Texto base: Salmo 1.1-6
INTRODUÇÃO
O salmo 1, de autor desconhecido, é uma introdução de todo o livro. Este salmo, juntamente com o salmo 2, não é especificamente uma oração como os demais salmos, mas uma afirmação peremptória. A primeira oração no livro dos salmos começa a partir do salmo 3. Não obstante o Salmo 1 é um salmo de sabedoria, e, portanto, é mais do que uma introdução; ele contém ensinamentos preciosos para nós. Neste salmo, vemos as pessoas inseridas em dois modos de vida e o destino final de ambas.
O esboço analítico do salmo 1 pode ser
dividido em três seções.
Na primeira e na segunda seção, o salmista descreve um profícuo contraste entre duas classes de pessoas em suas respectivas categorias morais e espirituais – o justo e o ímpio (1.1-5). E, na terceira seção, o salmista conclui a sua declaração, mostrando o destino final dos justos e dos ímpios (1.6).
Na primeira e na segunda seção, o salmista descreve um profícuo contraste entre duas classes de pessoas em suas respectivas categorias morais e espirituais – o justo e o ímpio (1.1-5). E, na terceira seção, o salmista conclui a sua declaração, mostrando o destino final dos justos e dos ímpios (1.6).
EXPLANAÇÃO
1. O RETRATO DO JUSTO (1.1-3)
a) A sua condição (vs.1a)
O termo bem aventurado אשך (esher), no hebraico,
é o nome de um dos filhos de Jacó – “Aser” (Gn 30.12-13). A estrutura dessa
palavra, no masculino, é um plural [“alegrias”], e significa que o homem aqui
descrito é “feliz, abençoado”. Na cosmovisão grega, a ideia
de bem-aventurança μακάριος (makarios) era geralmente ligada a algum tipo de
benção terrena, tal como saúde, prosperidade financeira, estabilidade, casamento,
filhos etc., podendo, também, ainda que não exclusivamente, referir-se as
coisas espirituais, como o conhecimento e a paz interior.
No Antigo Testamento, porém, especialmente nos salmos, podemos observar que a bem aventurança ou a
verdadeira felicidade está intrinsecamente relacionada a confiança em Deus (Sl 40.4; 84.12); a estar debaixo da proteção de Deus (Sl 2.12; 34.8); em ser disciplinado e educado por Deus (Sl
94.12); a seguir a lei do Senhor (Sl
119.1-2); ter Deus por auxílio, esperança
e senhor (Sl 146.5); ser escolhido de
Deus para a salvação em Cristo Jesus (Sl 65.4); ter os pecados perdoados (Sl 32.1) e, por fim, temer a Deus e andar em seus caminhos (Sl 128.1).
APLICAÇÃO
PRÁTICA
A condição do homem justo é de plena
felicidade. Todavia, esta felicidade não reside nem tampouco é proporcionada pelo
dinheiro, pelos bens materiais, pelo status social, por amigos, pelo namoro, pelo
casamento, entre outras coisas. Equivocam-se àqueles que pensam que a
felicidade está nas bênçãos, e não no Deus das bênçãos. Antes, quão feliz e abençoado
é o homem que está em Cristo (2Cor 5.17), que foi comprado e resgatado da
escravidão do pecado, da lei e salvo da morte eterna (1Tm 2.6). A posição de
felicidade que o homem bem aventurado e justo se encontra é espiritual. Quem
não está em Cristo, não pode experimentar esta felicidade interna produzida
pelo Espírito Santo.
b) O caráter do justo (vs.1)
O
salmista descreve o justo em sua posição de feliz no aspecto passivo/negativo,
isto é, “o que ele não faz”, enfatizando três classes de pecadores: ímpios, pecadores e escarnecedores;; três manifestações de pecado: andar, deter e assentar; e três caminhos
de pecado: conselho, caminho e roda. Essa sinopse de pecados está
disponível para o justo, entretanto não é praticado por ele; o justo
não anda no conselho dos ímpios, não se detém no caminho dos pecadores e não se
assenta na roda dos escarnecedores. Portanto, vejamos, pois, as três atitudes
“passivo-negativas” do justo – o que ele
não faz.
i. Não
anda no conselho dos ímpios (vs.1b)
Os
ímpios são pessoas deliberada e persistentemente perversas.1 O justo,
por outro lado, é conhecido por aquilo que evita, nas coisas que ele não
faz, no que ele nega.
