22 de julho de 2016

Um Cordão de Pérolas Soltas: O Batismo de Crentes (5/5)


OITAVA PÉROLA

O Argumento das Bênçãos Ampliadas

Uma das grandes pérolas que brilha tão resplandecente quanto as demais encontra-se em perguntas retóricas, tais como: Se às crianças da Antiga Aliança fora concedido o sinal do pacto, nesta época de bênçãos ampliadas e cumprimento, da Nova Aliança, devemos proibir o sinal do pacto aos filhos dos crentes? Será que os filhos da Nova Aliança são menos abençoados e privilegiados do que as crianças da Antiga Aliança? Tais questões são certamente legítimas e estão no centro da questão do pedobatismo.

O poder principal de tais questões como um argumento decorre do fato de que nenhum Cristão quer proibir preciosos bebês das bênçãos de Deus ou limitar a bondade de Deus na concessão de favor às crianças. Estes pensamentos atraem nosso coração e nos constrangem a dizer “sim” ao sinal da Aliança em nossos filhos. No entanto, a Palavra de Deus, e não nosso bem-intencionado sentimentalismo, deve determinar as respostas a tais perguntas como aquelas do parágrafo acima.

Se Deus assim deseja conceder a filhos físicos o sinal do pacto na sombra da Antiga Aliança e proibir o sinal do pacto aos filhos físicos no cumprimento da Nova Aliança, Ele tem o soberano direito de fazê-lo. Isso também não implica necessariamente que os filhos da Nova Aliança são menos favorecidos ou menos bem-aventurados ao serem proibidos do sinal da Nova Aliança. Eu, retoricamente respondo: São os nossos filhos menos abençoados e privilegiados por terem nascido de pais piedosos que manifestam a plenitude do Espírito, a qual não foi totalmente derramada no Pacto de Abraão? As nossas crianças são menos abençoadas em terem Cristo e este crucificado proclamado a elas desde a infância, em comparação com os tipos e sombras anunciados aos seus homólogos, no Velho Testamento? As nossas crianças são menos favorecidas por terem nascido no Israel do Espírito, em comparação com as crianças criadas no Israel da carne? Acho que não.

Nossos filhos, acima de todos os outros do Israel da Antiga Aliança e do mundo presente, têm privilégios sem medida. Eles estão sendo criados em lares e igrejas, que estabelecem o Senhor crucificado e ressuscitado em glória diante deles como o seu pão de cada dia. O nosso gracioso Deus os escolheu acima das multidões que perecem nas trevas sem o Evangelho, para ouvirem a mesma promessa que Ele soberanamente usou para trazer-nos para o reino eterno:

E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos Deus nosso Senhor chamar (Atos 2:38-39).

Deuteronômio 30:6 é uma passagem interessante à luz de Atos 2:38 em diante; é a promessa de Deus de circuncidar os corações dos Israelitas e sua descendência depois que Ele trouxer do exílio profetizado. Ele parece estar se referindo a mesma promessa em Jeremias 31:31-34 e Ezequiel 36:25 em diante. Se considerarmos esta passagem como tendo sido cumprida na administração da graça da Nova Aliança, nós compreendemos corretamente que Atos 2:38-39, 41 diz isto:

A promessa da circuncisão do coração é para vocês e seus filhos, a todos quantos o Senhor nosso Deus chamar para Si mesmo, como no mesmo caso, com os gentios. Deus circuncidará os corações de filhos de acordo com Seu soberano chamado e eles podem receber o sinal da Nova Aliança da circuncisão do coração, com base em seu arrependimento e fé quando manifestos (v. 41).

Parece possível que Deus prometa chamar Seus eleitos dentre os filhos dos crentes, bem como dentre os gentios, mas não podemos dizer que eles estão na Nova Aliança com o coração circuncidado e devem receber o seu sinal exterior até que eles se arrependam e creiam. Este conceito de eleição da “descendência” dos crentes é semelhante ao de Hoeksema (“Believers and Their Seed” [Crentes e sua Descendência]). No entanto, os preceitos do batismo e da aplicação do sinal da Nova Aliança, como ilustrados em Atos 2:38-39, 41, nos impedem de aplicar o sinal da circuncisão do coração até que nossos filhos mostrem evidências de terem entrado na Nova Aliança (Jeremias 31:31-34).

