1. Deus
não criou originalmente o homem e a mulher iguais? Qual a base, pois, para
impedir que a mulher seja ordenada?
Resposta: De
fato, lemos em Gênesis 1 que Deus criou o homem e a mulher à sua imagem e
semelhança. Entretanto, lemos no relato mais detalhado de Gênesis 2 que Deus
lhes atribuiu papéis diferentes, dando ao homem o papel de liderar e cuidar da
mulher e à mulher o papel de ser sua ajudadora, em submissão. Esta
diferenciação é percebida por Paulo na ordem em que foram criados (primeiro o
homem e depois a mulher, 1Tm 2.13), na forma como foram criados (a mulher foi
criada do homem, 1Co 11.8) e no propósito para o que foram criados (a mulher
foi criada por causa do homem, 1Co 11.9). A igualdade da criação, portanto, não
anula a diferenciação de funções estabelecida na própria criação.
2. A
subordinação feminina não é parte da maldição por causa da queda? E Cristo não
aboliu a maldição do pecado? Por que, então, as mulheres cristãs não podem
exercer o ministério em igualdade com os homens?
Resposta: Sem
dúvida um dos castigos impostos por Deus à mulher foi o agravamento da sua
condição de submissão. Entretanto, a subordinação feminina tem origem antes da
queda, ainda na própria criação. O homem não foi feito da mulher, mas a mulher
foi feita do homem. O homem não foi criado por causa da mulher, mas sim a
mulher por causa do homem (1Co 11.8-9). Quanto à obra de Cristo, lembremos que
seus efeitos não são total e exaustivamente aplicados por Deus aqui e agora.
Por exemplo, mesmo que Cristo já tenha vencido o pecado e a morte, ainda
pecamos e morremos. Outros efeitos da maldição impostos por Deus após a queda
ainda continuam, como a morte, o sofrimento no trabalho e o parto penoso das
mulheres. Além do mais, desde que os diferentes papéis do homem e da mulher já
haviam sido determinados na criação, antes da queda, segue-se que continuam
válidos. O que o Cristianismo faz é reformar esta relação de submissão para que
a mesma seja exercida em amor mútuo e reflita assim mais exatamente a relação entre
Cristo e a Igreja.
3. Há
abundantes provas na Bíblia de que as mulheres desempenharam papéis cruciais,
ocupando funções de destaque e sendo instrumento de bênção para o povo de Deus.
Isto não prova que elas, hoje, podem ser ordenadas e exercer liderança?
Resposta:
Estas provas demonstram apenas a tremenda importância do ministério feminino,
mas não a existência do ministério feminino ordenado. Nenhuma destas mulheres
era apóstola, pastora, presbítera ou diaconisa. Jesus não chamou nenhuma mulher
para ser apóstola. As qualificações dos pastores em 1Timóteo 3 e Tito 1 deixam
claro que era função a ser exercida por homens cristãos. O fato de que as
mulheres sempre foram extremamente ativas e exerceram muitas e diferentes
atividades e serviços na Igreja Cristã não traz como corolário que elas tenham
sido ou tenham que ser ordenadas para tal.
4. Há
evidência na Bíblia de que Hulda, Débora, Priscila e Febe eram líderes e
exerciam autoridade. Isto não é prova bíblica suficiente para ordenação de mulheres?
Resposta: Há
dois pontos a se ter em mente quanto ao ministério destas mulheres: (1) O fato
de que a Bíblia descreve como Deus usou determinadas pessoas em épocas
específicas para propósitos especiais não faz disto uma norma. Lembremo-nos da
utilíssima distinção entre o descritivo e o normativo na Bíblia. Deus usou o
falso profeta Balaão (Nm 22.35). O desobediente rei Saul também profetizou em
várias ocasiões (1Sm 10.10; 19.23), bem como os mensageiros que enviou a Samuel
(1Sm 19.20,21). A descrição destes casos não estabelece uma norma a ser seguida
pelas igrejas na ordenação de oficiais. O fato de que Deus transmitiu sua
mensagem através de uma mulher não faz dela um oficial da Igreja. Há outros
requisitos no Novo Testamento para o oficialato conforme lemos nas
especificações explícitas que temos em 1 Timóteo 3 e Tito 1.
