Os Três Perigos
Ao longo de sua história, a
igreja cristã tem enfrentado três graves perigos: o paganismo, o papismo e o
pentecostalismo.
O paganismo ameaçou a igreja
logo nos primeiros anos de sua existência, especialmente por meio de um misto
de religiões, filosofias e fábulas que mais tarde ficou conhecido como
gnosticismo. Esse modelo exercia forte atração sobre os cristãos menos preparados
porque, além de oferecer experiências místicas, como visões e coisas do tipo
(Cl 2.18), também impunha aos seus seguidores normas de conduta que pareciam
piedosas — regrinhas como "não pode isso", "não pode
aquilo" (Cl 2.20-23). O maior atrativo do gnosticismo, porém, estava na
alegação de que seus adeptos formavam uma elite espiritual detentora de um grau
de espiritualidade e conhecimento (gnosis) que outras pessoas eram incapazes de
ter.
O papismo, por sua vez,
desenvolveu-se em decorrência de processos muito mais longos e complexos,
iniciados já no século 2, e que culminaram no surgimento de uma espécie de
príncipe eclesiástico com autoridade universal, supostamente dotado de
infinitos poderes temporais e espirituais — uma espécie de deus, reconhecido,
aliás, como infalível!
Por causa do papismo, a igreja medieval ficou muitas vezes nas mãos de homens inescrupulosos, imorais e corruptos que, em nome de Cristo e em benefício próprio, cometeram atrocidades como as guerras das Cruzadas, os crimes da Inquisição e a exploração impiedosa do povo por meio da venda de relíquias e de indulgências. O caos e a vergonha a que o papismo lançou a igreja deram ensejo à Reforma Protestante do século 16.
O terceiro perigo, o
pentecostalismo, é de todos o mais recente e também o mais danoso, posto que
abriga elementos dos dois primeiros e, conforme será demonstrado, trouxe
prejuízos para o cristianismo que nem mesmo os piores inimigos da fé foram
capazes de causar nestes 2 mil anos de história eclesiástica.
O surgimento do movimento
pentecostal geralmente é datado de 1906, ano em que William Joseph Seymour, um
pregador afro-americano, iniciou reuniões num barracão na Rua Azuza, número
312, em Los Angeles, EUA. Nessas reuniões, a ênfase era a busca do batismo com
o Espírito Santo, o que Seymour cria ser uma experiência mística pós-conversão,
acompanhada pelo falar em línguas.
Ora, a Bíblia ensina que o
batismo do Espírito Santo é dado a todos os crentes, sem que eles precisem se
esforçar para obtê-lo (1Co 12.13; Gl 3.2). Também ensina que isso ocorre no
momento da conversão (Ef 1.13), sem nenhuma necessidade de ser evidenciado pelo
dom de línguas, já que, na Igreja Primitiva, esse dom era dado somente a alguns
(1Co 12.30).
Contudo, os seguidores de
Seymour criam que o batismo do Espírito Santo era uma espécie de segunda bênção
(a primeira bênção seria a conversão) dada por Deus somente a quem a buscasse
com orações, jejuns, clamores, lágrimas e vigílias. Por isso, testemunhas
oculares relataram que, na Rua Azuza, as pessoas passavam dias e noites
gritando, chorando, gemendo, uivando, pulando, girando e se contorcendo,
enquanto clamavam pela "bênção". Já os que eram "batizados"
balbuciavam o que criam ser línguas estranhas e, em êxtase, caíam no chão onde
ficavam rolando ou se sacudindo, numa manifestação frenética de loucura total.
Outros, ainda, desmaiavam e ficavam deitados por horas a fio, inertes como se
estivessem mortos.
Tudo isso, pensavam, era
necessário e valia a pena, pois o batismo do Espírito Santo, uma vez recebido,
elevaria o crente a um novo e mais rico patamar espiritual, tornando-o
participante de uma elite de homens santos e fazendo-o desfrutar de uma vida
repleta de experiências poderosas e arrebatadoras com Deus.
