A SEXTA PÉROLA
A
Disjunção do Batismo de João e Jesus e o Batismo Cristão
Muitas vezes existe uma
tentativa de diferenciar a intenção e sujeitos dos batismos de João e de Jesus
e a intenção e assuntos do Batismo Cristão. Esta é uma diferenciação antibíblica
e errônea.
É geralmente admitido pelos
Batistas e Pedobatistas que, semelhantemente, João batizou somente sob a
condição de arrependimento (Mateus 3:6; Marcos 1:4) para remissão dos pecados.
Atos 19:4 também revela que João encaminhou os homens a Jesus. Também está claro
que os discípulos de Jesus somente batizaram aqueles que anteriormente haviam
se tornado discípulos (João 4:1). Não há nenhuma menção, nem evidências para o
batismo infantil dos filhos daqueles que eram feitos discípulos, nem nos
batismos de João ou de Jesus. Qual, então, é a relação entre o batismo de João
e de Jesus e o batismo Cristão? E o que esta relação tem a nos dizer sobre o
pedobatismo?
Uma questão que trata deste aspecto é esta: quem batizou os discípulos de Jesus no batismo Cristão? Não poderia ter sido Jesus (João 4:1-2). João batizou no mínimo André e outro discípulo (João 1:35, 40); ainda assim, não há registro de rebatismo deles por Jesus ou por outras pessoas no dia de Pentecostes. Apolo é outro caso de um dos discípulos de João dos quais não há registro de rebatismo no batismo Cristão (Atos 18:24-28). De fato, no dia de Pentecostes, somente aqueles que conversavam com Pedro e que receberam a sua palavra foram batizados (Atos 2:37-42). Parece que os discípulos de Cristo e os 120 no cenáculo não foram rebatizados no batismo Cristão, pois teria sido repetitivo para esses crentes perguntar: “Irmãos, o que faremos?” Na verdade, estes 120 podem ter ajudado a batizar os 3.000 recém-convertidos.
O único caso possível para
rebatismo no Novo Testamento está em Atos 19:1-7 (e Calvino discorda). Parece
que estes discípulos batizados no batismo de João não receberam toda a mensagem
de João sobre Jesus e o Espírito Santo quando foram batizados. Talvez a
receberam posteriormente. Por isso, eles foram rebatizados em Cristo por Paulo.
Calvino diz que esse rebatismo não foi necessariamente por água, mas pelo
batismo de Cristo com o Espírito Santo. Ele aponta para a ação de Paulo de
imposição de mãos e para o fato de nenhuma menção de água ter sido feita, para
sustentar sua posição. Há muita discordância sobre este texto. Mas, se dissermos
que o batismo de João não era suficiente para o batismo Cristão, ainda assim temos os
problemas apresentados pelo batismo de Apolo, que foi aparentemente aceito por
Áquila e Priscila em Éfeso e pelo batismo dos fiéis antes do Pentecostes.
Não parece haver uma linha de
demarcação entre o batismo de João, de Jesus e o Cristão. Isto é ainda
atestado pela verdade de Marcos 1:1, que define o início do Evangelho de Jesus
Cristo com a vinda de João no versículo 2. Portanto, os sujeitos dos batismos
evangélicos de João e de Jesus devem ser aplicados também ao batismo Cristão;
ou seja, os sujeitos são limitados exclusivamente aos discípulos ou professos.
Jesus afirmou isso na Grande Comissão, quando Ele deu a ordem de fazer
discípulos de todas as nações, batizando e ensinando-os (Mateus 28:19). Os
refere-se apenas àqueles que se tornam discípulos. Cada uso da palavra
“discípulo”, no Novo Testamento, refere-se ao seguir consciente e intencional de
um professo. Quando Cristo comissionou Seus seguidores para batizar discípulos,
Ele estava estabelecendo ainda mais a prática do batismo dos crentes.
