25 de junho de 2016

Um Cordão de Pérolas Soltas: O Batismo de Crentes (3/5)


A QUARTA PÉROLA

A Atitude de Jesus para com as Crianças

Um conjunto de textos de prova tem sido muitas vezes usado para indicar que Jesus ensinou a inclusão de filhos dos crentes na Aliança da Graça. Estas são as passagens que mostram Jesus com as crianças:

Mateus 18:1-10

O primeiro conjunto de passagens consiste de Mateus 18:1-10, Marcos 9:33-37 e Lucas 9:46-48. Em cada uma delas, Jesus pôs uma criança diante de Seus discípulos para ensinar-lhes uma lição. O problema contextual era a arrogância deles ao discutir qual era o maior discípulo. Em Mateus 18:2, vemos que paidion (menino) respondeu ao chamado de Jesus no verbo proskalesamenos (chamando a Si mesmo). Este é o mesmo verbo de Atos 2:39, que condiciona a recepção da promessa de Deus por meio do arrependimento e da fé pelo chamado eficaz de Deus. Isto significa que o menino não era um bebê, mas que foi capaz de responder ao chamado de Jesus.

Neste contexto, Jesus ensinou três coisas aos Seus discípulos. Primeiro de tudo, eles devem ser convertidos e tornarem-se “como meninos” para entrarem no reino dos céus. O uso da criança como uma ilustração de sua humildade necessária é claramente precedido pela necessidade de conversão para entrada no reino dos céus (18:2-5). Esse uso passivo de strepho (converter ou mudar) estabelece um requisito para entrar no reino dos céus que é semelhante ao novo nascimento em João 3. Suas reivindicações vãs de grandeza traíram seus corações orgulhosos.

Jesus definiu o que Ele quis dizer no versículo 3 pelo inferencial oun (portanto) do versículo 4. Eles devem ser convertidos e humilharem-se “como meninos” para entrarem e serem grandes no reino dos céus. Esta criança veio a Jesus em Seu chamado sem levar em conta qualquer coisa dentro de si mesmo; ele veio humildemente.

Em segundo lugar, Jesus ensinou aos discípulos que eles devem receber até mesmo crianças que vêm a eles, como recebendo a Ele mesmo. Eles devem honrar o menor entre eles como eles honrariam o próprio Cristo, em vez de pensarem de si mesmos como sendo os maiores (cf. Jeremias 31:33, 34; Mateus 11:11).

Em terceiro lugar, Jesus ensinou aos discípulos que escandalizar um “destes pequeninos que creem em Mim” era uma ofensa contra Deus e acarretaria a Sua ira. Estas passagens não têm nada a ver com os infantes no pacto porque este paidion (menino) respondeu ao chamado de Jesus, proskaleo, como um crente nEle. Esta humilde submissão da criança a Cristo como Senhor era o que Ele estava tentando ensinar aos Seus discípulos a respeito das atitudes e disposições que caracterizam o Seu reino. Não é nenhuma instância de algum apoio ao batismo infantil.

Mateus 19:13-15

Um segundo conjunto de passagens tem sido objeto de apelo mais frequentemente como um apoio aos privilégios no batismo de infantes na Aliança: Mateus 19:13-15; Marcos 10:13-16 e Lucas 18:15-17. Os discípulos repreendiam as pessoas por trazerem os meninos a Jesus. Em Lucas 18:16, lemos que Jesus chamou os meninos para Si (proskalesamenos), “chamando-os para si” (esta é a mesma palavra encontrada em Atos 2:39), assim como Ele fez nas anteriores passagens citadas. Em seguida, Ele ordenou os discípulos a não impedirem as crianças de virem até Ele.

Embora alguns apontaram que Lucas chama os meninos mencionados nesta passagem de brephe (infantes), ainda assim o pronome reflexivo auta (eles) define aqueles que foram impedidos de chegar a Jesus como os brephe, não os pais que os estavam trazendo. O contexto define esses “meninos” como capazes de responder ao chamado de Jesus. Além disso, deve-se salientar que Paulo lembrou a Timóteo que ele conhecia as Escrituras desde brephous (um bebê), ou seja, desde a infância. Isso mostra que brephe pode ser usado para descrever uma criança que tem idade suficiente para aprender as Escrituras. Essa criança certamente teria idade suficiente para chegar a Jesus quando chamada por Ele.