Foi dito aqui que o primeiro
grande perigo que ameaçou a igreja de Cristo foi o paganismo manifesto em
doutrinas gnósticas. Pois bem, o pentecostalismo demonstrou ser um dos
maiores danos que já sobrevieram à igreja porque, com sua ênfase numa doutrina
jamais ensinada nas Escrituras, trouxe de volta para o cristianismo
precisamente aquelas velhas noções pagãs, apegando-se ao êxtase, ao frenesi
espiritual e, especialmente, ao principal conceito gnóstico da existência de
uma elite espiritual que se situa acima dos crentes comuns.
Então, como ocorreu com o
gnosticismo nos séculos 1 e 2, a possibilidade de provar emoções novas e de
fazer parte de uma elite espiritual fez com que o pentecostalismo atraísse uma
imensa massa de pessoas ignorantes, ávidas por experiências místicas e sedentas
por conquistar o reconhecimento e a admiração dos seus correligionários.
Conforme dito anteriormente, a
segunda maior ameaça sofrida pela igreja ao longo dos séculos foi o papismo.
Ora, o pentecostalismo também não deixou de fora os principais elementos desse
mal. Com efeito, além de trazer novamente para a igreja de Cristo o velho
paganismo combatido pelos pais apostólicos do século 2, o movimento pentecostal
trouxe também para a igreja evangélica o velho papismo combatido pelos
reformadores do século 16. A diferença é que o papismo pentecostal é um papismo
piorado.
De fato, se no romanismo foi
acolhida a figura de um papa apenas, no movimento pentecostal ocorreu a
diabólica proliferação de um exército de pequenos papas locais, todos
reivindicando autoridade divina e infalibilidade absoluta sob os títulos de
bispo, apóstolo, profeta ou patriarca.
Com incrível ousadia, todas
essas figuras alegam que Deus lhes fala diretamente e, à semelhança dos
pontífices medievais, não aceitam que suas opiniões ou condutas sejam
questionadas por ninguém e em nenhum grau. Também à semelhança dos papas
renascentistas, esses facínoras exploram a boa fé do povo e juntam tesouros
para si, vendendo quinquilharias que dizem ser santas e dotadas de poder. Na
verdade, isso acontece hoje numa escala tão grande que é fácil concluir que os
papas medievais, em termos de engano e estelionato, teriam muito que aprender
com os pequenos papas da atualidade que reinam soberanos nas igrejas
pentecostais.
Uma fábrica de seis males
Se o pentecostalismo abriga
elementos do paganismo e do papismo, há também outras razões muito mais perceptíveis
que comprovam que essa vertente dita evangélica é um risco terrível para a
causa cristã. Para expor essas razões, basta descrever o pentecostalismo como
uma fábrica de seis males: heresia, superstição, falsos irmãos, hipocrisia,
desordem e desilusão. Neste artigo serão expostos somente os dois primeiros
males. Os demais serão abordados na parte 3 desta série.
Por que podemos afirmar
seguros que o pentecostalismo é uma fábrica de heresias? A resposta é simples e
lógica: Crendo que Deus fala diretamente aos seus apóstolos e profetas, bem
como àqueles que foram agraciados com a “segunda bênção”, os pentecostais não
valorizam o estudo teológico, a exegese ou mesmo as lições mais elementares da
hermenêutica bíblica. Para quê? — dizem eles — se afadigar na análise do texto
bíblico, no aprendizado das línguas originais ou na leitura de obras de
profundidade doutrinária se Deus nos fala diretamente? Aliás, no afã de
ressaltar essa fábula, alguns pastores mais criativos deixam uma cadeira vazia
ao seu lado no púlpito, afirmando que aquele lugar é ocupado por um anjo ou
pelo próprio Espírito Santo que, pondo-se ao seu lado, sussurra as coisas que
ele deve dizer à multidão.
