OITAVA
PÉROLA
O
Argumento das Bênçãos Ampliadas
Uma das grandes pérolas que
brilha tão resplandecente quanto as demais encontra-se em perguntas retóricas,
tais como: Se às crianças da Antiga Aliança fora concedido o sinal do pacto,
nesta época de bênçãos ampliadas e cumprimento, da Nova Aliança, devemos
proibir o sinal do pacto aos filhos dos crentes? Será que os filhos da
Nova Aliança são menos abençoados e privilegiados do que as crianças da Antiga
Aliança? Tais questões são certamente legítimas e estão no centro da questão do
pedobatismo.
O poder principal de tais
questões como um argumento decorre do fato de que nenhum Cristão quer proibir
preciosos bebês das bênçãos de Deus ou limitar a bondade de Deus na concessão
de favor às crianças. Estes pensamentos atraem nosso coração e nos constrangem
a dizer “sim” ao sinal da Aliança em nossos filhos. No entanto, a Palavra de
Deus, e não nosso bem-intencionado sentimentalismo, deve determinar as
respostas a tais perguntas como aquelas do parágrafo acima.
Se Deus assim deseja conceder
a filhos físicos o sinal do pacto na sombra da Antiga Aliança e proibir o sinal
do pacto aos filhos físicos no cumprimento da Nova Aliança, Ele tem o soberano
direito de fazê-lo. Isso também não implica necessariamente que os filhos da Nova Aliança são menos favorecidos ou menos bem-aventurados ao serem
proibidos do sinal da Nova Aliança. Eu, retoricamente respondo: São os nossos
filhos menos abençoados e privilegiados por terem nascido de pais piedosos que
manifestam a plenitude do Espírito, a qual não foi totalmente derramada no
Pacto de Abraão? As nossas crianças são menos abençoadas em terem Cristo e este
crucificado proclamado a elas desde a infância, em comparação com os tipos e
sombras anunciados aos seus homólogos, no Velho Testamento? As nossas crianças
são menos favorecidas por terem nascido no Israel do Espírito, em comparação
com as crianças criadas no Israel da carne? Acho que não.
Nossos filhos, acima de todos
os outros do Israel da Antiga Aliança e do mundo presente, têm privilégios sem
medida. Eles estão sendo criados em lares e igrejas, que estabelecem o Senhor
crucificado e ressuscitado em glória diante deles como o seu pão de cada dia. O
nosso gracioso Deus os escolheu acima das multidões que perecem nas trevas sem
o Evangelho, para ouvirem a mesma promessa que Ele soberanamente usou para
trazer-nos para o reino eterno:
E disse-lhes Pedro: Arrependei-vos,
e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo, para perdão dos
pecados; e recebereis o dom do Espírito Santo; porque a promessa vos diz
respeito a vós, a vossos filhos, e a todos os que estão longe, a tantos quantos
Deus nosso Senhor chamar (Atos 2:38-39).
Deuteronômio 30:6 é uma
passagem interessante à luz de Atos 2:38 em diante; é a promessa de Deus de
circuncidar os corações dos Israelitas e sua descendência depois que Ele
trouxer do exílio profetizado. Ele parece estar se referindo a mesma promessa
em Jeremias 31:31-34 e Ezequiel 36:25 em diante. Se considerarmos esta passagem
como tendo sido cumprida na administração da graça da Nova Aliança, nós
compreendemos corretamente que Atos 2:38-39, 41 diz isto:
A promessa da circuncisão do
coração é para vocês e seus filhos, a todos quantos o Senhor nosso Deus chamar
para Si mesmo, como no mesmo caso, com os gentios. Deus circuncidará os
corações de filhos de acordo com Seu soberano chamado e eles podem receber o
sinal da Nova Aliança da circuncisão do coração, com base em seu arrependimento
e fé quando manifestos (v. 41).
Parece possível que Deus
prometa chamar Seus eleitos dentre os filhos dos crentes, bem como dentre os
gentios, mas não podemos dizer que eles estão na Nova Aliança com o coração
circuncidado e devem receber o seu sinal exterior até que eles se arrependam e
creiam. Este conceito de eleição da “descendência” dos crentes é semelhante ao
de Hoeksema (“Believers and Their Seed” [Crentes e sua Descendência]). No
entanto, os preceitos do batismo e da aplicação do sinal da Nova Aliança, como
ilustrados em Atos 2:38-39, 41, nos impedem de aplicar o sinal da circuncisão
do coração até que nossos filhos mostrem evidências de terem entrado na Nova
Aliança (Jeremias 31:31-34).
Nossos filhos têm sido
abençoados com o ouvir e memorizar da Palavra escrita de Deus desde o berço.
