1. O desejo de reencontrar entes
queridos é correto?
Nós nos reconheceremos no céu?
Com que frequência esta pergunta é feita. Alguns expressam livremente suas
saudades para renovar aquelas felizes associações interrompidas pela morte
de um ente querido. Outros, porém, são um pouco mais hesitantes ao falar
sobre este assunto. Eles querem saber se o desejo de um reencontro é mesmo correto. O fim principal do homem
não é "glorificar a Deus e gozá-lo para sempre"? E o salmista não
exclamou quem mais tenho eu no céu (Sl 73.25)?
A resposta poderia ser esta:
Todos esses anseios pelo reconhecimento mútuo e uma nova associação, os quais
são de um caráter meramente sentimental, que não levam em conta principalmente
a honra de Deus em Cristo, devem ser condenados. Mas o desejo do próprio
wiedersehen, para que, em companhia daqueles que nos precederam e com os que
virão depois de nós juntos possamos louvar ao nosso Redentor, é completamente
legítimo. De fato, nós fomos criados para a comunhão. Por isto, eu estou de
completo acordo com o Dr. H. Bavinck que
diz (em Gereformeerde Dogmatiek , 3ª
ed., Vol. IV, pp. 707, 708, minha tradução):
A esperança de reencontrarmo-nos no outro lado do sepulcro é completamente natural, genuinamente humana e também está em harmonia com as Escrituras. Esta última não ensina sobre um tipo de imortalidade que seja despojado de todo o conteúdo e próprio de almas fantasmagóricas, mas sobre esta vida futura que pertence a indivíduos reais e humanos... Portanto, é verdade que a alegria no céu consiste principalmente na comunhão com Cristo, mas também consiste em comunhão entre os crentes. E assim como a comunhão terrena entre os crentes, apesar de ser sempre imperfeita, não diminui a comunhão dos crentes com Cristo, antes a fortalece e enriquece, assim também será no céu. O desejo de Paulo era partir e estar com Cristo (Fp 1.23; lTs 4.17), e o próprio Jesus mostra a alegria do céu no simbolismo de um banquete onde todos se sentarão à mesa com Abraão, Isaque e Jacó (Mt 8.11; cf. Lc 13.28). De acordo com isso, a esperança de nos revermos não está errada, se for considerada do ponto de vista da comunhão com Cristo.
2. As Escrituras ensinam que haverá
tal alegre reconhecimento e a restauração da comunhão?
Neste mesmo grande trabalho de
Doutrina Reformada, o Dr. H. Bavinck fala com uma precaução recomendável sobre
muitos assuntos controversos. Com respeito à questão do reconhecimento na vida
futura ele é, porém, muito definido e franco. Diz ele: (op. cit., p. 688)
"sem dúvida alguma, os que morreram reconhecem aqueles que eles conheceram
na terra".
Aqueles que, como o Dr. H.
Bavinck, aceitam esta ideia do reconhecimento e restauração da comunhão,
normalmente apelam às passagens seguintes, embora, nem todas elas forneçam uma
evidência direta.
a) De acordo com Isaías 14.12, os habitantes do Sheol reconhecendo imediatamente o rei da Babilônia como ele desceu a eles, com zombaria o saudaram e exclamaram: "Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!"; b) de acordo com Ezequiel 32.11, do meio do Sheol, os poderosos heróis serão enviados contra o governante e as pessoas do Egito; c) de acordo com Lucas 16.19-31, o homem rico reconhece Lázaro; d) de acordo com Lucas 16.9, os amigos que fazemos por meio da doação de nossos bens materiais nos darão boas-vindas nas mansões do céu. O enfermo que nós visitamos, o despojado a quem apoiamos, o pagão para quem nós fomos instrumentos de salvação, vão se posicionar nos átrios do céu para receber os seus benfeitores em seu círculo, para juntos glorificarmos aquele que é a fonte de toda bênção. Isto seguramente implica no reconhecimento e na restauração da comunhão; e) 1 Tessalonicenses 2.19, 20 (cf. 2Co 4.14) indica que, na vinda do Senhor Jesus Cristo, os missionários verão a última realização de sua esperança e sentirão a alegria suprema quando virem os frutos de seus esforços missionários estando lá, com alegria, ação de graças e louvor, ao lado direito de Cristo. A restauração da comunhão quebrada não é indicada também em 1 Tessalonicenses 4.13-18?
