Os seguintes itens numerados
são suposições comuns feitas por sinergistas em rejeitar a escravidão do
arbítrio e a graça soberana de Deus na salvação.
Falácia 1. Deus não nos
ordenaria a fazer o que não consigamos fazer.
Deus deu a Lei a Moisés, os
Dez Mandamentos, para revelar o que o homem não consegue fazer.
a. A Premissa 1 não é
bíblica. Deus deu a Lei por duas razões: Para expor o pecado e para aumentá-lo, a fim de que o homem não pudesse ter escusa por declarar a sua própria justiça. Por
quê? Porque no contexto, ele NÃO faz justiça.
Como Martinho Lutero disse a Erasmo, quando você terminar com todos os seus mandamentos e exortações do Velho Testamento, eu escreverei Rm 3:20 por cima de tudo isso. Por que usar mandamentos e exortações do V.T. para mostrar o livre arbítrio quando estes [os dez mandamentos] foram dados para provar a pecaminosidade do homem? Estes existem para mostrar o que não conseguimos fazer ao invés do que conseguimos fazer. Portanto, mandamentos e exortações não provam o livre arbítrio. Em nenhum lugar na escritura há alguma insinuação de que Deus dá mandamentos para homens naturais provarem que são capazes de cumpri-los.
[Aqui está a passagem que
Lutero citou para Erasmo a fim de mostrar que o propósito da lei é para expor a
nossa escravidão ao pecado, não para mostrar a nossa habilidade moral de
guardá-la: “Ora, nós sabemos que tudo o que a lei diz, aos que estão debaixo da
lei o diz, para que toda a boca esteja fechada e todo o mundo seja condenável
diante de Deus. Por isso nenhuma carne será justificada diante dele pelas obras
da lei, porque pela lei vem o conhecimento do pecado”. Rm 3:19, 20] (colchetes
inseridos pelo autor)
b. Essa premissa é irracional.
Pode haver muitas razões para dar ordens a alguém para fazer algo, além da
suposição de que ela consiga fazê-la. O propósito, como está acima, pode
servir para mostrar a pessoa sua inabilidade de cumprir o mandamento. Assim,
NADA pode ser deduzido acerca das habilidades por meio de um mero mandamento.
Passagens que afirmam coisas como “Se você quiser” e “quem quer que creia” são
ditas no modo subjuntivo (hipotético). Um gramático explicaria que isso é uma
afirmação condicional que não assevera nada indicativamente. Em tais passagens, o
que nós “deveríamos” fazer não necessariamente implica o que
“conseguimos[podemos]” fazer.
c. As consequências da
desobediência de Adão sobre os seus descendentes inclui impotência espiritual
em várias áreas: a inabilidade do homem de entender a Deus (Salmo 50:21; Jó
11:7-8; Rom 3:11); de ver coisas espirituais (João 3:3); de conhecer o seu
próprio coração (Jeremias 17:9); de direcionar os seu próprios passos no caminho da
vida (Jeremias 10:23; Provérbios 14:12); de libertar a si mesmo da maldição da
lei (Gálatas 3:10); de receber o Espírito Santo (João 14:17); de escutar,
entender ou receber as palavras de Deus (João 8:47; 1 Corintios 2:14); de se
fazer nascer dentro da família de Deus (João 1:13, Romanos 9:15-16); de
produzir arrependimento e fé em Jesus Cristo (Efésios 2:8-9; João 6:64, 65; 2
Tessalonicenses 3:2; Filipenses 1:29; 2 Timóteo 2:25); de vir a Cristo (João
10:26; João 6:44); e de agradar a Deus (Romanos 8:5, 8, 9).
Falácia 2. A menos que o
nosso arbítrio seja livre, não somos responsáveis.
Ou, “Se não é livre, então não somos responsáveis”. Isso significa que, se não somos capazes de fazer uma escolha
contrária, então os nossos arbítrios não são livres. Assim, se formos
completamente presos em pecado de forma que não consigamos fazer mais nada além
de pecar, então somos livres da responsabilidade destes pecados. Isso é
irracional, porque a suposição por detrás disso é a ideia da neutralidade.
a. A Bíblia não apresenta o
conceito de liberdade desta maneira. De acordo com a Escritura, liberdade é
descrita como santidade. A liberdade definitiva é a santidade absoluta. Se isso
for verdade, então Deus é o ser mais livre de todo o universo. De outro modo,
precisamos dizer que Deus é o ser mais escravizado no universo porque Ele é o
menos neutro em questões morais. Ademais, Deus não é livre no sentido libertário
para fazer algo contrário a Sua própria natureza. Por exemplo, Deus não pode
mentir ou ser impuro; se assim fosse, Ele violaria a Sua própria essência e, portanto, não
mais seria Deus (uma suposição impossível). Mas Ele é livre no sentido
Bíblico: livre do pecado e da escravidão da corrupção, como será os santos no
céu quando forem glorificados no último dia. O fato de eles não poderem escolher o
contrário [pecar] quando forem glorificados não os impede de ter a liberdade de
acordo com a Bíblia, que fala destas pessoas com sendo as MAIS livres.
(colchete inserido pelo autor)
b. Semelhantemente, se
afirmarmos que a escravidão do pecado elimina a responsabilidade, então a
melhor forma de evitar a responsabilidade de nossos pecados é ser o mais
escravizado deles possível. O bêbado que é escravizado pelo alcoolismo não é,
portanto, responsável por suas ações?! Deveríamos encorajar as pessoas a pecarem
o máximo então, para que estas não mais sejam responsáveis?
c. Toda a ideia da
neutralidade do arbítrio é absurda. Se as decisões do arbítrio não são
determinadas pela natureza interna da pessoa, então em que sentido pode ser
dito que estas decisões são os resultados de uma decisão da própria pessoa?
Como uma decisão pode ser verdadeiramente uma decisão moral se for
moralmente neutra? Como pode a moralidade ser moralidade de alguma forma e ser
neutra?
Falácia 3. Para o amor ser
real, deve ter a possibilidade de ser rejeitado.
Deus quer que nós O amemos
livremente, não por compulsão. Portanto, o homem caído deve ter a habilidade de
amar a Deus. Mas simplesmente ele escolhe amar outras coisas.
a. A Escritura ensina que o
amor a Deus é um produto de Sua graça. (1Tm 1:14) Se a graça for necessária para
fazer-nos amar a Deus, então segue-se que não tínhamos habilidade para amá-Lo
antes da chegada da graça. Significa também que a graça não é dada porque
escolhemos amar a Deus. Escolhemos amar a Deus porque a graça é dada. A graça,
não a virtude no homem, toma a iniciativa.
c. Essa premissa é parecida
com aquela que diz: “A escolha contrária é necessária para que a liberdade
possa existir”. Deus periodicamente dá aos santos no céu uma oportunidade de
odiá-lo para ser ‘justo’? Jesus tinha alguma habilidade para odiar o Pai? Ou
era o Seu amor pelo Pai uma reflexão do que Ele próprio realmente é?
c. Se a fé for um dom da
graça, como vimos acima, então por que é estranho pensar que o amor também não
pode ser um dom da graça?
Falácia 4. Uma pessoa não
pode ser punida por aquilo que ela não pode deixar de fazer.
Se isso for o caso, então um cristão não pode ser recompensado por aquilo que a sua nova natureza o compele
a fazer. Não vamos esquecer de que a natureza de uma pessoa não é algo que ela
possui. É algo que ela é.
Tradução: Nathan Cazé
Via: Monergismo