15 de março de 2016

Uma Chamada à Maturidade


A ideia de maturidade vem daquilo que está pronto, que atingiu sua condição plena, daquilo que é… maduro. Uma definição de dicionário diz que maduro é o estado, condição (de estrutura, forma, função ou organismo) num estágio adulto; condição de plenitude em arte, saber ou habilidade adquirida ‹ m. intelectual › ‹ m. emocional › ‹ m. de comportamento › Esta palavra vem do latim matūrus, a, um ‘que se produz no bom momento, na hora favorável’, daí, ‘maduro, é o que chega a pleno desenvolvimento, oportuno, tempestivo’.

Quando falamos do fruto da terra, dizemos que está maduro quando, havendo atingido seu completo desenvolvimento, pode ser colhido, consumido ou semeado. De fato, quando experimentamos um fruto, sabemos dizer se está maduro – e, quando está imaturo, também sabemos.

A noção bíblica de maturidade, todavia, poderá contrastar um pouco com as noções mais populares, mundanas ou seculares, como queiram. Pois, via de regra, assume-se que a infância e juventude estão ligados à insensatez, aos ímpetos, aos desvarios e devaneios, à imaturidade.

Isso é verdade, de modo geral. Em Provérbios 22.15 lemos que a estultícia está no coração da criança, mas também encontramos nas Escrituras exemplos de jovens muito maduros, como Timóteo – cuja juventude não devia ser desprezada; como Davi, que ainda adolescente assumiu uma postura humilde e determinada diante de enormes responsabilidades;  Joás, com apenas sete anos de idade foi feito rei de Israel e fez o que era reto diante de Deus, enquanto esteve debaixo da supervisão do sacerdote Joiada; Ezequias, outro rei justo de Judá, iniciou seu reinado com 25 anos e fez grandes reformas religiosas na nação, agindo com sabedoria e graça. O próprio Senhor Jesus Cristo, com 12 anos de idade, já ensinava no templo, era jovem obediente aos seus pais, humilde, manso e sábio. Exibia já naquela altura imensa maturidade.

A maturidade, ainda mais, tem sido associada à capacidade de assumir responsabilidades, em estar pronto para encarar as durezas e dificuldades da vida, em ser adulto e tomar decisões difíceis, em entender situações complexas. Maturidade é, então, muitas vezes, associada à idade avançada. Mas, cautela! Na mentalidade mais secularizada, alguns pecados são justificados – ou, pelo menos, explicados – com sendo próprios da vida adulta, ou mesmo da vida madura. Adultério, cobiça, complacência, para nomear alguns poucos, são males que afetam os mais “maduros”.

Então, associar a maturidade à idade pode ser um erro. O autor austríaco do século XIX, Hugo Hoffmanstall, em sua obra “O Livro dos Amigos”, disse que:

Crianças precoces e velhos imaturos há bastantes em certos estados em que o mundo por vezes se encontra.

O poeta português Antero de Quental, aliás, fez um duro desagravo a um rival seu, homem já velho, dizendo:

Levanto-me quando os cabelos brancos de V. Exa. passam diante de mim. Mas o travesso cérebro que está debaixo e as garridas e pequeninas coisas que saem dele, confesso, não merecem nem admiração nem respeito nem ainda estima. A futilidade num velho desgosta-me tanto como a gravidade numa criança. V.Exa. precisa menos cinquenta anos de idade ou, então, mais cinquenta de reflexão. É por esses motivos todos que lamento do fundo da alma não me poder confessar, como desejava, de V.Exa. nem admirador nem respeitador.

As Escrituras nos ensinam que devemos honrar às cãs – os cabelos brancos – porque, normalmente estão associadas à experiência e à sabedoria, mas é preciso reconhecer que nem sempre isso é uma realidade. Abraão já era homem velho quando, por medo de homens, mentiu a respeito de sua esposa – duas vezes! Ló já era homem velho quando coabitou com suas duas filhas e Noé era bem idoso quando embebedou-se na frente de seus filhos. Davi cometeu alguns dos seus pecados mais graves quando já era homem experiente, com seus 50 anos para cima.

Então, a maturidade e imaturidade não têm a ver, necessariamente, com a questão da idade, da origem, da condição social.

Na Bíblia, a maturidade está associada à doutrina da santificação.

A santificação é aquela doutrina que fala da transformação de nossas vidas, de uma nova mentalidade, ligada à Cristo e à vontade de Deus. Trata-se da ideia de nos negarmos a nós mesmos – e isso é altamente contraintuitivo e vai na contramão da ideia de controle que o mundo sugere para maturidade – tomarmos nossa cruz e crucificarmos este mundo com Cristo. Está ligada ao abandono do pecado, à mortificarmos os feitos do corpo,  à renúncia dos vícios e hábitos ruins, dos traços de nossa personalidade que nos arrastam para pensamentos e práticas de nossa velha natureza.

A maturidade cristã está associada à ideia de crescimento espiritual, ou crescimento nas coisas da fé, à fome de Deus, ao desejo de desfrutar de mais comunhão com Deus. Está ligada a andar no Espírito, a viver no Espírito, a cogitar das coisas do Espírito, a adorar em Espírito e em verdade, a produzir o fruto do Espírito, está ligada ao desejo de crescimento e desenvolvimento tanto no conhecimento de nosso Senhor Jesus Cristo como na obediência.

A maturidade na Bíblia também está ligada também à ideia de peregrinação, de jornada, de caminhada, de boa ventura. As tribulações, as provas, as lutas, os dramas e até algumas das nossas derrotas podem nos levar à maturidade, ao refinamento da fé, ao crescimento e compreensão melhor das coisas.

Maturidade está ligada à plenitude e alegria em Deus, ao regozijo, ao louvor e adoração sinceros. O livro dos Salmos nos ensinam muito sobre esse aspecto da maturidade: alegria de estar junto do povo de Deus; alegria de adorar a Deus; plenitude e satisfação em Deus; paz em Deus; confiança em Deus.

Maturidade está ligada à virtude da humildade, do senso de proporção e lugar; de contentamento, mansidão e sabedoria. Está ligada a serviço. Quem quer ser grande, sirva – disse o Senhor Jesus aos seus discípulos. A maturidade está ligada ao amor ao próximo e às boas obras, como diz Tiago em sua epístola.

A maturidade na Bíblia está ainda ligada à noção de incorporação dos valores de Cristo, à incorporação do caráter de Cristo – como diz o apóstolo Paulo em Romanos 8.29, a sermos feitos em conformidade à imagem de Cristo e em Colossenses 3.10, de termos nossa humanidade refeita segundo a imagem daquele que nos chamou e ainda em Efésios 4.13, que cheguemos à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo. Amadurecer é ser mais parecido com Jesus.

O alvo do cristão deve ser o de crescer nas coisas da fé. De apropriar-se das coisas da fé e torná-las suas. O alvo do cristão deve ser o de provar e ver que o Senhor é bom, deve ser o de ser transformado, de glória em glória, na própria imagem do Senhor, pelo Espírito.

Que Deus faça de nós crentes maduros!  




Autor: Tiago Santos