(2) Os profetas de Israel não recebiam um
ofício mediante imposição de mãos para exercer uma autoridade eclesiástica
oficial. Os reis e sacerdotes, ao contrário, eram “ordenados” para aquelas
funções e as exerciam com autoridade. Não há sacerdotisas “ordenadas” em
Israel, pelo menos nas épocas onde prevalecia o culto verdadeiro. Hulda foi uma
profetiza em Israel, recebendo consultas em sua casa (2Re 22.13-15). A mesma
coisa pode ser dita de Débora, que foi juíza em Israel numa época em que não
havia reis e nem o sacerdócio funcionava, quando todos faziam o que parecia bem
aos seus olhos. Seu ministério foi uma denúncia da fraqueza e falta de coragem
dos homens daquela época (Jz 4.4-9; compare com Is 3.12). Sobre Priscila, sua
liderança parece evidente, porém menos evidente é se ela era pastora ou
presbítera. Quanto à Febe, ver a pergunta sobre ela mais adiante.
5. Podemos afirmar que o patriarcado, conforme o encontramos na Bíblia,
especialmente no Antigo Testamento, é uma instituição nociva e perversa que
denigre, inferioriza e humilha a mulher?
Resposta: O
patriarcado, como o encontramos na Bíblia, especialmente no Antigo Testamento,
não é simplesmente uma afirmação da masculinidade, não é jamais sinônimo de
domínio macho ou um sistema de valores no qual o homem trata a mulher com
descaso, desvalorizando-a e super valorizando-se. Muito menos sinônimo de
exploração e domínio, como afirma o feminismo. Patriarcado é o sistema no qual
os pais cuidam de suas famílias. A imagem do pai no Velho Testamento não é
primariamente daquele que exerce autoridade e poder, mas do amor adotivo, dos
laços pactuais de bondade e compaixão. Somente nas Escrituras hebraicas podemos
encontrar um Deus Pai Todo-Poderoso e Todo-Bondoso. Os patriarcas refletem a
paternidade de Deus, ainda que muito pobremente. O Deus dos Hebreus não é como
os deuses masculinos irresponsáveis das culturas pagãs das cercanias de Israel,
porque ele jamais abandona os filhos que gera, antes, deles cuida. Os
patriarcas seguem o exemplo de Deus. Naquela cultura ensinava-se ao homem judeu
que ele não era simplesmente um animal, agressivo, assertivo e violento, mas
pai, cuja agressividade deveria ser transformada pela responsabilidade, que
haveria de manifestar a gentileza e o cuidado pelos filhos e a expressão da
completa masculinidade, que haveria de se unir com o ser feminino e o mundo
feminino da família, ainda que mantivesse a separação necessária para o
exercício da autoridade. O machismo é uma versão deturpada de alguns aspectos
do patriarcado, e oprime as mulheres. Devemos lutar contra o machismo, e não
deixar de reconhecer a verdade sobre o patriarcado.
6. Febe não era uma diaconisa, conforme Romanos 16.1-2? Isto não prova que
as mulheres podem exercer autoridade eclesiástica na Igreja?
Resposta:
Temos de considerar os seguintes aspectos.
(1) Não é claro se Febe era
realmente uma diaconisa. Muito embora no original grego Paulo empregue o termo
“diácono” para se referir a ela, lembremos que este termo no Novo Testamento
nem sempre significa o ofício de diácono. Pode ser traduzido como servo,
ministro, etc. Portanto, nossa tradução Recomendo-vos a nossa irmã Febe, que
está servindo à igreja de Cencréia é perfeitamente possível e não é uma
tradução preconceituosa.
(2) Mesmo que houvesse
diaconisas na Igreja apostólica, é certo que elas não exerceriam qualquer
autoridade sobre as igrejas e sobre os homens – a presidência era dos
presbíteros, cf. 1Tm 5.17; o trabalho delas seria provavelmente com outras
mulheres (Tt 2.3-4) e relacionado com assistência aos pobres. É interessante
que a primeira referência que existe na história da Igreja sobre o trabalho de
mulheres diz assim: “A mulher deve servir às mulheres” (Didascalia Apostolorum).
Isto queria dizer que elas instruíam as outras que iam se batizar, ajudavam no
enterro de mulheres, cuidavam das pobres e doentes. Não há qualquer indício de
que tais mulheres eram ordenadas para o exercício da autoridade eclesiástica.
7. O que fazer quando mulheres possuem visão pastoral, liderança,
habilidades para o ensino ou capacidade administrativa, dons de evangelismo ou
profecia?
