O ASPECTO TEMPORÁRIO DO
BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
Introdução
A questão de grande importância que
deve-se abordar quanto ao batismo com o Espírito Santo é a sua função na igreja
cristã primitiva e o significado teológico da expressão batismo com Espírito
Santo para a igreja moderna.
Normalmente as pessoas deixam de
perceber que a expressão batismo com o Espírito Santo também aplica-se a
dimensões e significados específicos para a era apostólica que não estão mais
presentes hoje na igreja. Essa falta de conhecimento sobre o assunto tem feito surgir
vários movimentos chamados pentecostais que reivindicam a mesma natureza
apostólica do batismo com o Espírito Santo para hoje. Neste trabalho pretendo
mostrar que o batismo com o Espírito Santo tem quatro significados teológicos,
sendo três deles específicos para a era apostólica e um para os nossos dias.
São eles os seguintes:
1. incluir espiritualmente todos os crentes no corpo de cristo por meio da fé;
2. capacitar os apóstolos, pelo poder do alto, com credenciais apostólicas;
3. incluir visivelmente gentios no pacto abraâmico por meio de línguas e profecia;
4. incluir samaritanos distintamente de todos os outros povos na aliança abraâmica.
Destes quatro significados básicos, o 2, 3 e 4 foram apenas para a era apostólica, não aplicando-se mais aos dias de hoje, enquanto o significado 1 é o que a igreja vive hoje em dia. Assim, os significados 2, 3 e 4 correspondem ao aspecto temporário do batismo com o Espírito Santo.
2. capacitar os apóstolos, pelo poder do alto, com credenciais apostólicas;
3. incluir visivelmente gentios no pacto abraâmico por meio de línguas e profecia;
4. incluir samaritanos distintamente de todos os outros povos na aliança abraâmica.
Destes quatro significados básicos, o 2, 3 e 4 foram apenas para a era apostólica, não aplicando-se mais aos dias de hoje, enquanto o significado 1 é o que a igreja vive hoje em dia. Assim, os significados 2, 3 e 4 correspondem ao aspecto temporário do batismo com o Espírito Santo.
Prolegómenos
O sentido mais amplo do
batismo com o Espírito Santo no Novo Testamento é o de confirmar a entrada de
estrangeiros como povo de Deus na
aliança abraâmica. Como o batismo com o Espírito Santo tem função primária de
introduzir espiritualmente indivíduos no corpo de Cristo, um grande problema
estaria para acontecer quando judeus e gentios fossem contemplados dentro de
uma mesma aliança. Desde os dias do
Antigo Testamento, Deus já havia prometido fazer de Abraão uma bênção para
“todas as nações” (Gn 12:3). Paulo afirma que essa promessa feita a Abraão,
também chamada de bênção de Abraão, era o Espírito prometido. A história
registrada em Atos é também a história dos gentios recebendo a bênção de
Abraão, o Espírito Santo (Gl 3:14). Deus não permitiu os gentios receberem
sozinhos o Espírito da aliança abraâmica porque assim surgiriam duas igrejas
primitivas. Como só existe uma aliança feita com Abraão, na qual Deus promete
dar do seu Espírito a todas as nações, todos os gentios eleitos teriam que
entrar pela mesma porta: os apóstolos judeus. A aliança é judaica, feita com
Israel desde muito tempo atrás. Deus não criou outra aliança com gentios, mas a
mesma aliança abraâmica é, agora, estendida ao mundo pagão. Essa é a razão por
que Felipe (At 8: 4-25), após evangelizar os samaritanos, mesmo constatando
que eles já tinham fé em Cristo, ainda assim não pôde conferir-lhe o batismo
com o Espírito Santo. Neste caso, a expressão batismo com Espírito Santo ou
descida do Espírito Santo aqui nada tem a ver com fé.
