A atuação do Espírito Santo e
a resposta humana ao Evangelho no molinismo, arminianismo e calvinismo à luz de
1 Coríntios 2:14
Introdução
Molinismo e arminianismo têm
colocado em suas esquematizações da ordo salutis a regeneração como sendo
posterior à fé.1 Isso parece se encaixar bem com sua visão da
liberdade humana em contornos libertarianos.2 O arminiano F. Leroy
Forlines (2011, p. 6) afirma que a “habilidade de escolher é o que chamamos de
vontade”, e complementa: “Cada mandamento, cada proibição, cada exortação e
cada súplica na Bíblia feita ao povo pressupõe que eles são capazes de fazer
escolhas”. Assim, se somos exortados a crer na Palavra de Deus, por exemplo, é
porque devemos ter a capacidade de exercer essa fé. Para explicar, então, como
o homem pode ser totalmente depravado e ainda assim ter em seu poder a
capacidade de crer, apela-se normalmente à doutrina da graça preveniente.
De acordo com Henry C.
Thiessen, a ideia é que desde que “a humanidade está irremediavelmente morta em
delitos e pecados e nada pode fazer para obter a salvação, Deus graciosamente
restaura a todos os homens capacidade suficiente para fazer a escolha na
questão da submissão a ele” (2011, p. 247).3 Isso significa que Deus
ilumina a todos os homens para que, pelo uso do livre-arbítrio, possam tomar a
decisão adequada de não resistir ao Espírito. Em todo o caso, essa graça ainda
pode ser resistida.4
O modelo molinista é bem
semelhante, embora Kenneth Keathley (2010) o prefira chamar de “graça
conquistadora”.5 A ideia é a de que “Deus é o único trabalhador na
salvação. A pessoa meramente se refreia de resistir” (KEATHLEY, 2010, p. 105),
por isso essa graça é chamada por ele de monergística. Porém, “a graça de Deus
é verdadeiramente oferecida e disponibilizada. A diferença entre o salvo e o
perdido é a rebelião contínua do descrente” (KEATHLEY, 2010, p. 105). Assim,
essa graça também pode ser descrita como resistível.6
Keathley acredita que essa
formulação o livra das críticas ao arminianismo de colocar o fator decisivo da
salvação no uso adequado do livre-arbítrio do crente, ao invés de no Senhor.7
“O modelo da graça conquistadora sustenta que a diferença entre aquele que crê
e aquele que não é encontrada nos descrentes” (KEATHLEY, 2010, p. 105).8
Na prática, porém, ambos,
arminianos e molinistas, afirmarão que toda a salvação é obra da graça (do
Espírito), a qual, todavia, pode ser resistida. Nos referiremos, portanto, aos
modelos de “graça preveniente” e “graça conquistadora” como “graça resistível”.
Essa graça possibilita a fé que conduz à regeneração.
Por outro lado, calvinistas
insistem que a fé é produto da regeneração,9 e não o contrário; que
o homem permanece morto espiritualmente e em inimizade contra Deus até o dia em
que o Espírito vem com poder e, através da pregação do Evangelho,10
o capacita a crer nas “palavras de vida eterna” (Joã. 6:68). Acerca disso, John
Piper (2014, p. 32) afirmou:
Se uma pessoa se torna humilde ao ponto de submeter-se a Deus, isso acontece porque Deus lhe deu uma natureza nova”. Isso é o que calvinistas chamam de “graça irresistível”: a “obra soberana de Deus de vencer a rebelião de nosso coração e trazer-nos à fé em Cristo, para que sejamos salvos (PIPER, 2014, p. 31).
Se uma pessoa se torna humilde ao ponto de submeter-se a Deus, isso acontece porque Deus lhe deu uma natureza nova”. Isso é o que calvinistas chamam de “graça irresistível”: a “obra soberana de Deus de vencer a rebelião de nosso coração e trazer-nos à fé em Cristo, para que sejamos salvos (PIPER, 2014, p. 31).
Fica evidente que as posições
molinista/arminiana e calvinista são diametralmente opostas em seu entendimento
soteriológico e suscitam de nós uma resposta: de que lado ficaremos? Como
arbitrar entre essas visões? Nesse ponto, todos os protestantes ortodoxos
concordam: nossa autoridade final é a Escritura, e é nela que devemos encontrar
as respostas.
