Sinais e maravilhas são a
chave do evangelismo da Terceira Onda. Alguns de seus adeptos até afirmam que
os incrédulos têm de experimentar o miraculoso para serem trazidos à fé plena.
A mera pregação da mensagem do evangelho, creem eles, jamais ganhará o mundo
para Cristo. A maior parte das pessoas não crerá sem ver milagres, eles dizem,
e quem crer sem vê-los será convertido de modo inadequado e, por isso,
prejudicado em seu crescimento espiritual.13
Wimber menciona o confronto de
Elias com os profetas de Baal, no monte Carmelo, como exemplo clássico de um
“encontro de poder”, no qual o poder de Deus vence os poderes do mal.14
Sinais e maravilhas semelhantes a esse encontro, dizem os defensores da
Terceira Onda, são os principal meios que devemos usar para disse- minar o
evangelho. Os operadores de milagres
modernos ainda não fizeram cair fogo do céu, mas os entusiastas da Terceira
Onda relatam alguns sinais e maravilhas extraordinários ocorridos no movimento.
Wimber, por exemplo, contou um incidente em que um dedo extirpado do pé de
uma mulher supostamente cresceu outra vez.15 Ele descreveu outra
mulher, na Austrália, cujo palato fendido fechou-se miraculosamente três dias
após Deus ter lhe dado uma “palavra de conhecimento” sobre a sua cura.16
Wagner recontou um informe de Carlos Annacondia, pregador argentino, que lhe
disse:
Duas manifestações do Espírito
Santo, em particular, parecem impressionar os incrédulos mais do que qualquer
outra coisa nas cruzadas evangelísticas: cair no poder do Espírito e a
obturação de dentes. Com certa regularidade, dentes estragados são obturados, e
novos dentes crescem onde outros caíram. O fato interessante, segundo
Annacondia, é que a maioria dos dentes obturados é de incrédulos, e apenas
alguns, de crentes.17
Como vimos, Wagner e Wimber
estão convencidos de que muitas pessoas têm ressuscitado (ver Capítulo 5).
Com toda a franqueza,
considero esses relatos absurdos. É difícil resistir à conclusão de que são
invencionices ou lorotas que crescem à medida que são recontadas. Em todos os
casos, as pessoas supostamente beneficiadas pelos milagres permanecem anônimas.
Nos dois casos mencionados por Wimber, ele afirma que médicos testemunharam os
acontecimentos. Entretanto, não apresenta nenhuma documentação comprobatória.
Se os operadores de milagres
da Terceira Onda creem sincera-mente que suas obras portentosas devem servir
como sinais para os incrédulos, por que não divulgam as provas de que realmente
aconteceram? Fenômenos como a reconstituição de dedos e de membros do corpo, a
cura de defeitos congênitos, a odontologia sobrenatural e a ressurreição de
mortos deve ser fácil de documentar, especial- mente se médicos estão
presentes. A validação dessas maravilhas por parte de uma fonte independente
ocuparia manchetes internacionais. Isso com certeza ajudaria a produzir o tipo
de resposta que seus proponentes esperam obter algum dia.18
No entanto, começa a surgir um
padrão na literatura da Terceira Onda: os milagres mais espetaculares sempre
envolvem pessoas anônimas. Os milagres autênticos tendem a ser mais comuns e difíceis
de provar — são curas que envolvem dor nas costas, “cura interior”, alívio de
enxaqueca, libertação emocional, zumbido nos ouvidos, etc. Os únicos incidentes
interessantes que envolvem pessoas conhecidas descrevem situações em que a cura
não ocorreu.
Um exemplo é o relato de Wagner
a respeito de seu amigo Tom Brews ser um paraplégico que cria na cura. Brewster
estava tão esperançoso de que Deus o curaria, que até distribuiu entre os
amigos uma “Declaração de Expectativa” — uma expressão de sua fé de que um dia
poderia andar. Essa fé nunca esmoreceu, diz Wagner, apesar de que já
transcorreram quase trinta anos desde um acidente de mergulho que o confiou em
uma cadeira de rodas. No entanto, o milagre jamais aconteceu. Brewster morreu,
depois, por causa de uma cirurgia mal sucedida na bexiga.19
É difícil ler esse relato sem
observar quão notoriamente ele se contrasta com vários supostos milagres contados
por Wagner, Wimber e outros autores da Terceira Onda. Os milagres mais
dramáticos são acompanhados de informações escassas e, quase sempre, anônimas.
Raramente, eles envolvem pessoas conhecidas de quem relata os milagres. Às
vezes, testemunhas oculares são citadas, mas não há qualquer documentação. Até
a observação de óvnis é acompanhada de evidências mais convincentes.
