9 de junho de 2016

Um Cordão de Pérolas Soltas: O Batismo de Crentes (1/5)


Introdução

A maior luta em minha teologia não foi, por incrível que pareça, os cinco pontos do Calvinismo e da fé Reformada. Encontro isso claro e bem definido de Gênesis ao Apocalipse. Ao invés disso, o meu “espinho na carne” teológico foi o batismo.

Embora eu tenha crescido como um Batista, no seminário eu vim para a posição pedobatista por causa de vários pontos da teologia. Estes incluíram a aliança com Abraão, a relação entre circuncisão e batismo, a suposta disjunção entre batismos de João e Jesus e o batismo Cristão, o argumento do silêncio, os textos-prova a respeito das crianças no Pacto e o testemunho da tradição. A obra que mais me influenciou foi o Christian Baptism (Batismo Cristão), de John Murray.

Quando olho para trás, para aqueles dias como um estudante de seminário sincero e investigador, muitas vezes me pergunto se eu fui tão honesto pela busca da verdade como eu pensei que era. Pois, no cadinho difícil da rejeição, por vezes amarga, pelos meus amigos Batistas sobre as doutrinas da soberana graça, e na comunhão calorosa dos meus irmãos pedobatistas de mesma opinião, é mais do que possível que eu permiti que sentimentos subjetivos influenciassem a minha interpretação da verdade objetiva sobre o batismo. Eu não acredito que eu sou o único Batista que se tornou um Presbiteriano sob estas circunstâncias. Na verdade, eu acredito que muitos Batistas, frustrados com a superficialidade doutrinária, deixaram igrejas Batistas para encontrar um lar confortável, teologicamente são em igrejas Presbiterianas. No entanto, os sacramentos nunca são questões menores da doutrina, e é minha esperança que este panfleto convencerá muitos a permanecer, ajudará a reforma e construção de igrejas Batistas mais sólidas.

Em qualquer caso, após a graduação, eu reexaminei a minha posição sobre o batismo de infantes e encontrei muitas inconsistências que, por algum motivo, eu não encontrei no seminário. Tentei deixar a maior parte de meu trabalho ser o mais original possível. No entanto, dois livros me ajudaram a verbalizar muitas coisas já descobertas; estes são Bebês Devem Ser Batizados? por T. E. Watson, e Os Filhos de Abraão, de David Kingdon. Eu recomendo essas obras aos meus amigos pedobatistas e Batistas.

Eu lidei apenas com os sujeitos apropriados do batismo, porque eu creio que este seja o fator mais importante com o qual começar. O próprio João Calvino acreditava que a Bíblia ensina a imersão e que a igreja primitiva praticava a imersão (Institutas Livro IV. cap. XV, seção 19). Eu aceito a análise de Calvino, embora ele tenha permitido diversas práticas.

Enquanto eu percorro cada ponto da teologia em uma forma de narrativa informal, espero dar glória a Deus, deixando que a Sua infalível Palavra seja a autoridade absoluta e final para cada conclusão. Minha oração contínua é para que o Espírito Santo ilumine a minha mente e a mente do leitor enquanto nós olhamos juntos para a mente de Deus revelada na Palavra escrita.

O Espinho

A mudança para convicções Batistas começou enquanto eu estava lendo Êxodo 12, como parte de meus exercícios devocionais. Certamente eu havia lido muitas vezes antes, mas desta vez uma questão importunou a minha alma. Na instituição da festa da Páscoa, eu li:

Portanto, guardai isto por estatuto para vós, e para vossos filhos para sempre [ênfase adicionada] (Êxodo 12:24).

A minha pergunta diz respeito à participação das crianças na festa, que é um prenúncio da Ceia do Senhor. E se eles participavam, com que idade eles começavam? Além disso, o que isso tem a dizer sobre a participação das crianças na Ceia do Senhor? Enquanto eu meditava, eu me perguntei se isso não poderia ser simplesmente um comando para continuar a ordenança de pai para filho em gerações inteiras. Por isso, decidi pesquisar a questão para obter uma compreensão mais clara.