Nosso objetivo, portanto, é
analisar o que a Bíblia nos ensina a esse respeito. Devido ao espaço aqui, nos
deteremos num dos textos didáticos mais claros sobre o assunto da relação entre
o homem, o Espírito e a revelação divina: 1 Coríntios 2:14. Ao lidarmos com
essa passagem, temos em mente dois problemas a serem resolvidos: Qual a
resposta do homem natural ao Evangelho e como ele pode ser capaz de crer e ser
salvo? Para respondermos a esses questionamentos, trabalharemos três tópicos
importantes: 1) o significado da expressão “homem natural”; 2) a natureza da
vontade desse homem natural; e 3) a natureza de sua razão.
2) O que significa ser um
homem natural?
A expressão ψυχικὸς ἄνθρωπος,
traduzida comumente como homem natural, é entendida por Bauer, Arndt,
Gingrich e Danker como uma referência a “uma pessoa não espiritual, alguém que
meramente funciona materialmente, sem ser tocado pelo Espírito de Deus” (2000,
p. 1100). Garland entende que essa expressão “representa a existência natural e
psíquica que é dependente das faculdades humanas sem o auxílio do Espírito
Santo” (2003, p. 100).
Dado o contraste estabelecido
nestes dois versos (14-15), seria melhor definir ψυχικὸς ἄνθρωπος
negativamente como aquele homem que não recebeu o Espírito, ou como o fazem a
NVI e a NTLH, que traduzem por “quem não tem o Espírito”.11 Em
resumo, temos aqui o homem não habitado pelo Espírito e, consequentemente, não
regenerado.12
3) O homem natural e a
natureza de sua vontade
O texto passa a tratar da
disposição do homem para com a revelação divina. É dito deste homem que ele não
“aceita” (δέχεται) “as coisas do Espírito de Deus”,
coisas estas espirituais.13 Sua vontade está claramente em foco. O
Espírito de Deus aqui é o próprio Espírito Santo, ou seja, o Espírito que é
Deus.14
A ligação do Espírito com o δέχεται
(“aceitar”) traz uma ênfase sobre a natureza daquilo que não é aceito pelo
“homem natural”, ou seja, “as coisas do Espírito”, a qual compartilha da
essência do próprio Deus. Assim, não é algo de pouca importância o que o “homem
natural” não aceita.
É interessante que δέχεται
é um verbo na voz média, o que indica, nas palavras de Daniel B. Wallace (2009,
p. 414), que “o sujeito médio pratica ou experimenta a ação expressa pelo verbo
de uma maneira tal que enfatiza a participação do sujeito”. Richard A. Young
(1994, p. 134, apud WALLACE, 2009, p. 415) também acrescenta à definição a
ideia de que o “sujeito participa intimamente nos resultados da ação”. Desse
modo, o fato de o homem natural não aceitar as coisas do Espírito demonstra sua
culpa, a despeito de não ter recebido (ἐλάβομεν)
o próprio Espírito (v. 12); ele não deixa simplesmente de aceitar
(negativamente), mas ele as rejeita (positivamente), e a ênfase aqui é
exatamente nesta rejeição, sem falar que o resultado desta ação é sua alienação
das coisas espirituais, o que o mantém, no mais íntimo de seu ser, completamente
alheio àquilo que só o faria bem.
Piper (2011, p. 52) está
correto ao afirmar, como continuaremos vendo a seguir, que a preferência da
pessoa “pelo pecado é tão forte, que ela não pode escolher o bem. É uma
escravidão verdadeira e terrível, mas não inocente”. A vontade do homem natural
é completamente indisposta para com a revelação.
3.1 Por que o homem natural
não aceita?
A explicação oferecida ao
porquê deste homem não aceitar as coisas do Espírito é bem direta e simples:
“porque [γὰρ] loucura [μωρία] é [ἐστιν]
para ele [αὐτῷ]”.15 A palavra μωρία é
colocada bem no início da oração no grego, o que demonstra a ênfase do autor na
avaliação que o homem natural faz das coisas espirituais. O veredito dele, como
se entende pelo uso de ἐστιν, um presente do
indicativo ativo, é que não passam de “tolice” (outra tradução para μωρία). É
assim que ele as considera.