Todavia, o progresso no pecado começa pelo andar no conselho equivocado que, influenciando a pessoa, culmina na prática moral deste conselho, ainda que não explicitamente. Não andar no conselho dos ímpios implica que a conduta do justo não é adaptada pelos padrões éticos do mundo. A mentalidade do ímpio, por sua vez, é contrária aos padrões de ética estabelecidos por Deus nas Escrituras. Assim, o cristão não geri a sua vida pautando-se no conselho dos ímpios, antes, ele é passivo, evita agir de forma negativa a estes padrões.
Todavia, o progresso no pecado começa pelo andar no conselho equivocado que, influenciando a pessoa, culmina na prática moral deste conselho, ainda que não explicitamente. Não andar no conselho dos ímpios implica que a conduta do justo não é adaptada pelos padrões éticos do mundo. A mentalidade do ímpio, por sua vez, é contrária aos padrões de ética estabelecidos por Deus nas Escrituras. Assim, o cristão não geri a sua vida pautando-se no conselho dos ímpios, antes, ele é passivo, evita agir de forma negativa a estes padrões.
Jó.
21-16 – ... longe de mim o conselho dos
perversos.
O
Antigo Testamento fornece alguns exemplos de pessoas que ruíram por seguirem os
conselhos dos ímpios. Amnon, um dos filhos de Davi, seguiu o mau conselho de
seu amigo Jonadabe e violentou a sua meia irmã, Tamar (2Sm 13.1- 20). Esse
pecado levou à desintegração da família de Davi, onde Absalão,
indignado com o ato sórdido de seu irmão para com a sua irmã, decidiu matá-lo
por vingança (para mais detalhes, veja 2Sm 13.23-36). Roboão, sucessor de
Salomão, recusou dar ouvidos ao conselho dos anciãos sábios e optou por seguir
a recomendação de seus jovens amigos. Como resultado, a nação de Israel se
dividiu em dois reinos que nunca mais se reuniram (1Rs 12-1- 20).
APLICAÇÃO PRÁTICA
O pecado começa com andar, que indica seguir os conselhos pecaminosos na
prática, mas não ainda inelutavelmente, onde o homem, de tal modo envolvido, já
não possui mais forças para libertar-se da prática do pecado e sair da condição
decadente de fraqueza espiritual em que se encontra. Quando
andamos no conselho dos ímpios, pecamos contra o Senhor e desprezamos seu
conselho descrito nas Escrituras. Antes de tomarmos qualquer decisão, seja ela
qual for, devemos aconselhar-nos primeiramente observando o conselho de Deus na
sua Palavra (Pv 19.21), e, em seguida, com pessoas experientes, sábias e de
confiança.
Provérbios
15-22 – Os
planos fracassam por falta de conselho, mas são bem sucedidos quando há muitos
conselheiros. NVI
ii. Não se detém no caminho dos pecadores (vs.1c)
Conforme vimos, o justo não anda no conselho
dos ímpios. Agora, vemos que ele também é passivo nas coisas manifestas,
preferindo não se deter. O
justo não vive da maneira que os pecadores vivem, isto é, no pecado deliberado. “Os pecadores, contudo, são aqueles que erram os alvos
determinados por Deus, mas não se importam com isso”.2
APLICAÇÃO
PRÁTICA
Não se deter no caminho dos pecadores é
não fazer associação, aliança com eles. Em contrapartida, isso também não significa
que o cristão terá de insular-se dos ímpios e não se relacionar com eles de
forma alguma. O salmista não tinha isso em mente. Pelo contrário, não é bom que o
cristão tenha amizade íntima, se relacione amorosamente, nem tampouco se case
com quem não professe a fé no Deus das Escrituras. Podemos e devemos nos relacionar com os ímpios, porém em um nível restrito.