Agravando essa situação,
grande parte dos líderes pentecostais se opõe ferozmente ao estudo da teologia,
dizendo que “a letra mata” (2Co 3.6). Ora, o fácil contexto dessa citação é
suficiente para mostrar que Paulo fala ali da Lei Mosaica (a letra) e seu
impacto mortal sobre aqueles que tentam ser justificados através da sua
observância. Para os pentecostais, porém, nesse texto, Paulo, justamente o
apóstolo mais estudioso do Novo Testamento (At 26.24), reprovava o dedicado
estudo da Palavra de Deus!
O resultado dessas proezas é
que o pentecostalismo acaba sendo um prato cheio para os que se deleitam na
preguiça intelectual e dá ensejo para que homens sem preparo, seguindo as
imaginações de seu próprio coração e chamando tudo o que lhes vêm à mente de
“revelação”, ensinem aos seus seguidores absurdos que vão desde as tolices mais
chocantes até as heresias mais deploráveis e destruidoras. Na verdade, esse
fato é tão notável e evidente que qualquer crente com conhecimento teológico
básico sabe que é mais fácil encontrar um dente na boca de um torcedor
corintiano do que uma frase de alto valor doutrinário na boca de um pastor
pentecostal.
De fato, poucas vezes na
história do pensamento cristão existiu uma fábrica de heresias tão produtiva
como o pentecostalismo. Há algum tempo eu adquiri o grau de mestre (Th.M) em
teologia histórica e posso afirmar depois de muitos anos de estudo que nem
Márcion, o arqui-herege do século 2, nem os montanistas, nem os defensores da
cristologia heterodoxa que ameaçou a igreja nos séculos 4 e 5, nem os cátaros,
nem o catolicismo medieval, nem os radicais da época da Reforma, nem as seitas
pseudocristãs da atualidade, superaram o pentecostalismo na produção de
doutrinas blasfemas, desvios teológicos, erros de interpretação, ensinos
destruidores, lições vergonhosas e propostas antibíblicas.
Quem duvida, deve estudar
esses movimentos e compará-los com as aberrações que dia após dia brotam dos
púlpitos pentecostais. Sem dúvida, o crente sincero se sentiria mais à vontade
numa missa dirigida pelo Papa Inocêncio III do que num “culto de libertação”
realizado por pentecostais. Se bem que, na verdade, o melhor mesmo seria não
comparecer em nenhuma das duas reuniões.
O segundo mal que a máquina
pentecostal produz incansavelmente é a superstição. Mais uma vez, a noção de
que Deus fala diretamente a seus profetas, revelando coisas novas a cada dia,
fez com que o pentecostalismo abrisse as portas para o misticismo religioso,
repleto de crendices toscas inventadas por pessoas que diziam ter recebido uma
“revelação” qualquer.
Os reformadores do século 16
afirmavam que a superstição é filha da ignorância. Assim, sem conhecer a
doutrina bíblica e fiando-se nas ilusões de inúmeros sonhadores, os
pentecostais passaram a acreditar em frases mágicas (“eu determino”, “tá
amarrado”, “eu tomo posse”, “eu não aceito...”), em rituais de quebra de
maldição, na força maior de orações feitas de madrugada, no poder de objetos
ungidos com óleo de cozinha e até em água milagrosa obtida por meio de um copo
deixado sobre o aparelho de TV durante a transmissão de um programa evangélico
qualquer.
Percebendo a facilidade com
que as massas criam nessas fábulas, homens perversos e impostores foram
atraídos para o meio pentecostal onde conquistaram facilmente postos de
liderança (para se destacar no meio pentecostal basta gritar, sapatear e
rodopiar bastante). Então, movidos pela ganância, esses homens inventaram ainda
mais superstições, criaram um amplo comércio de relíquias muito semelhante ao
que a igreja católica explorou na Idade Média e enriqueceram vendendo cacarecos
ungidos para o povo iludido, prometendo saúde e prosperidade por meio dessas
coisas (2Pe 2.1-3).