4) O homem natural e a
natureza de sua razão
É dito ainda que este homem
natural “não pode [δύναται] entendê-las [γνῶναι]”.
Sua razão está em foco agora.
O verbo δύναται
é depoente, ou seja, “é médio [...] quanto à forma, mas ativo no seu
significado” (MOUNCE, 2009, p. 183). Assim, enquanto na média teríamos uma
ênfase no “agente [sujeito] do verbo”, na ativa “a ação do verbo” é que está em
foco (WALLACE, 2009, p. 415). Seu significado ativo destaca aquilo que “o
sujeito pratica, produz ou experimenta” em relação “a ação” do verbo, ou ainda,
explicita sua existência “no estado expresso pelo verbo” (WALLACE, 2009, p.
410). O que o verbo expressa? [In]capacidade! Assim, toda a força recai sobre a
[in]capacidade de entender (γνῶναι) as coisas
espirituais. Na mentalidade paulina, o homem vive neste estado de incapacidade
cognitiva quanto às coisas de Deus.
Se perguntarmos o porquê, o
próximo verbo nos ajuda a encontrar uma das respostas resposta.
O segundo verbo, “entender”
(γνῶναι),
por ser ativo, também atrai ênfase para si, ressaltando quão inconcebível é
aquilo que o homem não pode “reconhecer”,16 e por ser infinitivo,
ligado a δύναται, complementa, como normalmente
acontece neste uso, o sentido do verbo auxiliar, esclarecendo o que o homem
natural não pode fazer: ele é incapaz de “reconhecer” as coisas do Espírito
como verdadeiras e dignas de confiança.
Piper esclarece que “esse ‘não
pode’ é moral, e não físico”. Por essa impossibilidade Paulo “queria dizer que
o coração é tão resistente a recebê-las, que a mente justifica a rebelião do
coração por vê-las como loucura. A rebelião é tão completa, que o coração
realmente não pode receber as coisas do Espírito” (2011, p. 51). Se entendermos
liberdade aqui como algo além da capacidade de escolher segundo suas
inclinações, estendendo-a à possibilidade, sem a possessão do Espírito, de
ultrapassar sua rebelião de coração e escolher as coisas espirituais,
certamente poderíamos afirmar que o homem natural não a possui. Tanto sua
vontade quanto sua razão estão em completa rebelião.
Forlines protestaria contra a
alegação anterior da necessidade da habitação do Espírito (= regeneração) para
a fé, apressando-se em afirmar que “a influência do Espírito Santo trabalhando
no coração da pessoa que ouve o evangelho traz à existência uma moldura de
possibilidades nas quais uma pessoa pode dizer sim ou não ao evangelho” (2011,
p. 22). A ideia é que a iluminação (não a regeneração) do Espírito é suficiente
para restaurar ao homem um conjunto de possibilidades que antes estavam
indisponíveis, dentre as quais se encontra a possibilidade de escolher Cristo
ou rejeitá-lo. Cremos que nosso texto já deixou claro que a situação da vontade
e razão do homem natural não permitem à mensagem do Evangelho ser uma opção
válida em sua moldura de possibilidades, no entanto, prosseguiremos com a
pergunta: essa mera iluminação da graça resistível é suficiente para vencer sua
rebelião? Vejamos a resposta de Paulo.
4.1 Graça resistível é
suficiente?
Se, neste ponto, a pergunta
for novamente levantada sobre a razão para tal incapacidade de compreensão, a
segunda resposta de Paulo está bem à mão. Além da vontade e razão naturalmente
indispostas, o apóstolo acrescenta: ὅτι
πνευματικῶς ἀνακρίνεται
(“porque elas se discernem espiritualmente”). Em outras palavras, 1) sua
própria vontade caída o impossibilita e é seguida pela razão; e 2) aquilo que
pode fazê-lo superar esta queda lhe falta – a habitação do Espírito Santo.
Assim, mais que a iluminação de uma graça resistível, ele realmente precisa ter
o Espírito.
