29 de julho de 2016

Longas Eras ou Dias Literais?


Podemos agora tratar a questão da duração dos dias de Gênesis 1. Comecemos com a  seguinte pergunta: Haveria  necessidade de tentar  conciliar  as  longas  eras,  apresentadas  pela  cronologia evolucionista,  com  os  dias  de  Gênesis  apresentados  pela  cronologia bíblica? A resposta é não!

Interpretar os dias de Gênesis como longas eras nada mais é do que uma preferência pessoal e não uma questão de não aceitar a evidência científica. Alguns interpretam os dias de Gênesis 1 como sendo longos períodos de tempo, por achar que essa interpretação é compatível com o registro fóssil.

Podemos começar afirmando que o registro fóssil não apresenta nenhuma evidência a favor da teoria da evolução. O próprio Charles Darwin disse isso no seu livro A Origem das Espécies:

... o número de variedades intermediárias, as quais existiram previamente, [deveria] verdadeiramente ser enorme. Por que, então, as formações geológicas e cada um dos estratos não estão repletos destes tais elos intermediários? A geologia, sem dúvida, não revela tal cadeia orgânica finamente graduada; e isto, portanto, é a objeção mais óbvia e séria que pode ser levantada contra a teoria [da evolução].4

O  registro  fóssil  mostra  a  existência  de  formas  de  vida altamente  complexas e  em  grande diversidade convivendo simultaneamente (como  dinossauros,  aves  e  mamíferos) desde o início. Mas não mostra a “cadeia orgânica finalmente graduada, indispensável para o estabelecimento da evolução proposta por Darwin e seus seguidores. Portanto, não existe uma razão científica devidamente estabelecida e comprovada pela qual uma pessoa não deveria aceitar a literalidade dos dias de Gênesis 1.

Mas resta ainda o argumento linguístico: a palavra hebraica OV (yom), traduzida por “dia” (Essa é a mesma palavra usada para o Yom Kippur dos judeus atuais). Esse vocábulo possui um significado muito claro: duração de tempo. Ele é utilizado  em algumas passagens com um sentido diferente de um dia de 24 horas (Gn 2.4 e 4.3 - “Passado algum tempo [yom]...”). 

No entanto, todas as vezes que o vocábulo yom é usado em conjunto com as palavras “tarde e manhã”, o seu significado fica limitado  ao  período  de  tempo de  um  dia literal  (Nm  9.15;  Dt 16.4). Haveria assim a necessidade de que fosse provado que Gênesis 1 seria uma exceção à regra. 

Em outras palavras, alguém que quisesse interpretar os dias de Gênesis 1 como sendo longas eras, baseando-se no vocábulo yom, teria que demonstrar que yom + “tarde e manhã” de Gênesis 1 não obedecem à regra encontrada em todo o Velho Testamento: dia de 24 horas.

Texto Dentro do Contexto

Todos  os  seis  dias  de  Gênesis  1  são  dias  de  criação.  Algo foi trazido à existência por meio de um ato soberano do Senhor Deus. Em cada um deles Deus ordena e algo acontece. A resposta ao mandamento do Senhor  Deus é sempre imediata (ver também Sl 33.9). Não existe no texto a menor possibilidade de Deus ter ordenado e o seu  mandamento  ser  cumprido apenas  milhões  ou bilhões de anos depois. Esse tipo de raciocínio não encontra suporte nas Escrituras Sagradas. Veja  os exemplos  de  ordem e  resultado imediato na vida do Senhor Jesus quanto aos milagres que ele executou (Jo 5-8-9; 11.43-44).

Alguns  procuram  ainda  usar  o  cumprimento  de  algumas Profecias  para  afirmar  que  nem sempre o que Deus ordena ocorre imediatamente. Isso é completamente  verdadeiro  para Profecias. Mas Gênesis 1 não é profético.

Existe também  um  argumento amplamente difundido  dentro do contexto cristão: “Não se esqueçam disto, amados: para o Senhor um dia é como mil anos, e mil anos como um dia.” (2 Pe 3.8)

O texto de 2 Pedro trata especificamente de Deus. O Senhor não está preso ao tempo como eu e você estamos. Deus está fora do tempo. Isso é o que o texto de Pedro nos ensina. Para Deus um dia é como mil anos e mil anos como um dia. O tempo não atua em Deus. Apenas em nós. Esse texto não trata de Gênesis 1 e sim de Deus. Não se pode usar um texto fora do seu contexto! Se uma pessoa tirar o texto do seu contexto, poderá interpretá-lo como quiser. Imagine alguém usando a frase “Deus não existe”?! (Sl 14.1 e 53.1).

Para demonstrar  a literalidade  dos  dias de Gênesis,  examinemos como a Bíblia os interpreta. Vejamos o quarto mandamento:

Lembra-te do dia de sábado, para santificá-lo. Trabalharás seis dias e neles farás todos os teus trabalhos, mas o sétimo dia é o sábado dedicado ao Senhor teu Deus. Nesse dia não farás trabalho algum, nem tu, nem teus filhos ou filhas, nem teus servos ou servas, nem teus animais, nem os  estrangeiros que morarem  em  tuas cidades.  Pois  em seis dias o Senhor fez os céus e a terra, o mar e tudo o que neles existe, mas no sétimo dia descansou. Portanto, o Senhor abençoou o sétimo dia e o santificou. (Êx 20.8-11)

O texto  nos  diz  que  em  seis  yom  Deus  trabalhou  criando todas as coisas, e no sétimo yom descansou. O texto também nos diz que devemos trabalhar seis yom e descansar no sétimo yom, como Deus fez.

Sendo que yom significa período de tempo, como já vimos, qual deveria ser a quantidade  de tempo atribuída a cada um desses seis períodos? Seis dias de 24 horas ou dias de  milhares, milhões ou bilhões de anos?

Se o período de tempo  atribuído  aos  dias  da  criação  for  de 24 horas, então deveremos trabalhar  em seis dias de 24 horas e descansar em um dia de 24 horas. Se o período de tempo atribuído aos dias de Gênesis 1 não for de 24 horas, então será impossível para qualquer ser humano guardar o quarto mandamento, pois não há ninguém que viva milhares, milhões ou bilhões de anos!

Qual seria então uma boa razão pela qual o Senhor  Deus não teria criado todas as coisas em seis dias literais de 24 horas? Falta a Ele poder? Força? Capacidade? Inteligência? Sabedoria? É óbvio também que as razões não poderiam ser nem as datas apresentadas  pela ciência evolucionista nem tampouco a utilização do vocábulo “yom”.

Eliminadas as possibilidades do que não poderia ser, ficamos somente com uma possibilidade: os dias são dias literais de 24 horas.



NOTAS:

4. Charles R. Darwin, On the Origin of Species by Means of Natural Selection, publicado por John Muray, Londres, 1859, primeira edição, p. 280. Ver todo o  Capítulo IX,  “Imperfeições do Registro Geológico”. (Publicado no Brasil pela Editora Martin Claret com o título Origem das Espécies, 2004 [Nota do revisor]).



Autor: Adauto Lourenço
Trecho extraído do livro Gênesis 1 e 2, pág 115-119. Editora: Fiel