Os discípulos convertidos pela pregação de
Felipe eram crentes genuínos, pois foram batizados no nome de Jesus (Lucas usa
a palavra “somente” porque era incomum o batismo em nome de Jesus
desacompanhado do batismo com o Espírito Santo). O batismo com o Espírito Santo
dos samaritanos significava simplesmente a confirmação visível da entrada dos
samaritanos na aliança abraâmica. Isso eles tiveram que receber dos apóstolos,
pois os samaritanos já se consideravam um outro povo pactual de Iavé. Como os
apóstolos possuíam apostolicidade dada no momento em que foram batizados com o
Espírito Santo, eles representavam a aliança abraâmica estendida aos gentios; mesmo que os
samaritanos não fossem gentios, ainda assim eram considerados estrangeiros à
promessa. A demora em receber o batismo não foi condicionada a nenhum requisito
espiritual que faltava aos crentes samaritanos, mas ao cumprimento histórico do
derramamento do Espírito para formar
todos os povos (pagãos e judeus) em um único povo. Certamente se os
samaritanos tivessem recebido “o batismo” do Espírito Santo sem os apóstolos,
teriam se tornado mais uma igreja primitiva samaritana rival da igreja cristã
apostólica.
A verdade sobre o batismo com
o Espírito Santo requer ser compreendida em duas dimensões de significados: no
sentido mais estrito, ele significa introduzir pecadores no corpo de Cristo e, consequentemente, na aliança da graça; no seu sentido mais amplo, tal batismo
está relacionado com o credenciamento apostólico e com a sinalização histórica
da entrada dos gentios e samaritanos no pacto da graça, outrora feito apenas com
o povo de Israel. Assim, para uma melhor compreensão, o tema deve ser abordado
em duas grandes seções:
1. O BATISMO COM O ESPÍRITO
SANTO PARA DESCRENTES
A primeira promessa de João Batista
do batismo com o Espírito Santo é feita para os filhos perdidos da casa de
Israel, que mesmo sendo judeus haviam se desviado do verdadeiro evangelho, (Mt
3:7-12).
Essa promessa também é feita por
Pedro aos descrentes em seu primeiro sermão evangelístico, logo após o evento de
pentecostes, no qual ele convida os incrédulos judeus ao arrependimento para
receberem “o dom” do Espírito Santo, interpretado pelo próprio Pedro como
Batismo com o Espírito Santo,( At 11:15-18). Veja também a interpretação do
apóstolo João sobre o Batismo com o Espírito Santo e sua relação com a fé (Jo 7:37-39). O batismo é entendido por todos estes escritores bíblicos como algo
condicionado unicamente à fé, e nada mais.
Paulo também tem uma concepção
de batismo com o Espírito Santo como uma necessidade essencial para os gentios
incrédulos entrarem pela fé no corpo de Cristo. Em Atos 19:1-7, ao perguntar se
os discípulos de Éfeso tinham recebido o Espírito Santo “quando creram”, o
apóstolo entendia que a fé era o único elemento autenticador do Batismo com o
Espírito Santo, bem como sua condição. A ausência do Espírito coincidia com a
ausência de fé. Essa teologia é confirmada por Pedro em Atos 11:17, pela
expressão quando cremos no senhor,
quando trata da conversão de um gentio.
Em que sentido, pois, os não
crentes são batizados com o Espírito Santo? A resposta a essa pergunta é: em
seu sentido ordinário e permanente.
Esse sentido de confirmar a
entrada de pecadores na aliança feita com judeus ainda é válido nos nossos
dias. Quando uma pessoa ouve o evangelho e se arrepende em fé, ela é
introduzida no corpo de Cristo, (1 Co 12:13); recebe o Espírito prometido a
Abraão ou batismo com o Espírito Santo (Gl 3:14), tornando-se participante da
mesma aliança feita com judeus (At 11:18). Assim, o zambujeiro é enxertado na
oliveira boa. Receber o Espírito hoje é confirmado pelos frutos de
arrependimento e fé. O batismo com o
Espírito Santo é o meio que Deus determinou introduzir os filhos da promessa no
pacto da graça (1 Co 12:13). Portanto, quando usamos a expressão batismo com o
Espírito Santo estamos falando da nossa regeneração e conversão a Cristo.
Entende-se por esses registros
bíblicos que o batismo com o Espírito Santo era a necessidade vital para judeus e
gentios incrédulos entrarem no corpo de Cristo por meio da fé. Isso significa
que fé e batismo com Espírito Santo coincidem e se confirmam mutuamente.
