Uma igreja é o que a sua
liderança produz. Ao julgarmos a natureza da liderança da igreja em células,
perceberemos o tipo de igreja que está sendo formada nessas células.
Nos escritos dos peritos em
células, as palavras que mais ocorrem nos seus textos são liderança e
líderes. Tal ênfase se dá pelo fato da igreja em células ser uma igreja
entregue nas mãos dos próprios membros, não levando-se em conta vocação ou
aptidão nata para o ministério e a liderança. Os defensores afirmam que
qualquer pessoa pode ser líder, basta, apenas, que recebam um treinamento.
O que é um líder na visão das
células e o que é o treinamento desses líderes? Vejamos o que os mentores das
células afirmam sobre a natureza da liderança e do treinamento desses líderes.
Treinamento para líderes não é
muito importante.
“No entanto, treinamento não é tão importante como a vida de oração do líder e a clareza de seus alvos.” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.27)
“No entanto, treinamento não é tão importante como a vida de oração do líder e a clareza de seus alvos.” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.27)
Observemos que até mesmo “os
alvos” são mais importantes do que treinamento.
A liderança eficaz não inclui,
necessariamente, método de estudo bíblico.
“Uma liderança eficaz de células é muito mais uma aventura liderada pelo Espírito do que uma técnica de estudo bíblico.”(Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.28)
Com essa afirmação, Comiskey
diz que o líder da célula não precisa ser expert para manejar bem a Palavra,
pois sua liderança é uma “aventura”.
A liderança da célula não
inclui necessariamente dons espirituais. “Os dons espirituais são importantes,
mas esse estudo estatístico e a experiência de outros
demonstram que não é necessário nenhum dom específico para liderar uma célula
bem sucedida.” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.30)
Essa afirmação contradiz a
anterior: incrivelmente, a liderança da célula é uma “aventura do Espírito” sem
dom espiritual. Comiskey afirma que um líder não precisa de dom espiritual para
conduzir uma célula. Com isso, a liderança passa a ser simplesmente uma arte
humana aprendida.
Os líderes de menor grau
escolar são os mais indicados para liderar células.
“As estatísticas indicaram que líderes de células com menor formação escolar multiplicam as suas células com mais regularidade e com maior frequência!” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.32)
Um movimento que, ao estilo
pentecostal, não dá valor ao estudo das Escrituras, nem ao ensino, nem à
doutrina, tende a comprometer-se com um analfabetismo teológico também. Pode-se
perceber no movimento a mesma aversão que os pentecostais têm para com a letra.
O líder de célula não precisa
de pré-requisitos, nem perfil, nem de qualificações.
“Essas estatísticas revelam
que o sexo, idade, estado civil, personalidade e dons têm pouca relação com a
eficácia de um líder de célula. Como veremos nos próximos capítulos, o
crescimento da célula depende de elementos simples que qualquer pessoa pode colocar
em prática.” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.32)
O líder da célula eficaz pode
ser qualquer pessoa desqualificada, sem perfil de liderança e sem dom algum.
Essa é a principal característica de um modelo humano. Os líderes são treinados nas
próprias células, pragmaticamente, com o mesmo conteúdo das reuniões para os
outros membros.
“Já que a sua célula é um
campo de treinamento para novos líderes, peça à Maria para liderar o
quebra-gelo na próxima semana. Ou convide João para liderar o louvor. Mais
algumas semanas e alguém irá facilitar o estudo. As pessoas aprendem ao fazer; portanto, permita que os seus membros sejam evolvidos.” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p. 61)
Aquilo que chamam de
treinamento de líderes é algo comum a todos. Portanto, não há treinamento
específico para liderança. A reunião de célula é, em si, o treinamento, ou
seja, reunião de célula e treinamento são a mesma coisa. O líder não é ninguém
diferente ou mais capaz, e seu
treinamento é a sua participação nas reuniões de células. O que eles
chamam de treinamento é a simples reunião rotineira nos lares, da qual todos
participam. Assim, todos são treinados para serem líderes. O resultado dessa
filosofia é que, no fundo, nunca haverá liderados. Cada membro de célula será
transformado num líder, quando houver a multiplicação compulsória da célula. A
igreja em células é uma igreja onde todo mundo lidera todo mundo e ninguém é
líder de fato.
O líder só pode passar seis
meses de “treinamento” em uma célula, até iniciar sua nova célula.