Eles têm sido abençoados com as orações e lágrimas de pais cheios do Espírito
implorando pela regeneração e conversão de suas almas. Eles têm sido abençoados
com as substâncias da Nova Aliança, em relação às sombras da Antiga Aliança,
para atraí-los a Cristo. Podemos dizer que eles são menos favorecidos ao
crescerem sob a semeadura da plena revelação do soberano plano de Deus? Não!
Eles não podem ser considerados menos privilegiados, pois Deus soberanamente
escolheu anunciar o Evangelho da soberana graça para eles, enquanto muitos de
nossa raça caída perecem a cada dia na ignorância e em trevas. Além disso,
temos a promessa de Deus para implorar diante de Cristo, nosso Advogado
pessoal, pelos nossos filhos:
Assim será a minha palavra, que sair da minha boca; ela não
voltará para mim vazia, antes fará o que me apraz, e prosperará naquilo para
que a enviei (Isaías 55:11).
Pleitemos a bondade de Deus
para com Seu povo e clamemos ao Seu Espírito para semear a Palavra de vida nos
corações de nossos filhos até que eles carreguem o fruto de uma regeneração em
Cristo Jesus.
Nós, Cristãos, temos todos os
motivos para dizer que os nossos filhos têm suas bênçãos ampliadas na Nova
Aliança, mesmo que, na boa vontade de Deus, não devam receber o sinal exterior
até que eles tenham uma profissão de fé. Não apelemos para a pérola brilhante
das perguntas retóricas e sentimentais para anular a vontade revelada e
preciosa de Deus na aplicação da Nova Aliança da soberana graça. Em vez disso,
proclamemos o Evangelho da graça para os nossos filhos, implorando que Deus
tenha misericórdia deles.
NONA
PÉROLA
O
Testemunho da Tradição
A tradição é a última e menor
pérola que está enfiada no cordão pedobatista. No entanto, muitas vezes em
polêmicas pedobatistas, ela é tratada como se fosse a maior. Mas se a Escritura
é a nossa única regra de fé e prática, então o papel da tradição deve ser
apenas o de esclarecer e confirmar o que a Escritura claramente estabelece.
Duas áreas atraentes da tradição são o batismo de prosélitos judeus e a prática
da igreja primitiva de acordo com os pais apostólicos. Em ambas as tradições,
T. E. Watson apresentou o resumo mais incisivo.
Primeiro de tudo, Edersheim
(“Life and Times of Jesus the Messiah” [Vida e Tempos de Jesus, o Messias], vol.
2, p. 746) e Berkhof (Teologia Sistemática, p. 622) admitem que
prosélitos judeus e seus filhos de até doze anos de idade eram batizados no
Judaísmo. No entanto, as crianças ainda não nascidas, no ventre da mãe batizada
não eram batizadas após o nascimento, como se elas já fossem consideradas
limpas e uma parte de Israel. Se apelarmos para qualquer parte da prática do
Judaísmo, temos de lidar com a idade tardia de crianças da família que recebem
o batismo, bem como a proibição de batismo para os fetos no útero. Nenhuma
dessas dificuldades presta qualquer tipo de apoio ao batismo infantil. Alguns
estudiosos desconsideram por completo o batismo de prosélito judeu no primeiro
século. Certamente esse não é o apoio para o batismo infantil.
Em segundo lugar, a menção
explícita mais antiga que temos de batismo infantil nos escritos didáticos da
igreja primitiva é de Tertuliano, por volta de 200 d.C. Nesta passagem, ele
exorta o adiamento do batismo, especialmente de crianças pequenas, de modo que
o seu significado seja plenamente cumprido. Isso, é claro, admite que crianças
pequenas ou bebês estavam sendo batizados em sua época. Mas isso está longe de
consentir que esta era uma tradição apostólica.
Orígenes, Agostinho e muitos
outros posteriores a eles dizem que era costume apostólico batizar crianças. É
provável que Orígenes foi batizado como uma criança em 185 d. C. Ele afirma que
esta foi a tradição transmitida desde os apóstolos. Irineu mencionou as fases
da vida, desde a infância até a velhice, como os estágios em que Cristo passou
para salvar todos aqueles que nasceram de novo em todas as idades, possivelmente aludindo ao batismo de crianças pela tendência dos pais da igreja
de identificar o batismo com a regeneração. Assim, parece que, a partir da
segunda metade do segundo século da Reforma, no século XVI, o batismo infantil
foi aceito como uma tradição apostólica.
No entanto, Irineu também
afirmou em sua possível referência ao batismo que ele havia recebido uma
tradição apostólica que Jesus teve de quarenta a cinquenta anos de idade,
contrariando o registro bíblico. Também sabe-se que os pais da igreja têm
reclamado muitas outras tradições apostólicas que são infundadas. De fato,
Tertuliano é frequentemente reconhecido como um acérrimo defensor da tradição
apostólica. Mas por que ele não defendeu o batismo de crianças, se esta é uma
tradição apostólica? Tal testemunho não pode ser considerado conclusivo se não
for bem fundamentado nas Escrituras.