Neste primeiro momento, a função do batismo com o Espírito Santo é introduzir
espiritualmente pela fé pecadores no corpo de Cristo (1 Co 12:13) da mesma
forma como o batismo com água introduz visivelmente incrédulos na igreja
visível.
2. O BATISMO COM O ESPÍRITO SANTO
PARA CRENTES
O batismo com o Espírito Santo não
foi uma realidade prometida somente para os incrédulos. Jesus prometeu o
batismo com o Espírito Santo aos seus apóstolos, os quais já eram crentes, (cf. Lc 24:49; At 1:2-5). O batismo com
Espírito Santo prometido foi experimentado pelos samaritanos que também já eram
crentes (At 8:12-13). É claro que a função do batismo com o Espírito Santo
para os crentes não era a de introduzi-los no corpo de Cristo pela fé, pois
isso já tinha acontecido quando creram. Em que sentido, pois, os apóstolos e os
discípulos crentes foram batizados com o Espírito Santo? A essa pergunta
podemos responder: em seu sentido extraordinário e temporal, que são:
1) O sentido de conferir
apostolicidade aos apóstolos
Neste sentido, Cristo prometeu
“poder do alto” aos apóstolos, e não conversão, pois eles já eram crentes. Essa
ideia é registrada por Lucas (Lc 24:49) e confirmada por ele como Batismo com
o Espírito Santo (At 1:2-5). No
desenrolar da história da igreja em Atos, podemos perceber que os apóstolos e
os evangelistas que estavam com eles detinham “poder” para realizar prodígios (At 8:4-8), mas somente os apóstolos detinham apostolicidade para “dar o
Espírito Santo” tanto a judeus quanto gentios, quer fossem crentes ou
incrédulos, (At 8:14-18). É notável
que, depois do evento de pentecostes, não
existe nenhum episódio de recepção do batismo com o Espírito Santo sem que seja
por intermédio dos apóstolos. Os apóstolos eram o canal inicial pelo qual o
Espírito tinha que fluir para judeus e gentios. Como fundamento da igreja e
depositários da fé da nova aliança, os apóstolos eram o recipiente do batismo
com o Espírito Santo que deveriam fundar a igreja de Cristo. Essa
apostolicidade pode ser percebida nas credenciais que Paulo reclama para si por
meio de sinais, prodígios e poderes (o que faz lembrar as palavras de Jesus
“poder do alto”) (2 Co 12:12).
O sentido de apostolicidade
não é mais contemplado hoje em dia pela igreja de Cristo. Constitui, pois, um
massivo erro o tentar considerar o batismo com o Espírito Santo hoje como “um
enchimento de poder”, credencial apostólica prometida somente aos apóstolos (At 1:2-4).
2. O sentido de validação do
chamado histórico dos gentios à aliança abraâmica por meios visíveis das
línguas e profecia
É bem verdade que, para que
haja inauguração de aliança, é necessário que ela seja confirmada. Quando Deus
inaugurou a nova aliança entre os homens, ele começou com os judeus, antigo povo
da aliança abraâmica. Dentro dos planos divinos, aprouve a Deus iniciar a nova
aliança com judeus e depois estendê-la aos gentios. Se Deus tivesse
simplesmente pulado da antiga aliança com os judeus para uma nova aliança com
os gentios, os judeus jamais reconheceriam a aliança gentílica como válida. Era
necessário, pois, que as cláusulas confirmadoras da aliança judaica fossem as
mesmas da aliança gentílica; do contrário, não haveria provas de que a aliança
com Abraão era a mesma oferecida ao gentios. Para isso, Deus programou um plano
cronológico de pregação do evangelho para validar a nova aliança no meio de
dois povos diferentes.