Devemos evitar um relacionamento intrínseco com eles, com exceção do marido,
esposa, filhos e familiares. Nosso maior objetivo para com os ímpios é evangeliza-los, a
fim de que, se for da vontade de Deus, alguns deles venham a ser alcançados e
salvos por Cristo Jesus.
iii. Não
se assenta na roda dos escarnecedores (vs.1d)
Se o justo não anda no conselho dos ímpios,
e não se detém no caminho dos pecadores, ele, desta vez, é passivo e não busca se
assentar na roda dos
escarnecedores. O assentar é o último e o mais torpe estágio de uma vida
arraigada no pecado.
No hebraico, a palavra escarnecedores לךץ (lûs),
traz a ideia de uma pessoa que “faz caretas,
que zomba das coisas divinas; um
imitador sarcástico que ridiculariza pessoas, coisas e, especialmente Deus,
demonstrando um profundo desprezo por esses”. Warren Wiersbe diz que os escarnecedores são aqueles que
fazem pouco das leis de Deus e ridicularizam aquilo que é sagrado.3 O
homem neste estado é peremptoriamente obstinado pelo hábito de uma vida
pecaminosa.
Hermisten maia sintetiza que esse homem
familiarizou-se com os conselhos dos ímpios;
daí, ele passa, então, a se deter com uma curiosidade mais intensa no caminho
dos pecadores e, por fim,
se assenta na roda dos escarnecedores.
Aqui há um agravamento de sua situação pecaminosa: ele passa a
zombar das coisas santas.4 Derek Kidner afirma que as
três frases mostram três aspectos, e, realmente, três graus de separação de
Deus, ao retratarem a conformidade a este mundo em três níveis diferentes: a
aceitação dos seus conselhos, a participação dos seus costumes e a adoção da
sua atitude mais fatal.5
APLICAÇÃO PRÁTICA
John Stott ressalta que o
justo não modela sua conduta pelo conselho de pessoas más. E mais, os justos
não se demoram na companhia de ímpios persistentes; muito menos ficam “permanentemente”
[ainda que estejam sujeitos temporariamente – minha ênfase] entre os cínicos
que zombam de Deus abertamente.6 Calvino, por sua vez, complementa,
observando que, mesmo que uma pessoa, em especial, o cristão, não tenha todo o
aviltamento provido dos maus exemplos, no entanto é possível que se assemelhe
aos escarnecedores perversos, ao imitar espontaneamente seus hábitos corruptos.7
c) As virtudes do justo
(vs.2)
Após delinear o aspecto passivo/negativo
do justo, acentuando aquilo que ele não faz, o salmista, agora, mostra o justo
em sua posição de felicidade no aspecto “ativo/positivo” (vs.2-3), ou seja, aquilo que ele faz. Sendo assim,
vejamos, então, as três atitudes “ativo/positivas” do justo – a saber – o que o justo faz.
i. Tem
prazer na lei do Senhor (vs.2a)
Em vez de andar no conselho dos ímpios, se
deter no caminho dos pecadores, e se assentar na roda dos escarnecedores, o
homem feliz é caracterizado pelo prazer que tem na lei de Deus. O substantivo prazer ץפע
(hephes), no hebraico, sublinha “um desejo por algo valioso”. Basicamente traz a
ideia de “inclinar-se para algo com interesse nesse algo”. A expressão lei do Senhor refere-se não apenas à
lei de Moisés [o pentateuco], mas a toda lei de Deus na Escritura.
APLICAÇÃO PRÁTICA
É preciso que cultivemos o hábito de ler
a Palavra e descobrir dentro de um processo de aprendizado o prazer em
cumpri-la. O prazer na Palavra faz com que direcionemos nossos pensamentos e
corações para ela. Ao
invés de alimentarmos mágoas, ressentimentos e desejos de vingança, buscamos na
Palavra, que é o nosso prazer, o suprimento para as nossas necessidades e a
orientação em nossas decisões. Quando descobrimos o prazer na Palavra de Deus,
passamos mais tempo lendo e refletindo sobre os seus ensinamentos.8
Salmo 119.24 – Teus testemunhos são meu prazer e meus conselheiros. Almeida
Século 21
Salmo 112.1 – Bem aventurado o homem que teme ao Senhor e tem grande satisfação em
seus mandamentos. Almeida Século 21
Salmo
40.8 – ... agrada-me fazer a tua vontade,
ó Deus meu; dentro do meu coração, está a tua lei.
ii. Medita
na lei do Senhor de dia e de noite... (vs.2b)
Do prazer pelas Escrituras e pela sua
observância na vida prática nasce o desejo de meditar nela diligentemente, de
dia e de noite. No hebraico, o termo medita
הנה
(haghah), significa “refletir; contemplar algo; pensar detidamente; proferir
palavras com voz baixa e suave”. Esse verbo representa algo tranquilo
diferente do sentido de meditação enquanto exercício mental.