“Seis meses geralmente é tempo
suficiente para que você desenvolva um novo líder para pastorear uma célula.” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p. 63)
O movimento em células também
é contrário ao longo tempo de preparo para sua liderança. A cada seis meses, as
células despejam uma nova leva de líderes para formar novas células. O
pouquíssimo tempo de “treinamento” e a alta rotatividade desses grupos são o
fator determinante da igreja em células. Os líderes não são treinados em
doutrina, apenas em como multiplicar a célula. Para eles, aprender o método e a
estratégia está acima de ter uma boa visão das Escrituras e princípios do
verdadeiro pastorado.
Cursos extras de liderança não
enfatizam doutrina, mas apenas estratégia de crescimento.
“1) O curso é ministrado pela
equipe pastoral; 2) o curso sempre cobre a organização da célula, visão da
célula e requisitos de liderança do Novo Testamento. Igrejas em células que
levantam lideranças com rapidez aliada à eficiência mantêm tanto o aspecto
quantitativo como o qualitativo. Ambos são essenciais.” (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p. 64)
Mesmo que os líderes das
células façam um curso extra de liderança, a ênfase em doutrina é praticamente
extinta. Lembremos que, no movimento da igreja em células, líderes não são
“mestres”, e sim “facilitadores”. Portanto, não precisam aprender doutrina ou
teologia.
O que podemos concluir depois de lermos todas essas afirmações dos teólogos das células sobre a liderança da
igreja em células? Somente há uma conclusão: a proposta do movimento é uma
excelente opção para produzir uma geração de cristãos imaturos e ignorantes da
Palavra de Deus.
O que poderíamos dizer de uma
igreja que considera alvos mais importantes do que treinamento? De uma
liderança desvinculada do método de estudo da Palavra? De uma liderança
desprovida de dons espirituais? De uma liderança preferencialmente de
escolaridade baixa? De uma liderança sem pré-requisitos, nem perfil, nem
qualificações? De uma liderança que foi treinada com o mesmo conteúdo de
reuniões de células oferecido a todos os outros membros? A melhor conclusão a
qual podemos chegar é que essa visão de liderança veio para destruir a igreja
de Cristo.
O movimento de células pode
fazer o grupo crescer, mas é impossível fazê-la amadurecer. Colocar a igreja
aos cuidados dela mesma, iludir as pessoas com a falsa ideia de que todas são
líderes, responsabilizá-las para se auto treinar apenas com auto experiências,
apressar o suposto “treinamento” de tais líderes, e tentar explodir o
crescimento da igreja, é uma excelente proposta para perverter o evangelho e
mundanizar a igreja de Cristo.
Ela não encontra modelo nas
Escrituras Sagradas. Não há nenhuma referência a uma igreja administrada num
sistema de liderança de rede com um pastor geral. O Novo Testamento só
reconhece apóstolos e presbíteros (ou bispos) como ofícios sobre a igreja. Não
há nenhuma citação ou referência de algum líder de célula destacado no Novo
Testamento. Também não há nenhum mandamento apostólico para as igrejas quanto à
instituição do modelo, nem das qualificações para o líder. Se isso era a vida e
o sistema para o avanço da igreja, por que não foi tratado pelos apóstolos? A igreja em células é o
ambiente sujeito a proliferação de heresias e a formas de governos totalitários
e tirânicos.
O modelo de liderança das
igrejas em células é um modelo de liderança do episcopado monárquico, no qual apenas um detém o poder absoluto sobre a
igreja. A única maneira de se ter uma mega igreja debaixo do poder de um pastor
geral é adotando uma visão episcopal papal, na qual o poder sobre o grupo é
exercido por meio de líderes de pouca ou nenhuma importância na hierarquia do
movimento. É por isso que se diz que Paul Young Cho é pastor da maior igreja do
mundo. No sistema de células, apenas um tem o poder supremo. Como o sistema é
propício a formar uma igreja de baixo nível doutrinário e teológico, facilmente
o pastor geral alcança o pedestal de uma figura carismática que tem o monopólio
da Palavra e do governo. Esse modelo de liderança colaborou muito para
corromper o cristianismo da era apostólica. Numa época em que a igreja tinha
baixo conhecimento doutrinário, e quando todo o poder de governo e de doutrina
ficou nas mãos apenas de um só, a igreja ficou sem juiz e a mercê dos
caprichos e loucuras de seus líderes. Portanto, um povo de baixo conhecimento
da Palavra e debaixo de um governo episcopal monárquico é um povo sujeito à
mesma degradação do Catolicismo Romano.
