E estes indivíduos, os
descendentes espirituais, a quem as promessas foram feitas, e que serão salvos,
foram chamados soberanamente por Deus de entre a nação de Israel. Paulo prova
isto mostrando a escolha soberana de Isaque e de Jacó. Eles foram escolhidos
enquanto indivíduos, embora, certamente, esta escolha venha a ter algum reflexo
em seus descendentes (v. 8-13). O ponto de Paulo é que somente os
escolhidos dentre a nação de Israel é que creram (e crerão) em Cristo. São
indivíduos escolhidos de entre uma nação, para a salvação. Desta forma, Paulo
mostra que as promessas de Deus a Israel não falharam, pois dentre a nação Deus
sempre escolheu soberanamente, e não por obras, aqueles israelitas individuais
que viriam a crer em Jesus Cristo, como o próprio Paulo.
Em resumo, seguem algumas razões pelas
quais o argumento central de Romanos 9 é eleição para a salvação e vida eterna,
e que na elaboração da argumentação, Paulo menciona Jacó e Esaú como indivíduos
e não como nações, embora os descendentes deles viriam a sofrer os reflexos
desta escolha individual.
(1) Toda a seção (Romanos
9-11) é sobre a segurança eterna de pessoas. Eleição de nações não faria
qualquer sentido contextual. Paulo disse aos cristãos de Roma que nada poderia
separá-los do amor de Deus (8:31-39). A objeção que provocou a resposta de
Paulo em Romanos 9-11 foi esta: “Como podemos ter certeza de que as promessas
de Deus são seguras, visto que Israel, a quem também promessas foram feitas,
não creu no Messias?” A resposta de Paulo é que apenas os indivíduos eleitos
dentro de Israel é que estão seguros.
(2) A eleição de Jacó sobre
Esaú (Romanos 9:10-13) pode ter implicações nacionais, mas começa com dois
indivíduos. Não podemos esquecer este fato.
(3) Jacó foi eleito e Esaú rejeitado
antes que tivessem feito algo de bom ou ruim. O texto está falando de
indivíduos que podem fazer o bem e o mal. Não fala de nações que sairiam deles
e que fariam bem ou mal. O bem e o mal referido é de pessoas, indivíduos,
chamados Jacó e Esaú.
(4) Romanos 9:15 enfatiza a
soberania de Deus na escolha de indivíduos. Terei misericórdia de quem eu
tiver misericórdia. O pronome “quem” é um singular masculino. Se Paulo
estivesse falando de nações, poderia ter usado um pronome plural.
(5) Romanos 9:16 está
claramente lidando com pessoas: Assim, pois, não depende de quem quer ou de
quem corre. “Quem quer” θέλοντος e “quem corre” τρέχοντος são dois singulares
masculinos. É difícil ver implicações nacionais em tudo aqui. É sobre o desejo
e esforço individual.
(6) Romanos 9:18 fala do
endurecimento de Faraó, um indivíduo. Não está tratando do endurecimento do
Egito, mas da pessoa de seu rei, Faraó. Após falar do endurecimento, Paulo
resume o que ele está tentando dizer usando pronomes singulares masculinos:
Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
Se Paulo estava falando de eleição e endurecimento de nações, ao terminar o
exemplo pessoal e individual de Faraó, ele deveria ter dito que ele endurece e
tem misericórdia das nações que quer.
(7) A objeção em Romanos 9:14: Que diremos, pois? Há injustiça da parte de Deus? – faz pouco sentido se
Paulo estivesse falando sobre a eleição corporativa ou nacional. A acusação de
injustiça poderia facilmente ser respondida se Paulo estivesse dizendo que a
eleição de Deus é apenas em relação às nações e não tivesse a intenção salvadora.
(8) Da mesma forma, a objeção
em Romanos 9:19 fica totalmente sem sentido se Paulo não estiver falando de
eleição individual. Algum de vocês vai me dizer: “Se é assim, como é que Deus
pode encontrar culpa nas pessoas? Quem pode ir contra a vontade de Deus? (NTLH). A questão que o opositor de Paulo está levantando é que Deus parece
injusto com indivíduos, ao endurecer alguns e ter misericórdias de outro como
lhe apraz, e não com nações.
(9) Em Romanos 9:14-29 temos
uma “diatribe”, um recurso de retórica em que o escritor responde os
questionamentos de um opositor imaginário. Os questionamentos estão em 9:14 e 9:19. É um artifício muito bom, mas somente se o autor está entendendo
corretamente o opositor. Todos os dois questionamentos do opositor (9:14 e
9:19) tem a ver com a injustiça de escolher uns e deixar outros. Paulo poderia
ter corrigido este equívoco e dito: “não estou falando de pessoas, mas de
nações”. Contudo, ele aceita como legítima a objeção e responde em termos da
eleição de indivíduos.
(10) Em Romanos 9:24, Paulo diz
que Deus chamou os “vasos de misericórdia”, que Ele preparou para glória “de
antemão” (são os eleitos mencionados no capítulo todo) “não só dentre os
judeus, mas também dentre os gentios”. É difícil ver eleição nacional aqui,
pois Deus chamou estas pessoas dentre todas as nações, ἐξ Ἰουδαίων
(dentre os judeus) e também ἐξ ἐθνῶν (dentre os gentios). Os vasos de misericórdia, que são a descendência espiritual
de Abraão, em quem se cumprem as promessas, são chamados por Deus dentre a
nação de Israel e dentre as nações gentílicas.
(11) Em Romanos 11:1-10,
quando Paulo volta a falar da eleição de israelitas individuais dentre o Israel
étnico, fica claro que os eleitos são pessoas dentre a nação de Israel, os
sete mil que não dobraram o joelho a Baal (11.4), aos quais Paulo se refere
como “a eleição da graça” (11.5). Isso nos diz duas coisas: 1) eles são sete
mil indivíduos que Deus tem mantido crentes dentro da nação de Israel, e não
uma nova nação. 2) Esses indivíduos são mantidos por Deus na fé no Deus
verdadeiro, não se curvando diante de Baal (ou seja, eles permaneceram fiéis a
Deus). A eleição mencionada por Paulo é de indivíduos para a salvação.
Autor:
Augustus Nicodemus Lopes
Fonte: Resposta
a um comentário sobre o vídeo "A eleição em Romanos 9 é de indivíduos ou
de nações?" extraído do Facebook do autor.
Via:
Matérias de Teologia