Primeiro, enviou João Batista e
Jesus para inaugurar a nova aliança somente com a casa de Israel. Certamente os
judeus deveriam experimentar a mesma realidade da nova aliança que os gentios
experimentariam mais tarde, com os apóstolos. O fruto do trabalho de Jesus foram apenas doze apóstolos e poucos
discípulos. Jesus diz aos apóstolos que o Espírito Santo continuaria a mesma
obra que Jesus havia começado, e que não faria nada diferente do que já estava
posto por ele (Jo 16:13-15). Os apóstolos apenas dariam continuidade à obra
que Jesus começou (pregação do reino) no poder do Espírito Santo. É por essa
razão que Deus deu o dom da apostolicidade: eles foram os únicos escolhidos
para fundar a igreja de Cristo a partir de dois povos. Mas como provar para
judeus e gentios que a aliança feita com gentios era a mesma dos judeus? Como
provar para judeus e gentios que o Espírito prometido a Abraão era o mesmo que
estava sendo dado a ambos os povos? A reposta a essas perguntas é: por meio de
línguas e profecia.
O batismo com o Espírito Santo
e línguas
A esta altura, já entendemos que a
expressão batismo com Espírito Santo coincide com fé. Onde há fé há o
Espírito. Entendemos também que o batismo com Espírito Santo tem mais de uma
função na história do cristianismo apostólico. É possível afirmar com dados
bíblicos, por enquanto, que todos os que são batizados com o Espírito
Santo necessariamente têm fé, mas, ao mesmo
tempo, os que têm fé não possuem os mesmos carismas operados pelo batismo com o
Espírito Santo, tendo em vista que Deus opera funções múltiplas ao dar o seu
Espírito aos crentes. Vejamos a relação das línguas com o Batismo com o
Espírito Santo.
Existem apenas três episódios de línguas
relacionados com o Batismo com o Espírito Santo. É incorreto considerar as
línguas como evidência de tal batismo, tendo em vista que os samaritanos não
falaram em línguas (os samaritanos não são gentios, adotavam o Velho Testamento
como Escrituras deles). Nesse caso, se as línguas fossem evidência do Espírito
prometido a Abraão, os samaritanos continuariam sendo rechaçados pelos judeus,
pois não possuíam a evidência do acolhimento no pacto abraãmico. Paulo não ensina
em lugar nenhum que línguas são a evidência do batismo, e considera que nem todos
possuiriam as línguas (1 Co 12:29-31).
Outra peculiaridade das línguas em Atos é que elas só ocorrem na presença de gentios e judeus. Isso se dá pelo fato das línguas corresponderem a um sinal de inclusão dos gentios na aliança abraâmica. Durante três mil e oitocentos anos, o evangelho só era conhecido na língua de Israel. Por todo este tempo, Deus não houvera se revelado em nenhuma outra língua no mundo. Esse era o sinal de que a aliança abraâmica, por enquanto, só contemplava judeus (Rm 9:1-5). O evangelho só veio a ser universalizado a partir de pentecostes, quando idiomas gentílicos (dialekto) foram contemplados com a palavra inspirada (profecia) que, até então, o Espírito de Deus só dava à aliança feita com Israel. Com a universalização do evangelho, todas as cláusulas da antiga aliança deveriam ser entregues nas línguas dos gentios, como o Espírito fazia no Antigo Testamento (“assim diz o Senhor”). Essa mesma fórmula é encontrada no dia de Pentecostes, quando Lucas escreve “passaram a falar noutras línguas conforme o Espírito lhes concedia que falassem”. Os gentios agora tinham os oráculos de Deus em suas próprias línguas. Israel tinha perdido o monopólio da revelação. Deus agora se revela aos gentios em suas línguas.
Outra peculiaridade das línguas em Atos é que elas só ocorrem na presença de gentios e judeus. Isso se dá pelo fato das línguas corresponderem a um sinal de inclusão dos gentios na aliança abraâmica. Durante três mil e oitocentos anos, o evangelho só era conhecido na língua de Israel. Por todo este tempo, Deus não houvera se revelado em nenhuma outra língua no mundo. Esse era o sinal de que a aliança abraâmica, por enquanto, só contemplava judeus (Rm 9:1-5). O evangelho só veio a ser universalizado a partir de pentecostes, quando idiomas gentílicos (dialekto) foram contemplados com a palavra inspirada (profecia) que, até então, o Espírito de Deus só dava à aliança feita com Israel. Com a universalização do evangelho, todas as cláusulas da antiga aliança deveriam ser entregues nas línguas dos gentios, como o Espírito fazia no Antigo Testamento (“assim diz o Senhor”). Essa mesma fórmula é encontrada no dia de Pentecostes, quando Lucas escreve “passaram a falar noutras línguas conforme o Espírito lhes concedia que falassem”. Os gentios agora tinham os oráculos de Deus em suas próprias línguas. Israel tinha perdido o monopólio da revelação. Deus agora se revela aos gentios em suas línguas.