No pensamento hebraico, meditar nas Escrituras é repeti-las calmamente em som suave e baixo, abandonando interiormente as distrações exteriores. Dessa tradição vem um tipo especial de oração judaica chamada reza, ou seja, recitação de textos, oração intensa ou estar absorto em comunhão com Deus, curvando-se ou balançando-se para frente e para trás. Essa forma dinâmica de meditação remonta evidentemente ao tempo de Davi.9
No pensamento hebraico, meditar nas Escrituras é repeti-las calmamente em som suave e baixo, abandonando interiormente as distrações exteriores. Dessa tradição vem um tipo especial de oração judaica chamada reza, ou seja, recitação de textos, oração intensa ou estar absorto em comunhão com Deus, curvando-se ou balançando-se para frente e para trás. Essa forma dinâmica de meditação remonta evidentemente ao tempo de Davi.9
APLICAÇÃO PRÁTICA
O
verbo meditar, em sua origem latina,
significa, entre outras coisas, “preparar para a ação”. A meditação nas
Escrituras, portanto, não é um fim em si mesmo; antes, o seu propósito é
conduzir-nos a viver na prática aquilo que meditamos.
J.I. Packer corrobora que a meditação é o
ato de trazer à mente as várias coisas conhecidas sobre os procedimentos, as
peculiaridades, os propósitos e as promessas de Deus; pensar, deter-se nelas e
aplicá-las à própria vida.10 O meditar na Palavra e nos feitos de
Deus, salienta Hermisten Maia, é uma prática abençoadora pelo fato de ocupar
nossas mentes e corações com o que realmente importa; estimula a nossa gratidão
e perseverança em meio às angustias.11
É lamentável como muitos cristãos não têm o prazer de meditar na lei do Senhor de dia e de
noite. Que venhamos a estar continuamente meditando nas Escrituras, pois é desse
ato que procede o crescimento na santificação (Jo 17.17). Charles
Hodge assevera que não podemos fazer progresso na santidade a menos que
empreguemos mais tempo lendo e ouvindo a Palavra de Deus, e meditando sobre
ela, pois é ela que é a verdade pela qual somos santificados.12 Sendo
assim, o homem bem aventurado e justo é aquele que ama meditar e obedecer a lei
do Senhor.
Josué 1.8 – ... antes, medite nele [no livro da lei] de dia e de noite, para que tenha cuidado
de fazer segundo tudo quanto nele está escrito; então, farás prosperar o teu
caminho e serás bem sucedido.
d) A posição do justo (vs.3)
Além
de ter apontado o estado de bem aventurança e o caráter do homem justo
(vs.1-2), o salmista, agora, lista três aspectos de sua posição na graça de
Deus. Então, quais são as virtudes do justo?
i. Estável
na vida cristã (vs.3a)
Fazendo uso de uma metáfora, o salmista
diz que o justo é como árvore plantada à beira de águas correntes. NVI Por causa
do solo essencialmente árido em Israel no Antigo Testamento, uma árvore
frondosa servia como um símbolo apropriado de benção.
A palavra plantada indica que o justo
não tem raízes acidentalmente e nem tem iniciativa própria de plantar-se.
Árvores não são plantadas sozinhas e nem pecadores se transportam sozinhos pela
vontade própria para o reino de Deus. O pecador é morto espiritualmente e incapaz
de se voltar para Deus em arrependimento e fé (Ef 2.1-3; Rm 3.10-11). Contudo, o justo foi enraizado
junto a correntes de águas ARA, que
simboliza a graça maravilhosa de Deus que o vivificou e salvou da morte eterna.
