9 de julho de 2016

Um Cordão de Pérolas Soltas: O Batismo de Crentes (4/5)


A SEXTA PÉROLA

A Disjunção do Batismo de João e Jesus e o Batismo Cristão

Muitas vezes existe uma tentativa de diferenciar a intenção e sujeitos dos batismos de João e de Jesus e a intenção e assuntos do Batismo Cristão. Esta é uma diferenciação antibíblica e errônea.

É geralmente admitido pelos Batistas e Pedobatistas que, semelhantemente, João batizou somente sob a condição de arrependimento (Mateus 3:6; Marcos 1:4) para remissão dos pecados. Atos 19:4 também revela que João encaminhou os homens a Jesus. Também está claro que os discípulos de Jesus somente batizaram aqueles que anteriormente haviam se tornado discípulos (João 4:1). Não há nenhuma menção, nem evidências para o batismo infantil dos filhos daqueles que eram feitos discípulos, nem nos batismos de João ou de Jesus. Qual, então, é a relação entre o batismo de João e de Jesus e o batismo Cristão? E o que esta relação tem a nos dizer sobre o pedobatismo?

Uma questão que trata deste aspecto é esta: quem batizou os discípulos de Jesus no batismo Cristão? Não poderia ter sido Jesus (João 4:1-2). João batizou no mínimo André e outro discípulo (João 1:35, 40); ainda assim, não há registro de rebatismo deles por Jesus ou por outras pessoas no dia de Pentecostes. Apolo é outro caso de um dos discípulos de João dos quais não há registro de rebatismo no batismo Cristão (Atos 18:24-28). De fato, no dia de Pentecostes, somente aqueles que conversavam com Pedro e que receberam a sua palavra foram batizados (Atos 2:37-42). Parece que os discípulos de Cristo e os 120 no cenáculo não foram rebatizados no batismo Cristão, pois teria sido repetitivo para esses crentes perguntar: “Irmãos, o que faremos?” Na verdade, estes 120 podem ter ajudado a batizar os 3.000 recém-convertidos.

O único caso possível para rebatismo no Novo Testamento está em Atos 19:1-7 (e Calvino discorda). Parece que estes discípulos batizados no batismo de João não receberam toda a mensagem de João sobre Jesus e o Espírito Santo quando foram batizados. Talvez a receberam posteriormente. Por isso, eles foram rebatizados em Cristo por Paulo. Calvino diz que esse rebatismo não foi necessariamente por água, mas pelo batismo de Cristo com o Espírito Santo. Ele aponta para a ação de Paulo de imposição de mãos e para o fato de nenhuma menção de água ter sido feita, para sustentar sua posição. Há muita discordância sobre este texto. Mas, se dissermos que o batismo de João não era suficiente para o batismo Cristão, ainda assim temos os problemas apresentados pelo batismo de Apolo, que foi aparentemente aceito por Áquila e Priscila em Éfeso e pelo batismo dos fiéis antes do Pentecostes.

Não parece haver uma linha de demarcação entre o batismo de João, de Jesus e o Cristão. Isto é ainda atestado pela verdade de Marcos 1:1, que define o início do Evangelho de Jesus Cristo com a vinda de João no versículo 2. Portanto, os sujeitos dos batismos evangélicos de João e de Jesus devem ser aplicados também ao batismo Cristão; ou seja, os sujeitos são limitados exclusivamente aos discípulos ou professos. Jesus afirmou isso na Grande Comissão, quando Ele deu a ordem de fazer discípulos de todas as nações, batizando e ensinando-os (Mateus 28:19). Os refere-se apenas àqueles que se tornam discípulos. Cada uso da palavra “discípulo”, no Novo Testamento, refere-se ao seguir consciente e intencional de um professo. Quando Cristo comissionou Seus seguidores para batizar discípulos, Ele estava estabelecendo ainda mais a prática do batismo dos crentes.

Pode-se acrescentar que Jesus definiu claramente a base para a construção de Sua Igreja em Mateus 16:16-19, 24-26 por meio do evento da confissão de Pedro. Este também é um grande apoio para os sujeitos do batismo intencionados na Sua igreja na Grande Comissão. Se chamamos o batismo de uma instituição de Cristo para sinal exterior de admissão em Sua igreja confessional, não deveríamos também confiar em Seus preceitos instituídos sobre os sujeitos do batismo, em vez de recorrer a uma dependência mui questionável da “boa e necessária inferência”? É minha crença de que as instruções instituídas por Cristo para fundar Sua Igreja devem interpretar a aplicação do Pacto de Abraão ao batismo e não vice-versa, por meio de inferência.

