Introdução
A maior luta em minha teologia
não foi, por incrível que pareça, os cinco pontos do Calvinismo e da fé
Reformada. Encontro isso claro e bem definido de Gênesis ao Apocalipse. Ao
invés disso, o meu “espinho na carne” teológico foi o batismo.
Embora eu tenha crescido como
um Batista, no seminário eu vim para a posição pedobatista por causa de vários
pontos da teologia. Estes incluíram a aliança com Abraão, a relação entre
circuncisão e batismo, a suposta disjunção entre batismos de João e Jesus e o batismo
Cristão, o argumento do silêncio, os textos-prova a respeito das crianças no
Pacto e o testemunho da tradição. A obra que mais me influenciou foi o Christian Baptism (Batismo Cristão), de
John Murray.
Quando olho para trás, para aqueles dias como um estudante de seminário sincero e investigador, muitas vezes me pergunto se eu fui tão honesto pela busca da verdade como eu pensei que era. Pois, no cadinho difícil da rejeição, por vezes amarga, pelos meus amigos Batistas sobre as doutrinas da soberana graça, e na comunhão calorosa dos meus irmãos pedobatistas de mesma opinião, é mais do que possível que eu permiti que sentimentos subjetivos influenciassem a minha interpretação da verdade objetiva sobre o batismo. Eu não acredito que eu sou o único Batista que se tornou um Presbiteriano sob estas circunstâncias. Na verdade, eu acredito que muitos Batistas, frustrados com a superficialidade doutrinária, deixaram igrejas Batistas para encontrar um lar confortável, teologicamente são em igrejas Presbiterianas. No entanto, os sacramentos nunca são questões menores da doutrina, e é minha esperança que este panfleto convencerá muitos a permanecer, ajudará a reforma e construção de igrejas Batistas mais sólidas.
Em qualquer caso, após a
graduação, eu reexaminei a minha posição sobre o batismo de infantes e encontrei
muitas inconsistências que, por algum motivo, eu não encontrei no seminário.
Tentei deixar a maior parte de meu trabalho ser o mais original possível. No
entanto, dois livros me ajudaram a verbalizar muitas coisas já descobertas; estes são Bebês Devem Ser Batizados?
por T. E. Watson, e Os Filhos de Abraão, de David Kingdon. Eu recomendo essas
obras aos meus amigos pedobatistas e Batistas.
Eu lidei apenas com os
sujeitos apropriados do batismo, porque eu creio que este seja o fator mais
importante com o qual começar. O próprio João Calvino acreditava que a Bíblia ensina
a imersão e que a igreja primitiva praticava a imersão (Institutas Livro IV.
cap. XV, seção 19). Eu aceito a análise de Calvino, embora ele tenha permitido
diversas práticas.
Enquanto eu percorro cada
ponto da teologia em uma forma de narrativa informal, espero dar glória a
Deus, deixando que a Sua infalível Palavra seja a autoridade absoluta e final para
cada conclusão. Minha oração contínua é para que o Espírito Santo ilumine a
minha mente e a mente do leitor enquanto nós olhamos juntos para a mente de
Deus revelada na Palavra escrita.
O
Espinho
A mudança para convicções
Batistas começou enquanto eu estava lendo Êxodo 12, como parte de meus
exercícios devocionais. Certamente eu havia lido muitas vezes antes, mas desta
vez uma questão importunou a minha alma. Na instituição da festa da Páscoa, eu
li:
Portanto, guardai isto por
estatuto para vós, e para vossos filhos para sempre [ênfase adicionada] (Êxodo
12:24).
A minha pergunta diz respeito
à participação das crianças na festa, que é um prenúncio da Ceia do Senhor. E
se eles participavam, com que idade eles começavam? Além disso, o que isso tem
a dizer sobre a participação das crianças na Ceia do Senhor? Enquanto eu
meditava, eu me perguntei se isso não poderia ser simplesmente um comando para
continuar a ordenança de pai para filho em gerações inteiras. Por isso, decidi
pesquisar a questão para obter uma compreensão mais clara.