A massa desesperada seguiu
esses golpistas, acreditando que sua vida ia melhorar e, então, os salões
pentecostais ficaram lotados. Foi assim que o pentecostalismo fez com que a
igreja do Senhor recebesse a fama de um covil de ladrões e a maravilhosa fé
cristã, exposta e defendida por gigantes e santos do passado, ficasse com a
pecha de uma religião de feiticeiros, muito semelhante à macumba, ao candomblé,
ao baixo catolicismo e ao fetichismo de tribos primitivas. Com efeito, nenhuma
outra estratégia do diabo foi capaz de emporcalhar tanto o santo nome da igreja
de Deus.
O terceiro mal que o
pentecostalismo fabrica incessantemente são os falsos irmãos. Infelizmente, ao
contrário do que muitos pensam, um número enorme de pentecostais jamais
conheceu a salvação anunciada no verdadeiro evangelho. Isso acontece
especialmente porque quem se filia a esse movimento geralmente o faz em busca
dos milagres de Cristo e não do seu perdão. Porém, outra causa para o grande
número de incrédulos dentro dessa vertente evangélica está no fato de que os
pentecostais acreditam piamente na heresia arminiana da perda da salvação.
Consequentemente, ainda que
afirmem em teoria que a salvação é somente pela fé em Cristo, na prática, os
pentecostais vivem tentando se manter salvos por meio da religiosidade
aparente, das práticas rituais e da observância de regrinhas inventadas pela
igreja. Por incrível que pareça, muitos deles chegam a acreditar que preservam
a salvação porque não deixam a barba crescer ou porque nunca vestiram uma
bermuda!
Tudo isso mostra que muitos
pentecostais jamais entenderam as Boas Novas de Cristo, sendo apenas incrédulos
cheios de medo tentando melhorar de vida ou buscando ser salvos pelo esforço
próprio. Obviamente, essa presença
enorme de falsos crentes no meio evangélico, produzida especialmente pelo
movimento pentecostal, é uma das principais causas do descrédito a que foi
lançado o cristianismo nos tempos modernos.
A hipocrisia é o quarto mal
que a máquina pentecostal fabrica. A ênfase numa espiritualidade marcantemente
exterior, com gritos, pulos e quedas no chão, deu espaço para constantes
representações teatrais. Com efeito, simulando o que chamam de “transbordar do
Espírito”, muitos pentecostais sapateiam, rodopiam e se contorcem como loucos,
tudo para convencer os outros de que são fervorosos espiritualmente. Também a
altíssima valorização do falar em línguas impeliu esse povo ao fingimento,
levando-os a repetir, por conta própria, três ou quatro sílabas desconexas a
fim de dar a impressão de que foram agraciados com o maravilhoso dom descrito
em Atos 2 (muitos deles, depois de “falar em línguas de anjos” no domingo,
falam a língua dos demônios durante a semana na forma de palavrões!). Buscando
ainda status dentro da igreja, muitos pentecostais fingem profetizar, quando,
na verdade, somente dizem qualquer coisa que lhes venha à mente e que possa
estar relacionada à vida alheia. Naturalmente, todo esse teatro é facilmente
percebido por qualquer pessoa normal, o que transforma a fé cristã em motivo de
piadas aos olhos dos incrédulos.
O quadro descrito acima
desemboca facilmente no quinto mal produzido pelas igrejas pentecostais: a
desordem. Nem num hospício, nem num desfile de carnaval, nem na Câmara dos
Deputados em Brasília é possível ver e ouvir as loucuras e sandices que se veem
e ouvem num culto pentecostal. Ali uns riem, outros uivam; uns correm de lá
para cá, outros rolam no chão; uns dançam, outros oram aos gritos... No final,
dizem que tudo isso é fervor ou ação do Espírito Santo. Pra piorar, os pentecostais
ainda afirmam que a igreja ordeira, centrada no estudo da Palavra, marcada por
decência, reverência e santo temor é, na verdade, fria e precisa aprender muito
com eles se quiser amadurecer na vida cristã!