Alguns tentaram negar que Jesus definiu o batismo de confessores apenas neste texto, afirmando que Suas palavras referem-se exclusivamente à instituição inicial do batismo. Portanto, se o raciocínio procede, nós deveríamos esperar um Cristo de ânimo missionário dando instruções para o batismo de confessores, naturalmente admitindo o batismo de suas crianças a seguir. No entanto, permanece o fato de que Cristo instituiu o batismo e o praticou (através de Seus discípulos) muito antes da Grande Comissão (João 4:1). Em seu batismo anterior, claramente foram batizados por Seus discípulos apenas aqueles que eram feitos discípulos, excluindo suas criancinhas. Se vamos supor que a Grande Comissão é a instituição oficial do batismo cristão, então o batismo de Cristo não era Cristão? E por que Ele não adicionou “batizando-os e aos seus filhos”? A prática e comando do batismo de Jesus, juntamente com João, nomeia os crentes somente como os sujeitos do batismo. Eu, por exemplo, não estou preparado para contradizer o ensino ou o exemplo de Cristo. Concluo, então, que os batismos de João, de Jesus e o batismo Cristão não devem ser separados artificialmente, como tem sido feito muitas vezes. Não há nenhuma boa evidência dessa pérola nas Escrituras e, portanto, nenhuma evidência de que os sujeitos do batismo depois do Pentecostes fossem diferentes dos sujeitos anteriores. Em ambos os casos eles eram discípulos que creram.


SÉTIMA PÉROLA

O Argumento do Silêncio

Um dos argumentos mais utilizados para apoiar a prática do pedobatismo é o silêncio a seu respeito que aparece no Novo Testamento. A principal linha de raciocínio é assim: Era tão óbvio que uma parte do pacto de graça era administrar o sinal da aliança às crianças da Aliança no Antigo Testamento que não havia nenhuma razão para mencioná-lo ou defendê-lo no Novo Testamento. Assim, supostamente, o caso é comprovado. No entanto, este princípio de hermenêutica que atrai boas e necessárias inferências a partir do silêncio, pode ser bastante subjetivo e pode levar a erros mui rapidamente. É, evidentemente, um princípio legítimo se não houver nenhum preceito claro para contradizer a sua inferência. No entanto, o princípio regulador do culto reformado requer instituição positiva para os sacramentos (veja a Confissão de Westminster, capítulo 20, seção 5).

É minha disputa que este argumento para o pedobatismo não permanece quando analisado à luz de dois grandes princípios de hermenêutica: 1) o peso do preceito regulador e instituído, e 2) ironicamente, o próprio argumento do silêncio quando corretamente utilizado.

O Preceito Regulador

Consideremos o peso do preceito regulador. Se estivéssemos buscando por preceitos do Novo Testamento para o pedobatismo, nossa pesquisa se provaria inútil. Como o grande teólogo Presbiteriano B. B. Warfield disse: “É verdade que não há nenhuma ordem expressa para batizar crianças no Novo Testamento, não há registro expresso de batismo de crianças, e nenhuma passagem tão rigorosamente implicando que devemos inferir a partir deles que crianças foram batizadas” (“Studies in Theology” [Estudos em Teologia], p. 399). 

Os reais preceitos relativos ao batismo só podem ser aplicados aos discípulos porque o arrependimento e a fé são necessários para o batismo na Nova Aliança. Muitos pedobatistas admitem isso. No entanto, o argumento pedobatista vai além, ao concluir que uma vez que estes preceitos estão no contexto de uma igreja missionária, é lógico que haveria apenas chamadas para o arrependimento e a fé antes do batismo. Por isso, dizem eles, os preceitos de arrependimento e fé não se aplicam aos filhos dos crentes em uma igreja estabelecida. Para o pedobatista, seria necessário um preceito expresso que proibisse especificamente as crianças de receberem o sinal pactual do batismo, por causa do preceito anterior de Abraão. No entanto, esses mesmos pedobatistas (a saber, Berkhof e Murray) citam o comando para examinar a si mesmo como preceito suficiente, junto com o argumento do silêncio a respeito da comunhão pactual, para negar que as crianças não-regeneradas, que na aliança Abraâmica comeram a Páscoa no Antigo Testamento, comam a Ceia do Senhor, que é o cumprimento da Páscoa no Novo Testamento.

Esta inconsistência em empregar esse preceito proibitivo é exposta à luz de Atos 2:41-42, onde todos os batizados eram autorizados participar no partir do pão, a Ceia do Senhor. Se o batismo infantil for admitido em Atos 2, então assim também deve ser admitida a comunhão de infantes e bebezinhos. Foram muitos anos depois, quando os preceitos do autoexame por causa da participação irreverente foram dados. Assim, na posição pedobatista, há confusão sobre o fundamento para a participação na Ceia do Senhor — é o batismo ou o autoexame? E como os anciãos sabem a quem a Ceia do Senhor deve ser servida, se o fundamento principal é o autoexame? À luz dessas considerações, o preceito do autoexame antes de participar da Ceia do Senhor (que é de fato legítimo) não se compara em força com os preceitos do arrependimento e da fé antes do batismo. Há uma grande incoerência aqui e um grande perigo em ser arbitrariamente seletivo na aplicação destes princípios hermenêuticos.

