INTRODUÇÃO
As populares campanhas de
vitória, prosperidade, libertação, curas e milagres, são formas de culto utilizadas
por “igrejas” neopentecostais com duas finalidades principais: solucionar os
problemas dos crentes e agregar mais crentes. Para obterem resultados
expressivos, os pastores investem pesado em divulgação. As campanhas são
anunciadas no rádio, TV, redes sociais e através de panfletos.
Estas campanhas de fé são realizadas
uma vez na semana, nas quartas ou sextas-feiras, geralmente com duração de quatro
ou sete semanas, podendo haver variações. Muitos neopentecostais costumam dizer quatro ou sete “elos”.
Para muitos não será novidade,
especialmente para quem já foi pentecostal ou neopentecostal, mas hoje é um
crente reformado. No entanto, para quem não conhece muito sobre as campanhas
neopentecostais, também chamada por muitos de correntes, é imprescindível mencionarmos algumas. Então, vamos lá.
EXPLANAÇÃO
As campanhas de fé geralmente são
baseadas em histórias de personagens da Escritura e em passagens que são
isoladas de seu contexto, resultando assim em interpretações alegóricas,
fantasiosas, incongruentes e por vezes heréticas. Os pastores costumam afirmar
que tiveram uma “nova revelação” da passagem que leram – que Deus mostrou a
eles uma “nova lição” ou um “novo ensinamento” para a igreja em determinado
texto. Com estas “novas iluminações” subjetivas, os pastores ignóbeis rejeitam diametralmente
as regras básicas de hermenêutica e exegese, que são fundamentais para que se
interprete o texto adequadamente.
A interpretação equivocada das
Escrituras provoca inúmeros malefícios para a igreja. E é justamente por causa destas interpretações errôneas que temos as campanhas de fé, como a “Derrubando as Muralhas de Jericó”, baseada em Josué 6. Os crentes
são instruídos nestas campanhas a cumprir fielmente os sete “elos”, que representam
os sete dias em que a cidade foi rodeada por Josué e pelo povo de Israel.
Terminada a campanha, os obstáculos que impedem o crente de ser feliz vão cair.
Eles serão vitoriosos. Os pastores neopentecostais aduzem que, de acordo com o
texto, estes obstáculos são as muralhas do desemprego, da enfermidade, dos
vícios, das brigas familiares e da infelicidade sentimental que irão ruir.
Vemos também a campanha “Vencendo
os Gigantes da Vida”, baseada na luta entre Davi e Golias, descrita em 1 Samuel
17. Ao participar dessa campanha, pela fé, o crente irá derrubar os gigantes da
sua vida. Algumas igrejas que realizaram esta campanha construíram um boneco de
papelão gigante, simbolizando Golias, e forneceram “imitações de pedras” para os
crentes arremessarem no boneco até ele cair. Segundo os pastores, essa atitude
é um ato profético em que o crente manifesta sua fé, acreditando que, ao
participar desta campanha, vencerá o seu gigante. Ele irá “cair por terra”,
asseveram! Os gigantes são diversos. Podem ser as mesmas dificuldades que
ressaltamos na campanha “Derrubando as Muralhas de Jericó da sua vida”. Ou
seja, muitos lutam contra o gigante da enfermidade, do desemprego, dos vícios,
das brigas familiares, da infelicidade sentimental, entre outros.
Temos ainda a “Campanha da
Botija”, baseada em 1 Reis 17.8-24. Nesta campanha, os crentes recebem pequenas
botijas de barro e são orientados por seus pastores a seguirem o exemplo da
viúva de Sarepta.
O profeta Elias orou pela seca na terra durante um tempo significativo, visto que o povo havia se
desviado do Senhor para servir a outros deuses. O Senhor respondeu a oração de
Elias. Não choveu em Israel por três anos (Tg 5.17). Esta seca provou que Baal,
o deus das chuvas e da fertilidade, não era nada diante do Senhor.
As chuvas de outono e da
primavera eram necessárias para a colheita em Israel. Por causa da seca, houve
escassez de alimento. Aquela viúva estava passando por uma crise severa. Ao encontrar-se
com esta mulher em Sarepta, Elias solicita que ela lhe faça um pequeno bolo
para comer. Relutante, a mulher diz que tem pouca farinha e pouco azeite na
botija, suficiente apenas para mais uma refeição com o filho, e que após isso
esperaria pela morte. Mesmo assim, Elias instrui a mulher para que fizesse o
bolo para ele. Em seguida, como representante do Senhor, assegurou que aquela
mulher e o filho não morreriam de fome, e que não lhe faltaria alimento até o
dia em que chovesse novamente sobre a terra.