Um grupo de cinco médicos
cristãos esteve numa das recentes conferências realizadas por John Wimber, em
Sydney (Austrália). Esses homens esperavam confirmar a veracidade das alegações
de Wimber quanto à ocorrência de curas miraculosas nesses encontros. Um deles,
o Dr. Philip Selden, declarou:
O fato de que John Wimber
sabia de nossa presença e observação pode ter ser- vido para “baixar” o tom das
reivindicações que, conforme endentemos, foram proferidas nas conferências
anteriores... O próprio Sr. Wimber reclamou de dores nas costas e afirmou que
as pessoas deveriam esperar alívio da dor, mas nenhuma mudança que poderia ser
documentada por médicos. Ele confessou jamais vira uma vértebra degenerada ser
restaurada à forma normal...
Como eu suspeitava, a maior
parte das situações pelas quais ele orou eram psicossomáticas, triviais ou
categorias que os médicos teriam dificuldade em documentar: problema no polegar
do pé esquerdo, distúrbios nervosos, problemas respiratórios, esterilidade,
comprimento diferente das pernas (meu favorito — não se pode medir as pernas
com precisão), dores nas costas, pescoço, etc.20
O médico concluiu: “Neste
ponto, estamos incertos da comprovação de qualquer cura orgânica”.21 Que explicação é oferecida às
pessoas que não são curadas? A princípio, Wimber parece certo quanto a este
assunto:
Existem diversas razões pelas
quais as pessoas não são curadas, quando oramos por elas. A maioria dessas
razões envolve alguma forma de pecado e incredulidade:
• Algumas pessoas não têm fé
em Deus para serem curadas (Tg 5.15);
• Pecados pessoais não
confessados criam uma barreira à graça de Deus (Tg 5.16);
• Desunião, pecado e incredulidade
persistentes e disseminados em comunidades e famílias de crentes impedem a cura
de membros individuais do corpo (1Co 11.30);
• Devido a diagnósticos
incompletos ou incorretos da causa dos problemas, as pessoas não sabem como
orar de modo correto;
• Algumas pessoas presumem que
Deus sempre cura instantaneamente; e, quando ele não faz isso, elas param de
orar.22
No entanto, Wimber declarou mais
adiante, de forma enigmática: “Jamais culpo o doente por falta de fé, caso a
cura não ocorra”.23 Talvez Wimber ainda não
considerou bem a sua teologia da cura. Evidentemente, ele rejeita o princípio
bíblico de que os males físicos podem ser parte do plano soberano de Deus para
os crentes (ver Capítulo 9). No entanto, ele se esforça para explicar o motivo
por que muitas pessoas não são curadas e admite: “Conheço um número crescente
de pessoas decepcionadas que vieram para serem curados, mas isso não
aconteceu”.24
A realidade é que a Terceira
Onda, com toda a sua ênfase em sinais e maravilhas, não produz nada
comprobatório que se qualificar, de acordo com o sentido do Novo Testamento,
como sinal ou maravilha autênticos.
Afinal de contas, os milagres
de Jesus têm de ser o padrão pelo qual devemos avaliar todas as coisas. Antes
ou depois dEle, ninguém realizou tantos sinais e maravilhas em seu ministério
terreno (Jo 20.30; 21.25). Os milagres de Jesus eram totalmente diferentes dos
realizados pelo movimento moderno de sinais e maravilhas. Nenhum de seus
milagres envolvia enfermidades psicossomáticas; todos eram visíveis e verificáveis.
Em resumo, eram sinais verdadeiros e maravilhas verdadeiras.
O que mais aprendemos dos
milagres realizados no ministério de nosso Senhor? A verdade principal é que os
milagres não produzem fé genuína no coração do incrédulo. “A fé vem pela
pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17 — ênfase
acrescentada).
A despeito de todos os
milagres de Jesus: ressurreição de mortos, cura de doentes, restauração de
vista aos cegos e autoridade sobre os demônios — Israel O rejeitou e
crucificou. No momento de sua morte, parece que Jesus contava apenas com cerca
de 120 segui- dores dedicados (At 1.15).
Os evangelhos contêm numerosos
exemplos de pessoas que testemunharam os sinais e as maravilhas de Jesus e
permaneceram incrédulos. Ele repreendeu as cidades em que operou a maior parte
de seus milagres: Corazim, Betsaida e Cafarnaum, por não terem se arrependido
(Mt 11.20-24). O texto de João 2.23 nos diz: “Muitos, vendo os sinais que ele
fazia, creram no seu nome”; entretanto, Jesus não os considerava crentes
genuínos (2.24). Em João 6.2, lemos que uma grande multidão seguia a Jesus,
“porque tinham visto os sinais que ele fazia na cura dos enfermos”. Contudo, em
João 6.66 observamos que muitas das pessoas dessa multidão “o abandonaram e já
não andavam com ele”, depois de ouvirem um ensino que não podiam aceitar. Em
João 11, lemos que Jesus ressuscitou Lázaro dentre os mortos, um milagre
tremendo, incontestado até pelos seus inimigos (v. 47). Todavia, em vez de
crerem em Jesus, começaram a planejar a morte dEle (v. 53). João 12.37 resume a
situação: “Embora tivesse feito tantos sinais na sua presença, não creram
nele”.