Nossos filhos têm sido abençoados com o ouvir e memorizar da Palavra escrita de Deus desde o berço. Eles têm sido abençoados com as orações e lágrimas de pais cheios do Espírito implorando pela regeneração e conversão de suas almas. Eles têm sido abençoados com as substâncias da Nova Aliança, em relação às sombras da Antiga Aliança, para atraí-los a Cristo. Podemos dizer que eles são menos favorecidos ao crescerem sob a semeadura da plena revelação do soberano plano de Deus? Não! Eles não podem ser considerados menos privilegiados, pois Deus soberanamente escolheu anunciar o Evangelho da soberana graça para eles, enquanto muitos de nossa raça caída perecem a cada dia na ignorância e em trevas. Além disso, temos a promessa de Deus para implorar diante de Cristo, nosso Advogado pessoal, pelos nossos filhos:

Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para que a enviei (Isaías 55:11).

Pleitemos a bondade de Deus para com Seu povo e clamemos ao Seu Espírito para semear a Palavra de vida nos corações de nossos filhos até que eles carreguem o fruto de uma regeneração em Cristo Jesus.

Nós, Cristãos, temos todos os motivos para dizer que os nossos filhos têm suas bênçãos ampliadas na Nova Aliança, mesmo que, na boa vontade de Deus, não devam receber o sinal exterior até que eles tenham uma profissão de fé. Não apelemos para a pérola brilhante das perguntas retóricas e sentimentais para anular a vontade revelada e preciosa de Deus na aplicação da Nova Aliança da soberana graça. Em vez disso, proclamemos o Evangelho da graça para os nossos filhos, implorando que Deus tenha misericórdia deles.


NONA PÉROLA

O Testemunho da Tradição

A tradição é a última e menor pérola que está enfiada no cordão pedobatista. No entanto, muitas vezes em polêmicas pedobatistas, ela é tratada como se fosse a maior. Mas se a Escritura é a nossa única regra de fé e prática, então o papel da tradição deve ser apenas o de esclarecer e confirmar o que a Escritura claramente estabelece. Duas áreas atraentes da tradição são o batismo de prosélitos judeus e a prática da igreja primitiva de acordo com os pais apostólicos. Em ambas as tradições, T. E. Watson apresentou o resumo mais incisivo.

Primeiro de tudo, Edersheim (“Life and Times of Jesus the Messiah” [Vida e Tempos de Jesus, o Messias], vol. 2, p. 746) e Berkhof (Teologia Sistemática, p. 622) admitem que prosélitos judeus e seus filhos de até doze anos de idade eram batizados no Judaísmo. No entanto, as crianças ainda não nascidas, no ventre da mãe batizada não eram batizadas após o nascimento, como se elas já fossem consideradas limpas e uma parte de Israel. Se apelarmos para qualquer parte da prática do Judaísmo, temos de lidar com a idade tardia de crianças da família que recebem o batismo, bem como a proibição de batismo para os fetos no útero. Nenhuma dessas dificuldades presta qualquer tipo de apoio ao batismo infantil. Alguns estudiosos desconsideram por completo o batismo de prosélito judeu no primeiro século. Certamente esse não é o apoio para o batismo infantil.

Em segundo lugar, a menção explícita mais antiga que temos de batismo infantil nos escritos didáticos da igreja primitiva é de Tertuliano, por volta de 200 d.C. Nesta passagem, ele exorta o adiamento do batismo, especialmente de crianças pequenas, de modo que o seu significado seja plenamente cumprido. Isso, é claro, admite que crianças pequenas ou bebês estavam sendo batizados em sua época. Mas isso está longe de consentir que esta era uma tradição apostólica.

Orígenes, Agostinho e muitos outros posteriores a eles dizem que era costume apostólico batizar crianças. É provável que Orígenes foi batizado como uma criança em 185 d. C. Ele afirma que esta foi a tradição transmitida desde os apóstolos. Irineu mencionou as fases da vida, desde a infância até a velhice, como os estágios em que Cristo passou para salvar todos aqueles que nasceram de novo em todas as idades, possivelmente aludindo ao batismo de crianças pela tendência dos pais da igreja de identificar o batismo com a regeneração. Assim, parece que, a partir da segunda metade do segundo século da Reforma, no século XVI, o batismo infantil foi aceito como uma tradição apostólica.

No entanto, Irineu também afirmou em sua possível referência ao batismo que ele havia recebido uma tradição apostólica que Jesus teve de quarenta a cinquenta anos de idade, contrariando o registro bíblico. Também sabe-se que os pais da igreja têm reclamado muitas outras tradições apostólicas que são infundadas. De fato, Tertuliano é frequentemente reconhecido como um acérrimo defensor da tradição apostólica. Mas por que ele não defendeu o batismo de crianças, se esta é uma tradição apostólica? Tal testemunho não pode ser considerado conclusivo se não for bem fundamentado nas Escrituras.

