O uso da mágica na oração é
outro sinal de nossa alienação de Deus. A mágica aparece mais claramente nas
orações das religiões em que os deuses não são conhecidos, e nas quais
encantamentos são necessários, a fim de convencer o deus a liberar seu poder. A
mágica também pode aparecer, mais sutilmente, nas orações das pessoas que
ficaram horrorizadas em pensar que estão envolvidas na mágica. É alarmantemente
fácil para a oração tornar-se uma espécie de artifício mágico, usado para
obtermos aquilo que desejamos.
Há muitos exemplos da
contaminação da verdadeira oração pela mágica. Em lugares de peregrinação, como
Lourdes, e em muitas capelas, as pessoas que fazem pedidos de oração deixam
bilhetes pendurados nas paredes, juntamente com fotografias de seus entes queridos
e acendem velas frequentemente com o propósito de invocar a Deus para que
atenda às suas necessidades.
Outros que desprezam essa
forma de fé incorporam às suas orações suas próprias versões de magia. Numa
reunião de oração carismática, com forte carga emocional, existe a expectativa
de que se o grupo orar fervorosamente em línguas, a oração será mais “real” e,
portanto, respondida. Para se ter uma “boa reunião de oração”, basta adotar o
ritmo apropriado, acelerar os batimentos cardíacos e levantar a voz
histericamente. As pessoas que visitam santuários, acendem velas ou oram em
êxtase são obviamente sinceras; mas a pergunta se faz necessária: essas são as
maneiras de conhecer a Deus mais intimamente?
No Ocidente, saúde e riquezas
são obsessões modernas. Outra tendência, portanto, é supor que Deus tenciona
que tenhamos esses bens. Julgamos ter todo o direito de pedir por eles, e,
assim, a oração é introduzida para fazer a mágica atuar em nosso favor. Em
muitos grupos religiosos, pessoas com deficiências permanentes têm sido
recriminadas por não terem “fé suficiente” para serem curadas de seus males.
Uma jovem paralítica foi duramente criticada por sua mãe devota por não ter se
levantado de sua cadeira de rodas para entrar na igreja, como dama de honra de
sua irmã. Enquanto isso, na bolsa de valores, alguns corretores acham que a
oração os ajudará a ganhar uma bolada. Afinal, a Bíblia diz que seu Pai celeste
“possui o gado de mil colinas” –– expressão que indica que Deus é fabulosamente
rico.
A mágica também entra, quando
as pessoas usam a oração como meio de fugirem às suas responsabilidades. Uma
pessoa pede uma ajuda concreta, mas o outro lhe responde: “Bem, terei de orar a
respeito disso”. Essa resposta que soa impressionante pode, na realidade, estar
encobrindo uma série de usos indevidos e perigosos da oração. Estarei
simplesmente evitando algo que eu não quero fazer? Estarei tentando buscar
ajuda divina quando Deus me deu a responsabilidade de agir imediatamente? Ou
estou pedindo que Deus intervenha magicamente, para que eu possa evitar minhas
responsabilidades na situação? Esses truques mostram quão facilmente podemos
apelar para a mágica nas nossas orações, escondendo-nos da realidade e
entregando-nos à irresponsabilidade pessoal.
Em uma peça de Berthold
Brecht, o dramaturgo alemão, os habitantes de uma cidade sitiada ficam
paralisados de medo ao saberem que o inimigo se aproxima. Todos começam a orar
com temor. Em contraste com isso, a jovem surda-muda da comunidade, Katarina,
sobe no teto de um celeiro levando um tambor de aço. Ela bate no tambor, o
inimigo pensa que se trata do som de um pelotão aliado que se aproxima, e bate
em retirada. A trama pode ser um pouco improvável, mas a mensagem é realista.
Não devemos esperar que um Deus pessoal, que ouve as nossas orações, responda
às nossas solicitações com exibições de mágica quando nós temos nosso próprio
papel a desempenhar.