As condições não eram
diferentes na igreja primitiva. Em Atos 3, lemos que Pedro e João curaram um
homem que era coxo desde o nascimento. Outra vez os líderes religiosos judeus
não negaram a ocorrência do milagre (At 4.16). Todavia, a reação deles estava
longe da fé salvadora: ordenaram aos apóstolos que parassem de falar em nome de
Jesus (v. 18).
Examine o registro de sinais e
maravilhas no Antigo Testamento. Eles também não produziram fé salvadora. O coração
do Faraó endureceu-se a despeito dos portentosos sinais e maravilhas que Deus
realizou por meio de Moisés. E toda uma geração de israelitas, também
testemunhas desses milagres e de vários outros, morreu no deserto, por causa da
incredulidade.
Apesar de todos os milagres
realizados pelos profetas, Israel e Judá não se arrependeram e foram levados,
posteriormente, ao cativeiro. A mesma passagem que Wimber cita para justificar
os “encontros de poder” — o confronto entre Elias e os profetas de Baal — é um
exemplo. O avivamento produzido teve vida curta. Poucos dias depois, Elias
estava escondido, pois temia morrer (2 Rs 19.4-8); e o culto a Baal perdurou
até que Deus julgou, finalmente, a Israel.
O pressuposto que norteia todo
o movimento da Terceira Onda está errado. Milagres, sinais e maravilhas são
incapazes de produzir fé ou avivamento genuíno. Além disso, o ministério de
“encontros de poder” erra quanto ao objetivo de nosso testemunho. Não somos
comissionados a confrontar o poder de Satanás com poderes miraculosos. Somos
ordenados a confrontar as mentiras de Satanás com a verdade de Deus.
Isso não diminui a importância
dos sinais e maravilhas. Como vimos, eles possuíam um propósito distinto:
demonstravam que seus realizadores eram mensageiros autênticos de Deus (Hb 2.4).
E atraíam frequentemente a atenção das pessoas, de modo que a mensagem do
evangelho fosse anunciada (cf. At 8.6; 14.8-18). Entretanto, sinais e
maravilhas não produziam fé salvadora.
NOTAS:
12. Wimber, John. Power
evangelism. San Francisco: Harper
& Row, 1986. p. 39-41.
13. Ibid. p. 46.
14. Ibid. p. 17.
15 Citado em Wagner, C. Peter.
The
third wave of the Holy Spirit. Ann
Arbor: Vine, 1988. p. 35.
16. CT Institute Symposium. The Holy Spirit: God at work,
Christinity Today, March 1990, p. 29-30. Suplemento.
17. Wagner, C. Peter. The third wave of the Holy Spirit. Ann Arbor: Vine, 1988. p.
96. Wagner não responde à pergunta: por que dentes estragados são obtura- dos e
não restaurados à saúde plena?
18. Andrew Shead (“Spiritual
Warfare: The Critical Moment”, Th Briefi g, v. 45, p. 7, April 1990) resume o
que Wimber declarou na Sydney Spiritual Warfare Conference: “Encontramo-nos em
um ponto crítico da história. Na próxima década, o mundo se voltará para Jesus
como nunca antes. A neutralidade para com o evangelho será algo do passado.
Como isso acontecerá? Por meio da igreja revitalizada, pela unidade, fé e piedade,
que recobrará os poderes apostólicos perdidos e com estes curará a AIDS,
ajudará os desprivilegiados e incutirá o evangelho em centenas de milhões de
pessoas”.
19. Wagner, C.
Peter. The third wave
of the Holy
Spirit. Ann Arbor: Vine, 1988. p. 123-125. Ver também. o relato
de Wimber sobre o amigo falecido David Watson, em Power Healing, p. 147-149. Wimber dedicou esse livro ao amigo.
20. Selden,
Philip. Spiritual warfare: medical
reflections. The Briefing,
v. 45, p. 19, April 1990.
21. Ibid. p.
20.
22. Wimber, John. Power
healing. San Francisco: Harper & Row, 1987. p. 152.
23. Ibid. p.
174.
24. CT Institute Symposium. The Holy Spirit: God at
work. Christianity Today, March 1990,
p. 33. Suplemento.
Autor: John
MacArthur
Trecho extraído do Livro Caos Carismático, pág 171-177. Editora: Fiel