Apelo também pode ser feito a uma fonte muito mais primitiva, ou seja, a Didaquê (100-125 d.C.). Este manual da igreja primitiva oferece instrução apenas para o batismo dos catecúmenos. O seu silêncio sobre o batismo infantil é ensurdecedor. Isso é especialmente assim por causa da reivindicação pedobatista que a igreja “missionária” de Mateus 28:18-20 apenas registra o batismo de discípulos inicialmente, mas que o batismo infantil veio depois. Mas por que então o batismo infantil não foi mencionado neste manual eclesiástico? Tanto quanto sabemos sobre a Bíblia e a Didaquê, é que não foi mencionado porque não era praticado.

As primitivas referências didáticas claras para o batismo são o silêncio sobre ou a negativa para o batismo infantil. Não posso permitir que tal evidência incerta da tradição interprete a Escritura ou a tradição apostólica para mim. Tradição, como muitos pedobatistas concordam, pode oferecer provas confirmatórias somente se o batismo infantil for primeiramente encontrado na Bíblia. No entanto, enquanto eu olho através da perspectiva das Escrituras, a pequena pérola da tradição diminui de tamanho e desaparece de vista.


CONCLUSÃO

O Cordão Sem Pérolas

Como eu já examinei cada pérola no cordão, eu saio, na melhor das hipóteses, com um colar de joias desbotadas e ausentes. Na realidade, eu confesso que eu fiquei com um cordão vazio chamado boa e necessária inferência que não me faz nenhum bem para mostrar a beleza do batismo Cristão. Ele é um fio de barbante em volta do pescoço de uma princesa.

Eu não posso construir a minha doutrina em um cordão vazio. Portanto, eu aceito a única pérola de valor inestimável do batismo de discípulos e o uso em minha mão como um sinal de meu casamento com Cristo. O batismo é o sinal exterior da entrada na Nova Aliança, a circuncisão interior do coração, evidenciada por sua confissão de fé em Cristo. Infantes do Antigo Testamento entraram na aliança Abraâmica, a circuncisão da carne. Se eles viessem à fé, isso se tornava um selo da justiça da fé, como foi com Abraão (Romanos 4). Agora, os nossos filhos da Nova Aliança entram na Nova Aliança, a circuncisão do coração, selados pelo Espírito Santo e o simbolizam pelo sinal do batismo de discípulos.

Alegro-me de ver um reavivamento de crenças Reformadas em nossas igrejas Batistas em todo o país. Batistas estão redescobrindo suas raízes Reformadas. No entanto, a obra da restauração da verdade Bíblica custou a muitos pastores seus empregos e a paz de espírito de suas famílias. Em amor, eu desafio as pessoas com convicções Batistas a não aceitarem muito rapidamente um refúgio acolhedor nas igrejas pedobatistas. Permaneçam firmes para, com os Batistas, “confirmar os restantes” [Apocalipse 3:2], em vez de fugirem para o que parece ser um ambiente mais acolhedor.

É triste ver pastores Batistas e leigos encobrirem o batismo, a fim de servirem em igrejas Pedobatista. Antes que qualquer mudança seja contemplada, a Palavra de Deus deve ser estudada sobre o assunto, com diligência e honestidade. Pastores fazem votos sobre tais coisas. Os Batistas hoje precisam de Luteros, Calvinos e Bunyans em nossos púlpitos e bancos para que considerem o custo da construção de igrejas Biblicamente Reformadas e Batistas, de discípulos fiéis. Isso deve ser feito. Isso pode ser feito. E pela graça de Deus, isso está sendo feito, com frequência cada vez maior em todo o mundo.

Finalmente, depois de termos passado por tantas lutas sobre a questão do batismo Cristão, só posso sinceramente implorar pela unidade e entendimento entre os Batistas e os irmãos pedobatista que detêm as grandes doutrinas da graça em comum para a glória de Deus em Sua igreja.





Autor: Fred A. Malone
Fontefounders.org
Tradução: Camila Almeida



Fred Malone é o pastor da Primeira Igreja Batista em Clinton, Louisiana. Ele recebeu o grau de Mestre em Divindade pelo Reformed Theological Seminary e PhD pela Southwestern Baptist Theological Seminary. Dr. Malone também serve como administrador do Southern Baptist Theological Seminary.