Quando o batismo com o Espírito
Santo ocorre acompanhado de línguas no Novo Testamento, representa duas verdades
novas para os dias na nova aliança: primeiro, é que pelo batismo, os
gentios estão entrando na aliança abraâmica; segundo, é que as línguas confirmam
que a revelação agora é compartilhada com outras nações – o evangelho não
pertence mais a Israel. Deus está tão interessado em outros povos que o
Espírito dá a revelação em outras línguas. Essa é a razão porque em um livro
tão vasto de história da igreja as línguas acontecem tão pouco. O propósito das
línguas, então, era apenas o de confirmar visivelmente a entrada dos gentios na
nova aliança. Quando os judeus vissem gentios em variedade de línguas falando
“as grandezas de Deus”, que outrora só pertenciam a Israel, logo ficariam
convencidos de que “também aos gentios foi por Deus concedido o arrependimento
para a vida” (At 11:18). Essa confirmação por meio de línguas não era apenas
para judeus; todos os gentios deveriam descansar na evidência das línguas que
Deus não tem mais uma única nação contemplada como seu povo. As línguas
confirmam que o batismo com o Espírito Santo é a entrada de todas as nações no
pacto da Graça. As línguas constituem, assim,
um sinal de bênção para os gentios, mas ao mesmo tempo um sinal de maldição
para Israel, pois esse antigo povo do pacto perdeu o direito de povo exclusivo
da aliança.
Uma peculiaridade que ainda devemos
levantar sobre as línguas é que sendo o seu nome “variedade de línguas” (1Co
12:10), no livro de Atos não há interpretação das mesmas, enquanto que na
igreja de Corinto era proibido o uso de línguas sem interpretação, (1 Co
14:28). A pergunta que normalmente é feita é, por que em Atos as línguas
funcionam sem interpretação, e em Corinto tem que haver intérprete? A resposta é
que fora da igreja as línguas constituem um divisor de águas. No dia de
Pentecostes, as línguas não foram entendidas por todos; alguns acharam que os
discípulos estavam bêbados, ou seja, não entendiam as línguas faladas por eles.
Quando as línguas não são entendidas é porque tais pessoas estão sendo
preteridas (rejeitadas) pela graça. Jesus deixou muito claro que o fato das
pessoas não entender suas parábolas era porque “...a estes não é dado conhecer
os mistérios do reino” (Mt 13:11). Essa é a natureza primária do dom de
línguas: sinal para os incrédulos (1 Co 14:22). Paulo refere-se ao cativeiro dos judeus
incrédulos no Antigo Testamento, que foram arrastados à prisão por um povo de
“língua estranha”, e usa esse exemplo histórico como princípio para falar da
natureza das línguas não interpretadas. Isso significa que o uso de línguas sem
interpretação é o mesmo que maldição para os que ouvem, pois ouvir sem entender
é ser rejeitado pela graça. Como a igreja é a reunião dos escolhidos, seria uma
contradição o uso de um dom que sinalizava a condenação da própria igreja.
Línguas como sinal de maldição para incrédulos não deveria ser usado na igreja,
a não ser que fossem interpretadas e transformadas em ensino, profecia,
revelação ou conhecimento (1 Co 14;6).
O Batismo com o Espírito Santo
e profecia
A profecia só é encontrada
explicitamente relacionada ao batismo com o Espírito Santo em Atos 19:1-5.