Segundo os pastores
neopentecostais, a botija representa o crente. A farinha e o azeite significam a
provisão de Deus na vida do crente em meio à crise. Entretanto, para que o
crente receba a benção de Deus, ele deve sacrificar o pouco de farinha e azeite
que lhe resta. A farinha e o azeite simbolizam o dinheiro. Portanto, o crente
deve ofertar o seu melhor para a igreja, pois a viúva de Sarepta ofertou tudo o
que tinha para o homem de Deus, por isso foi abençoada, recebendo a provisão do
Senhor. Esta é a condição para que o crente seja abençoado.
Existem muitas outras campanhas
de fé, como a da “Arca da Aliança”, das “Portas Abertas”, da “Multiplicação
dos Pães e Peixes”, da “Rosa de Sarom”, do “Manto dos Milagres” e a dos “Sete Mergulhos de Naamã”. Para causar forte impacto emocional nas pessoas, várias igrejas preparam todo um cenário para a realização das campanhas, onde há portas, mantos, piscinas e performances teatrais grotescas que beiram à irracionalidade, como pode ser visto na Igreja Apostólica Plenitude do Trono de Deus, de Agenor e Ingrid Duque.
Com relação à origem das
correntes de fé, quando surgiu, e por quem, é importante destacarmos algumas
considerações.
Na verdade, as campanhas precedem
o neopentecostalismo. Na década de 70, antes mesmo do surgimento da IURD e da
Igreja Internacional da Graça de Deus, Mário de Oliveira, teólogo, político e
presidente do conselho nacional de diretores da IEQ (Igreja do Evangelho
Quadrangular), já realizava campanhas de fé. Contudo, não é possível saber quem ou qual igreja foi o
precursor deste ritual. O que sabemos é que Mário de Oliveira, assim como
outros da IEQ – a divulgadora destas campanhas inovadoras –, já as praticava,
conforme o registro de Julio Rosa, o
historiador da instituição. Ele escreve:
De início, a frequência [na
segunda congregação da Quadrangular fundada em Juiz de Fora, MG] variava entre 800
e 1500 pessoas por reunião, e isso já era surpreendente. Entretanto, quando o
Mário anunciou que todas as sextas-feiras iria orar para a cura de enfermidades
causadas por espíritos malignos e expulsar demônios, aconteceu uma coisa
impressionante: a partir de então, todas as sextas-feiras naquele local havia
perto de dez mil pessoas. [...] Sempre estive muito ligado às obras abertas
pelo missionário Mário de Oliveira, desde Pelotas, quando ele passou a
convidar-me para realizar as campanhas de sete orações por problemas e
doutrinação sobre o dízimo. [...] Durante essa campanha (em Belo Horizonte, em
1973), foi lançado o sistema das correntes de oração das quartas-feiras pelos
problemas, e que funciona com muito sucesso até hoje.
Sendo assim, a IURD e as
demais “igrejas” neopentecostais – influenciadas pela IEQ – “acentuaram”
exacerbadamente as campanhas já existentes. A gênese delas, porém, não há como
definir.
Todavia, é comumente usado e
distribuído nas correntes de fé objetos que servem como talismãs ou amuletos de
proteção, como “cajadinhos de Moisés”, “vassouras supostamente ungidas”, rosas
denotando Jesus como a “rosa de sarom”, botijas e arcas da aliança em miniatura,
“o martelo da justiça”, descrito em Jeremias 23.29, reproduzido pela Igreja
Mundial do Poder de Deus, a “fronha” e a “meia abençoada” do “apóstolo”
Waldemiro Santiago. Em outras campanhas, como na IURD, temos o uso do sal
grosso e da “caneta ungida” para os estudantes.
Não obstante, se recorremos à
Escritura, iremos constatar que não há nos evangelhos nenhuma prática de
campanhas de fé realizadas por Jesus. Ele somente evangelizou, ensinou, curou,
realizou milagres e exorcismos. Também não há no livro de Atos e nas demais
cartas do Novo Testamento nenhuma informação ou ensinamento sobre campanhas de
fé. Pedro, João e Paulo e os outros apóstolos não realizaram nenhuma campanha. Assim
como Jesus, eles evangelizaram, ensinaram a Palavra de Deus, curaram enfermos e
realizaram alguns exorcismos.