Concluí que o texto pode favorecer a participação na festa das crianças da família de qualquer idade, bem como ser um comando para continuar a ordenança indefinidamente. Que a palavra sempre implica a perpetuidade da ordenança é óbvio. Mas, no contexto da família da Aliança, o hebraico vav, conjunção (“e”) parece definir a ordenança como sendo para todos os filhos da casa também. O contexto parece apoiar essa inclusão das crianças na refeição porque não havia outros pães ázimos e carnes permitidas para estarem presentes no domicílio (12:19, 20, 28). Com a exceção dos bebês lactentes, não havia literalmente nada para as crianças comerem, senão a refeição da Páscoa. Alguns especulam que o questionamento das crianças sobre a refeição (v. 26) indica sua falta de participação na mesma. No entanto, elas certamente poderiam ter participado da refeição e ainda fazer a pergunta sobre ela muito antes de terem a capacidade conceitual para compreender seu significado.

Achei interessante como Berkhof e Murray diferiram em relação a esta situação, mas ambos discordavam da pedocomunhão. Berkhof afirma:

As crianças, embora fossem autorizados a comer a Páscoa nos dias do Antigo Testamento, não podem ser autorizadas a participar da mesa do Senhor, uma vez que não podem cumprir os requisitos para a participação digna. (Teologia Sistemática, p. 656)

Embora admita que as crianças do Antigo Testamento participavam da Páscoa, Berkhof as excluía da Ceia do Senhor, porque o Novo Testamento prescreve o autoexame e o discernimento do corpo.

Murray, por outro lado, desconsidera a interpretação que as crianças participavam da Páscoa por duas razões: (1) não há nenhuma menção de crianças no texto, e (2) a dieta não era adequada para crianças. Um problema com as objeções de Murray é que o mesmo raciocínio pode ser aplicado de forma coerente com o silêncio a respeito dos bebês no batismo de famílias. Além disso, sua afirmação é presunçosa no que se refere a afirmar que as crianças tinham uma idade para entender o significado da Páscoa, quando perguntaram o que ela significava. Quantas vezes nossos próprios filhos fizeram perguntas sobre Cristo ou Ceia do Senhor e não foram capazes de entender as respostas? Além disso, Murray não reconhece que as crianças são capazes de ingerir o pão ázimo e a carne, enquanto crianças antes de um ano de idade (Batismo Cristão, pp. 76-79).

Portanto, concluo a partir do texto, contexto e apoio de comentário Reformado que os filhos da casa que eram capazes de ingerir carne e pão ázimo partilhavam da festa da Páscoa, simplesmente pela sua posição na família da Antiga Aliança.

Quais são as implicações desse fato? Maravilhou-me que eu corri através de um artigo na Open Letter (Carta Aberta) no mês seguinte (1977), usando este mesmo fato para fundamento da comunhão de Filhos do Pacto. Esta publicação pela Fraternidade Pactual de Presbiterianos imprimiu um artigo do pastor do Canal Street Presbyterian Church, em Nova Orleans, defendendo a passagem da alteração da PCUS (Igreja Presbiteriana nos Estados Unidos) que permite criancinhas batizadas a virem à mesa do Senhor, logo que eles sejam capazes de tomar os elementos. O argumento foi baseado na transformação da circuncisão em batismo infantil como o princípio que transforma os sujeitos da Páscoa nos sujeitos da Ceia do Senhor.

Quando comecei a assimilar e analisar este artigo, vários argumentos contra as suas conclusões vieram à mente. Os dois mais evidentes eram que (1) há o comando biblicamente instituído para examinar a si mesmo antes de participar, e (2) não existe nenhum comando positivo para incluir bebês e crianças pequenas na Ceia. O primeiro é um argumento de preceito de acordo com o princípio regulador da Escritura, e o segundo um argumento de silêncio e de inferência. Ambos os argumentos parecem limitar a participação na observância da Ceia do Senhor aos discípulos batizados que são capazes de compreender o significado da Ceia e de examinar a sua motivação espiritual interior ao tomá-la. Cheguei à conclusão, juntamente com a maioria dos teólogos Reformados, que estes dois argumentos são suficientes para mostrar o erro da comunhão infantil ou pactual.