Concluí que o texto pode
favorecer a participação na festa das crianças da família de qualquer idade,
bem como ser um comando para continuar a ordenança indefinidamente. Que a
palavra sempre implica a perpetuidade da ordenança é óbvio. Mas, no contexto
da família da Aliança, o hebraico vav, conjunção (“e”) parece definir a
ordenança como sendo para todos os filhos da casa também. O contexto parece apoiar
essa inclusão das crianças na refeição porque não havia outros pães ázimos e
carnes permitidas para estarem presentes no domicílio (12:19, 20, 28). Com a
exceção dos bebês lactentes, não havia literalmente nada para as crianças
comerem, senão a refeição da Páscoa. Alguns especulam que o questionamento das
crianças sobre a refeição (v. 26) indica sua falta de participação na mesma. No
entanto, elas certamente poderiam ter participado da refeição e ainda fazer a
pergunta sobre ela muito antes de terem a capacidade conceitual para
compreender seu significado.
Achei interessante como
Berkhof e Murray diferiram em relação a esta situação, mas ambos discordavam da
pedocomunhão. Berkhof afirma:
As crianças, embora fossem
autorizados a comer a Páscoa nos dias do Antigo Testamento, não podem ser
autorizadas a participar da mesa do Senhor, uma vez que não podem cumprir os
requisitos para a participação digna. (Teologia Sistemática, p. 656)
Embora admita que as
crianças do Antigo Testamento participavam da Páscoa, Berkhof as excluía da
Ceia do Senhor, porque o Novo Testamento prescreve o autoexame e o
discernimento do corpo.
Murray, por outro lado,
desconsidera a interpretação que as crianças participavam da Páscoa por duas
razões: (1) não há nenhuma menção de crianças no texto, e (2) a dieta não era
adequada para crianças. Um problema com as objeções de Murray é que o mesmo raciocínio
pode ser aplicado de forma coerente com o silêncio a respeito dos bebês no batismo de
famílias. Além disso, sua afirmação é presunçosa no que se refere a afirmar que
as crianças tinham uma idade para entender o significado da Páscoa, quando
perguntaram o que ela significava. Quantas vezes nossos próprios filhos fizeram
perguntas sobre Cristo ou Ceia do Senhor e não foram capazes de entender as
respostas? Além disso, Murray não reconhece que as crianças são capazes de
ingerir o pão ázimo e a carne, enquanto crianças antes de um ano de idade
(Batismo Cristão, pp. 76-79).
Portanto, concluo a partir do
texto, contexto e apoio de comentário Reformado que os filhos da casa que eram
capazes de ingerir carne e pão ázimo partilhavam da festa da Páscoa, simplesmente
pela sua posição na família da Antiga Aliança.
Quais são as implicações desse
fato? Maravilhou-me que eu corri através de um artigo na Open Letter (Carta
Aberta) no mês seguinte (1977), usando este mesmo fato para fundamento da
comunhão de Filhos do Pacto. Esta publicação pela Fraternidade Pactual de Presbiterianos
imprimiu um artigo do pastor do Canal Street Presbyterian Church, em Nova Orleans,
defendendo a passagem da alteração da PCUS (Igreja Presbiteriana nos
Estados Unidos) que permite criancinhas batizadas a virem à mesa do Senhor,
logo que eles sejam capazes de tomar os elementos. O argumento foi baseado na
transformação da circuncisão em batismo infantil como o princípio que transforma os sujeitos da Páscoa nos sujeitos da Ceia do Senhor.
Quando comecei a assimilar e
analisar este artigo, vários argumentos contra as suas conclusões vieram à
mente. Os dois mais evidentes eram que (1) há o comando biblicamente instituído
para examinar a si mesmo antes de participar, e (2) não existe nenhum comando positivo
para incluir bebês e crianças pequenas na Ceia. O primeiro é um argumento de preceito
de acordo com o princípio regulador da Escritura, e o segundo um argumento de silêncio
e de inferência. Ambos os argumentos parecem limitar a participação na observância
da Ceia do Senhor aos discípulos batizados que são capazes de compreender o
significado da Ceia e de examinar a sua motivação espiritual
interior ao tomá-la. Cheguei à conclusão, juntamente com a maioria dos teólogos
Reformados, que estes dois argumentos são suficientes para mostrar o erro da
comunhão infantil ou pactual.