A cena parece ser que os pais traziam os filhos para serem abençoados, e em seguida, Jesus chamou as crianças para chegarem-se a Ele. Os meninos que vieram a Ele foram tocados e abençoados. Mais uma vez, Jesus ensinou que se deve “receber” o reino de Deus como uma criança o recebe para entrar no reino. Não há promessa aqui para essas crianças, a menos que elas venham a Jesus e recebam o Seu reino também. Na verdade, se alguma passagem da Escritura ensinasse a falácia do pedobatismo, deveria ser esta.
Nem Jesus nem os Seus discípulos batizaram estas crianças. Em vez disso, o Senhor as abençoou.

Em resumo, Jesus abençoou os filhos enquanto eles eram apresentados a Ele por seus pais. Contudo, nenhuma promessa de entrada no reino é feita para essas crianças, a menos que elas também venham a Jesus e recebam o Seu reino da mesma forma que adultos devem receber. O máximo que pode ser visto nestas passagens é que os infantes foram abençoados. Sem dúvida, não há nenhum apoio ao batismo infantil.


QUINTA PÉROLA

A Santificação dos Filhos dos crentes

Mas aos outros digo eu, não o Senhor: se algum irmão tem mulher descrente, e ela consente em habitar com ele, não a deixe. E se alguma mulher tem marido descrente, e ele consente em habitar com ela, não o deixe. Porque o marido descrente é santificado pela mulher; e a mulher descrente é santificada pelo marido; de outra sorte os vossos filhos seriam imundos; mas agora são santos. Mas, se o descrente se apartar, aparte-se; porque neste caso o irmão, ou irmã, não está sujeito à servidão; mas Deus chamou-nos para a paz. Porque, de onde sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? ou, de onde sabes, ó marido, se salvarás tua mulher? (1 Coríntios 7:12-16)

1 Coríntios 7:12-16 é uma passagem frequentemente utilizada para ilustrar a situação especial dos filhos de crentes “na” Igreja e Aliança da graça, e para defender o direito deles ao batismo, pela linhagem física. No entanto, há pelo menos mais duas explicações credíveis que permitem que as crianças sejam chamadas “santas”, e ainda impedir o direito ao batismo até que o arrependimento e fé sejam evidenciados.

Em primeiro lugar, o contexto dessa passagem em particular relaciona-se a um Cristão que é casado com incrédulo. Todo o contexto refere-se a cristãos permanecendo na condição em que estão, quando eles são salvos (7:17-40). Eles deveriam permanecer casados ou o cristão deveria deixar o incrédulo? Paulo declara que eles devem permanecer casados porque Deus santifica o descrente. Toda a Escritura estabelece claramente que a única maneira pela qual alguém é salvo e, assim, “santificado” em sentido salvífico, é pela fé pessoal e salvífica em Cristo. Nesta passagem, no entanto, Paulo está usando o termo “santificado”, no sentido de receber o reconhecimento Divino de um casamento legítimo. Este é o ponto principal!

Um ponto adicional de Paulo é que os filhos não são akatharta (impuro), mas hagia (santo) à luz da santificação do cônjuge incrédulo por sua relação com o crente. Muitos viram isso como uma referência para a posição especial dos filhos de crentes em relação a Deus. No entanto, o contexto e uso de akatharta (imundo) deve ajudar a definir o sentido de hagia (santo) aqui. O pensamento principal diz respeito ao reconhecimento do casamento por Deus. Se o casamento não fosse aceito por Deus, então seria ilegítimo e impuro, e assim seriam os filhos.