É interessantíssimo o fato de ἀνακρίνεται
(“discernir”) ser encontrado na voz passiva. Isto denota, conforme Wallace
(2009, p. 431), que “nenhuma volição – nem mesmo necessariamente a consciência
da ação – é implicada por parte do sujeito”. Isso não quer dizer que a vontade
está sempre completamente ausente; “o sujeito pode ou não estar a par, sua
volição pode ou não estar envolvida. Mas isso não é enfatizado quando a passiva
é usada” (WALLACE, 2009, p. 431).
A ênfase, portanto, recai
sobre a vontade do agente por meio de quem o homem é capacitado a discernir as
coisas espirituais. E quem é o agente que torna o homem capaz de compreender e
aceitar as coisas espirituais? O Espírito! Como esclarece o uso do advérbio
πνευματικῶς, é pela agência do Espírito que o homem
pode entender (ou discernir) as coisas do próprio Espírito. A concessão do
Espírito, ao transformá-lo em homem espiritual, é a única coisa que vence sua
rejeição obstinada. Assim, se alguém pergunta: como o homem pode crer? Uma
coisa é certa: não por mera influência, mas sendo transformado em “espiritual”
(= sendo regenerado).
É interessante que no v. 12
Paulo já havia explicado a razão pela qual os crentes haviam abraçado a
revelação divina. Paulo inicia um novo subtema ali. Ele declara: Nós recebemos
o Espírito que vem de Deus. Esta é a declaração de um fato. Este Espírito é o
objeto do verbo, e o aoristo17
(ἐλάβομεν)
é utilizado para emoldurar o ponto a ser desenvolvido, assim como o uso de um
δέ18 confirma que se trata de um novo desenvolvimento, a saber, o
recebimento do Espírito (= ser transformado em “homem espiritual”). Enquanto
nos vv. 14 e 15 ele contrasta homem natural e espiritual, no v.12 ele explica
qual a finalidade do recebimento do Espírito.
Este Espírito havia sido
recebido com um propósito bem específico: conhecer as coisas de Deus. O verbo εἰδῶμεν,
um perfeito ativo subjuntivo, indica que mais uma vez o autor muda o foco da
declaração geral acerca do Espírito que “recebemos” (aoristo), para levar o
leitor a olhar com mais atenção para o propósito e resultado de O termos
recebido, conforme demonstra o uso de subjuntivo + ἵνα
(“com o propósito de”), ou seja, O recebemos para “conhecermos” (εἰδῶμεν)
as “coisas divinas” (τὰ) e, porque este é o propósito
de Deus, o resultado é que nós realmente as conhecemos pelo Espírito que
recebemos. Este uso é devido, dentre outras coisas, ao fato de que “no
pensamento judeu [...], propósito e resultado são idênticos nas declarações da
vontade divina” (BAGD, 1979, p. 378, apud WALLACE, 2009, p. 473).
O ponto de Paulo é o seguinte:
o homem recebe o Espírito para compreender a revelação e não o contrário, como
afirmam os molinistas e arminianos. Ambos os homens, natural e espiritual,
tinham a mesma indisposição natural contra Deus. A única coisa que os distingue
é que aos últimos foi concedida a habitação do Espírito com o propósito (ἵνα) de
receber o Evangelho.