Qual é agora o meu ponto? Simplesmente isto: Por que a regulamentação do Novo Testamento é suficiente para definir os sujeitos da Ceia do Senhor, mas não os do batismo infantil? Supondo que as crianças da família, na administração da Antiga Aliança, eram autorizadas a participar da festa da Páscoa logo que elas fossem capazes de consumir os elementos, e assumindo que os filhinhos da família, na administração da Nova Aliança, não são autorizados a participar até professarem a fé e o autoexame são evidentes, minhas perguntas são:

O que mudou na aplicação do conceito de família da Aliança a partir da Antiga Aliança para a Nova Aliança?

Por que a criança da família participa da Páscoa e não da Ceia do Senhor?

O filhinho de crentes na Nova Aliança tem menos bênçãos do que a criança da família na Antiga Aliança?

Quais são exatamente as bênçãos da Aliança para a criança da família na Nova Aliança, se houver alguma?

Um Cordão de Pérolas

Enquanto eu reconhecia a discordância relativa à conclusão que as crianças da Antiga Aliança participavam da Páscoa pela posição pactual, permaneceu em minha mente um crescente desejo de reexaminar a base bíblica para o batismo infantil. Eu pensei que talvez Deus estava me guiando para estudar novamente a doutrina, de forma que eu seria confirmado disso em minha própria mente no início do seminário, se eu não tivesse deixado influências subjetivas guiarem minha busca pela verdade objetiva. No entanto, eu pensava que, se eu viesse a ser um Batista, eu não perderia nada em aceitar a verdade de Deus na Palavra. De qualquer forma, eu estaria mais forte no final.

Enquanto todos os teólogos pactuais pedobatistas que li concordam plenamente que não há mandamento positivo para batizar crianças da Aliança, eles citam o que pode parecer ser um número impressionante de pérolas individuais que podem ser amarradas juntas, como um colar bonito e unificado. Este é o princípio da hermenêutica chamado boa e necessária inferência. John Murray afirmou este princípio para o batismo infantil:

Uma das objeções mais convincentes e uma que conclui o argumento para um grande número de pessoas é que não há nenhuma ordem expressa para batizar bebês e nenhum registro no Novo Testamento de um caso claro de batismo infantil. A evidência para o batismo infantil se enquadra na categoria de boa e necessária inferência, e por isso é completamente indefensável demandar que a prova exigida esteja na categoria de ordem expressa ou instância explícita (Batismo Cristão, p. 72).

O problema com essa afirmação é que ela admite inferência do Antigo Testamento a partir da aliança com Abraão para anular o mais evidente e final cumprimento, prescrição e instituição Neotestamentária, pela revelação. De acordo com Murray, alguém teria que apresentar uma ordem ou exemplo contra o batismo infantil para anular sua inferência do Antigo Testamento, mesmo que este nunca fora praticado. Esta é uma posição hermenêuticamente absurda.

O princípio da boa e necessária inferência é legitimamente usado para apoiar a cessação de tais coisas como a revelação escrita e apóstolos modernos. No entanto, nestes casos, a base para tal conclusão é sempre a revelação do Novo Testamento, não implicação do Antigo Testamento. “O Novo está no Antigo, velado; e o Antigo está no Novo, revelado”, é um acordo sobre hermenêutica, que coloca mais autoridade sobre a instituição do Novo Testamento do que sobre a inferência do Antigo Testamento.

Pode haver uma impressionante coleção de pérolas amarradas no cordão da boa e necessária inferência, mas ambos, T. E. Watson e Herman Hoeksema (Crentes e Sua Descendência) já demonstraram amplamente que há discordância suficiente entre os teólogos pactuais pedobatistas em cada pérola específica para justificar um reexame da boa e necessária inferência que lhes amarra todas juntas. Uma vez que este é um breve artigo, simplesmente usarei o livro bem documentado de Watson (Bebês Devem Ser Batiza-dos?) para mostrar que há um sério desacordo em relação às Escrituras específicas entre os principais teólogos Reformados em quase todo ponto e base de apoio ao batismo infantil.

