13 de setembro de 2016

A controvérsia às vezes é necessária


Recentemente, assisti como uma jovem mãe agiu rápida e decisivamente para acabar com uma briga entre dois garotos na pré-escola. Ela agiu com justiça e de forma bastante eficaz; e então, se voltou para ela duas acusações e se estabeleceu a lei: “Ela não tem o direito de lutar!”    

Desculpe, mãe, eu entendo o que você estava tentando fazer, mas a instrução moral não vai servir para aqueles garotos crescerem em maturidade. Seu desafio será aprender quando é necessário lutar, e de que maneira, conforme determina a Bíblia, a combater o bom combate da fé.

E sobre a igreja? É sempre apropriado para os cristãos e as igrejas se envolverem em controvérsias? Claro, a resposta é sim. Há momentos em que os crentes estão divididos sobre questões sérias e pretensiosas, e o debate é um resultado inevitável. A única maneira de evitar qualquer controvérsia seria não considerarmos nada importante o suficiente para defendermos, e nenhuma verdade muito dispendiosa para nos comprometermos.

Sabemos que Cristo se preocupa profundamente com a paz de sua igreja. Em Sua oração para a igreja em João 17, Jesus ora para que o seu rebanho seja protegido pelo Pai e marcado pela unidade. Mas, como também Cristo deixa claro, Sua igreja deve estar unida e santificada na verdade. Em outras palavras, não há verdadeira unidade desligada da união na verdade revelada de Deus.

O Novo Testamento não é evasivo, pois revela graves e consequentes controvérsias dentro das primeiras congregações, até mesmo entre os líderes cristãos. O apóstolo Paulo defendeu o evangelho com empenho quando entrou em uma polêmica com os Gálatas (Gl 1.6-9). Ele entrou em uma controvérsia moral quando escreveu aos Coríntios (1Co 5). Paulo enfrentou Pedro sobre a questão dos gentios e a circuncisão (Gl 2.11-14). Judas alertou para o desafio constante de defender a verdade contra seus inimigos (Judas 3). João advertiu uma igreja que era tão morna e descomprometida com a verdade que nem conseguiu fomentar uma controvérsia (Ap 3.14-22).

A história da igreja também nos lembra da necessidade de controvérsia quando a verdade do evangelho está em jogo. Uma e outra vez, vemos momentos cruciais em que a verdade deve ser defendida ou negada. A igreja tem que olhar diretamente para o que está sendo ensinado e decidir se o ensino a respeito das Escrituras é verdadeiro. Isso geralmente produz controvérsia. Se a igreja acreditasse que a controvérsia deveria ser evitada a todo o custo, não teríamos nenhuma ideia do que é o evangelho.

Para nossa vergonha, a igreja tem se dividido muitas vezes sobre controvérsias erradas. Congregações e denominações têm se dividido acerca de questões que são, à luz da Palavra de Deus, indiferentes. Ademais, algumas igrejas parecem prosperar na controvérsia, assim como alguns membros da igreja e líderes são agentes da desunião. Isso traz vergonha e censura sobre a igreja, e distrai a mesma de sua tarefa de pregar o evangelho e fazer discípulos.

Portanto, como saber se uma controvérsia é certa ou errada? A única maneira de responder a essa pergunta é recorrer à Escritura e avaliar a importância das questões para um debate. Todas as questões da verdade são importantes, mas nem todas são igualmente importantes. Controvérsias sobre doutrinas centrais e essenciais não podem ser evitadas sem adulterar o evangelho. Conforme Paulo admoestou aos Gálatas, uma igreja disposta a enfrentar controvérsias sobre doutrinas centrais, em breve estará pregando “outro evangelho”. A igreja teve de enfrentar controvérsias sobre doutrinas centrais e essenciais, como a verdadeira divindade e humanidade de Cristo, a natureza da Trindade, a justificação pela fé, somente, e a veracidade das Escrituras. Se essas controvérsias fossem evitadas, o evangelho e a autoridade das Escrituras teriam sido prejudicados. Estas controvérsias foram mais sobre doutrinas de “primeiro nível” de importância – doutrinas sem a qual a fé cristã não pode existir.

Doutrinas, no segundo nível de importância, não têm a ver com os aspectos fundamentais do evangelho e seu apelo ao arrependimento e à fé, mas explicam a divisão da igreja em denominações. Denominações têm surgido por efeito de divergências sobre o batismo, a ordem da igreja e outras questões que são inevitáveis na vida congregacional.   

No terceiro nível, vemos controvérsias sobre questões que devem ser discutidas, debatidas, mas que não deve dividir os crentes em diferentes congregações e denominações. Congregações e denominações devem desenvolver a maturidade bíblica e espiritual para julgar a importância das divergências e saber quando a controvérsia é certa e quando ela é errada.

Os políticos têm sabido exortar seus colegas a não desperdiçar uma crise. Da mesma forma, a igreja não deve desperdiçar uma controvérsia. A igreja e seus fiéis devem valorizar suas controvérsias. A polêmica, quando aparece, deve conduzir a igreja a Cristo e as Escrituras, como crentes que procuram saber tudo o que a Bíblia ensina. Disputas e debates devem remeter a igreja a estar de joelhos em oração, como crentes que procuram um pensamento comum, guiados pelo Espírito Santo. A polêmica, lidada adequadamente, vai servir para alertar a igreja do perigo da apatia doutrinal e a necessidade de humildade pessoal. 

Finalmente, a controvérsia deve levar a igreja a orar pela unidade que Cristo irá realizar somente quando glorificar a Sua igreja. Mesmo assim, Senhor, venha depressa! Até então, não ousamos perder uma controvérsia.




Autor: Albert Mohler Jr.
Tradução: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21




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