêmica com os Gálatas (Gl 1.6-9).
Ele entrou em uma controvérsia moral quando escreveu aos Coríntios (1Co 5).
Paulo enfrentou Pedro sobre a questão dos gentios e a circuncisão (Gl 2.11-14).
Judas alertou para o desafio constante de defender a verdade contra seus
inimigos (Judas 3). João advertiu uma igreja que era tão morna e
descomprometida com a verdade que nem conseguiu fomentar uma controvérsia (Ap
3.14-22).
A história da igreja também
nos lembra da necessidade de controvérsia quando a verdade do evangelho está em
jogo. Uma e outra vez, vemos momentos cruciais em que a verdade deve ser
defendida ou negada. A igreja tem que olhar diretamente para o que está sendo
ensinado e decidir se o ensino a respeito das Escrituras é verdadeiro. Isso
geralmente produz controvérsia. Se a igreja acreditasse que a controvérsia deveria
ser evitada a todo o custo, não teríamos nenhuma ideia do que é o evangelho.
Para nossa vergonha, a igreja
tem se dividido muitas vezes sobre controvérsias erradas. Congregações e
denominações têm se dividido acerca de questões que são, à luz da Palavra de
Deus, indiferentes. Ademais, algumas igrejas parecem prosperar na controvérsia,
assim como alguns membros da igreja e líderes são agentes da desunião. Isso
traz vergonha e censura sobre a igreja, e distrai a mesma de sua tarefa de
pregar o evangelho e fazer discípulos.
Portanto, como saber se uma
controvérsia é certa ou errada? A única maneira de responder a essa pergunta é
recorrer à Escritura e avaliar a importância das questões para um debate. Todas
as questões da verdade são importantes, mas nem todas são igualmente
importantes. Controvérsias sobre doutrinas centrais e essenciais não podem ser
evitadas sem adulterar o evangelho. Conforme Paulo admoestou aos Gálatas, uma
igreja disposta a enfrentar controvérsias sobre doutrinas centrais, em breve estará
pregando “outro evangelho”. A igreja teve de enfrentar controvérsias sobre doutrinas
centrais e essenciais, como a verdadeira divindade e humanidade de Cristo, a
natureza da Trindade, a justificação pela fé, somente, e a veracidade das
Escrituras. Se essas controvérsias fossem evitadas, o evangelho e a autoridade
das Escrituras teriam sido prejudicados. Estas controvérsias foram mais sobre doutrinas
de “primeiro nível” de importância – doutrinas sem a qual a fé cristã não pode
existir.
Doutrinas, no segundo nível de
importância, não têm a ver com os aspectos fundamentais do evangelho e seu
apelo ao arrependimento e à fé, mas explicam a divisão da igreja em
denominações. Denominações têm surgido por efeito de divergências sobre o
batismo, a ordem da igreja e outras questões que são inevitáveis na vida
congregacional.
No terceiro nível, vemos
controvérsias sobre questões que devem ser discutidas, debatidas, mas que não
deve dividir os crentes em diferentes congregações e denominações. Congregações
e denominações devem desenvolver a maturidade bíblica e espiritual para julgar
a importância das divergências e saber quando a controvérsia é certa e quando ela
é errada.
Os políticos têm sabido
exortar seus colegas a não desperdiçar uma crise. Da mesma forma, a igreja não
deve desperdiçar uma controvérsia. A igreja e seus fiéis devem valorizar suas
controvérsias. A polêmica, quando aparece, deve conduzir a igreja a Cristo e as
Escrituras, como crentes que procuram saber tudo o que a Bíblia ensina.
Disputas e debates devem remeter a igreja a estar de joelhos em oração, como
crentes que procuram um pensamento comum, guiados pelo Espírito Santo. A polêmica,
lidada adequadamente, vai servir para alertar a igreja do perigo da apatia
doutrinal e a necessidade de humildade pessoal.
Finalmente, a controvérsia
deve levar a igreja a orar pela unidade que Cristo irá realizar somente quando
glorificar a Sua igreja. Mesmo assim, Senhor, venha depressa! Até então, não
ousamos perder uma controvérsia.
Autor:
Albert Mohler Jr.
Fonte: Ligonier Ministries
Tradução:
Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados
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