Resposta: Que
exerçam estas habilidades e dons dentro das possibilidades existentes nas
Igrejas. Elas não precisam ser ordenadas para desenvolver seus ministérios e
manifestar seus dons.
8. A resistência em ordenar mulheres hoje não decorre da reafirmação
através dos séculos da inferioridade da mulher, feita por importantes teólogos
e líderes da Igreja?
Resposta: A
Igreja deve andar pelo ensino das Escrituras Sagradas. Se teólogos e líderes
antigos defenderam ideias erradas sobre a inferioridade da mulher, cabe à
Igreja corrigi-las à luz das Escrituras, que mostram que Deus criou o homem e a
mulher iguais. Porém, corrigir os erros dos antigos neste ponto não significa
ordenar mulheres, pois aí estaríamos cometendo um outro erro. Certamente as
mulheres não são e nunca foram inferiores aos homens, mas daí a abolirmos os
papéis distintos que lhes foram determinados por Deus na criação vai uma grande
distância.
9. Existe algum texto na Bíblia que diga claramente que é proibido que as
mulheres sejam ordenadas ao ministério?
Resposta:
Nenhuma das passagens usadas contra a ordenação feminina diz explicitamente que
mulheres não podem ser ordenadas ao ministério. Entretanto, todas elas impõem
restrições ao ministério feminino, e exigem que as mulheres cristãs estejam
submissas à liderança cristã masculina. Essas restrições têm a ver
primariamente com o ensino por parte de mulheres nas igrejas. Já que o governo
das igrejas e o ensino público oficial nas mesmas são funções de presbíteros e
pastores (cf. 1Tm 3.2,4-5; 5.17; Tt 1.9), infere-se que tais funções não fazem
parte do chamado cristão das mulheres. Ainda, se o argumento do silêncio for
usado, ele se vira contra a ordenação feminina, pois não há texto algum que
diga que as mulheres devem ser ordenadas ao ministério da Palavra e ao governo
eclesiástico, enquanto que as Escrituras atribuem ao homem cristão o exercício
da autoridade eclesiástica e na família.
10. Se as
mulheres recebem os mesmos dons espirituais que os homens, não é uma prova de
que Deus deseja que elas sejam ordenadas ao ministério?
Resposta: Não.
As condições para o oficialato na Igreja apostólica estão prescritas em
1Timóteo e Tito 1. Percebe-se que o dom do ensino é apenas um dos requisitos.
Há outros, por exemplo, governar a própria casa e ser marido de uma só
mulher, que não podem ser preenchidos por mulheres cristãs, por mais dons que
tenham.
11. O ensino de Paulo sobre as mulheres na Igreja se aplica hoje? Não
estava ele influenciado pela cultura daquela época, que era muito diferente da
nossa?
Resposta: É necessário fazer a
distinção entre o princípio teológico supra cultural e a expressão cultural
deste princípio. Há coisas no ensino de Paulo que são claramente culturais,
como a determinação para o uso do véu em 1 Coríntios 11. Porém, enquanto que o
uso do véu é claramente um costume cultural, ao mesmo tempo expressa um princípio
que não está condicionado a nenhuma cultura em particular, que é o da diferença
funcional entre o homem e a mulher. O que Paulo está defendendo naquela
passagem é a vigência desta diferença no culto público — o véu é apenas a forma
pela qual isto ocorreria normalmente em cidades gregas do século I. Notemos
ainda que Paulo defende a participação diferenciada da mulher no culto usando
argumentos permanentes, que transcendem cultura, tempo e sociedade, como a
distribuição ou economia da Trindade (1Co 11.3) e o modo pelo qual Deus criou o
homem (1Co 11.8-9).
12. Paulo
escreveu suas cartas para atender a problemas locais e específicos. Como
podemos aplicar hoje o que Paulo escreveu, se a situação e o contexto são
diferentes?