Qual é agora o meu ponto?
Simplesmente isto: Por que a regulamentação do Novo Testamento é suficiente
para definir os sujeitos da Ceia do Senhor, mas não os do batismo infantil?
Supondo que as crianças da família, na administração da Antiga Aliança, eram autorizadas
a participar da festa da Páscoa logo que elas fossem capazes de consumir os elementos,
e assumindo que os filhinhos da família, na administração da Nova Aliança, não são
autorizados a participar até professarem a fé e o autoexame são evidentes,
minhas perguntas são:
O que mudou na aplicação do
conceito de família da Aliança a partir da Antiga Aliança para a Nova Aliança?
Por que a criança da família
participa da Páscoa e não da Ceia do Senhor?
O filhinho de crentes na
Nova Aliança tem menos bênçãos do que a criança da família na Antiga Aliança?
Quais são exatamente as
bênçãos da Aliança para a criança da família na Nova Aliança, se houver alguma?
Um
Cordão de Pérolas
Enquanto eu reconhecia a
discordância relativa à conclusão que as crianças da Antiga Aliança
participavam da Páscoa pela posição pactual, permaneceu em minha mente um crescente
desejo de reexaminar a base bíblica para o batismo infantil. Eu pensei que talvez
Deus estava me guiando para estudar novamente a doutrina, de forma que eu seria
confirmado disso em minha própria mente no início do seminário, se eu não
tivesse deixado influências subjetivas guiarem minha busca pela verdade
objetiva. No entanto, eu pensava que, se eu viesse a ser um Batista, eu não
perderia nada em aceitar a verdade de Deus na Palavra. De qualquer forma, eu
estaria mais forte no final.
Enquanto todos os teólogos
pactuais pedobatistas que li concordam plenamente que não há mandamento
positivo para batizar crianças da Aliança, eles citam o que pode parecer ser um
número impressionante de pérolas individuais que podem ser amarradas juntas,
como um colar bonito e unificado. Este é o princípio da hermenêutica chamado
boa e necessária inferência. John Murray afirmou este princípio para o
batismo infantil:
Uma das objeções mais
convincentes e uma que conclui o argumento para um grande número de pessoas é
que não há nenhuma ordem expressa para batizar bebês e nenhum registro no Novo
Testamento de um caso claro de batismo infantil. A evidência para o batismo
infantil se enquadra na categoria de boa e necessária inferência, e por isso é
completamente indefensável demandar que a prova exigida esteja na categoria de
ordem expressa ou instância explícita (Batismo Cristão, p. 72).
O problema com essa afirmação
é que ela admite inferência do Antigo Testamento a partir da aliança com Abraão
para anular o mais evidente e final cumprimento, prescrição e instituição
Neotestamentária, pela revelação. De acordo com Murray, alguém teria que apresentar
uma ordem ou exemplo contra o batismo infantil para anular sua inferência do
Antigo Testamento, mesmo que este nunca fora praticado. Esta é uma posição
hermenêuticamente absurda.
O princípio da boa e
necessária inferência é legitimamente usado para apoiar a cessação de tais
coisas como a revelação escrita e apóstolos modernos. No entanto, nestes casos,
a base para tal conclusão é sempre a revelação do Novo Testamento, não
implicação do Antigo Testamento. “O Novo está no Antigo, velado; e o Antigo
está no Novo, revelado”, é um acordo sobre hermenêutica, que coloca mais
autoridade sobre a instituição do Novo Testamento do que sobre a inferência do
Antigo Testamento.
Pode haver uma impressionante coleção
de pérolas amarradas no cordão da boa e necessária inferência, mas ambos, T.
E. Watson e Herman Hoeksema (Crentes e Sua Descendência) já demonstraram
amplamente que há discordância suficiente entre os teólogos pactuais
pedobatistas em cada pérola específica para justificar um reexame da boa e
necessária inferência que lhes amarra todas juntas. Uma vez que este é um
breve artigo, simplesmente usarei o livro bem documentado de Watson (Bebês
Devem Ser Batiza-dos?) para mostrar que há um sério desacordo em
relação às Escrituras específicas entre os principais teólogos Reformados em
quase todo ponto e base de apoio ao batismo infantil.