Pode-se acrescentar que Jesus
definiu claramente a base para a construção de Sua Igreja em Mateus 16:16-19,
24-26 por meio do evento da confissão de Pedro. Este também é um grande apoio
para os sujeitos do batismo intencionados na Sua igreja na Grande Comissão. Se
chamamos o batismo de uma instituição de Cristo para sinal exterior de admissão
em Sua igreja confessional, não deveríamos também confiar em Seus preceitos
instituídos sobre os sujeitos do batismo, em vez de recorrer a uma dependência
mui questionável da “boa e necessária inferência”? É minha crença de que as
instruções instituídas por Cristo para fundar Sua Igreja devem interpretar a
aplicação do Pacto de Abraão ao batismo e não vice-versa, por meio de inferência.
Alguns tentaram negar que
Jesus definiu o batismo de confessores apenas neste texto, afirmando que Suas
palavras referem-se exclusivamente à instituição inicial do batismo. Portanto,
se o raciocínio procede, nós deveríamos esperar um Cristo de ânimo missionário
dando instruções para o batismo de confessores, naturalmente admitindo o
batismo de suas crianças a seguir. No entanto, permanece o fato de que Cristo
instituiu o batismo e o praticou (através de Seus discípulos) muito antes da
Grande Comissão (João 4:1). Em seu batismo anterior, claramente foram batizados
por Seus discípulos apenas aqueles que eram feitos discípulos, excluindo suas
criancinhas. Se vamos supor que a Grande Comissão é a instituição oficial do
batismo cristão, então o batismo de Cristo não era Cristão? E por que Ele não
adicionou “batizando-os e aos seus filhos”? A prática e comando do batismo de
Jesus, juntamente com João, nomeia os crentes somente como os sujeitos do
batismo. Eu, por exemplo, não estou preparado para contradizer o ensino ou o
exemplo de Cristo. Concluo, então, que os batismos de João, de Jesus e o batismo
Cristão não devem ser separados artificialmente, como tem sido feito muitas
vezes. Não há nenhuma boa evidência dessa pérola nas Escrituras e, portanto,
nenhuma evidência de que os sujeitos do batismo depois do Pentecostes fossem
diferentes dos sujeitos anteriores. Em ambos os casos eles eram discípulos que
creram.
SÉTIMA PÉROLA
O
Argumento do Silêncio
Um dos argumentos mais
utilizados para apoiar a prática do pedobatismo é o silêncio a seu respeito que
aparece no Novo Testamento. A principal linha de raciocínio é assim: Era tão
óbvio que uma parte do pacto de graça era administrar o sinal da aliança às
crianças da Aliança no Antigo Testamento que não havia nenhuma razão para mencioná-lo
ou defendê-lo no Novo Testamento. Assim, supostamente, o caso é comprovado. No
entanto, este princípio de hermenêutica que atrai boas e necessárias
inferências a partir do silêncio, pode ser bastante subjetivo e pode levar a
erros mui rapidamente. É, evidentemente, um princípio legítimo se não houver
nenhum preceito claro para contradizer a sua inferência. No entanto, o
princípio regulador do culto reformado requer instituição positiva para os
sacramentos (veja a Confissão de Westminster, capítulo 20, seção 5).
É minha disputa que este
argumento para o pedobatismo não permanece quando analisado à luz de dois
grandes princípios de hermenêutica: 1) o peso do preceito regulador e instituído,
e 2) ironicamente, o próprio argumento do silêncio quando corretamente
utilizado.
O
Preceito Regulador
Consideremos o peso do
preceito regulador. Se estivéssemos buscando por preceitos do Novo Testamento
para o pedobatismo, nossa pesquisa se provaria inútil. Como o grande teólogo
Presbiteriano B. B. Warfield disse: “É verdade que não há nenhuma ordem expressa
para batizar crianças no Novo Testamento, não há registro expresso de batismo
de crianças, e nenhuma passagem tão rigorosamente implicando que devemos
inferir a partir deles que crianças foram batizadas” (“Studies in Theology”
[Estudos em Teologia], p. 399).