Resposta:
Quase todos os livros do Novo Testamento foram escritos em resposta a uma
situação específica de uma ou mais comunidades cristãs do século I, e nem por
isto os que querem a ordenação feminina defendem que nada do Novo Testamento se
aplica às igrejas cristãs de hoje. A carta aos Gálatas, por exemplo, onde Paulo
expõe a doutrina da justificação pela fé somente, foi escrita para combater o
legalismo dos judaizantes que procuravam minar as igrejas gentílicas da
Galácia, em meados do século I. Ousaríamos dizer que o ensino de Paulo sobre a
justificação pela fé não tem mais relevância para as igrejas do final do século
XX, por ter sido exposto em reação a uma heresia que afligia igrejas locais no
século I? O ponto é que existem princípios e verdades permanentes que foram
expressos para atender a questões locais, culturais e passageiras. Passam as
circunstâncias históricas, mas o princípio teológico permanece. Assim, o
comportamento inadequado das mulheres das igrejas de Corinto e de Éfeso, às
quais Paulo escreveu determinando que ficassem caladas na Igreja, foi um
momento histórico definido, mas os princípios aplicados por Paulo para resolver
os problemas causados por estas atitudes permanecem válidos. Ou seja, o ensino
de que as mulheres devem estar submissas à liderança masculina nas igrejas e na
família, sem ocupar posições de liderança e governo, é o princípio permanente e
válido para todas as épocas e culturas.
13. Onde está na Bíblia que somente homens podem ser pastores, presbíteros
e diáconos?
Resposta: Os
textos mais explícitos da Bíblia são Atos 6.1-7; 1Timóteo 2.11-15; 1Coríntios
14.34-36 e 1Coríntios 11. 2-16. Algumas destas passagens foram analisadas com
mais profundidade em outra parte deste caderno. Além disso, a relação
intrínseca entre a família e a Igreja mostra que aquele que é cabeça na família
(Efésios 5.21-33) também deve exercer a liderança na Igreja.
14. Onde está na Bíblia que os homens devem ser o cabeça da família?
Resposta: Há
diversas passagens no Novo Testamento onde se trata dos papéis do homem e da
mulher na família: Efésios 5.21-33; Colossenses 3.18-19; 1 Pedro 3.1-7; Tito
2.5. Em todos eles, a liderança da família é atribuída ao homem.
15. Os argumentos usados hoje para defender a submissão da mulher não são
os mesmos usados no século passado por muitos cristãos para defender a
escravidão?
Resposta: O
fato de que no passado a Bíblia foi usada de forma errada para defender a
escravidão não significa que a defesa da subordinação feminina seja igualmente
feita de forma errada. Não devemos pensar que a relação entre o homem e a
mulher na família e na igreja está no mesmo pé de igualdade que a escravidão.
Primeiro, os papéis distintos do homem e da mulher estão enraizados na própria
criação, enquanto que a escravidão não está. Segundo, o fato de que Paulo faz
recomendações aos escravos cristãos para que sejam bons escravos não significa
que ele aprovava a escravidão. Na verdade, as recomendações que ele dá aos cristãos
que eram donos de escravos já traziam embutidas a ideia da dissolução do
sistema de escravidão (Fm 16; Ef 6.9; Cl 4.1; 1Tm 6.1-2).
16. Havia uma mulher chamada Júnias que Paulo considera como apóstola, em
Romanos 16.7. Se havia apóstolas, por que não pastoras, presbíteras e
diaconisas?
Resposta: A
passagem diz o seguinte: Saudai a Andrônico e a Júnias, meus parentes e
companheiros de prisão, os quais são notáveis entre os apóstolos, e estavam em
Cristo antes de mim (Rm 16.7). Não é tão simples assim deduzir que Júnias era
uma apóstola. Há várias questões relacionadas com a interpretação deste texto.
Júnias é um nome masculino ou feminino? Existe muita disputa sobre isso, embora
a evidência aponte para um nome masculino. Outra coisa, a expressão “notável
entre os apóstolos” significa que Júnias era um dos apóstolos, já antes de
Paulo, e um apóstolo notável, ou apenas que os apóstolos, antes de Paulo,
tinham Júnias em alta conta? A última possibilidade é a mais provável. Em
última análise, só podemos afirmar com certeza, a partir de Romanos 16.7, que,
quem quer que tenha sido, Júnias era uma pessoa tida em alta conta por Paulo, e
que ajudou o apóstolo em seu ministério. Não se pode afirmar com segurança que
era uma mulher, nem que era uma “apóstola”, e muito menos uma como os Doze ou
Paulo. A passagem não serve como evidência bíblica para a ordenação feminina no
período apostólico. E essa conclusão está em harmonia com o fato de que Jesus
não escolheu mulheres para serem apóstolos. Não há nenhuma referência
indisputável a uma “apóstola” no Novo Testamento.