Então, quais são as pérolas no
cordão? Desde que eu estou lidando com a minha própria aceitação do
pedobatismo, aqui estão as pérolas cuja beleza me fizeram adicioná-las ao meu
cordão:
1. A Teologia Pactual do Antigo e Novo Testamentos
2. A Relação entre Circuncisão e Batismo
3. Os Textos de Prova em Relação ao Batismo
4. Atitude de Jesus para com as Crianças
5. A Santificação dos Filhos de Crentes
6. A Disjunção do Batismo de João e o Batismo Cristão
7. O Argumento do Silêncio
8. O Argumento das Bênçãos Ampliadas
9. O Testemunho da Tradição
Eu não lidei com o modo do batismo [aspersão ou imersão] neste
artigo, pois a questão dos sujeitos bíblicos do batismo é algo muito mais
importante.
A
PRIMEIRA PÉROLA
Teologia
Pactual no Antigo e Novo Testamentos
A principal base para o
batismo de filho da aliança é reivindicada ser encontrada na promessa pactual
de Deus de abençoar Abraão e a sua “semente”. Abraão foi justificado pela fé,
crendo nas promessas de Deus para ser o seu Deus e fazê-lo o pai de muitas
nações (Gênesis 12-17; Romanos 4). Ele e sua “semente” herdariam Canaã, em
possessão perpétua. E, o mais importante de tudo, o Senhor prometeu ser o Deus
de Abraão e de sua “semente”. Então, Deus concedeu o sinal desta aliança, a saber, a
circuncisão a Abraão e à sua “semente” para sempre. Este sinal também deveria
ser administrado a todos os homens na família, nascidos e comprados. Desde que
Abraão é chamado de pai de todos nós (Romanos 4:16), e uma vez que os
Cristãos são chamados de descendência de Abraão (Gálatas 3:29) e herdeiros
segundo a promessa, parece “bom e necessário” inferir que o sinal do batismo,
do Novo Testamento deve ser aplicado aos filhos de Abraão “semente” da fé como
a circuncisão foi aplicada aos filhos de Abraão “semente” da carne (Colossenses
2:11-12). Esta é uma pérola que compele ao batismo infantil.
Os
Participantes da Aliança
Várias questões, no entanto,
devem ser colocadas a esta conclusão. Em primeiro lugar, se os Cristãos judeus
ou gentios são a semente de Abraão, devemos tanto reivindicar a Canaã física
como o nosso legítimo território e também a possessão “eterna”? Em segundo
lugar, se a circuncisão é um sinal “para sempre” da aliança Abraâmica, então
por que a “semente” Neotestamentária de Abraão não continua a circuncisão como
um ato religioso? E, em terceiro lugar, os Cristãos devem batizar não somente
os filhos, mas também todos os homens comprados ou nascidos em suas casas?
Tem sido frequente a objeção
de que não é legítimo identificar tanto filhos e terra física na mesma
categoria em relação às promessas pactuais a Abraão. Concordo plenamente. No
entanto, o que acontece com os 318 funcionários do sexo masculino da família de
Abraão que foram circuncidados, em virtude de que eles estavam na casa de
Abraão? Como é este aspecto sobre pessoas na família da Aliança, não sobre
terras, na aplicação Neotestamentária do Pacto de Abraão?
Havia uma questão teológica a
respeito do batismo dos escravos no período pré-Guerra Civil do Sul entre os
Presbiterianos. Meredith Kline tenta lidar com esta questão da aplicação da
autoridade pactual doméstica na administração da Nova Aliança sobre a aliança
Abraâmica, em seu livro Por Juramento Consignado (pp. 94-102). No entanto,
Kline não é claro sobre se o batismo de escravos é ou não uma aplicação
legítima na administração da Nova Aliança. Ele se esquiva de dizer que essa
prática é legítima por causa do silêncio do Novo Testamento e a dificuldade de
disciplina eclesiástica (p. 98). Por outro lado, no mesmo parágrafo, ele parece
permitir a plausibilidade do batismo de servo em determinadas situações de
missão pela conveniência cultural temporária. A decisão parece ser deixada para
a chefe individual da aliança em sua aplicação dos princípios da cultura, da
família e da igreja com a sua situação particular. A questão sobre qual é a
maneira bíblica de lidar com os próprios escravos nesse sentido realmente não é
atendida. O participante da teologia pactual e da Nova Aliança é tão vagamente
definido?