Na verdade, as campanhas incorporam conceitos inerentes do ocultismo, da cabala, do esoterismo, das religiões afro-brasileiras, como a umbanda e
o candomblé, que são animistas, do catolicismo medieval e popular e do
espiritismo. Em linhas gerais, as campanhas são um sincretismo das religiões e seitas supracitadas, com alguns traços do
cristianismo. Vamos equiparar:
No catolicismo popular existe
a prática das “novenas”, que são um encontro para orações que acontece durante nove
dias. Nas igrejas neopentecostais temos as campanhas de quatro ou sete “elos”. Os
cultos na umbanda e no candomblé geralmente acontecem nas sextas-feiras; no
espiritismo também, além de outros dias. As campanhas e os cultos de libertação
no neopentecostalismo também ocorrem nas sextas-feiras. Na umbanda, no
candomblé e no espiritismo temos a “reza forte”, o “passe”, o “benzimento”, rituais,
como banhos com sal grosso, manifestações espirituais e possessões. Nos cultos
e nas campanhas neopentecostais também há “oração forte”, “unção com o óleo”,
que equivale ao “benzimento”, “rituais proféticos”, como o banho do descarrego
na IURD, manifestações espirituais e possessões. Na umbanda e no candomblé, existem os trabalhos pagos que são realizados para que a pessoa alcance o seu
objetivo. Nas campanhas de fé na igreja temos os “atos proféticos”, que correspondem aos “trabalhos”
que são executados na macumba e na feitiçaria, para que o crente possa receber
a benção. O pagamento da benção é impudicamente denominado pelos pastores como uma “expressão de fé”! Ou uma “oferta de amor”,
“oferta de sacrifício”, “oferta alçada”.
Ora, é nítido que todas as
campanhas de fé do neopentecostalismo são perniciosas. São realizadas por
impostores da fé! Pastores vigaristas! As campanhas fazem parte de uma tática
mercadológica assaz lucrativa. O pragmatismo e o sincretismo religioso são a
essência delas. Por isso os trapaceiros da fé decidiram adotá-las na igreja. Geram bastante dinheiro para os pastores terem uma vida opulenta. É
um tipo de supermercado espiritual que se adaptou às necessidades dos
consumidores. Elas fornecem os produtos que os crentes mais saboreiam! Pode ser
comparada ao relacionamento de um cliente para com a empresa que o serve. Vemos
que o púlpito se transformou em um balcão, o evangelho em um produto, e os crentes
em “consumidores de Deus”.
CONCLUSÃO
O alvo primordial das campanhas
é ajudar os participantes a receberem, através de “ensinamentos especiais”, que são um
tipo de gnose, toda a sorte de bênçãos divinas e livrá-los das
maldições demoníacas. Assim, os pastores funcionam como mediadores do povo, à
semelhança dos padres católicos, dos xamãs, dos pais de santo e adivinhos.
Geralmente, o público destas
campanhas, com algumas poucas exceções, pois há verdadeiros crentes
participando, porém estão cegos e enganados pelas heresias ensinadas nas igrejas neopentecostais, é composto de falsos crentes! São pessoas
egoístas, hedonistas, calculistas e narcisistas. Uma só palavra resume esta
gente: idólatras!
As campanhas oferecem soluções
provisórias para as necessidades mundanas das pessoas, como libertação de
demônios e “fórmulas mágicas” para obter a vitória. Lá se ouve aquilo que
acaricia o ego, o que se gosta de ouvir, e não o que é preciso ouvir, como a
gravidade do pecado, a necessidade de arrependimento e as implicações da
salvação. Pelo contrário, elas tem o poder de acentuar a pecaminosidade das pessoas. Utilizam Deus como um meio para alcançar seus objetivos sórdidos. Nesta ótica, temos uma inversão: Deus é o servo delas, sempre pronto a servi-las, e elas o Senhor do servo, Deus. A cura, o milagre, a prosperidade e a vitória que estas pessoas cobiçam se tornam o deus delas.
As campanhas são egocêntricas,
nunca Cristocêntricas! São cultos nefastos e idólatras! Não produzem crentes comprometidos para com a igreja, mas descomprometidos. Enfatizam a individualidade das pessoas, não a comunhão cristã. Maculam, desvirtuam e corrompem ainda mais a igreja, pois atraem e fabricam crentes falsos. Com efeito, as campanhas, bem como o modo em que são realizadas, são incompatíveis com a fé cristã; são mais
uma forma de misticismo e magia que deve ser rejeitada pela igreja brasileira.
Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21