Finalmente, o sexto mal que se
origina no pentecostalismo é a desilusão. Ouvindo profecias vazias e revelações
inventadas, muitas pessoas criam esperanças que jamais se cumprem e que as
lançam, enfim, num poço de frustração. Quando isso acontece, para agravar a
situação, mestres impostores as atormentam ainda mais, dizendo que as ditas
profecias não se cumpriram por causa da falta de fé. Então, além de frustradas,
essas pessoas passam a se sentir também culpadas, vivendo infelizes pelo resto
da vida.
Outros, seguindo orientações
que lhes disseram ter sido reveladas por Deus, tomam decisões ou praticam
coisas que acabam por destruir sua família, seu casamento, sua juventude, seu
futuro, sua saúde, sua carreira e seu patrimônio. Quando, enfim, despertam para
isso, percebem muitas vezes que é tarde demais.
Há ainda aqueles que, numa
busca escravizadora pelo que acreditam ser o batismo do Espírito Santo,
entregam-se a um rigorismo cruel que os priva do lazer (cinema é pecado!), do
conforto (mulher de calça comprida? Nem pensar!), do alegre convívio com os
filhos pequenos (ir à praia com eles seria pura carnalidade!) e até dos
prazeres do leito conjugal. No fim de tudo, ao descobrirem que nada disso teve
qualquer proveito, passam a se lamentar frustrados, percebendo que foram
enganados, que a vida passou e que aquilo que perderam não pode mais ser
recuperado.
Veem-se, assim, quão horríveis
são os males causados pelo pentecostalismo. Como evitá-los? Como fugir deles?
Esse será o tema do último artigo desta série.
Ressalvas e Opções
Muitas pessoas vão dizer que
nesta série de artigos eu faço confusão entre pentecostalismo e
neopentecostalismo. Dirão que, na verdade, é somente o neopentecostalismo que
realiza os abusos que tenho enumerado, estando o pentecostalismo “clássico”
livre disso tudo.
Esse parecer resulta de certas
distinções que foram feitas no passado entre o chamado pentecostalismo de
“primeira onda” (com ênfase no batismo do Espírito acompanhado de línguas
estranhas), o pentecostalismo de “segunda onda” (com ênfase em curas e
milagres) e o da “terceira onda” (que adota a teologia da prosperidade). Sem
dúvida, essa distinção tem certo valor como forma de classificação que auxilia
a análise histórica do movimento. Contudo, a observação do cenário atual mostra
que, na prática, a referida diferenciação tornou-se obsoleta, não fazendo mais
qualquer sentido.
Com efeito, como acontece em
qualquer praia em que uma “onda” logo se mistura com a outra, o mesmo ocorreu
com o pentecostalismo. Por isso, hoje é possível perceber que a “primeira”, a
“segunda” e a “terceira onda” se mesclaram, viraram uma vaga só, espumando
heresias, confusões, fraudes, escândalos e hipocrisias. Assim, a diferença
entre pentecostalismo e neopentecostalismo, se houver, poderá talvez ser
encontrada na eventual ênfase que cada igreja em particular dá a um erro
específico. Na base, porém, todo o movimento se iguala, pois as comunidades que
o compõem adotam os mesmos pressupostos, praticam e pregam basicamente as
mesmas coisas, afirmando a crença na “segunda bênção”, nas revelações e nos
portentos supostamente concedidos por Deus aos seus falsos apóstolos e profetas
ilusórios.
Feita essa ressalva, importa
agora voltar a atenção para os crentes em Cristo que se encontram nas igrejas
pentecostais. Sim, há cristãos de verdade nessas comunidades. Eu conheço muitos
deles. Trata-se de irmãos em Cristo que percebem que algo está errado, que
sentem a falta de alimento sólido, que observam inconformados aquelas
manifestações fingidas de arrebatamento espiritual, que sofrem percebendo a
ação de espertalhões e a santidade hipócrita de quem louva a Deus com gritos
mas tem a vida suja (Is 29.13).