6) O movimento não contém
princípios imutáveis, mas só dá certo em algumas sociedades
O movimento de igrejas em
células tem se apresentado como o achado do século. A fórmula de crescimento da
igreja coreana de Paul Young Cho é considerada por alguns como o verdadeiro
modelo de crescimento da igreja cristã. Muitas igrejas em vários lugares no
mundo implantaram o mesmo sistema de crescimento de Cho. Hoje, a igreja em
células tem tido êxito apenas na Coréia e em alguns países de terceiro mundo, mas
estranhamente não deu certo nos Estados Unidos.
Se a igreja em células é, de
verdade, o melhor método para a igreja de Cristo, por que ela não deu certo nos
Estados Unidos? Vejamos o que os defensores do movimento afirmam sobre isso:
Os estados Unidos têm sido uma
nação muito lenta na transição para a estrutura da igreja em células. Uma das
razões para isso é o espírito de independência que existe na cultura americana
e na sua vida tradicional de igreja, a qual rejeita o estilo de vida em que
pessoas prestam contas e se tornam responsáveis umas pelas outras. Outra razão
para a adoção vagarosa desse modelo tem sido o forte controle das estruturas
rígidas das denominações sobre a vida da igreja local, cujas igrejas se
formaram ao redor de doutrinas distintas mais do que em torno da
responsabilidade do “uns-aos-outros” encontrada na igreja do Novo
Testamento. (Manual do auxiliar da célula, p.23)
Esta afirmação nos leva a
constatar as seguintes verdades sobre a natureza do movimento das células:
Primeiro, o movimento
encontra barreiras sociais para ter êxito. Se as células não funcionam entre os
americanos por causa do espírito independente que existe na cultura americana,
isto faz do modelo em células um modelo social, e não divino. Deus não pode ter
dado um método de evangelização à sua igreja que funciona apenas em algumas
culturas. O evangelho tem que funcionar em qualquer cultura humana, de outra
forma não passaria de filosofia humana. Na verdade, o modelo em células não
funciona nos Estados unidos porque ele é mais um modelo humano de adaptação
social religiosa. Os elementos contidos nesse modelo pertencem a certos
paradigmas sociais de outras culturas que, ao tentar ser exportados para
culturas diferentes, encontra resistência.
Há, ainda, um
detalhe importante contido na
afirmação supracitada em relação à cultura americana. Os defensores do
modelo em células afirmam que o movimento não deu certo nos Estados Unidos por
causa do espírito de independência da cultura americana. Isso pode nos levar a
entender as razões porque as células deram certo na Coréia e em países de
terceiro mundo: por causa do espírito de subserviência a poderes tirânicos e
carismáticos por parte desses grupos sociais. É possível que o baixo nível
doutrinário desses grupos seja um excelente fator para colaborar com seu
espírito de subserviência.
Segundo, a ideia de
doutrina está estigmatizada como um fator de impedimento ao modelo de células.
É claro que isso é uma afirmação absurda para quem conhece a história do
Cristianismo e a fé reformada.
O movimento das células é
declaradamente contra a ênfase doutrinária. A verdade é que, nos Estados Unidos, existe uma maioria muito forte da herança da reforma protestante, e o nível de
maturidade desses cristãos americanos é muito maior do que os cristãos de
países cujas sociedades emergiram de religiões orientais e animistas. Os
americanos sabem o que querem em matéria de cristianismo porque herdaram a
bagagem teológica dos cristãos europeus reformados, enquanto que a igreja da
Coréia e países de terceiro mundo nasceram em culturas de religiões de
mistérios, animismo e catolicismo espiritualista. Além do mais, é possível que
o modelo de célula, por ser um modelo de governo episcopal monárquico, tenha
dificuldades com sociedades muito democráticas.
Comiskey concorda com Cho que
a principal razão para as células não funcionarem nos USA é porque a igreja
americana é muito resistente em abrir a liderança para os leigos. Os líderes do
movimento das células acham que os primeiros líderes da igreja apostólica eram
novatos que estavam a pouco tempo na igreja, e pensam que a liderança da igreja
moderna em células imita a igreja apostólica nesse sentido. Isso revela-se um
absurdo em interpretação da história do Cristianismo, pois a maioria desses
líderes eram judeus vindos da antiga educação judaica, já conhecedores profundo
da revelação do A.T. e a minoria gentílica não era composta por neófitos.