Podemos deduzir léxicamente que em Atos 2:4, a ideia de profecia também está
presente na expressão “conforme o Espírito concedia que falassem”. Este último
verbo – “falar” – é a tradução da palavra grega “falar inspirado”, o que
indubitavelmente corresponderia à
profecia; o que os discípulos falaram em outras línguas era exatamente aquilo
que o Espírito falava. Somente em Atos 10:46 não há nenhuma indicação clara de
profecia acompanhando o batismo com o Espírito Santo; encontramos apenas a vaga
expressão de que eles engrandeciam a Deus. Mas, à luz dos outros textos citados, e levando-se em conta que Cornélio era gentio, podemos supor que ali
também aconteceu um fenômeno profético. Por que então o batismo com o Espírito
Santo era acompanhado de profecia? A resposta para essa pergunta tem a ver também
com a resposta dada às línguas: a profecia era elemento de confirmação de que a
aliança inaugurada entre os gentios tinha o mesmo valor da antiga aliança
abraâmica inaugurada com judeus.
O apóstolo Paulo reconhece que a revelação da glória, das alianças, da legislação, do culto e das promessas, só foi dada a Israel; nenhum povo além de Israel recebeu qualquer luz da revelação divina informada dentro de um pacto. Incrivelmente o contrário estava acontecendo em Pentecostes: uma aliança é inaugurada com povos que não eram povo de Deus. Como seria possível provar para judeus e gentios que aquela aliança era genuína como foi com os filhos de Abraão no Antigo Testamento? Tal aliança só seria levada em conta se os apóstolos, judeus e gentios, pudessem ver Deus se revelando aos gentios por meio da profecia, pois profecia era o canal de comunicação das cláusulas de todas as alianças que Deus já fez com o homem. É exatamente isso que aconteceu com Pedro, o apóstolo que tinha dúvida da validade da aliança com os gentios. Pedro tinha dificuldade em acreditar que Deus tinha chamado gentios à aliança abraâmica. Somente depois de constatar que Cornélio (gentio) participou do mesmo fenômeno profético de Pentecoste, foi que ele afirmou: “...quem era eu para que pudesse resistir a Deus” (At 11;15-18). Portanto, para um judeu, o falar profeticamente constitui elemento pactual conhecido apenas de Israel. Se a nova aliança feita com gentios contém os mesmos elementos pactuais que antes foram dados apenas a Israel, isso é sinal de que Deus ampliou, de fato, sua graça. Ninguém pode negar. Essa é a razão pela qual na inauguração da nova aliança a profecia foi dada em línguas gentílicas (At 2) e os gentios profetizaram (At 10 e 19). A prova incontestável para o mundo inteiro de que Deus expandiu sua graça de Israel para todas as nações é que os gentios experimentaram daquilo que era privilégio apenas da nação judaica. As línguas e a profecia estão registradas acompanhando o batismo com o Espírito Santo para provar que a entrada para o céu não pertence mais a um povinho do oriente médio, e sim que a graça de Deus agora é sem fronteira.
O apóstolo Paulo reconhece que a revelação da glória, das alianças, da legislação, do culto e das promessas, só foi dada a Israel; nenhum povo além de Israel recebeu qualquer luz da revelação divina informada dentro de um pacto. Incrivelmente o contrário estava acontecendo em Pentecostes: uma aliança é inaugurada com povos que não eram povo de Deus. Como seria possível provar para judeus e gentios que aquela aliança era genuína como foi com os filhos de Abraão no Antigo Testamento? Tal aliança só seria levada em conta se os apóstolos, judeus e gentios, pudessem ver Deus se revelando aos gentios por meio da profecia, pois profecia era o canal de comunicação das cláusulas de todas as alianças que Deus já fez com o homem. É exatamente isso que aconteceu com Pedro, o apóstolo que tinha dúvida da validade da aliança com os gentios. Pedro tinha dificuldade em acreditar que Deus tinha chamado gentios à aliança abraâmica. Somente depois de constatar que Cornélio (gentio) participou do mesmo fenômeno profético de Pentecoste, foi que ele afirmou: “...quem era eu para que pudesse resistir a Deus” (At 11;15-18). Portanto, para um judeu, o falar profeticamente constitui elemento pactual conhecido apenas de Israel. Se a nova aliança feita com gentios contém os mesmos elementos pactuais que antes foram dados apenas a Israel, isso é sinal de que Deus ampliou, de fato, sua graça. Ninguém pode negar. Essa é a razão pela qual na inauguração da nova aliança a profecia foi dada em línguas gentílicas (At 2) e os gentios profetizaram (At 10 e 19). A prova incontestável para o mundo inteiro de que Deus expandiu sua graça de Israel para todas as nações é que os gentios experimentaram daquilo que era privilégio apenas da nação judaica. As línguas e a profecia estão registradas acompanhando o batismo com o Espírito Santo para provar que a entrada para o céu não pertence mais a um povinho do oriente médio, e sim que a graça de Deus agora é sem fronteira.
