18 de junho de 2016

Distinção entre os verdadeiros e os falsos milagres


Algo perceptível em religiões não cristãs não é a falta de alegação de milagres e curas, pois existem alegações em abundância. A dessemelhança com o cristianismo residiria apenas que os ditos “milagres” não são realizados em nome de Jesus.

Mais de quinze mil pessoas por anos dizem ter sido curadas em Lourdes. Testemunhos de curas são relatados em cada edição do Sentinela da Ciência Cristã. Muçulmanos paquistaneses dizem que um de seus reverenciados santos, Baba Farid, tem curado pessoas de doenças fatais e percorrido longas distâncias em segundos. Milhares de hindus, a cada ano, dão testemunho de curas no templo dedicado a Venkateswara, em Tirupathi. Alguns seguidores do budismo relatam outras espécies de curas.41

A posição clássica da reforma é que os milagres têm a função de autenticar a revelação vinda da parte de Deus. Mas uma interrogação surge: como podemos relacionar isso ao fato de que a Bíblia diz que falsos profetas podem realizar milagres pelo poder de Satanás (Mt 7.22-23; Mt 24.23-26; 2Ts 2.9-12)? R. C. Sproul resumiu a questão da seguinte maneira:

Se um não agente da revelação é capaz de realizar milagres, como os milagres podem funcionar como provas do testemunho de um agente da revelação? Se agentes e não agentes da revelação podem realizar milagres, que valor de testemunho pode existir em um milagre? Se um falso profeta pode realizar um milagre, o verdadeiro profeta não pode apelar aos milagres como provas de sua própria posição. O problema fica mais difícil quando vemos que o Novo Testamento apela aos milagres dos apóstolos como provas de sua autoridade, o que é claramente um apelo ilegítimo e um argumento falso se é verdade que os não agentes da revelação podem realizar milagres.42

Afinal de contas, os milagres alegados por Satanás são milagres genuínos ou meros truques? Satanás tem poder de realizar milagres autênticos em favor de uma causa maligna? Ou os milagres de Satanás são falsas ilusões? Há muita divergência nas respostas dadas a essas interrogações. No entanto, na certeza que Satanás é um ser criado (Cl 1.15-16), finito em poder (Ap 20.10) e pai da mentira (Jo 8.44), creio que os seus milagres não passam de meros truques. Portanto, seus milagres são semelhantes às mágicas realizadas pelos ilusionistas nos circos, embora com muito maior poder de persuasão (Mt 24.24). A não aceitação disso, ao entender que os milagres de Satanás são genuínos, faz com que o apelo bíblico de que os milagres são credenciais da revelação perca todo o seu sentido.

Geisler apontou algumas características dos milagres verdadeiros vindos de Deus e os falsos milagres de Satanás:43
 
MILAGRE DIVINO                                                 SINAL SATÂNICO

Ato realmente sobrenatural                                        Apenas um ato supranormal
Sob o controle do Criador                                          Sob o controle da criatura
Nunca associado ao ocultismo                                   Associado ao ocultismo
Ligado a Deus                                                   Frequentemente ligado a deuses panteístas ou politeístas
Associado à verdade                                                   Associado ao erro
Associado ao bem                                                      Associado ao mal
Envolve profecias da verdade                                     Envolve profecias mentirosas
Glorifica o Criador                                                     Glorifica a criatura  



NOTAS:

41. CARSON, D. A. O propósito de sinais e maravilhas no Novo Testamento. In: HORTON, Michael Scott (Ed.). Religião de poder. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 1998, p. 79-80.
42. SPROUL, R. C. Milagres falsos. [artigo]. Disponível em: <http://www.monergismo.com/textos/pentecostalismo/milagres_falsos_sproul.htm>. Acesso em 23 abr. 2011.
43. GEISLER, 2002, p. 577.



Autor: Jefté Alves de Assis
Trecho extraído do ensaio O DESÍGNIO REVELATÓRIO DE DEUS PARA OS FEITOS MILAGROSOS: Uma avaliação da doutrina carismática da contemporaneidade da providência extraordinária
Fonte: Monergismo