Os reais preceitos relativos ao batismo só podem ser aplicados aos discípulos porque o arrependimento e a fé são necessários para o batismo na Nova Aliança. Muitos pedobatistas admitem isso. No entanto, o argumento pedobatista vai além, ao concluir que uma vez que estes preceitos estão no contexto de uma igreja missionária, é lógico que haveria apenas chamadas para o arrependimento e a fé antes do batismo. Por isso, dizem eles, os preceitos de arrependimento e fé não se aplicam aos filhos dos crentes em uma igreja estabelecida. Para o pedobatista, seria necessário um preceito expresso que proibisse especificamente as crianças de receberem o sinal pactual do batismo, por causa do preceito anterior de Abraão. No entanto, esses mesmos pedobatistas (a saber, Berkhof e Murray) citam o comando para examinar a si mesmo como preceito suficiente, junto com o argumento do silêncio a respeito da comunhão pactual, para negar que as crianças não-regeneradas, que na aliança Abraâmica comeram a Páscoa no Antigo Testamento, comam a Ceia do Senhor, que é o cumprimento da Páscoa no Novo Testamento.
Os reais preceitos relativos ao batismo só podem ser aplicados aos discípulos porque o arrependimento e a fé são necessários para o batismo na Nova Aliança. Muitos pedobatistas admitem isso. No entanto, o argumento pedobatista vai além, ao concluir que uma vez que estes preceitos estão no contexto de uma igreja missionária, é lógico que haveria apenas chamadas para o arrependimento e a fé antes do batismo. Por isso, dizem eles, os preceitos de arrependimento e fé não se aplicam aos filhos dos crentes em uma igreja estabelecida. Para o pedobatista, seria necessário um preceito expresso que proibisse especificamente as crianças de receberem o sinal pactual do batismo, por causa do preceito anterior de Abraão. No entanto, esses mesmos pedobatistas (a saber, Berkhof e Murray) citam o comando para examinar a si mesmo como preceito suficiente, junto com o argumento do silêncio a respeito da comunhão pactual, para negar que as crianças não-regeneradas, que na aliança Abraâmica comeram a Páscoa no Antigo Testamento, comam a Ceia do Senhor, que é o cumprimento da Páscoa no Novo Testamento.
Esta inconsistência em
empregar esse preceito proibitivo é exposta à luz de Atos 2:41-42, onde todos
os batizados eram autorizados participar no partir do pão, a Ceia do Senhor. Se
o batismo infantil for admitido em Atos 2, então assim também deve ser admitida
a comunhão de infantes e bebezinhos. Foram muitos anos depois, quando os
preceitos do autoexame por causa da participação irreverente foram dados.
Assim, na posição pedobatista, há confusão sobre o fundamento para a participação
na Ceia do Senhor — é o batismo ou o autoexame? E como os anciãos sabem a quem
a Ceia do Senhor deve ser servida, se o fundamento principal é o autoexame? À
luz dessas considerações, o preceito do autoexame antes de participar da Ceia
do Senhor (que é de fato legítimo) não se compara em força com os preceitos do
arrependimento e da fé antes do batismo. Há uma grande incoerência aqui e um grande perigo em ser arbitrariamente seletivo na aplicação destes princípios
hermenêuticos.
Parece que há preceito muito
mais conclusivo para excluir os filhinhos dos crentes do Batismo do que da Ceia
do Senhor. Os preceitos do batismo de confessores proíbem expressamente as
crianças do sinal do pacto pela sua delimitação positiva de sujeitos
confessores (Mateus 28:18-20). Deixar o silêncio a respeito do batismo infantil
subjugar os preceitos claros sobre o batismo de confessores é um método
hermenêutico perigoso e uma clara violação do princípio regulador do culto.
O
Argumento do Silêncio
Na verdade, se o argumento do
silêncio for aplicado de forma consistente, há um apoio maior para o batismo de
discípulos. O concílio de Jerusalém em Atos 15 foi chamado para lidar com os judaizantes,
que requeriam a circuncisão para os novos Cristãos. A resposta do conselho
relativo à circuncisão foi que somos salvos pela graça, sem circuncisão
(15:11), e que é bom abster-se “das contaminações dos ídolos, da fornicação, do
que é sufocado e do sangue” (v. 20). Se o batismo for a contrapartida direta da
circuncisão, por que o conselho simplesmente não disse: “Vocês e seus filhos
foram circuncidados no batismo de Cristo, e, portanto, não precisam da
circuncisão”?! Aqui o argumento do silêncio fala contra o batismo como a
contrapartida direta da circuncisão e em favor da salvação pela graça ou
regeneração como contrapartida direta e ab-rogação (15:11).