O único outro uso de akatharta no Novo Testamento, em referência a uma pessoa, está em Atos 10:28. Ali, Pedro disse a Cornélio, quando este ainda não era um crente em Cristo, que Deus o havia instruído a não considerar nenhum homem como akatharta. Embora Cornélio fosse temente a Deus, e pudesse ser chamado de “santo” por causa dos pais (Romanos 11:16), ainda assim ele não era “santo” em virtude de estar “dentro” da Nova Aliança, tendo, assim, o direito ao batismo. Aqui está um exemplo onde uma pessoa que não foi considerada impura e, possivelmente, “santa” por causa dos pais, contudo, ainda assim não estava “dentro” do Pacto da Graça.

Portanto, tanto o contexto quanto estudo da palavra sugerem que hagia (santo) referem-se à legitimidade ou sanção do casamento e dos filhos, em vez de, necessariamente, às promessas da aliança de salvação e santificação. Além disso, qual é a idade dos filhos deste casamento legitimado? Eles são crianças, adolescentes ou adultos? Se isso abre o caminho para o batismo pactual, todos os filhos que ainda vivem em casa devem ser considerados hagia (santos) e batizados em relação pactual, mesmo que sejam adolescentes ou adultos? Certamente não, de acordo com o restante das Escrituras sobre o batismo de confessores. Quaisquer tentativas arbitrárias para definir as idades de responsabilidade, a fim de limitar o batismo de criancinhas nesta casa, também encontram problemas. Ismael foi circuncidado aos treze anos, e Israelitas até quarenta anos de idade foram circuncidados por Josué (Josué 5). Nenhuma dessas situações exigiram uma boa confissão antes da circuncisão. Se 1 Coríntios 7:14 prescreve o batismo de filhos “santos” simplesmente por causa de sua descendência física, então até mesmo os filhos adultos devem ser incluídos. Diante dessas dificuldades, é melhor entender esta passagem como falando sobre a legitimidade dos filhos diante de Deus.

Em segundo lugar, existe uma alternativa para a posição de legitimidade que ainda não inclui qualquer dos cônjuges ou criança “na” da Nova Aliança.

A verdadeira questão aqui é como pode um cônjuge incrédulo ser “santificado”, e como pode o filho de um cristão ser chamado de “santo” sob a administração da Nova Aliança da graça? Se o significado básico de ambas as palavras é “separado” para Deus, então, mais perguntas surgem a respeito de como cada uma das partes é “separada” para Deus e em que relação cada um está na Nova Aliança.

A maioria concorda que o cônjuge descrente não está na Nova Aliança até a regeneração (Atos 26:18). No entanto, Kline (Por Juramento Consignado, pp. 94-102) tem que ser um pouco arbitrário, a fim de explicar como a autoridade pactual conjugal do marido crente mudou a partir da inclusão de sua esposa na Antiga Aliança, enquanto ela não é incluída na Nova Aliança. No entanto, ele afirma que a autoridade parental e pactual do marido crente ainda é válida na Nova Aliança como base para que seus filhos estejam “dentro” da Aliança e recebam o batismo. Tal lógica intrincada é demasiadamente arbitrária para ser convincente. Em vez disso, parece que, pela união com o crente, Deus reconhece o casamento como sagrado e promete aceitar o marido ou a esposa do incrédulo “separando” aquele casamento para cumprir Seus propósitos.

No caso dos filhos neste casamento misto, a maneira em que são “separados” é mais difícil de determinar. Dois textos frequentemente utilizados para apoiar a participação das crianças no cumprimento, na Nova Aliança, da aliança Abraâmica são: Romanos 11 e Efésios. 6:1-4. Eles merecem nossa consideração.

Primeiro, Paulo declara em Romanos 11:16 que seus parentes na carne, os ramos atualmente cortados da participação na oliveira da Nova Aliança, são ainda “santos” porque sua raiz é “santa”. No entanto, esses “amados por causa dos pais” (v. 28) serão enxertados novamente, se não permanecerem na incredulidade (v. 23). Aqui é o caso dos descendentes físicos de Abraão e das promessas da Aliança (9:1-5), que embora “santos”, contudo não estão “na” Nova Aliança e Reino até que eles creiam. Aqui está um uso de “santo” aplicado à “semente” física aos que estão fora da Nova Aliança por causa da incredulidade deles. Isso apoia a visão de que os filhos de 1 Coríntios 7:14 podem ser considerados “santos” por causa de seus pais e sua herança nas bênçãos do Evangelho e ainda não estarem “dentro” da Nova Aliança até que eles creiam. Portanto, eles podem ser considerados “santos”, como é a “semente” física de Abraão (Romanos 11:16), no entanto, serem impedidos quanto ao sinal da Aliança até que eles professem arrependimento e fé.