Então, quais são as pérolas no cordão? Desde que eu estou lidando com a minha própria aceitação do pedobatismo, aqui estão as pérolas cuja beleza me fizeram adicioná-las ao meu cordão:

1. A Teologia Pactual do Antigo e Novo Testamentos
2. A Relação entre Circuncisão e Batismo
3. Os Textos de Prova em Relação ao Batismo
4. Atitude de Jesus para com as Crianças
5. A Santificação dos Filhos de Crentes
6. A Disjunção do Batismo de João e o Batismo Cristão
7. O Argumento do Silêncio
8. O Argumento das Bênçãos Ampliadas
9. O Testemunho da Tradição

Eu não lidei com o modo do batismo [aspersão ou imersão] neste artigo, pois a questão dos sujeitos bíblicos do batismo é algo muito mais importante.


A PRIMEIRA PÉROLA

Teologia Pactual no Antigo e Novo Testamentos

A principal base para o batismo de filho da aliança é reivindicada ser encontrada na promessa pactual de Deus de abençoar Abraão e a sua “semente”. Abraão foi justificado pela fé, crendo nas promessas de Deus para ser o seu Deus e fazê-lo o pai de muitas nações (Gênesis 12-17; Romanos 4). Ele e sua “semente” herdariam Canaã, em possessão perpétua. E, o mais importante de tudo, o Senhor prometeu ser o Deus de Abraão e de sua “semente”. Então, Deus concedeu o sinal desta aliança, a saber, a circuncisão a Abraão e à sua “semente” para sempre. Este sinal também deveria ser administrado a todos os homens na família, nascidos e comprados. Desde que Abraão é chamado de pai de todos nós (Romanos 4:16), e uma vez que os Cristãos são chamados de descendência de Abraão (Gálatas 3:29) e herdeiros segundo a promessa, parece “bom e necessário” inferir que o sinal do batismo, do Novo Testamento deve ser aplicado aos filhos de Abraão “semente” da fé como a circuncisão foi aplicada aos filhos de Abraão “semente” da carne (Colossenses 2:11-12). Esta é uma pérola que compele ao batismo infantil.

Os Participantes da Aliança

Várias questões, no entanto, devem ser colocadas a esta conclusão. Em primeiro lugar, se os Cristãos judeus ou gentios são a semente de Abraão, devemos tanto reivindicar a Canaã física como o nosso legítimo território e também a possessão “eterna”? Em segundo lugar, se a circuncisão é um sinal “para sempre” da aliança Abraâmica, então por que a “semente” Neotestamentária de Abraão não continua a circuncisão como um ato religioso? E, em terceiro lugar, os Cristãos devem batizar não somente os filhos, mas também todos os homens comprados ou nascidos em suas casas?

Tem sido frequente a objeção de que não é legítimo identificar tanto filhos e terra física na mesma categoria em relação às promessas pactuais a Abraão. Concordo plenamente. No entanto, o que acontece com os 318 funcionários do sexo masculino da família de Abraão que foram circuncidados, em virtude de que eles estavam na casa de Abraão? Como é este aspecto sobre pessoas na família da Aliança, não sobre terras, na aplicação Neotestamentária do Pacto de Abraão?

Havia uma questão teológica a respeito do batismo dos escravos no período pré-Guerra Civil do Sul entre os Presbiterianos. Meredith Kline tenta lidar com esta questão da aplicação da autoridade pactual doméstica na administração da Nova Aliança sobre a aliança Abraâmica, em seu livro Por Juramento Consignado (pp. 94-102). No entanto, Kline não é claro sobre se o batismo de escravos é ou não uma aplicação legítima na administração da Nova Aliança. Ele se esquiva de dizer que essa prática é legítima por causa do silêncio do Novo Testamento e a dificuldade de disciplina eclesiástica (p. 98). Por outro lado, no mesmo parágrafo, ele parece permitir a plausibilidade do batismo de servo em determinadas situações de missão pela conveniência cultural temporária. A decisão parece ser deixada para a chefe individual da aliança em sua aplicação dos princípios da cultura, da família e da igreja com a sua situação particular. A questão sobre qual é a maneira bíblica de lidar com os próprios escravos nesse sentido realmente não é atendida. O participante da teologia pactual e da Nova Aliança é tão vagamente definido?