Em resumo, o motivo pelo qual
o homem natural rejeita as coisas espirituais, a revelação, repousa na rebelião
de sua própria vontade incapacitante: ele não quer e não pode! Talvez alguém
pudesse imaginar que é exatamente por ser incapaz de entendê-las que ele as
considera como tolice ou loucura. Mas as ênfases no texto, como vimos, nos
levam a entender que o problema é mais que ignorância; é sua vontade caída e obstinada que o leva a considerar as coisas do Espírito dessa maneira.19
Como Piper (2011, p. 51) escreve:
O problema não é que as coisas de Deus estão acima da compreensão do homem natural. O problema é que ele as vê como loucura. [...] De fato, elas lhe parecem tão loucas, que ele não pode compreendê-las. Ele só será capaz de desejar tais coisas se sofrer a experiência do recebimento do Espírito, sendo transformado em homem espiritual.20
O problema não é que as coisas de Deus estão acima da compreensão do homem natural. O problema é que ele as vê como loucura. [...] De fato, elas lhe parecem tão loucas, que ele não pode compreendê-las. Ele só será capaz de desejar tais coisas se sofrer a experiência do recebimento do Espírito, sendo transformado em homem espiritual.20
Nas palavras de Calvino (2003,
p. 94), Paulo “não teria dito nada além da verdade, caso afirmasse que os
homens não desejam ser sábios, porém avança um pouco mais, dizendo que os homens
nem mesmo têm o poder de o ser. Daí concluirmos que a fé não provém das
próprias faculdades humanas”, mas ao contrário, esta fé é “divinamente
conferida”. Em outras palavras, opondo-se completamente ao entendimento
molinista e arminiano, o ensino de Paulo é que o homem natural sempre resistirá
ao Espírito, até que o próprio Espírito o invada e o converta em homem
espiritual, concedendo-lhe a fé que ele tanto necessita.
Assim, poderíamos concordar
com a primeira parte da conclusão de Forlines (2011, p. 17) sobre a expressão
“total” em “depravação total”: “total significa que a corrupção se estendeu a
todos os aspectos da natureza do homem”, mas consideraríamos como incompleta
sua definição para “depravação” como significando que, “por causa dessa
corrupção, não há nada que o homem possa fazer para merecer favor salvador para
com Deus”. Mais do que incapacidade de merecimento, o homem nem ao menos pode
desejar tal favor salvador!
Essa situação de completa
indisposição espiritual do homem natural (homem sem o Espírito) para com Deus e
sua revelação é o que Paulo chama em outro lugar de “morte” (Efé. 2:1, 5).21
Tanto aqui como em Efésios (2:1-6), a solução para o problema é uma só:
concessão de vida (= concessão do Espírito; vivificação; ressurreição;
regeneração). Essa “concessão” é o que produz no homem a capacidade de crer; o
que ele exerce, tão logo é regenerado.
Seja qual for a
descontinuidade que se possa alegar existir entre a metáfora da morte
espiritual e a realidade da morte física, uma coisa é certa: ela deve concordar
com a completa incapacidade, exibida em 1 Co 2:14, do homem sem a habitação
do Espírito de responder positivamente à revelação.
Conclusão
Voltando às perguntas da
introdução, concluímos que a resposta do homem natural ao Evangelho, dada a
condição caída de sua vontade e razão, é sempre negativa. Ele só pode crer e
ser salvo se Deus o regenerar concedendo-lhe o Espírito.
Arminianos e molinistas falham
por continuar esperando que mortos creiam antes de viver. Falham por não dar à
metáfora da “morte” espiritual o exato peso de completa incapacidade que Paulo
confere ao homem natural. Ao insistirem que a iluminação da “graça resistível”
é suficiente, não apenas estão indo contra o texto acima exposto, mas também
deixam a porta aberta para a pergunta: o que o homem se torna sob tal graça? Se
a resposta é que ele permanece “natural”, ainda que supostamente iluminado, a
sentença de Paulo continua verdadeira: Ora, o homem natural não aceita as
coisas do Espírito de Deus, porque lhe são loucura; e não pode entendê-las,
porque elas se discernem espiritualmente (1 Cor. 2:14). O ônus da prova de uma
via média que apresente o homem em algum estágio entre vida e morte, natural e
espiritual, é algo que permanece sobre os ombros de molinistas e arminianos.
A grande verdade em 1 Co 2:14 é que o homem natural pode ouvir o Evangelho e ler a Bíblia diversas vezes
e por diversos motivos; talvez até encontrar coisas interessantes e úteis ,
mas sem a atuação regeneradora do Espírito vindo habitar nele, seu veredito
final quanto ao cerne e implicações da revelação, ainda que inaudito muitas
vezes, continuará. Isso é uma “tolice” e um “absurdo”!
Autor:
Nelson Ávila Mesquita Neto
Sobre
o autor:
É Pastor da Igreja Batista
Reformada em Russas e graduado em Teologia pela Escola Teológica Charles
Spurgeon, onde também leciona na área de Teologia Sistemática.