17. O Novo Testamento diz que, em Cristo, não há homem nem mulher, todos
são iguais diante de Deus (Gl 3.28). Proibir as mulheres de serem oficiais da
Igreja não é fazer uma distinção baseada em sexo?
Resposta: Não se pode
discordar de que o Evangelho é o poder de Deus para abolir as injustiças, o
preconceito, a opressão, o racismo, a discriminação social, bem como a
exploração machista. E nem se pode discordar de que Cristo veio nos resgatar da
maldição imposta pela queda. A pergunta é se Paulo está falando da abolição da
subordinação feminina e de igualdade de funções nesta passagem. Está o apóstolo
dizendo que as mulheres podem exercer os mesmos cargos e funções que os homens
na Igreja, já que são todos aceitos sem distinção por Deus através de Cristo,
pela fé? Entendemos que a resposta é não. Gálatas 3.28 não está ensinando a
igualdade para o exercício de funções, mas a unidade de todos os cristãos em
Cristo. Veja a análise desta passagem acima.
18. O conceito da submissão feminina ensinado na Bíblia não acarreta
inevitavelmente o conceito de que o homem é melhor e superior à mulher?
Resposta: Infelizmente muitos têm chegado a essa conclusão, mas ela certamente é
equivocada. O ensino bíblico é que Deus criou homem e mulher iguais, porém com
diferentes atribuições e funções. A Bíblia ensina que Deus tem autoridade sobre
Cristo, Cristo tem autoridade sobre o homem, e o homem tem autoridade sobre a
mulher. É uma cadeia hierárquica que começa na Trindade e continua na igreja e
na família. Podemos inferir (guardadas as devidas proporções) que, da mesma
forma como a subordinação de Cristo ao Pai não o torna inferior — como afirma a
fé reformada em sua doutrina da Trindade — a subordinação da mulher ao homem
não a torna inferior. Assim como Pai e Filho, que são iguais em poder, honra e
glória, desempenham papéis diferentes na economia da salvação (o Filho
submete-se ao Pai), homem e mulher se complementam no exercício de diferentes
funções, sem que nisto haja qualquer desvalorização ou inferiorização da
mulher. Em várias ocasiões o Novo Testamento determina que os crentes se
sujeitem às autoridades civis (Rm 13.1-5; 1Pe 2.13-17). Em nenhum momento,
entretanto, este mandamento implica que os crentes são inferiores ou têm menos
valor que os governantes. Igualmente, os filhos não são inferiores aos seus
pais, simplesmente porque devem submeter-se à liderança deles (Ef 6.1). O
conceito de subordinação de uns a outros tem a ver apenas com a maneira pela
qual Deus estruturou e ordenou a sociedade, a família e a igreja.
19. Em 1Timóteo 3.11, ao descrever as qualificações do diácono, Paulo se
refere às mulheres: “Da mesma sorte, quanto a mulheres, é necessário que sejam
elas respeitáveis, não maldizentes, temperantes e fiéis em tudo”. Esse
versículo não prova que havia diaconisas nas igrejas apostólicas?
Resposta: Não
necessariamente. Esta passagem tem sido entendida de diferentes modos: (1)
Paulo pode estar se referindo às mulheres dos diáconos (Calvino). Porém, ele
emprega para elas a expressão “é necessário” (1Tm 3.11), que foi a mesma que
empregou para os presbíteros (3.2) e os diáconos (3.8), ao descrever suas
qualificações. Logo, não nos parece que o apóstolo se refira às mulheres dos
diáconos. (2) Paulo pode estar se referindo à todas as mulheres da igreja;
entretanto, é bastante estranho que ele tenha colocado instruções para todas as
mulheres bem no meio das instruções aos diáconos! (3) Paulo pode estar se
referindo às assistentes dos diáconos, mulheres piedosas, que prestavam
assistência em obras de misericórdia aos necessitados das igrejas (Hendriksen).
(4) Paulo se referia à diaconisas. Porém, é no mínimo estranho que Paulo não
empregou o termo apropriado para descrever a função delas (diaconisas), já que
ele vinha falando de presbíteros e diáconos. A opção 3 nos parece a melhor e
mais provável: havia mulheres piedosas nas igrejas apostólicas, não ordenadas
como “diaconisas”, que ajudavam os diáconos nas obras de misericórdia,
trabalhando diretamente com as mulheres carentes e necessitadas. É a essas que
Paulo aqui se refere.
Autor:
Augustus Nicodemus Lopes
Via: O Tempora, O Mores