“Não somos capazes de nos nutrir nem de nos sustentar por nossa própria conta;
precisamos estar arraigados em Cristo e nos alimentar de seu poder espiritual”.13 Logo, o propósito de Deus em
plantar o homem no solo fértil de sua graça divina por meio de Cristo Jesus é
viver uma vida que o glorifica, o que veremos mais detidamente a seguir, como
outra virtude do justo.
ii. Produz
frutos (vs.3b)
O propósito de Deus plantar o homem no
solo fértil da sua graça é a produção de frutos de justiça que glorifiquem o
seu nome (Jo 15.16). O homem não é salvo pelas obras, mas para as boas obras;
em outras palavras, não pelos bons frutos, mas para os bons frutos (Ef 2.10).
Note que a árvore não dá o seu fruto logo após ser é plantada, mas sim, na
estação própria, no tempo certo, no tempo de Deus.
APLICAÇÃO PRÁTICA
Os frutos aqui são variados, e podem se
referir a uma vida piedosa, o serviço diligente na obra do Senhor, contribuir
financeiramente, evangelizar, presença frequente nos cultos, entre outras
coisas. Desse modo, percebemos aqui um incentivo à perseverança na fidelidade
a Deus, pois a obediência aos seus preceitos produz frutos, porém não
imediatos, mas no tempo certo, e em alegria iremos colhê-los. Nem sempre vamos colher todos
os frutos nesta vida como resultado da nossa dedicação a Deus. Mas, na
eternidade, quando estivermos na terra restaurada, iremos colher todos os
frutos, como resultado do nosso serviço e obediência ao Senhor prestados neste mundo.
William McDonald escreve:
O homem que está separado do
pecado e separado para as Escrituras tem todas as qualidades de uma árvore
forte, saudável e frutífera plantada junto a ribeiros de águas – ele tem
suprimento de alimento e refrigério que nunca falha. Isso faz com que seus
frutos aparecem na estação apropriada. Ele mostra a graça do Espírito, e suas
palavras e ações são sempre oportunas. Suas folhas também não murcharão – sua
vida espiritual não está sujeita a mudanças cíclicas, mas é caracterizada pela
renovação contínua interior.14
As intempéries que sobrevêm na vida do
homem bem aventurado não tem o poder de fazer murchar “suas folhas verdes”,
tirando a sua alegria de servir a Deus em fidelidade e permanecer firme em seus
caminhos. O homem bem aventurado,
sobretudo, é uma árvore plantada; suas raízes estão arraigadas no solo da graça
divina, onde ele tem todos os nutrientes para permanecer firme e crescer com
vigor espiritual. As árvores plantadas pelo Senhor podem até se secar durante
um tempo, que implica um período de fraqueza espiritual e pecado que o cristão
está passível a cair. No entanto, a árvore plantada no
solo da graça não pode morrer, ou, em outras palavras, não pode apostatar-se da
fé, rejeitando o Senhor Jesus. A árvore que morre nunca foi plantada por Deus, nunca nasceu do alto.
Jeremias 17.7-8 – Bendito o
homem que confia no Senhor, e cuja esperança é o Senhor. Porque ele é como a árvore plantada junto às
águas, que estende as suas raízes para o ribeiro e não receia quando vem o calor, mas a sua folha fica verde;
e no ano de sequidão não se
perturba nem deixa de dar fruto.
João
6.39 – E a vontade daquele que me enviou é esta: que eu não perca nenhum de
todos os que me deu, mas que eu o ressuscite no último dia. Almeida Século
21
João
10.28 – Dou-lhes [as minhas ovelhas] a vida eterna, e jamais
perecerão; e ninguém as arrancará da minha mão. Almeida Século 21
Hermisten
Maia ressalta que, assim como as árvores se alimentam e se solidificam por meio
de suas raízes, o fiel se nutre espiritualmente, fortalecendo a sua fé em Deus
por meio da meditação sincera e constante na Sua Palavra.15
iii.