Apelo também pode ser feito a
uma fonte muito mais primitiva, ou seja, a Didaquê (100-125 d.C.). Este manual
da igreja primitiva oferece instrução apenas para o batismo dos catecúmenos. O
seu silêncio sobre o batismo infantil é ensurdecedor. Isso é especialmente
assim por causa da reivindicação pedobatista que a igreja “missionária” de
Mateus 28:18-20 apenas registra o batismo de discípulos inicialmente, mas que o
batismo infantil veio depois. Mas por que então o batismo infantil não foi mencionado
neste manual eclesiástico? Tanto quanto sabemos sobre a Bíblia e a Didaquê, é
que não foi mencionado porque não era praticado.
As primitivas referências
didáticas claras para o batismo são o silêncio sobre ou a negativa para o
batismo infantil. Não posso permitir que tal evidência incerta da tradição
interprete a Escritura ou a tradição apostólica para mim. Tradição, como muitos
pedobatistas concordam, pode oferecer provas confirmatórias somente se o
batismo infantil for primeiramente encontrado na Bíblia. No entanto, enquanto
eu olho através da perspectiva das Escrituras, a pequena pérola da tradição
diminui de tamanho e desaparece de vista.
CONCLUSÃO
O
Cordão Sem Pérolas
Como eu já examinei cada
pérola no cordão, eu saio, na melhor das hipóteses, com um colar de joias
desbotadas e ausentes. Na realidade, eu confesso que eu fiquei com um cordão
vazio chamado boa e necessária inferência que não me faz nenhum bem para
mostrar a beleza do batismo Cristão. Ele é um fio de barbante em volta do
pescoço de uma princesa.
Eu não posso construir a minha
doutrina em um cordão vazio. Portanto, eu aceito a única pérola de valor
inestimável do batismo de discípulos e o uso em minha mão como um sinal de meu
casamento com Cristo. O batismo é o sinal exterior da entrada na Nova Aliança,
a circuncisão interior do coração, evidenciada por sua confissão de fé em
Cristo. Infantes do Antigo Testamento entraram na aliança Abraâmica, a
circuncisão da carne. Se eles viessem à fé, isso se tornava um selo da justiça
da fé, como foi com Abraão (Romanos 4). Agora, os nossos filhos da Nova Aliança
entram na Nova Aliança, a circuncisão do coração, selados pelo Espírito Santo e
o simbolizam pelo sinal do batismo de discípulos.
Alegro-me de ver um
reavivamento de crenças Reformadas em nossas igrejas Batistas em todo o país.
Batistas estão redescobrindo suas raízes Reformadas. No entanto, a obra da
restauração da verdade Bíblica custou a muitos pastores seus empregos e a paz
de espírito de suas famílias. Em amor, eu desafio as pessoas com convicções
Batistas a não aceitarem muito rapidamente um refúgio acolhedor nas igrejas
pedobatistas. Permaneçam firmes para, com os Batistas, “confirmar os restantes”
[Apocalipse 3:2], em vez de fugirem para o que parece ser um ambiente mais
acolhedor.
É triste ver pastores Batistas
e leigos encobrirem o batismo, a fim de servirem em igrejas Pedobatista. Antes
que qualquer mudança seja contemplada, a Palavra de Deus deve ser estudada
sobre o assunto, com diligência e honestidade. Pastores fazem votos sobre tais
coisas. Os Batistas hoje precisam de Luteros, Calvinos e Bunyans
em nossos púlpitos e bancos para que considerem o custo da construção de
igrejas Biblicamente Reformadas e Batistas, de discípulos fiéis. Isso deve ser
feito. Isso pode ser feito. E pela graça de Deus, isso está sendo feito, com
frequência cada vez maior em todo o mundo.
Finalmente, depois de termos
passado por tantas lutas sobre a questão do batismo Cristão, só posso
sinceramente implorar pela unidade e entendimento entre os Batistas e os irmãos
pedobatista que detêm as grandes doutrinas da graça em comum para a glória de
Deus em Sua igreja.
Autor: Fred
A. Malone
Fonte: founders.org
Tradução: Camila Almeida
Via: Estandarte De Cristo
Fred Malone é o pastor da Primeira Igreja Batista em Clinton, Louisiana. Ele recebeu o grau de Mestre em Divindade pelo Reformed Theological Seminary e PhD pela Southwestern Baptist Theological Seminary. Dr. Malone também serve como administrador do Southern Baptist Theological Seminary.