Junto com a maioria dos
teólogos pactuais, concluo que estes elementos de terra e servo da aliança
Abraâmica atualmente não se aplicam ao Novo Testamento Cristão e à igreja, uma
vez que o reino de Cristo “não é deste mundo” nem é uma nação teocrática, ainda
assim continua sendo o “Israel de Deus” (Gálatas 6:16). A maioria de nós
acredita que os Cristãos possuirão a Canaã no Novos Céus e na Nova Terra, mas não
na atual administração das coisas. Nem qualquer um acredita seriamente no
batismo de servo.
Deve-se entender que só porque
houve uma mistura de elementos físicos e espirituais no Pacto de Abraão, não
segue implicitamente que os mesmos elementos se aplicam à Nova Aliança. Todos
nós sabemos que alguém tornava-se membro da aliança com Abraão pela circuncisão
física, mas Deus também convocou a semente de Abraão a circuncidar espiritualmente
os seus corações também (Deuteronômio 10:16). Que a Nova Aliança enfatiza a
circuncisão espiritual não implica automaticamente que deve haver membros
físicos na Nova Aliança, sem um tal coração. Como o pastor Walter Chantry da
Grace Baptist Church, Carlisle, Pensilvânia, bem disse:
Na Antiga Aliança, tudo o que
era espiritual era identificado com uma nação exterior. Na Nova Aliança, tudo o
que é exterior é identificado com uma nação espiritual.
Portanto, aqueles que aplicam
a inclusão Abraâmica de filhos físicos à Nova Aliança como base para o batismo
de infantes dos filhos de Cristãos devem também lidar honestamente com as
implicações para sempre de Canaã, circuncisão e membresia adulta doméstica na
Nova Aliança. Há muita inconsistência aqui para fazer um argumento válido.
Portanto, a questão principal
para mim é: como a Escritura aplica as promessas do Antigo Testamento que são
dadas a Abraão e à sua “semente” ao cumprimento da Nova Aliança ao Cristão e à
igreja? Continuando, para o momento, assumo que o batismo é a contrapartida
Neotestamentária da circuncisão, vamos definir a partir da Escritura a essência
da Nova Aliança e quem é exatamente a “semente” de Abraão, os que devem receber
o sinal e as bênçãos da Nova Aliança.
A
Nova Aliança Descrita
Uma das principais passagens que
deve ser considerada na definição do significado da Nova Aliança é Jeremias 31.
Nos versículos de 27 a 30, Deus declara que, após o cativeiro profetizado, cada
homem arcará com a responsabilidade por sua própria condição espiritual diante
de Deus de uma maneira nova. Dando continuidade a essa mudança de ênfase para a
responsabilidade individual nos vv. 31-34, Deus define uma nova base para a
participação na aliança e bênção no Novo Pacto, que é diferente da base para a
adesão e bênção na Antiga Aliança. Ao contrastar a Antiga e Nova Aliança, a
definição de Deus sobre a diferença é a de renovação do coração em cada um dos
membros da Nova Aliança.
Inicialmente, para se tornar
um participante da aliança Abraâmica e sua continuação no Sinai, alguém
simplesmente teria que nascer na descendência física de Abraão. A membresia
física nesta aliança foi representada pela circuncisão, mas alguém era cortado
da salvação da aliança se ele não circuncidasse seu coração também
(Deuteronômio 10:16). No entanto, é importante notar que muitos que corações nunca
foram circuncidados continuaram a participar do Israel visível. Eles não foram visivelmente cortados do povo da Aliança de Deus. Assim, a
doutrina do remanescente fiel do Israel físico surgiu nos profetas (Jeremias
23:1-6; 31:7). Este remanescente viria à fruição e cumprimento durante o
reinado de “um Renovo de justiça” da linhagem de Davi. É esse remanescente fiel
que é erguido nos dias da Nova Aliança (Jeremias 31:7, 32-34).
