Podemos agora tratar a questão
da duração dos dias de Gênesis 1. Comecemos com a seguinte pergunta: Haveria necessidade de tentar
conciliar as longas
eras, apresentadas pela
cronologia evolucionista, com os dias de
Gênesis apresentados pela
cronologia bíblica? A resposta é não!
Interpretar os dias de Gênesis
como longas eras nada mais é do que uma preferência pessoal e não uma questão
de não aceitar a evidência científica. Alguns interpretam os dias de
Gênesis 1 como sendo longos períodos de tempo, por achar que essa interpretação
é compatível com o registro fóssil.
Podemos começar afirmando que o registro fóssil não apresenta nenhuma evidência a favor da teoria da evolução. O próprio Charles Darwin disse isso no seu livro A Origem das Espécies:
... o número de variedades
intermediárias, as quais existiram previamente, [deveria] verdadeiramente ser
enorme. Por que, então, as formações geológicas e cada um dos estratos não
estão repletos destes tais elos intermediários? A geologia, sem dúvida, não
revela tal cadeia orgânica finamente graduada; e isto, portanto, é a objeção
mais óbvia e séria que pode ser levantada contra a teoria [da evolução].4
O registro
fóssil mostra a
existência de formas
de vida altamente complexas e
em grande diversidade convivendo simultaneamente (como dinossauros,
aves e mamíferos) desde o início. Mas não mostra a
“cadeia orgânica finalmente graduada, indispensável para o estabelecimento da
evolução proposta por Darwin e seus seguidores. Portanto, não existe uma razão
científica devidamente estabelecida e comprovada pela qual uma pessoa não
deveria aceitar a literalidade dos dias de Gênesis 1.
Mas resta ainda o argumento
linguístico: a palavra hebraica OV (yom), traduzida por “dia” (Essa é a mesma
palavra usada para o Yom Kippur dos judeus atuais). Esse vocábulo possui um
significado muito claro: duração de tempo. Ele é utilizado em algumas passagens
com um sentido diferente de um dia de 24 horas (Gn 2.4 e 4.3 -
“Passado algum tempo [yom]...”).
No entanto, todas as vezes que
o vocábulo yom é usado em conjunto com as palavras “tarde e manhã”, o seu
significado fica limitado ao período
de tempo de um dia
literal (Nm 9.15;
Dt 16.4). Haveria assim a necessidade de
que fosse provado que Gênesis 1 seria uma exceção à regra.
Em outras palavras, alguém que
quisesse interpretar os dias de Gênesis 1 como sendo longas eras, baseando-se
no vocábulo yom, teria que demonstrar que yom + “tarde e manhã” de Gênesis 1
não obedecem à regra encontrada em todo o Velho Testamento: dia de 24 horas.
Texto
Dentro do Contexto
Todos os
seis dias de
Gênesis 1 são
dias de criação.
Algo foi trazido à existência por meio de um ato soberano do Senhor
Deus. Em cada um deles Deus ordena e algo acontece. A resposta ao mandamento do Senhor Deus é sempre imediata (ver também Sl 33.9). Não existe no texto a menor
possibilidade de Deus ter ordenado e o seu
mandamento ser cumprido apenas milhões
ou bilhões de anos depois. Esse tipo de raciocínio não
encontra suporte nas Escrituras Sagradas. Veja os exemplos de
ordem e resultado imediato na vida do Senhor Jesus quanto aos milagres
que ele executou (Jo 5-8-9; 11.43-44).
Alguns procuram
ainda usar o
cumprimento de algumas Profecias para
afirmar que nem sempre o que Deus ordena ocorre imediatamente. Isso é completamente verdadeiro
para Profecias. Mas Gênesis 1 não é profético.
Existe também um
argumento amplamente difundido
dentro do contexto cristão: “Não
se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos
como um dia.” (2 Pe 3.8)
O texto de 2 Pedro trata
especificamente de Deus. O Senhor não está preso ao tempo como eu e você
estamos. Deus está fora do tempo. Isso é o que o texto de Pedro nos ensina.
Para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia. O tempo não atua em
Deus. Apenas em nós. Esse texto não trata de Gênesis 1 e sim de Deus. Não se
pode usar um texto fora do seu contexto! Se uma pessoa tirar o texto do seu
contexto, poderá interpretá-lo como quiser. Imagine alguém usando a frase “Deus não existe”?! (Sl 14.1 e 53.1).
Para demonstrar a literalidade dos
dias de Gênesis, examinemos como
a Bíblia os interpreta. Vejamos o quarto mandamento:
Lembra-te do dia de sábado,
para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos,
mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás
trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas,
nem teus animais, nem os
estrangeiros que morarem em
tuas cidades. Pois em seis dias o Senhor fez os céus e a terra,
o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor
abençoou o sétimo dia e o santificou. (Êx 20.8-11)
O texto nos
diz que em
seis yom Deus
trabalhou criando todas as coisas, e no sétimo yom descansou. O texto também nos diz que devemos trabalhar seis
yom e descansar no sétimo yom, como Deus fez.
Sendo que yom significa
período de tempo, como já vimos, qual deveria ser a quantidade de tempo atribuída a cada um desses seis períodos? Seis dias de 24 horas ou dias de milhares, milhões ou bilhões de anos?
Se o período de tempo atribuído
aos dias da
criação for de 24 horas, então deveremos trabalhar em seis dias de 24 horas e descansar em um
dia de 24 horas. Se o período de tempo
atribuído aos dias de Gênesis 1 não for de 24 horas, então será impossível
para qualquer ser humano guardar o quarto mandamento, pois não há ninguém que viva milhares, milhões ou bilhões de anos!
Qual seria então uma boa razão pela qual o Senhor Deus não teria criado
todas as coisas em seis dias literais de 24 horas? Falta a Ele poder? Força?
Capacidade? Inteligência? Sabedoria? É óbvio também que as razões não poderiam ser nem as datas apresentadas pela ciência evolucionista nem tampouco a utilização do vocábulo
“yom”.
Eliminadas as possibilidades do que não poderia ser, ficamos somente com uma possibilidade: os dias são dias literais de 24
horas.
NOTAS:
4. Charles R. Darwin, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, publicado
por John Muray, Londres, 1859, primeira edição, p. 280. Ver
todo o Capítulo IX, “Imperfeições do Registro Geológico”.
(Publicado no Brasil pela Editora Martin Claret com o título Origem das Espécies, 2004 [Nota do
revisor]).
Autor:
Adauto Lourenço
Trecho extraído do livro Gênesis 1 e 2, pág 115-119. Editora: Fiel