Em segundo lugar, se estritamente dito (como muitos pedobatistas dizem) que os filhos de Efésios 6:1-4 foram abordados e aceitos como santos (1:1), também devemos dizer rigorosamente que eles haviam crido e foram selados com o Espírito Santo da promessa (1:13). Dificilmente este é um argumento sobre a inclusão de crianças na igreja, sem que também seja afirmado a regeneração e a conversão. O fato de que os filhos poderiam entender a exortação de Paulo, foram chamados de santos, e foram selados pelo Espírito, torna perfeitamente plausível que ele estava falando com filhos professos que eram membros reais da Igreja da Nova Aliança.

No entanto, também é possível que Paulo estivesse se dirigindo aos filhos na reunião da congregação que estava assentada sob a pregação da Palavra de Deus, embora eles ainda não estivessem pessoalmente “na” Igreja da Nova Aliança. Obediência ao quinto mandamento é exigida de todos os filhos, crentes e não crentes, semelhantemente. Não é incomum que os pastores tratem as igrejas como os “santos” mesmo quando há uma criança na assembleia que não faz parte da igreja, e que possui pais descrentes. A exortação de Paulo é inaplicável a eles? Claro que não. Apelar para Efésios 6:1-4 como o ensino que as crianças não crentes são membros da Nova Aliança e da igreja é “agarrar-se em palhas”.3

Se vamos fazer dos filhos em Efésios 6 membros da igreja, há melhor prova de que eles são considerados crentes e, por isso, foram batizados (Efésios 1:13; 4:4-6.). O apelo inadequado para Efésios apoia ainda mais a possibilidade de que os filhos a que se refere podem ser considerados “separados” como privilegiados por sua herança e exposição evangélicas, ainda assim, não estando realmente “na” Igreja da Nova Aliança, nem possuindo direito ao batismo.

A minha conclusão é que 1 Coríntios 7:14 está se referindo tanto à legitimidade dos filhos aos olhos de Deus, ou, no máximo, à sua “separada” posição por uma questão de herança evangélica dos pais, e não à sua participação na Aliança. E como podemos conceder dois significados distintos para a santificação dos filhos, por um lado, e não para o pai incrédulo, por outro lado, se não o fizermos de forma arbitrária? É impossível fazer o mesmo, exceto por um tratamento danoso ao texto. Este versículo não faz nenhuma menção do batismo pactual de infantes, mesmo que essa tivesse sido uma oportunidade perfeita para Paulo explicar esta prática àqueles gentios Coríntios. O uso deste texto para apoiar o batismo infantil é completamente injustificado.

Depois de examinar a importante pérola dos textos de prova para o batismo infantil, eu prossigo com mais dúvidas do que provas. O que eu encontro com consciência honesta e transparente é que esses textos usados para tentar provar o pedobatismo apoiam o batismo dos crentes muito mais do que o batismo infantil.






NOTA:

3. Esta expressão no original “grasp at straws” denota “tentar usar qualquer método, mesmo aqueles que não são susceptíveis de ter sucesso, pelo fato de que você está em uma situação muito ruim.



Autor: Fred A. Malone
Fontefounders.org
Tradução: Camila Almeida
ViaEstandarte De Cristo



Fred Malone é o pastor da Primeira Igreja Batista em Clinton, Louisiana. Ele recebeu o grau de Mestre em Divindade pelo Reformed Theological Seminary e PhD pela Southwestern Baptist Theological Seminary. Dr. Malone também serve como administrador do Southern Baptist Theological Seminary.