A participação na Nova Aliança,
que “não é semelhante” à Antiga Aliança, é definida como o experimentar da
realidade da Religião do coração em cada membro (Jeremias 31:33-34). A Nova
Aliança não apenas introduz novas bênçãos. Em vez disso, todos os membros da
Nova Aliança, em verdade, têm a Lei escrita em seus corações (Porei a minha
lei no seu interior, e a escreverei no seu coração), recebem o perdão dos
pecados (porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos
seus pecados) e conhecem o Senhor (porque todos me conhecerão, desde o menor
até ao maior deles, diz o Senhor).
Esta definição não diz nada
sobre a participação nas bênçãos da Nova Aliança por descendência física
somente. Em vez disso, os participantes que Jeremias descreve são o verdadeiro
Israel (Gálatas 6:16). Eles são os filhos da promessa, um remanescente fiel
de acordo com a “eleição da graça” de Deus (Romanos 9:6-8), em que cada
verdadeiro membro conhece o Senhor. Esta Nova Aliança, na qual Deus escreve a
Sua Lei no coração de cada um na Aliança, também é definida em Ezequiel 36:24-28
como o tempo em que Deus coloca o Seu Espírito no interior e dá um novo coração
que terá o cuidado de observar os Seus preceitos. Esta promessa do Espírito
também é falada para toda a casa de Israel, indicando que este novo coração
ficará evidente na nação como um todo. De fato, Gálatas 3:14, 29 define o
cumprimento da promessa feita a Abraão, na Nova Aliança, como o dom do Espírito
para toda a sua “semente”, ou seja, os judeus e gentios crentes (Romanos 4,
veja também a exposição sobre a promessa em Atos 2:39, abaixo).
O teólogo pedobatista Herman
Ridderbos, acredita que o ensinamento de Jesus sobre o reino de Deus e de Seus
membros nascidos de novo é “determinado pela ideia de Aliança”. A referência de
Jesus à Nova Aliança sobre Jeremias 31 na Última Ceia afirma esse entendimento.
Assim, a ideia do povo de Deus toma um significado mais restrito na Nova
Aliança:
O povo de Deus são aqueles por
quem Cristo derrama o Seu sangue da Aliança. Eles compartilham da remissão dos
pecados trazida por Ele e da comunhão inquebrantável com Deus na Nova Aliança,
que Ele tornou possível... À luz de todo o Evangelho, eles são as pessoas que
aceitaram a pregação do Evangelho em fé e conversão. São eles, e ninguém mais os que recebem a salvação do reino. Eles são “Israel”, “povo de
Deus”, e é a eles que todas as promessas do pacto aplicam-se (Ridderbos, The
Coming of the Kingdom [A Vinda do Reino], p. 202).
Portanto, com base em Jeremias
31:31-34 e sua descrição sobre a regeneração dos participantes da Nova Aliança,
e à luz da definição dos requisitos de entrada para o reino de Cristo (João
3:5-6) e igreja (Mateus 16:16-18), eu não posso dizer que os filhos de crentes
estão “dentro” da Nova Aliança, igreja ou reino ou “povo de Deus” até que eles
mostrem, por confissão exterior, evidência de regeneração.
Tem sido objetado que, talvez,
Jeremias 31:34 seja uma referência escatológica por causa da declarada falta de
necessidade de que alguém ensine o seu próximo e irmão. Portanto, o argumento
conclui que isso descreve a igreja triunfante. Não precisamos ensinar uns aos
outros na Nova Aliança? Claro! Mas, no discurso a Israel, Deus está se referindo
ao próximo e irmãos na Israel da Nova Aliança. Não há necessidade de
evangelizar os participantes na Nova Aliança, porque todos conhecem o Senhor! É
claro que ensinamos uns aos outros a observar tudo o que Cristo nos ordenou
(Mateus 28:18-20). Mas não há necessidade de ensinar os da Nova Aliança a
“conhecer o Senhor” porque eles já O conhecem, tendo sido ensinados pelo
próprio Deus (João 6:44-45; 1 João 2:27; 1 Tessalonicenses 4:9). Por essa
razão, o “menor até o maior”, daqueles na Nova Aliança, é maior do que João
Batista, que foi regenerado no ventre (Mateus 11:11). Portanto, eu não estou
disposto a admitir que o filho de um crente esteja automaticamente na Nova
Aliança e seja, assim, maior do que João, o Batista, até que ele ou ela mostre
evidências de regeneração por uma profissão de fé em Cristo. Mesmo que o nosso
Deus soberano regenerasse os filhos de crentes no útero, eles não deveriam ser
considerados “na” Nova Aliança até que eles mostrassem a evidência de
regeneração por meio do arrependimento e da fé. Isso é a ordem e exemplo padrão
do Novo Testamento, e precede o batismo Neotestamentário.
