Um amigo perguntou: “Nós, como
cristãos, estamos perdendo muitas das bênçãos de Deus por não jejuar? Eu
entendo que o jejum não é um mandamento, mas nossa vida de oração não seria
melhor e mais agradável a Deus se jejuássemos?”.
Em resposta, diríamos, em
primeiro lugar, que não estamos convencidos que o jejum não seja um mandamento
no Novo Testamento. O jejum é mencionado aproximadamente 30 vezes no Novo
Testamento e não há nenhuma passagem que sequer sugira que o jejum não é mais
ordenado ou requerido por Deus, ou que o jejum seja algo tão sem importância
que pode ser negligenciado pelos cristãos.
Há várias passagens nas quais,
de uma maneira ou de outra, fica claro que o jejum é requerido no Novo
Testamento bem como no Antigo Testamento, sendo a única diferença o fato que
não há promulgações de dias de jejum no Novo Testamento. Jesus, no Sermão do
Monte, tomou como certo que seu povo jejua (Mt. 6:16-18) quando apresentou
regras para o jejum. E, ao colocar o jejum ao lado da oração na mesma passagem,
ele enfatizou sua importância.
Em Mateus 17:21, ele até mesmo
ordena o jejum quando nos assegura que ele é uma arma necessária na luta contra
Satanás (cf. também Mc 9:29). Da mesma forma, em 1 Coríntios 7:5, o Apóstolo
Paulo assume que os maridos e esposas jejuam, algo tão importante que é a única
coisa, além da oração, que pode interferir nas relações sexuais.
Apoiando esses mandamentos,
temos no Novo Testamento os exemplos do próprio Jesus (Mt 4:2), dos apóstolos
(At 14:23; 2Co 6:5; 11:27), da igreja (At 13:2,3) e de crentes em geral (Lc 2:37). Além do mais, é claro a partir do Novo Testamento que o jejum é
importante não somente como um exercício na piedade individual (Mt 6:16-18;
Lc 2:37; 1Co 7:5), mas também na tarefa da igreja (At 13:2-3, 14:23). O
livro de Atos indica que o jejum tem um papel importante na ordenação de
presbíteros, diáconos e pastores na igreja.
Nesse aspecto, poderíamos observar que há até mesmo certo
fundamento no Novo Testamento para que a igreja declare jejuns ou dias de
jejum. Essa certamente é a posição da Confissão de Fé de Westminster (XXI, 5).
Ali, o jejum é contado como uma parte necessária da adoração religiosa, e
“jejuns solenes e ações de graças em ocasiões especiais” são recomendados.
Há tipos diferentes de jejuns
mencionados na Escritura. Há jejuns públicos e privados, como vimos. Há jejuns
totais e parciais (Ed 10:6; Dn 10:2,3): jejuns de pão e água bem como jejuns
nos quais a pessoa se abstém completamente de comida. Mas é claro que a
Escritura promove o jejum.
Portanto, o fato da Escritura
estabelecer certas regras para o jejum (como em Mt 6:16-18) não deve ser
incompreendido, como se a Escritura desencorajasse o jejum. Não pode haver
nenhuma dúvida que o jejum não somente é necessário, mas proveitoso, e está no
mesmo nível da oração entre os exercícios espirituais aos quais os cristãos são
chamados.
Contudo, devemos entender que
o benefício do jejum não provém de ficar sem comida por um período de tempo,
mas da autonegação que é parte do jejum. Jejuamos com o objetivo de negar a
carne, e nos entregar totalmente às coisas espirituais. Uma barriga vazia em si
mesma não é uma bênção, mas se torna uma bênção e uma ajuda, quando nosso
sofrimento de fome nos lembra que devemos, acima de tudo, ter fome e sede de
justiça (Mt 5:6) – que não podemos viver somente de pão, mas devemos viver de
toda palavra que sai da boca de Deus (Mt 4:4).
Que Deus possa nos dar graça
para não negligenciarmos esse importante exercício espiritual. Que atentemos ao
mandamento para se voltar ao Senhor com jejum (Joel 2:12).
Autor: Ronald Hanko
Fonte:
Theological Bulletin, Vol. 7, nº. 19.
Tradução:
Felipe Sabino
Via:
Monergismo