Junto com a maioria dos teólogos pactuais, concluo que estes elementos de terra e servo da aliança Abraâmica atualmente não se aplicam ao Novo Testamento Cristão e à igreja, uma vez que o reino de Cristo “não é deste mundo” nem é uma nação teocrática, ainda assim continua sendo o “Israel de Deus” (Gálatas 6:16). A maioria de nós acredita que os Cristãos possuirão a Canaã no Novos Céus e na Nova Terra, mas não na atual administração das coisas. Nem qualquer um acredita seriamente no batismo de servo.

Deve-se entender que só porque houve uma mistura de elementos físicos e espirituais no Pacto de Abraão, não segue implicitamente que os mesmos elementos se aplicam à Nova Aliança. Todos nós sabemos que alguém tornava-se membro da aliança com Abraão pela circuncisão física, mas Deus também convocou a semente de Abraão a circuncidar espiritualmente os seus corações também (Deuteronômio 10:16). Que a Nova Aliança enfatiza a circuncisão espiritual não implica automaticamente que deve haver membros físicos na Nova Aliança, sem um tal coração. Como o pastor Walter Chantry da Grace Baptist Church, Carlisle, Pensilvânia, bem disse: 


Na Antiga Aliança, tudo o que era espiritual era identificado com uma nação exterior. Na Nova Aliança, tudo o que é exterior é identificado com uma nação espiritual.

Portanto, aqueles que aplicam a inclusão Abraâmica de filhos físicos à Nova Aliança como base para o batismo de infantes dos filhos de Cristãos devem também lidar honestamente com as implicações para sempre de Canaã, circuncisão e membresia adulta doméstica na Nova Aliança. Há muita inconsistência aqui para fazer um argumento válido.

Portanto, a questão principal para mim é: como a Escritura aplica as promessas do Antigo Testamento que são dadas a Abraão e à sua “semente” ao cumprimento da Nova Aliança ao Cristão e à igreja? Continuando, para o momento, assumo que o batismo é a contrapartida Neotestamentária da circuncisão, vamos definir a partir da Escritura a essência da Nova Aliança e quem é exatamente a “semente” de Abraão, os que devem receber o sinal e as bênçãos da Nova Aliança.

A Nova Aliança Descrita

Uma das principais passagens que deve ser considerada na definição do significado da Nova Aliança é Jeremias 31. Nos versículos de 27 a 30, Deus declara que, após o cativeiro profetizado, cada homem arcará com a responsabilidade por sua própria condição espiritual diante de Deus de uma maneira nova. Dando continuidade a essa mudança de ênfase para a responsabilidade individual nos vv. 31-34, Deus define uma nova base para a participação na aliança e bênção no Novo Pacto, que é diferente da base para a adesão e bênção na Antiga Aliança. Ao contrastar a Antiga e Nova Aliança, a definição de Deus sobre a diferença é a de renovação do coração em cada um dos membros da Nova Aliança.

Inicialmente, para se tornar um participante da aliança Abraâmica e sua continuação no Sinai, alguém simplesmente teria que nascer na descendência física de Abraão. A membresia física nesta aliança foi representada pela circuncisão, mas alguém era cortado da salvação da aliança se ele não circuncidasse seu coração também (Deuteronômio 10:16). No entanto, é importante notar que muitos que corações nunca foram circuncidados continuaram a participar do Israel visível. Eles não foram visivelmente cortados do povo da Aliança de Deus. Assim, a doutrina do remanescente fiel do Israel físico surgiu nos profetas (Jeremias 23:1-6; 31:7). Este remanescente viria à fruição e cumprimento durante o reinado de “um Renovo de justiça” da linhagem de Davi. É esse remanescente fiel que é erguido nos dias da Nova Aliança (Jeremias 31:7, 32-34).

