A caricatura popular é também
sustentada por vários comentaristas, como esta seleção de citações demonstra:
Sansão era dominado por
lascívia, orgulho e uma paixão por vingança.
Sua vida parece que foi
cercada de relacionamentos ilícitos com prostitutas e mulheres de vida fácil.
Suas façanhas demonstram as
ações de um jovem delinquente incontrolável.
Seu último ato envolveu uma
recusa de deixar Deus operar sua própria vindicação por meios legais, o qual
sua oração de morte permanece em triste contraste à oração de morte do nosso
bendito Salvador.
Mas ele nunca foi totalmente
capaz de aceitar a sua vida de separação. Ele sempre quis secretamente ser como
outros homens para desfrutar dos prazeres que eles gozavam (uma tentação que é
sem dúvida comum aos cristãos hoje). Em Dalila, ele viu a chance, talvez, sua
última chance, para a felicidade que ele sempre quis. Ao ceder ao pedido dela,
Sansão praticamente convidou Dalila à libertá-lo do seu voto nazireu, para
fazê-lo o homem normal que ele sempre quis ser.
Uma
causa perdida?
Ressuscitar Sansão é uma causa
perdida? Eu não creio que seja, pelas seguintes razões.
Primeiro, Sansão teve o
chamado divino mais claro de todos os juízes, um chamado que ele também cumpriu
(Juízes 13.5).
Segundo, ele julgou Israel
fielmente por 20 anos (Juízes 15.20; 16.31). Somos informados disto duas vezes
para ressaltar o significado deste longo, solitário, fiel e heróico serviço —
derrotando os inimigos de Israel e os libertando dos seus opressores.
Terceiro, apesar da maior
parte do relato bíblico cobrir somente o verão antes dos vinte anos de Sansão
liderar Israel (Juízes 13-15) e o último ano da sua vida (Juízes 16), ainda
assim, é um tempo relativamente curto comparado aos seus 20 anos de fidelidade.
Ao contrário desta valente tentativa de dar uma explicação para o comportamento
de Sansão no capítulo 16, eu não subestimo a gravidade do pecado de Sansão no
último ano da sua vida. Mas ainda não anula o tom predominante da sua vida como
uma de coragem e leal serviço a Deus e ao país.
Quarto, a Bíblia relata o
Espírito do Senhor descendo sobre Sansão mais do que sobre qualquer outro juíz
(Juízes 13.25; 14.6; 15.14).
Quinto e mais importante,
Deus o coloca na Galeria da Fé, na mesma ala de Davi, Samuel e os profetas
(Hebreus 11.32). Isto nos dá o prisma mais importante com o qual vemos Sansão.
De fato, quando lemos os seguintes versículos, nos admiramos se o Apóstolo
tinha Sansão, e especificamente Juízes 16 em mente:
Os quais, pela fé, venceram
reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam as bocas dos leões,
apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram
forças, na batalha se esforçaram, puseram em fugida os exércitos dos estranhos…
Uns foram torturados, não aceitando o seu livramento, para alcançarem uma
melhor ressurreição; e outros experimentaram escárnios e açoites, e até cadeias
e prisões.
Em seguida, escute as palavras
centrais do Apóstolo na sua revisão de todos os Heróis da Fé. Ele diz que o
mundo não era digno deles (v. 38), e que todos estes obtiveram um bom
testemunho pela fé (v. 39). Ainda, não vejo razão alguma para não aplicar a Sansão
as palavras que descrevem heróis anteriores da fé em Hebreus 11: Todos estes
morreram na fé (v. 13).
Morte
Desorientadora
Como todos sabemos, Sansão acabou numa prisão dos filisteus, tendo-se desviado nos braços e na cama de Dalila. Mas lá o seu cabelo começou
a crescer novamente, indicando um retorno ao voto nazireu de total compromisso
com Deus. Então, quando exibido em desfile e zombado diante dos filisteus
blasfemadores, ele clamou a Deus em oração, usando o Seu nome de pacto, SENHOR.
Ele não mais está confiando na sua própria força, mas está buscando Deus para
ajudá-lo a julgar uma última vez.
Aqui é importante lembrar que
Sansão não é somente um indivíduo particular, mas um juiz, apontado por Deus
para julgar em Seu nome. Como diz o comentarista Luke Wiseman:
Nesta oração, não encontramos
referência a si mesmo como um indivíduo particular, mas somente como o
reconhecido servo de Jeová. Se isso não for lavado me conta, a oração é pouco
inteligível… Isso não foi uma expressão motivada por vingança pessoal,
pois libertar Israel dos filisteus era a
missão de Sansão desde o início… Na qualidade de servo e representante de
Jeová, ele ora para que ele seja vingado neles.
C J Goslinga coloca da
seguinte forma:
Ele morreu pela honra do seu
Deus e pelo benefício do seu povo, sendo assim, um tipo de Cristo, cuja morte
igualmente significou a derrota dos inimigos de Deus e a salvação do Seu povo.
Aquilo não foi suicídio, mas
um ato de autossacrifício no campo de batalha para o benefício de Israel e a
glória de Deus. Como explica Matthew Henry: Não foi um autoassassino por se
dizer; pois não foi a sua própria vida que ele visou, mas a vida dos inimigos
de Israel, pelos quais ele bravamente renunciou a sua própria vida, não a
considerando preciosa a si, para que ele pudesse terminar o seu percurso com
honra.”
Santo
e Salvador
O qual tudo indica que Sansão
foi não somente salvo por Cristo, como também salvou como Cristo, o Juiz final.
Como aqueles escritores mais Cristocêntricos do Antigo Testamento, Robert
Gordon escreve:
E aqui, novamente, quem deixa
de lembrar o propósito e modo da morte de Cristo? Foi pela vindicação da honra
do Seu pai como o Legislador e o Juiz, que ele se submeteu a insulto, ignominia
e morte; e quando, em aparente fraqueza, e cheio com provocações e insultos de
homens ímpios, ele abaixou sua cabeça e entregou o seu espírito, ele, naquele
momento alcançou uma vitória mais que gloriosa, tanto em sua natureza como em
suas consequências, na medida em que ele deteriorou principados e potestades, e
fez deles espetáculo aberto, triunfando sobre eles na Sua cruz.
Autor: Alderi
de Souza Matos
Fonte:headhearthand.org
Tradução: Nayara
Andrejczyk
Via: Reforma 21