O
Sacrifício da Nova Aliança
Dizer que todos os filhos
físicos dos crentes estão “na” Nova Aliança, como os filhos de Abraão estavam
“nos” Pactos Abraâmico e do Sinai viola a doutrina da redenção particular.
Hebreus 9 nos lembra que a Aliança de Deus requer a mediação através do sangue.
O Cordeiro Pascal trouxe libertação física para todo o Israel, porque todos
comeram. A expiação anual (Levítico 16) era oferecida em nome de toda a
assembleia, de todo o Israel. É claro que esses sacrifícios não poderiam
purificar a consciência, mas seu propósito era para o povo da Aliança de Deus
no Velho Testamento. Se o sacrifício de Cristo é oferecido apenas por Seu povo
eleito como “o novo testamento no Meu sangue” (Lucas 22:20; Marcos 14:24), como
podem os filhos não-regenerados dos crentes serem ditos estar “na” Nova
Aliança, igreja, e reino, sem um mediador eficaz? Eles não podem. Na verdade,
Hebreus 9:15 define Cristo como um Mediador eficaz da Nova Aliança para
assegurar que aqueles que são chamados recebam a promessa da herança eterna.
Alguém pode ser dito estar “na” Nova Aliança ou igreja sem um Mediador? Não
sobre o fundamento do conceito de igreja no Novo Testamento. Embora todos
concordem que os falsos professos foram referidos como membros da igreja pela
qual o eficaz sangue de Cristo foi derramado, ainda assim, eles foram assim
referidos com base em sua profissão, não com base na fé de seus pais. Mesmo
assim, eles deveriam ser expulsos da igreja, se a sua profissão fosse provada
ser falsa pelas suas vidas. Entretanto, houve alguma evidência exterior para
designá-los como estando “na” igreja. Mas não há nenhuma base clara para dizer
que filhos de crentes estão “na” igreja a menos que também eles estejam
dispostos a dizer que eles estão “na” “igreja de Deus, que ele resgatou com seu
próprio sangue” (Atos 20:28). Não! Se uma criança é dita estar “na”
administração do Novo Pacto de uma Aliança de graça e “na” igreja, sem a
mediação eficaz, grave violência é feita à verdade bíblica de que Cristo amou
a igreja, e a si mesmo se entregou por ela [Efésios 5:25]. Pode ser dito de
uma criança não regenerada que ela está “na” igreja através da mediação eficaz
de Cristo e nunca receber a salvação? Absolutamente não. Portanto, violência é
feita à doutrina da redenção particular.
Aliança da graça requer o
sangue de um Mediador eficaz. Cristo é a Circuncisão e o Isaque da aliança
Abraâmica. Cristo é o Cordeiro Pascal e a expiação anual para a sua
continuidade através do Sinai. E Cristo é o único Mediador do cumprimento da
Nova Aliança como o sacrifício eficaz para todos aqueles considerados como
estando “na” Nova Aliança, a igreja redimida de Cristo. Estas pessoas redimidas
e apenas estas são os participantes da Nova Aliança.
