24 de março de 2016

A oração como mágica


O uso da mágica na oração é outro sinal de nossa alienação de Deus. A mágica aparece mais claramente nas orações das religiões em que os deuses não são conhecidos, e nas quais encantamentos são necessários, a fim de convencer o deus a liberar seu poder. A mágica também pode aparecer, mais sutilmente, nas orações das pessoas que ficaram horrorizadas em pensar que estão envolvidas na mágica. É alarmantemente fácil para a oração tornar-se uma espécie de artifício mágico, usado para obtermos aquilo que desejamos. 

Há muitos exemplos da contaminação da verdadeira oração pela mágica. Em lugares de peregrinação, como Lourdes, e em muitas capelas, as pessoas que fazem pedidos de oração deixam bilhetes pendurados nas paredes, juntamente com fotografias de seus entes queridos e acendem velas frequentemente com o propósito de invocar a Deus para que atenda às suas necessidades.

Outros que desprezam essa forma de fé incorporam às suas orações suas próprias versões de magia. Numa reunião de oração carismática, com forte carga emocional, existe a expectativa de que se o grupo orar fervorosamente em línguas, a oração será mais “real” e, portanto, respondida. Para se ter uma “boa reunião de oração”, basta adotar o ritmo apropriado, acelerar os batimentos cardíacos e levantar a voz histericamente. As pessoas que visitam santuários, acendem velas ou oram em êxtase são obviamente sinceras; mas a pergunta se faz necessária: essas são as maneiras de conhecer a Deus mais intimamente?

No Ocidente, saúde e riquezas são obsessões modernas. Outra tendência, portanto, é supor que Deus tenciona que tenhamos esses bens. Julgamos ter todo o direito de pedir por eles, e, assim, a oração é introduzida para fazer a mágica atuar em nosso favor. Em muitos grupos religiosos, pessoas com deficiências permanentes têm sido recriminadas por não terem “fé suficiente” para serem curadas de seus males. Uma jovem paralítica foi duramente criticada por sua mãe devota por não ter se levantado de sua cadeira de rodas para entrar na igreja, como dama de honra de sua irmã. Enquanto isso, na bolsa de valores, alguns corretores acham que a oração os ajudará a ganhar uma bolada. Afinal, a Bíblia diz que seu Pai celeste “possui o gado de mil colinas” –– expressão que indica que Deus é fabulosamente rico.

A mágica também entra, quando as pessoas usam a oração como meio de fugirem às suas responsabilidades. Uma pessoa pede uma ajuda concreta, mas o outro lhe responde: “Bem, terei de orar a respeito disso”. Essa resposta que soa impressionante pode, na realidade, estar encobrindo uma série de usos indevidos e perigosos da oração. Estarei simplesmente evitando algo que eu não quero fazer? Estarei tentando buscar ajuda divina quando Deus me deu a responsabilidade de agir imediatamente? Ou estou pedindo que Deus intervenha magicamente, para que eu possa evitar minhas responsabilidades na situação? Esses truques mostram quão facilmente podemos apelar para a mágica nas nossas orações, escondendo-nos da realidade e entregando-nos à irresponsabilidade pessoal.

Em uma peça de Berthold Brecht, o dramaturgo alemão, os habitantes de uma cidade sitiada ficam paralisados de medo ao saberem que o inimigo se aproxima. Todos começam a orar com temor. Em contraste com isso, a jovem surda-muda da comunidade, Katarina, sobe no teto de um celeiro levando um tambor de aço. Ela bate no tambor, o inimigo pensa que se trata do som de um pelotão aliado que se aproxima, e bate em retirada. A trama pode ser um pouco improvável, mas a mensagem é realista. Não devemos esperar que um Deus pessoal, que ouve as nossas orações, responda às nossas solicitações com exibições de mágica quando nós temos nosso próprio papel a desempenhar. 




Autor: James Houston
Fonte: Monergismo