A participação na Nova Aliança, que “não é semelhante” à Antiga Aliança, é definida como o experimentar da realidade da Religião do coração em cada membro (Jeremias 31:33-34). A Nova Aliança não apenas introduz novas bênçãos. Em vez disso, todos os membros da Nova Aliança, em verdade, têm a Lei escrita em seus corações (Porei a minha lei no seu interior, e a escreverei no seu coração), recebem o perdão dos pecados (porque lhes perdoarei a sua maldade, e nunca mais me lembrarei dos seus pecados) e conhecem o Senhor (porque todos me conhecerão, desde o menor até ao maior deles, diz o Senhor).

Esta definição não diz nada sobre a participação nas bênçãos da Nova Aliança por descendência física somente. Em vez disso, os participantes que Jeremias descreve são o verdadeiro Israel (Gálatas 6:16). Eles são os filhos da promessa, um remanescente fiel de acordo com a “eleição da graça” de Deus (Romanos 9:6-8), em que cada verdadeiro membro conhece o Senhor. Esta Nova Aliança, na qual Deus escreve a Sua Lei no coração de cada um na Aliança, também é definida em Ezequiel 36:24-28 como o tempo em que Deus coloca o Seu Espírito no interior e dá um novo coração que terá o cuidado de observar os Seus preceitos. Esta promessa do Espírito também é falada para toda a casa de Israel, indicando que este novo coração ficará evidente na nação como um todo. De fato, Gálatas 3:14, 29 define o cumprimento da promessa feita a Abraão, na Nova Aliança, como o dom do Espírito para toda a sua “semente”, ou seja, os judeus e gentios crentes (Romanos 4, veja também a exposição sobre a promessa em Atos 2:39, abaixo).

O teólogo pedobatista Herman Ridderbos, acredita que o ensinamento de Jesus sobre o reino de Deus e de Seus membros nascidos de novo é “determinado pela ideia de Aliança”. A referência de Jesus à Nova Aliança sobre Jeremias 31 na Última Ceia afirma esse entendimento. Assim, a ideia do povo de Deus toma um significado mais restrito na Nova Aliança:

O povo de Deus são aqueles por quem Cristo derrama o Seu sangue da Aliança. Eles compartilham da remissão dos pecados trazida por Ele e da comunhão inquebrantável com Deus na Nova Aliança, que Ele tornou possível... À luz de todo o Evangelho, eles são as pessoas que aceitaram a pregação do Evangelho em fé e conversão. São eles, e ninguém mais os que recebem a salvação do reino. Eles são “Israel”, “povo de Deus”, e é a eles que todas as promessas do pacto aplicam-se (Ridderbos, The Coming of the Kingdom [A Vinda do Reino], p. 202).

Portanto, com base em Jeremias 31:31-34 e sua descrição sobre a regeneração dos participantes da Nova Aliança, e à luz da definição dos requisitos de entrada para o reino de Cristo (João 3:5-6) e igreja (Mateus 16:16-18), eu não posso dizer que os filhos de crentes estão “dentro” da Nova Aliança, igreja ou reino ou “povo de Deus” até que eles mostrem, por confissão exterior, evidência de regeneração.

Tem sido objetado que, talvez, Jeremias 31:34 seja uma referência escatológica por causa da declarada falta de necessidade de que alguém ensine o seu próximo e irmão. Portanto, o argumento conclui que isso descreve a igreja triunfante. Não precisamos ensinar uns aos outros na Nova Aliança? Claro! Mas, no discurso a Israel, Deus está se referindo ao próximo e irmãos na Israel da Nova Aliança. Não há necessidade de evangelizar os participantes na Nova Aliança, porque todos conhecem o Senhor! É claro que ensinamos uns aos outros a observar tudo o que Cristo nos ordenou (Mateus 28:18-20). Mas não há necessidade de ensinar os da Nova Aliança a “conhecer o Senhor” porque eles já O conhecem, tendo sido ensinados pelo próprio Deus (João 6:44-45; 1 João 2:27; 1 Tessalonicenses 4:9). Por essa razão, o “menor até o maior”, daqueles na Nova Aliança, é maior do que João Batista, que foi regenerado no ventre (Mateus 11:11). Portanto, eu não estou disposto a admitir que o filho de um crente esteja automaticamente na Nova Aliança e seja, assim, maior do que João, o Batista, até que ele ou ela mostre evidências de regeneração por uma profissão de fé em Cristo. Mesmo que o nosso Deus soberano regenerasse os filhos de crentes no útero, eles não deveriam ser considerados “na” Nova Aliança até que eles mostrassem a evidência de regeneração por meio do arrependimento e da fé. Isso é a ordem e exemplo padrão do Novo Testamento, e precede o batismo Neotestamentário.