É bem sucedido por Deus (vs.3c)
A
vida bem sucedida que o salmista e as Escrituras enfatizam não é financeira,
necessariamente [embora seja possível, se Deus quiser], mas está associada especificamente a vida espiritual e a observância da lei do Senhor (vs.2). A
verdadeira prosperidade é uma abundância da graça divina em nossa vida, que nos
é proporcionada como o resultado de uma vida frutífera para a glória de Deus. A
nossa prosperidade, sobretudo, é Cristo ardendo em nós; é o Espírito de Deus
que transforma a nossa vida.
2. O RETRATO DO ÍMPIO (1.4-6)
a) O estado do ímpio (vs.4a)
Existe aqui um contraste rigidamente definido.
O salmista pinta a superficialidade dos ímpios com um duplo negativo – não e assim, tanto em sua conduta como no seu estado de aparente “felicidade”.
O dinheiro e a vida bem sucedida que muitos ímpios desfrutam não são e não
podem trazer a verdadeira felicidade. Ao
contrário dos justos, os ímpios não são descritos como árvores, uma vez que
estão mortos em seus pecados e não possuem raízes.
b) O caráter do ímpio
(vs.4b)
Se a vida do perverso não pode sequer ser comparada
a uma árvore plantada aos ribeiros de águas, tampouco pode ser comparada a uma
árvore seca. O ímpio é comparado pelo salmista como a palha que o vento dispersa.
A palha é uma imagem comum no AT. Extraída das épocas de colheita de trigo, essa
figura também foi usada por João Batista em sua mensagem, onde conclamava o
povo de Israel ao arrependimento (Mt 3.7-12). O trigo era debulhado numa
superfície dura e plana, sobre um monte, e exposto ao vento. O trigo era
erguido por pás e jogado para cima. Os grãos preciosos, então, caíam e eram
recolhidos, enquanto que as palhas leves eram espalhadas pelo vento.
A palha é composta de cascas de grãos
vazias, não tem peso substancial para estabilizar-se e é facilmente levada
pelos ventos da adversidade. Pelo modo de peneiração do oriente contra o vento,
a palha era totalmente espalhada. Assim é o ímpio que vive superficialmente e
não tem raízes na graça de Deus, pois é morto espiritualmente. Os ímpios não estão plantados
junto a corrente de águas, isto é, na palavra de Deus, e, portanto, não são
salvos. Não possuem valor algum, são facilmente levados pelo vento porque são
leves, estéreis e vazios da presença de Deus em amor.16
c)
A
condenação dupla dos ímpios (vs.5)
i. O
destino final dos perversos (vs.5a)
A conjunção por isso introduz a indubitável conclusão de que os perversos, no
último dia, serão reprovados por Jesus Cristo no julgamento. Henry Law escreve:
O julgamento está próximo. O
juiz está às portas. O grande trono branco em breve será estabelecido. Os
mortos serão julgados pelas coisas escritas nos livros, de acordo com suas
obras. Eles não podem fugir desse tribunal terrível. Nenhuma máscara pode ocultar
a culpa deles. Seus pecados estão todos registrados. Nenhum sangue apagou as
manchas. Eles não buscaram o mérito do salvador. Não tiveram interesse na cruz
salvadora. Eles não podem
permanecer.17
Mateus 25.46 – E irão estes para o castigo eterno...
ii. A
separação dos pecadores da congregação dos justos (vs.5b)
A
expressão congregação dos justos se
refere a um grupo de pessoas e nações sobre os quais Deus preside como
governante (veja como exemplo o Sl 7.7-8). Essa expressão também tem
conotação escatológica, e denota que os ímpios não farão parte da comunidade
dos justos na eternidade, na terra restaurada.