3. O sentido de introduzir os
samaritanos na aliança abraâmica
De todas as ocorrências do Batismo
com o Espírito Santo, o caso dos samaritanos é a mais distinta. O primeiro
problema com os samaritanos é que o Batismo com o Espírito Santo em Samaria não
significou credenciamento apostólico, nem confirmação de inclusão gentílica no
pacto abraâmico, nem mesmo conversão. Os
samaritanos creram no evangelho, receberam o Espírito regenerador, mas tiveram
que esperar pelos apóstolos para serem batizados com o Espírito Santo no
sentido de serem introduzidos historicamente no pacto abraâmico. Curiosamente, os samaritanos não falaram línguas e nem profetizaram porque eles não eram
gentios, apenas estrangeiros. Como vimos anteriormente, línguas e profecia
acompanham historicamente o batismo com o Espírito Santo apenas dos gentios nos
únicos casos de Atos 2, 10 e 19.
Alguns sugerem que o sinal
visível do batismo com o Espírito Santo entre os samaritanos (Atos 8) teria
sido o fenômeno das línguas ou profecia. Essa ideia deve ser rejeitada por dois
motivos: quanto às línguas, não pode ser porque os samaritanos não são gentios, mas judeus mistos (2 Rs
17:24-41), que continuaram com práticas judaicas misturadas a crendices pagãs.
Durante toda a história eles aparecem reivindicando sangue judeu e a aliança
abraâmica ainda foi lembrada por Deus em favor deles. Já no Novo Testamento eles
receberam de Jesus a mesma atenção e tratamento dado aos judeus, inclusive
estendendo seu ministério entre os samaritanos (Lc 10:29-37; 17:16-18; Jô
4:1-42); o mesmo não aconteceu aos
gentios, (Mt 15:21-28), pois esses só tiveram contato com o evangelho depois da
confirmação da aliança abraâmica no dia
de Pentecostes. Jesus não considerou os samaritanos como gentios, pois os usou
como exemplo para os judeus (Lc 10:29-37) e os chamou de “estrangeiros” (Lc
17:18), e não de cachorrinhos. Quanto à profecia, é impossível porque os
samaritanos dos tempos de Jesus não diferiam dos judeus quanto aos grandes
temas teológicos dos israelitas, identificando-se especialmente com os
saduceus. Eles esperavam o Messias (Jo 4:25) e possuíam o Pentateuco
Samaritano; a única diferença era que eles não partilhavam dos escritos
proféticos. Sendo assim, o batismo com o Espírito Santo não precisaria
confirmar que Deus estava dando aos samaritanos suas verdades reveladas que
dera aos judeus, pois eles já possuíam desde há muito tempo.
Como, pois, confirmar a
entrada de um povo que não é gentio na aliança abraâmica? A resposta é que
ninguém sabe qual foi o elemento visível comprobatório de que eles foram
batizados com o Espírito Santo a ponto de ser notado por todos os que estavam
ali naquele dia. A verdade é que Deus usou um outro sinal visível que sinalizou
para judeus e samaritanos que o pacto abraâmico foi estendido a eles também.
Isso torna a entrada dos samaritanos no pacto distintamente dos gentios.
Conclusão
O batismo com o Espírito Santo
para crentes não existe mais. A função do batismo com o Espírito Santo que vai além de introduzir incrédulos pela fé no pacto da graça não cabe no cenário
eclesiástico moderno. O batismo com o Espírito Santo de pessoas crentes foi um
marco na história da redenção e do cristianismo apostólico, que tinha em vista
registrar na Palavra de Deus a verdade de que a promessa abraâmica foi
cumprida, e que hoje todos os povos são bem vindos à graça de Deus.
Autor:
Moisés Bezerril
Fonte:
Bíblia, Língua e Literatura