A
Semente de Abraão
Isso nos leva à próxima
pergunta: exatamente quem são a “semente” da Aliança Abraâmica que devem
receber a contrapartida Neotestamentária da circuncisão? Em Romanos 4, onde
Abraão é chamado de o pai de todos nós, vemos que Deus cumpriu a Sua promessa
a ele para se tornar o pai de muitas nações, definindo sua “semente”, como
aqueles que são “da fé de Abraão” (v. 16). Sejam eles incircuncisos ou
circuncidados, sua “semente” são aqueles que possuem “a justiça da fé quando
estava na incircuncisão” (vv. 11-12). Não há menção aos descendentes físicos de
crentes como incluídos no cumprimento Neotestamentário da aliança com Abraão;
antes, é somente aqueles que realmente têm obtido “a justiça da fé” ao receber
Jesus Cristo (cf. João 1:12-13).
Em Gálatas 3, Paulo indica
claramente que a descendência física e circuncisão não têm nenhuma relação
necessária para o cumprimento do Pacto de Abraão na Nova Aliança. As promessas
da aliança com Abraão foram feitas a Abraão e à sua única “semente”, a saber,
Cristo (3:16). Portanto, o cumprimento Neotestamentário da promessa de fazer
Abraão o pai de muitas nações é através de Cristo, a sua “semente”, e foi
cumprida e todos os que têm fé nEle. A definição real de “semente” de Abraão é:
aqueles que são da fé (vv. 7, 9). Se você pertence a Cristo, então você é
“semente”, “herdeiro de Abraão, segundo a promessa” (v. 29). A única definição
de “semente” de Abraão na Nova Aliança é Cristo e sua “semente” que têm
experimentado a realidade da fé salvadora, ou seja, a promessa Abraâmica do
Espírito (vv. 14, 29).
Quem é a “semente” de Cristo,
a quem pertencem as promessas da Aliança com Abraão? São aqueles que pertencem
a Cristo (Gálatas 3:29) e estes somente são revelados por sua fé. Os únicos que
têm uma reivindicação à herança de Deus são os filhos de Deus pela regeneração
do Espírito (Romanos 8:9, 14-17; João 1:12-14). Portanto, ninguém é considerado
um herdeiro das promessas Abraâmicas até que pela fé ele dê evidência de ser
uma “semente” de Abraão por meio de Cristo, que é o cumprimento literal da
semente de Abraão. E nós “pertencemos a Cristo” somente através da fé que
evidencia a regeneração (Gálatas 3:22, 29).
Além disso, se continuarmos a
assumir que o batismo é a contrapartida da circuncisão, somos confrontados com
o problema do versículo 27, onde todos (sem distinção entre crianças e adultos)
que fomos batizados em Cristo somos revestidos de Cristo. É somente o
preconceito que impede de definir isso em termos de batismo em água (veja
Marston, Are You a Biblical Baptist? [Você é um Batista Bíblico?] pp. 21-22).
Paulo está aludindo à sua experiência de união com Cristo, simbolizada por sua
experiência confirmatória do batismo em águas. Ninguém diria que todos os
participantes da circuncisão da Antiga Aliança experimentaram a realidade da fé
salvadora. Nem alguém afirmaria que todos os que recebem o batismo de
discípulos têm a fé salvadora. No entanto, o cumprimento Neotestamentário da
promessa de Abraão é a uma “semente”, que consiste de todos os que são “da fé”,
os quais recebem a promessa Abraâmica do Espírito, e que confessam a sua fé
através do batismo como o sinal exterior.
A Aliança com Abraão foi
introduzida pela circuncisão; a Nova Aliança é introduzida pela fé em Cristo.
Na Nova Aliança, somente a “semente” Abraâmica da fé deve receber o sinal
Neotestamentário do batismo.
Agora, você pode estar
pensando: Será que isso realmente diz algo que verdadeiramente proíbe a
administração do sinal pactual do batismo aos filhos da “semente” Neotestamentária
de Abraão? Antes de responder a essa pergunta, primeiramente examinemos as
Escrituras para determinar o significado da circuncisão em relação à Nova
Aliança.
Autor:
Fred A. Malone
Fonte:
founders.org
Tradução: Camila
Almeida
Via: Estandarte De Cristo
Fred Malone é o pastor da
Primeira Igreja Batista em Clinton, Louisiana. Ele recebeu o grau de Mestre em
Divindade pelo Reformed Theological Seminary e PhD pela Southwestern Baptist
Theological Seminary. Dr. Malone também serve como administrador do Southern
Baptist Theological Seminary.