O Sacrifício da Nova Aliança

Dizer que todos os filhos físicos dos crentes estão “na” Nova Aliança, como os filhos de Abraão estavam “nos” Pactos Abraâmico e do Sinai viola a doutrina da redenção particular. Hebreus 9 nos lembra que a Aliança de Deus requer a mediação através do sangue. O Cordeiro Pascal trouxe libertação física para todo o Israel, porque todos comeram. A expiação anual (Levítico 16) era oferecida em nome de toda a assembleia, de todo o Israel. É claro que esses sacrifícios não poderiam purificar a consciência, mas seu propósito era para o povo da Aliança de Deus no Velho Testamento. Se o sacrifício de Cristo é oferecido apenas por Seu povo eleito como “o novo testamento no Meu sangue” (Lucas 22:20; Marcos 14:24), como podem os filhos não-regenerados dos crentes serem ditos estar “na” Nova Aliança, igreja, e reino, sem um mediador eficaz? Eles não podem. Na verdade, Hebreus 9:15 define Cristo como um Mediador eficaz da Nova Aliança para assegurar que aqueles que são chamados recebam a promessa da herança eterna. Alguém pode ser dito estar “na” Nova Aliança ou igreja sem um Mediador? Não sobre o fundamento do conceito de igreja no Novo Testamento. Embora todos concordem que os falsos professos foram referidos como membros da igreja pela qual o eficaz sangue de Cristo foi derramado, ainda assim, eles foram assim referidos com base em sua profissão, não com base na fé de seus pais. Mesmo assim, eles deveriam ser expulsos da igreja, se a sua profissão fosse provada ser falsa pelas suas vidas. Entretanto, houve alguma evidência exterior para designá-los como estando “na” igreja. Mas não há nenhuma base clara para dizer que filhos de crentes estão “na” igreja a menos que também eles estejam dispostos a dizer que eles estão “na” “igreja de Deus, que ele resgatou com seu próprio sangue” (Atos 20:28). Não! Se uma criança é dita estar “na” administração do Novo Pacto de uma Aliança de graça e “na” igreja, sem a mediação eficaz, grave violência é feita à verdade bíblica de que Cristo amou a igreja, e a si mesmo se entregou por ela [Efésios 5:25]. Pode ser dito de uma criança não regenerada que ela está “na” igreja através da mediação eficaz de Cristo e nunca receber a salvação? Absolutamente não. Portanto, violência é feita à doutrina da redenção particular.

Aliança da graça requer o sangue de um Mediador eficaz. Cristo é a Circuncisão e o Isaque da aliança Abraâmica. Cristo é o Cordeiro Pascal e a expiação anual para a sua continuidade através do Sinai. E Cristo é o único Mediador do cumprimento da Nova Aliança como o sacrifício eficaz para todos aqueles considerados como estando “na” Nova Aliança, a igreja redimida de Cristo. Estas pessoas redimidas e apenas estas são os participantes da Nova Aliança.