Matthew
Henry chama a atenção para o fato de que o joio pode estar no meio do trigo por
um tempo [na igreja – minha ênfase], porém vem aquele que tem em sua mão a
foice afiada e que limpará o seu solo completamente. Os que por seus próprios
pecados e atitudes néscias são como o joio, encontrar-se-ão diante do
redemoinho e do fogo da ira divina.18 Warren Wiersbe completa,
dizendo que, quando o dia do julgamento chegar, o senhor, o justo juiz,
separará o trigo do joio, as ovelhas dos bodes e os grãos da palha, e nenhum
incrédulo poderá reunir-se com os justos.19
3. DUAS VIDAS E DOIS DESTINOS
DIFERENTES (1.6)
A base que determinará o julgamento de
Deus sobre essas duas classes de pessoas é o conhecimento que ele possui de
ambos. “O conhecimento refere-se a todo o curso de vida, incluindo o que a
motiva, o que ela produz e onde termina”.20 Este conhecimento de Deus é
denominado de onisciência, que é o conhecimento que ele tem de todas as
possibilidades (veja como exemplo Mt 11.20-21) e eventos concretos
preordenados pela sua soberania que ocorrem no tempo. Vejamos, então, o
conhecimento que Deus tem do justo e do ímpio.
a) O caminho do justo
(vs.6a)
O verbo conhecer,
aqui, assinala que Deus não apenas conhece a vida do justo. O conhecimento que Deus possui
do justo significa que, desde a eternidade, antes da criação, ele o conheceu, o
predestinou, o chamou, o justificou e o glorificou para
a sua glória (Rm 8.29-30). Destarte, o justo nunca há de perecer, uma vez que é
guardado por Deus para a consumação da salvação, a qual se dará no último dia
(1Pe 1.5).
b)
O
caminho dos ímpios (vs.6b)
O mesmo conhecimento que Deus possui da vida
do justo se aplica ao conhecimento que ele também possui da vida do ímpio. Entretanto,
o conhecimento que Deus tem do ímpio é uma antítese do conhecimento que ele tem
do justo no que tange a salvação eterna. O ímpio, de coração obdurado, que
permanece na incredulidade até o fim de sua vida, demonstra que não foi escolhido
por Deus. Eles são “entregues” por Deus aos seus desejos pecaminosos como
resultado do seu decreto, onde os quais não serão, mas “já estão” condenados
à justa punição eterna no lago de fogo.
João 3.18 – Quem nele não crê não é julgado; o que não crê já está julgado,
porquanto não crê no nome do unigênito Filho de Deus.
CONCLUSÃO
Os dois modos de vida apresentados no salmo 1 determina o destino final dos que o seguem. O justo, que é ó homem bem aventurado, obedece aos preceitos de Deus e tem prazer em esmerar-se nas Escrituras para o crescimento espiritual. O ímpio, por sua vez, não é assim; pelo contrário, ele não obedece aos mandamentos de Deus, não tem prazer, não deseja e ignora as Escrituras.
O salmo 1 termina com uma solene
advertência acerca da importância de vivermos uma vida cristã diligente e
frutífera para a glória Deus com vista no julgamento final. Assim, por amor a
Deus, ficará provado quem é justo e verdadeiro cristão, e quem é ímpio e falso
cristão. Jesus disse que aquele que o amar verdadeiramente obedecerá aos seus
mandamentos (Jo 14.15). O cumprimento dos preceitos de Deus é uma das maiores
evidências do verdadeiro cristão.
NOTAS:
1 Warren
Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 88.
2 Ibid.
3 Ibid.
4 Hermisten
Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
6
Calvino. Comentário de Salmos – Vol 1, pág 45.
7 John
Stott. Salmos Favoritos, selecionados
e comentados – Abba Press, 1997, pág 8.
8 Hermisten
Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
9 Dicionário
Hebraico do Antigo Testamento James Strong, pág 1601.
10 J.I.
Packer. O Conhecimento de Deus, pág 17.
11 Hermisten
Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
12 Charles
Hodge. O Caminho da Vida, New
York: Sociedade Americana de Tratados, pág. 294.
13 Warren
Wiersbe. Comentário Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 88.
14 William
McDonald. Believers Commentary.
15 Hermisten
Maia Pereira da Costa. Citação extraída do seu artigo disponível em: http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/EST/DIRETOR/Salmo_1_-_O_Homem_Bem-Aventurado.pdf
16 John Stott. A Bíblia toda, o ano todo, pág 94.
17 Henry Law. Psalms.
18 Matthew Henry. Comentário Bíblico transcrito e
adaptado, pág 398.
19 Warren Wiersbe. Comentário
Bíblico Expositivo. Antigo Testamento, vol 3, pág 89.
20 Thomas L. Constable. Nots on Psalms.
Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21