INTRODUÇÃO
O assunto sobre os dons
espirituais ainda continua sendo um dos mais difíceis por falta de dados
abundantes no Novo Testamento sobre o assunto. Entende-se que, mesmo com pouca
informação escriturística, tudo o que temos é suficiente para não sermos
abandonados nas trevas do pentecostalismo antigo ou moderno, nem cometermos o
sacrilégio de tornar a verdade de Deus em mentira. As páginas das Escrituras do
Novo Testamento deixaram muitas informações exegéticas preciosas sobre os dons
espirituais, que têm sido negligenciadas, ignoradas e pervertidas por homens
perversos que tentam substituir a revelação na Palavra por uma religião
puramente humana. Este trabalho é o início de uma jornada, ainda inacabada, na
pesquisa bíblica sobre os dons da era apostólica. Com humildade, quero mostrar
que a tão antiga “verdade pentecostal” ainda continua sem fundamento bíblico.
Desejamos de coração que, ao ler essas poucas linhas, a igreja de Cristo se
fortaleça contra a mentira e toda a farsa de uma religião humana que tem se
alastrado pelo Brasil e pelo mundo, conduzindo vorazmente uma grande multidão
ao erro e a uma religião não bíblica.
Dons apostólicos são dons
dados por Deus a um grupo de indivíduos que foram chamados para a atividade
profética de receber a revelação da Nova Aliança, transmiti-la e inscriturá-la
infalivelmente, sendo assistidos com credenciais miraculosas para atestar como
verdade os oráculos divinos para judeus e gentios agora dentro de uma única
Igreja. Na Nova Aliança Deus escolheu os ofícios de apóstolo e profeta para
lançar o fundamento canônico dessa aliança (Ef 2.20; 3.5), e escolheu os espirituais
(pessoas que tinham dons apostólicos sem ofício) para revelar e ensinar os
oráculos divinos infalivelmente, (1Co 12.37). Para isso, Deus deu dons de
palavra para a comunicação da verdade revelada e dons de milagres para a
atestação da verdade revelada. Esses dons de milagres foram chamados também de
credenciais apostólicas, (2Co 12.12). Com exceção dos dons de “socorros” e
“governos”, o restante da lista dos dons de 1 Coríntios são dons apostólicos.
Dessa forma, os dons espirituais apostólicos obedecem a seguinte ordem:
DONS DE PALAVRA DE COMUNICAÇÃO
INDIRETA: dom inspirado para revelar ideias e produzir Escritura. Esses são:
sabedoria e conhecimento.
DONS DE PALAVRA DE COMUNICAÇÃO
DIRETA: dom inspirado de comunicação verbal para revelar palavras e produzir
Escritura. Esses dons são: profecia, línguas, interpretação de línguas,
discernimento de espírito.
DONS DE CREDENCIAIS: dom
inspirado, que revela a certeza do milagre, faz do crente um canal do poder
miraculoso para realizar a vontade de Deus e atestar como verdade infalível a
mensagem apostólica entre judeus e gentios; não produz Escritura porque é
credencial da Escritura. Nessa classe estão: dons de curar e operações de
milagres.
Os dons da lista de 1 Coríntios 12:8-11
Porque
a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria; e a outro, pelo mesmo
Espírito, a palavra da ciência; E a outro, pelo mesmo Espírito, a fé; e a
outro, pelo mesmo Espírito, os dons de curar; E a outro a operação de
maravilhas; e a outro a profecia; e a outro o dom de discernir os espíritos; e
a outro a variedade de línguas; e a outro a interpretação das línguas. Mas um
só e o mesmo Espírito opera todas estas coisas, repartindo particularmente a
cada um como quer.
PALAVRA
DE SABEDORIA
(logo
sofia)
Porque
a um pelo Espírito é dada a palavra da sabedoria.
A expressão logo sofia só
ocorre neste local, e encabeça a lista dos dons, assim como “apóstolo” encabeça
a segunda lista no v. 28. É possível que Paulo esteja associando em grau de
importância “palavra de sabedoria” com apóstolo e profeta.4 A grande importância desse dom
para a igreja apostólica era o fato de que, depois da morte de Cristo, era
necessário que essa morte fosse interpretada como a morte redentiva do Salvador
do mundo; era necessário que fosse dada sabedoria aos apóstolos e profetas para
interpretar a redenção nos moldes do que temos hoje nas epístolas e escritos do
Novo Testamento. Isso significa que a igreja primitiva tinha que conviver com
as mesmas verdades divinas que convivemos hoje no Novo Testamento. Como eles
não tinham as Escrituras do Novo Testamento, tinham os apóstolos e profetas, a
quem era dado a revelação para expor a “sabedoria” que outrora estava oculta.
Enquanto hoje temos toda a história e interpretação do mistério de Cristo escritos,
nossos irmãos primitivos tinham o dom de sabedoria pra conhecer tudo sobre
Cristo que conhecemos hoje nas páginas do Novo Testamento.
PALAVRA
DE CONHECIMENTO
(logos
guinoseôs)
E
a outro, pelo mesmo Espírito, a palavra de conhecimento.
Podemos dizer que o dom da
ciência ou palavra de conhecimento era um dom produto da profecia (13.2),
sempre citado entre os dons revelacionais voltados para a instrução e
edificação (14.6), e que cessaria com o término dos dons revelacionais como
línguas e profecias (13.8). Ora é citado como instrumento de revelação (14.6),
ora é citado como o próprio conteúdo da revelação (13.2). Para Charles Hodge,5
a “palavra de conhecimento” era o dom dos mestres do NT. Ele define esse dom
como sendo o dom de “entender corretamente e apresentar apropriadamente as
verdades reveladas pelos apóstolos e profetas”.6 É possível que tal
dom seja a capacidade dada pelo Espírito aos mestres que deveriam ensinar a
Igreja numa época em que o NT ainda não tinha sido escrito, e esses mestres dependiam
da palavra revelada, o que compunha o conteúdo da tradição apostólica em forma
oral. A palavra de conhecimento seria, certamente, compreender a profecia dada
ao profeta (o profeta não necessariamente não deveria entendê-la), inseri-la
num grande arcabouço doutrinário orgânico, lógico e coeso com todas as outras
verdades já reveladas, interpretando-a em harmonia com toda a tradição
apostólica. O dom de conhecimento era a capacidade espiritual de ensinar
autoritativa e infalivelmente as verdades recém-reveladas aos apóstolos e profetas, para suprir as mesmas necessidades
espirituais que hoje existem na Igreja moderna, e que são supridas com as
Escrituras do Novo Testamento sobre as questões da Nova Aliança. É o dom de
entender a revelação ainda sem um corpo pronto (ou seja, o Cânon), e ainda
assim interpretá-la em conexão com as outras partes desse corpo, sem
contradição, correlacionando-a com verdades ainda vindouras e com as outras
partes do cânon que viriam.
A palavra de conhecimento era
compreender a profecia em uma amplitude maior, mais profunda, e interligada com
toda a verdade autoritativa da Nova Aliança, aptidão essa que o profeta não
tinha. É possível compreender o dom de conhecimento como “um cânon ambulante”
das Escrituras do Novo Testamento enquanto as partes (evangelhos e epístolas
estavam sendo escritos). Mesmo sem um cânon escriturado, os crentes primitivos
tinham, através dos mestres, acesso às mesmas verdades escrituradas que temos
hoje.