Além disso, Paulo escreveu a
carta inteira aos Gálatas para lidar com os judaizantes, que estavam exigindo
que a igreja da Galácia fosse circuncidada (Gálatas 5:2-3). Por que Paulo não
simplesmente disse: “Depois de crer, vocês e seus filhos foram batizados;
assim, vocês já receberam a contrapartida da Nova Aliança da circuncisão e não
precisam mais disso?!”. Aqui, novamente o argumento do silêncio fala contra o
batismo como a contrapartida direta da circuncisão e fala a favor do
recebimento do Espírito pela pregação da fé como sua contrapartida e fundamento
para a revogação (Gálatas 3:2-3).
Uma objeção a esse argumento é
que Paulo não alude ao batismo como a razão para não receber a circuncisão
porque isso colocaria o batismo na classe de salvação pelas obras, como os
judaizantes alegavam ser o caso da circuncisão. Eu não concordo. Paulo poderia
facilmente ter explicado que nem a circuncisão nem o batismo contribuem para a
salvação de qualquer forma, mas o batismo em água é o cumprimento da
circuncisão, e esta não é mais aplicável na administração da Nova Aliança. Mas
Paulo não fez isso. Depois de afirmar claramente que a circuncisão não tem
relação com a salvação, ele explicou que a regeneração é a resposta para os
judaizantes para a entrada à verdadeira circuncisão, o Israel de Deus (Gálatas
6:15-16; Filipenses 3:3). Todo o ensinamento de Gálatas é que não são os filhos
da carne e circuncisão, mas os filhos da fé e regeneração que são o Israel de
Deus e os verdadeiros filhos de Abraão (Gálatas 3:14, 29; 6:14-16). Assim, o
argumento do silêncio no concílio de Jerusalém e em Paulo não favorece uma
identidade direta da circuncisão na Nova Aliança com o batismo e, portanto,
também não implica de modo nenhum no batismo infantil.
Alguns tentaram legitimar o
argumento do silêncio para o batismo infantil, alegando um silêncio do Novo
Testamento a respeito, por exemplo, do Sabath Cristão e da admissão de mulheres
à Ceia do Senhor. No entanto, o quarto mandamento foi ensinado por Jesus no
Novo Testamento (Mateus 12, Marcos 2), e há referências explícitas ao Dia do
Senhor como sendo observado pelos Cristãos no primeiro dia da semana (Atos
20:7; Apocalipse 1:10). Há também mais princípios correlacionando os Dez
Mandamentos à prática Cristã (Romanos 2:14-15, 7:7, 8:4; Jeremias 31:31-34).
Além disso, quanto à admissão de mulheres à Mesa do Senhor, Paulo se dirige claramente
a homens e mulheres na primeira parte de 1 Coríntios 11. Quando ele passa a
discutir a responsabilidade de tomar a Ceia do Senhor corretamente, ele ainda
está escrevendo tanto para homens quanto para mulheres. Não há tais evidências
bíblicas para o batismo infantil. Nestes dois casos, o argumento do silêncio
não é tão silencioso quanto no caso do batismo infantil.
O argumento do silêncio é certamente um princípio hermenêutico legítimo, contudo a instrução clara sobrepõe supostas inferências lógicas. Pessoas como John Murray nunca seguiriam tal hermenêutica sobre outros assuntos. A minha conclusão é que a “pérola” do silêncio não é boa o suficiente para o cordão.
Autor: Fred A. Malone
Fonte: founders.org
Tradução: Camila Almeida
Via: Estandarte De Cristo
Fred Malone é o pastor da Primeira Igreja Batista em Clinton, Louisiana. Ele recebeu o grau de Mestre em Divindade pelo Reformed Theological Seminary e PhD pela Southwestern Baptist Theological Seminary. Dr. Malone também serve como administrador do Southern Baptist Theological Seminary.