A Semente de Abraão

Isso nos leva à próxima pergunta: exatamente quem são a “semente” da Aliança Abraâmica que devem receber a contrapartida Neotestamentária da circuncisão? Em Romanos 4, onde Abraão é chamado de o pai de todos nós, vemos que Deus cumpriu a Sua promessa a ele para se tornar o pai de muitas nações, definindo sua “semente”, como aqueles que são “da fé de Abraão” (v. 16). Sejam eles incircuncisos ou circuncidados, sua “semente” são aqueles que possuem “a justiça da fé quando estava na incircuncisão” (vv. 11-12). Não há menção aos descendentes físicos de crentes como incluídos no cumprimento Neotestamentário da aliança com Abraão; antes, é somente aqueles que realmente têm obtido “a justiça da fé” ao receber Jesus Cristo (cf. João 1:12-13).

Em Gálatas 3, Paulo indica claramente que a descendência física e circuncisão não têm nenhuma relação necessária para o cumprimento do Pacto de Abraão na Nova Aliança. As promessas da aliança com Abraão foram feitas a Abraão e à sua única “semente”, a saber, Cristo (3:16). Portanto, o cumprimento Neotestamentário da promessa de fazer Abraão o pai de muitas nações é através de Cristo, a sua “semente”, e foi cumprida e todos os que têm fé nEle. A definição real de “semente” de Abraão é: aqueles que são da fé (vv. 7, 9). Se você pertence a Cristo, então você é “semente”, “herdeiro de Abraão, segundo a promessa” (v. 29). A única definição de “semente” de Abraão na Nova Aliança é Cristo e sua “semente” que têm experimentado a realidade da fé salvadora, ou seja, a promessa Abraâmica do Espírito (vv. 14, 29).

Quem é a “semente” de Cristo, a quem pertencem as promessas da Aliança com Abraão? São aqueles que pertencem a Cristo (Gálatas 3:29) e estes somente são revelados por sua fé. Os únicos que têm uma reivindicação à herança de Deus são os filhos de Deus pela regeneração do Espírito (Romanos 8:9, 14-17; João 1:12-14). Portanto, ninguém é considerado um herdeiro das promessas Abraâmicas até que pela fé ele dê evidência de ser uma “semente” de Abraão por meio de Cristo, que é o cumprimento literal da semente de Abraão. E nós “pertencemos a Cristo” somente através da fé que evidencia a regeneração (Gálatas 3:22, 29).

Além disso, se continuarmos a assumir que o batismo é a contrapartida da circuncisão, somos confrontados com o problema do versículo 27, onde todos (sem distinção entre crianças e adultos) que fomos batizados em Cristo somos revestidos de Cristo. É somente o preconceito que impede de definir isso em termos de batismo em água (veja Marston, Are You a Biblical Baptist? [Você é um Batista Bíblico?] pp. 21-22). Paulo está aludindo à sua experiência de união com Cristo, simbolizada por sua experiência confirmatória do batismo em águas. Ninguém diria que todos os participantes da circuncisão da Antiga Aliança experimentaram a realidade da fé salvadora. Nem alguém afirmaria que todos os que recebem o batismo de discípulos têm a fé salvadora. No entanto, o cumprimento Neotestamentário da promessa de Abraão é a uma “semente”, que consiste de todos os que são “da fé”, os quais recebem a promessa Abraâmica do Espírito, e que confessam a sua fé através do batismo como o sinal exterior.

A Aliança com Abraão foi introduzida pela circuncisão; a Nova Aliança é introduzida pela fé em Cristo. Na Nova Aliança, somente a “semente” Abraâmica da fé deve receber o sinal Neotestamentário do batismo.

Agora, você pode estar pensando: Será que isso realmente diz algo que verdadeiramente proíbe a administração do sinal pactual do batismo aos filhos da “semente” Neotestamentária de Abraão? Antes de responder a essa pergunta, primeiramente examinemos as Escrituras para determinar o significado da circuncisão em relação à Nova Aliança.





Autor: Fred A. Malone
Fonte: founders.org
Tradução: Camila Almeida
Via: Estandarte De Cristo




Fred Malone é o pastor da Primeira Igreja Batista em Clinton, Louisiana. Ele recebeu o grau de Mestre em Divindade pelo Reformed Theological Seminary e PhD pela Southwestern Baptist Theological Seminary. Dr. Malone também serve como administrador do Southern Baptist Theological Seminary.