São irmãos que, à vezes, se
sentem culpados, pensando: “Será que o errado sou eu? Será que não tenho
fervor? Será que Deus está realmente agindo aqui e só eu não estou vibrando?
Por que não sinto vontade de gritar e pular? Por que não consigo falar em
línguas? E quanto a essas profecias, curas e orações barulhentas? Será que só
eu percebo que são forçadas?”.
Tive contato com muitos irmãos
amados que enfrentaram esses dilemas no meio pentecostal e que hoje estão num
aprisco bíblico. Outros, porém, geralmente por causa de vínculos sociais e
afetivos, ainda vivem nesse meio, mesmo se sentindo incomodados e pouco à
vontade. Para esse crentes de verdade, creio haver quatro opções:
1. Permanência com influência:
Nessa primeira opção, o crente permanece na igreja em que está, tentando mudar
as coisas. Trata-se de uma decisão nobre, mas a experiência mostra que tem
poucos resultados. Ademais, essa opção tem se mostrado perigosa, pois, geralmente,
com o passar do tempo, os crentes que a adotam ficam indiferentes diante do
erro. Aos poucos, sem que percebam, tornam-se menos rígidos em seus
julgamentos. A constante e tácita convivência com a mentira faz com que, para
eles, o mal se torne normal (e até engraçado). O resultado final é que, sem
alimento espiritual e com as faculdades amortecidas, seu testemunho entra em
colapso, seu casamento começa e enfrentar crises e seus filhos, quando crescem,
correm para o mundo, dizendo que tudo na igreja não passa de representação
barata.
2. Ecclesiola in ecclesia:
Essa expressão significa “pequena igreja dentro da igreja” e foi usada
especialmente pelos puritanos da Inglaterra para se referir a pequenos grupos
de crentes verdadeiros que se reuniam para cultuar a Deus de maneira correta,
sem, contudo, se desligar da igreja maior, cheia de erros, à qual pertenciam.
Essa opção pode ser útil, especialmente porque uma ecclesiola seria um bom
lugar para levar o visitante, sem passar vergonha. Além disso, talvez seja uma
forma de obter alimento verdadeiro. Porém, essa alternativa é perigosa porque
pode gerar orgulho espiritual ou até mesmo uma forma de elitização. Ademais, a
liderança da igreja maior se indisporá com grupos assim e os problemas serão
inevitáveis.
3. Formação de uma nova igreja
por um grupo: A vantagem dessa opção é o surgimento quase imediato de uma
igreja séria. Porém, os perigos dessa medida a tornam desaconselhável. Isso
porque a nova igreja nascerá com a fama de dissidente, enfrentando a forte
oposição da igreja de origem. Esta, em regra, não poupará esforços para
caluniá-la, enfraquecê-la e até destruí-la. Ainda que possa sobreviver a tudo
isso, o sofrimento decorrente dessas investidas deixará marcas que poderiam ser
evitadas caso fosse adotado um modo de agir diferente.
4. Saída individual pacífica:
De todas as alternativas, essa é a melhor. Nessa opção, o crente simplesmente
se desliga da comunidade maculada em que se encontra e se filia a uma igreja
séria, onde poderá nutrir comunhão com seus irmãos e cultuar a Deus longe de
escândalos, encenações e badernas. Na igreja que pastoreio tenho várias ovelhas
que, pertencendo a comunidades pentecostais no passado, tomaram essa iniciativa
e hoje fazem parte do nosso rol de membros. O senso de terem achado finalmente
o seu lar, a alegria de aprender a Palavra de Deus a partir da hermenêutica
sadia e o alívio de terem se livrado de um ambiente eclesiástico nocivo,
repleto de excessos e de maluquices, fazem desses irmãos os mais gratos e
vibrantes crentes que há em nosso meio.
Autor:
Marcos Granconato
Fonte:
Igreja Batista Redenção