Parece que há preceito muito mais conclusivo para excluir os filhinhos dos crentes do Batismo do que da Ceia do Senhor. Os preceitos do batismo de confessores proíbem expressamente as crianças do sinal do pacto pela sua delimitação positiva de sujeitos confessores (Mateus 28:18-20). Deixar o silêncio a respeito do batismo infantil subjugar os preceitos claros sobre o batismo de confessores é um método hermenêutico perigoso e uma clara violação do princípio regulador do culto.

O Argumento do Silêncio

Na verdade, se o argumento do silêncio for aplicado de forma consistente, há um apoio maior para o batismo de discípulos. O concílio de Jerusalém em Atos 15 foi chamado para lidar com os judaizantes, que requeriam a circuncisão para os novos Cristãos. A resposta do conselho relativo à circuncisão foi que somos salvos pela graça, sem circuncisão (15:11), e que é bom abster-se “das contaminações dos ídolos, da fornicação, do que é sufocado e do sangue” (v. 20). Se o batismo for a contrapartida direta da circuncisão, por que o conselho simplesmente não disse: “Vocês e seus filhos foram circuncidados no batismo de Cristo, e, portanto, não precisam da circuncisão”?! Aqui o argumento do silêncio fala contra o batismo como a contrapartida direta da circuncisão e em favor da salvação pela graça ou regeneração como contrapartida direta e ab-rogação (15:11).

Além disso, Paulo escreveu a carta inteira aos Gálatas para lidar com os judaizantes, que estavam exigindo que a igreja da Galácia fosse circuncidada (Gálatas 5:2-3). Por que Paulo não simplesmente disse: “Depois de crer, vocês e seus filhos foram batizados; assim, vocês já receberam a contrapartida da Nova Aliança da circuncisão e não precisam mais disso?!”. Aqui, novamente o argumento do silêncio fala contra o batismo como a contrapartida direta da circuncisão e fala a favor do recebimento do Espírito pela pregação da fé como sua contrapartida e fundamento para a revogação (Gálatas 3:2-3).

Uma objeção a esse argumento é que Paulo não alude ao batismo como a razão para não receber a circuncisão porque isso colocaria o batismo na classe de salvação pelas obras, como os judaizantes alegavam ser o caso da circuncisão. Eu não concordo. Paulo poderia facilmente ter explicado que nem a circuncisão nem o batismo contribuem para a salvação de qualquer forma, mas o batismo em água é o cumprimento da circuncisão, e esta não é mais aplicável na administração da Nova Aliança. Mas Paulo não fez isso. Depois de afirmar claramente que a circuncisão não tem relação com a salvação, ele explicou que a regeneração é a resposta para os judaizantes para a entrada à verdadeira circuncisão, o Israel de Deus (Gálatas 6:15-16; Filipenses 3:3). Todo o ensinamento de Gálatas é que não são os filhos da carne e circuncisão, mas os filhos da fé e regeneração que são o Israel de Deus e os verdadeiros filhos de Abraão (Gálatas 3:14, 29; 6:14-16). Assim, o argumento do silêncio no concílio de Jerusalém e em Paulo não favorece uma identidade direta da circuncisão na Nova Aliança com o batismo e, portanto, também não implica de modo nenhum no batismo infantil.

Alguns tentaram legitimar o argumento do silêncio para o batismo infantil, alegando um silêncio do Novo Testamento a respeito, por exemplo, do Sabath Cristão e da admissão de mulheres à Ceia do Senhor. No entanto, o quarto mandamento foi ensinado por Jesus no Novo Testamento (Mateus 12, Marcos 2), e há referências explícitas ao Dia do Senhor como sendo observado pelos Cristãos no primeiro dia da semana (Atos 20:7; Apocalipse 1:10). Há também mais princípios correlacionando os Dez Mandamentos à prática Cristã (Romanos 2:14-15, 7:7, 8:4; Jeremias 31:31-34). Além disso, quanto à admissão de mulheres à Mesa do Senhor, Paulo se dirige claramente a homens e mulheres na primeira parte de 1 Coríntios 11. Quando ele passa a discutir a responsabilidade de tomar a Ceia do Senhor corretamente, ele ainda está escrevendo tanto para homens quanto para mulheres. Não há tais evidências bíblicas para o batismo infantil. Nestes dois casos, o argumento do silêncio não é tão silencioso quanto no caso do batismo infantil.

O argumento do silêncio é certamente um princípio hermenêutico legítimo, contudo a instrução clara sobrepõe supostas inferências lógicas. Pessoas como John Murray nunca seguiriam tal hermenêutica sobre outros assuntos. A minha conclusão é que a “pérola” do silêncio não é boa o suficiente para o cordão.





Autor: Fred A. Malone
Fontefounders.org
Tradução: Camila Almeida
ViaEstandarte De Cristo



Fred Malone é o pastor da Primeira Igreja Batista em Clinton, Louisiana. Ele recebeu o grau de Mestre em Divindade pelo Reformed Theological Seminary e PhD pela Southwestern Baptist Theological Seminary. Dr. Malone também serve como administrador do Southern Baptist Theological Seminary.