Sei que o entretenimento está
tão enraizado na cultura evangélica, que parecerá um absurdo a tese que
defendo. Mas, além de não estar sozinho na luta contra o "culto
show", estou ainda muito bem acompanhado por pastores renomados, como
Charles Haddon Spurgeon, que no século XIX, já havia escrito sobre este perigo,
alertando que o fermento diabólico do entretenimento acabaria levedando toda a
massa em curto espaço de tempo. E é neste estado de lastimável fermentação que
se encontra a massa evangélica atual.
Hoje em dia é quase impossível
que uma igreja não tenha grupos de coreografia ou cantores para se apresentar
durante o culto e nos eventos por ela realizados. Na maioria das igrejas, o
período de culto é tomado deste tipo de apresentações, com a desculpa de que
"é pra Jesus". Mas, quando analisamos racionalmente e à luz das
Escrituras, a verdade é que tais apresentações não passam de entretenimento,
com verniz de santidade e capa de religiosidade.
Que ninguém fique ofendido. Eu mesmo gostaria que alguém houvesse me alertado disso na época em que eu, cegamente, gastava horas com ensaios de conjuntos e de peças teatrais. E eu me convencia de que isto era a obra de Deus.
Mas, no fundo de meu coração,
eu sabia que havia algo de errado, que não era nisto que Jesus esperava que
seus discípulos se focassem ou se esforçassem. Como ninguém me despertou,
busquei a Deus em oração e o próprio Espírito Santo, por meio das Escrituras,
convenceu-me do meu erro.
Desde então, tenho meditado
tão seriamente a respeito disso, que encontrei mais de dez razões para eliminar
por completo o entretenimento dos cultos na igreja que pastoreio. E já o
fizemos! Substituímos o tempo que antes gastávamos com ensaios entre quatro
paredes, pelo evangelismo bíblico na comunidade e pela oração nos lares. E,
quanto às apresentações nos cultos... sinceramente, não estão fazendo a menor
falta.
Mas, vejamos porque o
entretenimento deve ser eliminado dos cultos que realizamos ao Senhor:
1. O Senhor nunca ordenou entreter as pessoas
Esta já seria uma razão
suficiente, que dispensaria os demais argumentos. O problema é que raramente se
encontra hoje uma igreja que queira ser bíblica, composta por membros que só
desejem cumprir a vontade de Deus, expressa em sua Palavra. Assim sendo, talvez
seja necessário ainda os argumentos a seguir.
2. Entretenimento não atrai ovelhas
Chamemos de ovelhas aqueles
que realmente amam a Jesus, que reconhecem a voz do Senhor e o seguem (Jo
10:27). No entanto, a divulgação de apresentações na igreja dificilmente
atrairá pessoas interessadas em Deus. Certamente será um atrativo para as que
gostam de uma distração gratuita. Mas, podemos chamar estas pessoas de
ovelhas, ou não há uma grande chance de serem bodes? (Mt 25:32-33)
3. Entretenimento afasta as ovelhas
As verdadeiras ovelhas não se
satisfazem com apresentações durante o culto. Elas querem oração e palavra,
edificação e unção. Uma ovelha de Cristo não procura emoções, mas a Verdade,
para que se mantenha firme no caminho da vida eterna (Jo 6:67). Quanto mais o
pastor encher o culto com apresentações, mais rápido as ovelhas sairão em busca
de uma verdadeira igreja que priorize a oração e a palavra de Deus. Aos
poucos, a "igreja-teatro" deixará de ter ovelhas para estar ainda
mais cheia, porém de bodes, que gostam de uma boa distração. E, infelizmente, o
que muitos pastores buscam hoje é quantidade, o crescimento a qualquer custo.
E, com este fermento, a massa realmente cresce.
4. Entretenimento reduz o tempo de oração e palavra
O tempo de culto já é muito
limitado, chegando no máximo há duas horas. Quando se dá oportunidade para
apresentações, o tempo que deveria ser usado para se fazer orações e se pregar
a palavra de Deus, torna-se curtíssimo. Em algumas igrejas não chega nem a
trinta minutos! Como desenvolver uma mensagem expositiva em tão curto espaço de
tempo?
5. Entretenimento confunde os visitantes
Os visitantes concluem que a
igreja existe em função disto: conjuntos, corais, coreografias, peças teatrais,
ou qualquer outro tipo de apresentação que torne o culto um show. E eles passam
a frequentar os cultos com esta expectativa, esperando pelo próximo espetáculo.
6. Entretenimento ilude os membros
O membro pensam que está
servindo a Deus com suas apresentações. Desta forma, sua consciência fica cauterizada
para atender aos chamados para a escola bíblica, para o evangelismo e para
socorrer os carentes. Afinal de contas, ele pensa que seu chamado é para as
artes, e não para serviços que não lhe colocam debaixo dos holofotes (que,
aliás, são muito comuns nas igrejas hoje em dia).
7. Entretenimento é um desgaste desnecessário
Quanto esforço é despendido
para que tudo saia perfeito! Uma energia que é gasta naquilo que o Senhor nunca
mandou fazer! Será que ainda sobram forças para se fazer o que realmente o
Senhor manda? (Lc 6:46)
8. Entretenimento coloca os carnais em destaque
Pessoas que raramente aparecem
nos cultos de oração e estudo bíblico, e que nunca comparecem ao evangelismo,
geralmente são as mesmas que gostam de aparecer cantando, dançando ou representando
nos cultos mais cheios. A questão é: Por que dar destaque justamente para estes
membros carnais?
9. Entretenimento promove disputas
Disputas entre membros, entre
conjuntos e até entre igrejas. Quem canta melhor? Quem dança melhor? Que conjunto
tem o uniforme mais bonito? Quem recebeu mais oportunidade? Quanta carnalidade... (1 Co 3:3; Tg 4:1)
10. Entretenimento alimenta o ego
O entretenimento não gera fé,
mas fortalece o ego dos que amam os aplausos e elogios. Apesar de sua roupagem
"gospel", o fermento dos fariseus continua tão venenoso quanto nos
dias de Jesus (Mt 23:5-6; Lc 12:1)
11. Entretenimento é um desperdício de tempo
Se o mesmo tempo que as
igrejas gastam com ensaios e apresentações fosse utilizado com oração e
evangelismo, "este mundo já teria sido alcançado para o Senhor"! (Ef 5:15-17)
12. Entretenimento não é fazer a obra de Deus
A desculpa para o
entretenimento é que este seria uma forma de atrair as pessoas. Mas a questão
novamente é: que tipo de pessoas? Se entretenimento fosse uma boa alternativa,
não teria a igreja apostólica usado de entretenimento para atrair as multidões?
No entanto, ela simplesmente pregava o evangelho, porque sabia que nele há
poder. O evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que
crê (Rm 1:16). Mas o entretenimento é a artimanha do
homem para a perdição de todo aquele que duvida.
Quero concluir com uma palavra
aos pastores. De pastor para pastor. Amado colega de ministério, não duvide do
poder do evangelho para atrair e converter as pessoas. Não queira encher sua
igreja com atividades vazias e atraentes ao mundo, que não tem o poder do
Espírito Santo para converter vidas. Tenha coragem e limpe sua congregação
desta imundície egocêntrica. Talvez com isto você perderá alguns membros, mas
não perderá ovelhas, somente bodes. Tenha fé em Deus e confie no modelo bíblico
para encher a igreja, que é a oração, o bom testemunho e a pregação ousada do
genuíno evangelho de Cristo.
Autor: Alan
Capriles