a) De acordo com Isaías 14.12, os habitantes do Sheol reconhecendo imediatamente o rei da Babilônia como ele desceu a eles, com zombaria o saudaram e exclamaram: "Como caíste do céu, ó estrela da manhã, filho da alva! Como foste lançado por terra, tu que debilitavas as nações!"; b) de acordo com Ezequiel 32.11, do meio do Sheol, os poderosos heróis serão enviados contra o governante e as pessoas do Egito; c) de acordo com Lucas 16.19-31, o homem rico reconhece Lázaro; d) de acordo com Lucas 16.9, os amigos que fazemos por meio da doação de nossos bens materiais nos darão boas-vindas nas mansões do céu. O enfermo que nós visitamos, o despojado a quem apoiamos, o pagão para quem nós fomos instrumentos de salvação, vão se posicionar nos átrios do céu para receber os seus benfeitores em seu círculo, para juntos glorificarmos aquele que é a fonte de toda bênção. Isto seguramente implica no reconhecimento e na restauração da comunhão; e) 1 Tessalonicenses 2.19, 20 (cf. 2Co 4.14) indica que, na vinda do Senhor Jesus Cristo, os missionários verão a última realização de sua esperança e sentirão a alegria suprema quando virem os frutos de seus esforços missionários estando lá, com alegria, ação de graças e louvor, ao lado direito de Cristo. A restauração da comunhão quebrada não é indicada também em 1 Tessalonicenses 4.13-18?
3. Objeções respondidas
Objeção
ao primeiro ponto. Algumas das passagens listadas em defesa da
teoria do reconhecimento e restauração da comunhão fazem referência aos eventos
que anunciam a segunda vinda de Cristo, e não ao estado intermediário. Depois
do retorno de Cristo, nós teremos corpos por meio dos quais o reconhecimento
poderá ser conseguido. Mas isto de maneira nenhuma prova que agora mesmo no céu
as almas desincorporadas dos crentes se reconheçam.
Resposta. Há
um pouco de mérito neste argumento, ou seja, há mérito no fato de que aponta para
a existência de uma distinção. Seguramente, depois do retorno de Cristo, quando
nossos corpos glorificados ressuscitarem ou forem transformados, nossa
capacidade de reconhecimento e nossa comunhão serão necessariamente mais
abundantes. Não obstante, o contraste entre o estado intermediário e o estado
final não é tão grande a ponto de que o que é dito aqui sobre o estado final
não possa ser aplicado ao estado intermediário. Além disso, algumas das
passagens claramente fazem referência à alma imediatamente após a morte. E
também, se é possível para anjos que não têm nenhum corpo reconhecerem-se uns
aos outros (Dn 10.13), por que deveria ser julgado impossível para as almas desincorporadas
dos crentes agirem igualmente?
Objeção
ao segundo ponto. Se nós pudéssemos de fato reconhecer esses
amigos os quais nós encontraremos no céu, nós também sentiríamos falta dos
amigos terrenos, conhecidos ou parentes que nunca chegarão ao céu. Isto nos
faria muito infelizes até mesmo no céu.
Resposta. O Nosso Senhor Jesus Cristo
não perdeu muitos
há quem ele sinceramente admoestou? Você diria, então,
que Jesus está infeliz no céu ? Não seria a resposta mais no sentido de
que quando nós entrarmos no céu todas as relações com os que não estavam em
Cristo (incluindo até mesmo relações familiares) perderão o sentido? E Mateus 12.46-50
claramente não aponta nesta direção?
Objeção
ao terceiro ponto. De acordo com Mateus 22.23-33, todas as
relações terrenas serão completamente apagadas na vida futura. Portanto, não
haveria sentido qualquer o reconhecimento destes que nós conhecemos nesta vida.
Resposta. Isso
não é tudo o que Mateus 22.23-33 ensina. Ensina que, desde então, na vida
futura não haverá mais nenhuma morte,
nem qualquer relação matrimonial, nem qualquer necessidade disto. Neste aspecto
nós seremos como os anjos no céu. A passagem não afirma a extinção de toda relação
com aqueles que nós conhecemos no Senhor enquanto estávamos vivendo na terra. A crença no Wiedersehen na vida futura
está firmemente baseada nas Escrituras.
Autor:
William Hendriksen
Trecho extraído do livro A Vida Futura Segundo a Bíblia, pág 77-80. Editora: Cultura Cristã