A liderança do movimento das
células se opõe fortemente a uma educação teológica formal
Uma filosofia que conta com
treinamento formal para a liderança da célula, frequentemente minimiza o poder
do e a confiança no Espírito Santo. Tome o exemplo do apóstolo Paulo. Durante o
primeiro século, Paulo fundou igrejas em todas as partes do Mediterâneo e
deixou-as nas mãos de cristãos relativamente novos. (Crescimento Explosivo da Igreja, p. 55)
A visão de educação teológica
ser incompatível com a obra do Espírito consiste na jurássica visão pentecostal
da “letra que mata”. É quase impossível encontrar um pentecostal que goste de
estudar a Palavra de Deus. A aversão aos estudos teológicos estigmatiza o
movimento pentecostal como um movimento anti-conhecimento, sem tradição
teológica e um esplêndido berço de famosas heresias. Suas preferências são
pelas supostas revelações existenciais ou por suas próprias elucubrações
humanas.
Quanto ao modelo apostólico,
podemos dizer que a grande falha desse movimento é reconhecer que naquela época
os apóstolos contavam com o ofício profético e com os dons espirituais de
mestre, discernimento de espírito, sabedoria e conhecimento, (1Co 12:8-10).
Comparar os líderes da era apostólica, que eram equipados com dons miraculosos
da Palavra, com os líderes modernos das células sem dons, sem educação formal,
sem doutrina, e de preferência os analfabetos, é fazer uma comparação absurdamente
desnivelada.
7) Fere os padrões confessionais e constitucionais da Igreja
Presbiteriana do Brasil quanto ao culto
O CULTO HUMANISTA DAS IGREJAS
EM CÉLULAS
Como o perfil do movimento das
igrejas em células é um perfil pentecostal, necessariamente seu culto deverá
ser de natureza humana, no qual a ênfase será sempre nas obras humanas. A ideia
de culto formal ou solene é absolutamente proibida no movimento. Os membros de
células participam de reuniões informais, nas quais a ideia de culto é vista
como nociva ao crescimento do movimento. Como esses membros vivem na
informalidade, suas mentes são programadas para uma religião informal também no
templo. O pouquíssimo ou nenhum convívio com a assembléia solene faz com que o
movimento das células seja uma igreja que, fora das células, se reúne apenas
para passar em revista o número dos que frequentam as mesmas, ao invés do
verdadeiro culto a Deus. Vejamos a definição que Comiskey dá ao culto:
Tudo aquilo que a igreja
precisa fazer – treinamento, preparo, discipulado, evangelismo, oração,
adoração – é feito por meio da célula. Nosso culto dominical é somente uma
celebração coletiva. (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.17)
Essa afirmação de Comiskey nos
dá a entender que o culto da igreja em células não funciona organicamente
quando a igreja se reúne com todos os membros. Afirmar que o culto dominical
consiste apenas de uma celebração em contraposição ao culto nas células o torna
praticamente inválido no templo. Seguindo a definição de culto de Comiskey, a
igreja não teria necessidade nenhuma de uma mera celebração dominical, já que
todos os elementos do culto encontram-se verdadeiramente nas reuniões das
células.
A expressão Igreja em
células condiz perfeitamente com a ideia de culto do pequeno grupo. Se a
igreja é “em células”, seu culto também deverá ser em células. Essa é a razão
pela qual o movimento não dá valor algum ao domingo como dia do Senhor, e
descaracteriza totalmente a noção histórica do domingo para os cristãos desde
os dias apostólicos. A igreja em células busca alternativas diversas para
substituir o antigo conceito de dia do Senhor, tão cultivado pelas igrejas
sérias da reforma, bem como modificou o conceito histórico de culto dominical.
Como eles mesmos afirmam, o culto dominical da igreja em células não é
propriamente um culto, é apenas uma celebração.
O culto dominical é
estigmatizado pelos defensores das células como uma reunião ameaçadora. Dale Galloway escreve:
Muitas pessoas não querem
participar de uma igreja porque isso é muito ameaçador; virão para uma reunião
domiciliar. (Crescimento Explosivo da Igreja em Células, p.83)
Como o movimento entende que o
culto não deve ameaçar ninguém, tudo é feito para que ninguém se ofenda, mas sim, para que sinta prazer nos cultos. A natureza hedonista do culto das células é clara e
vamos estudá-la mais adiante.
O movimento de igrejas em
células é um movimento de força centrífuga para a igreja institucionalizada. Em
parte parecem ser contra toda forma de instituição eclesiástica, mas não é
verdade. A própria igreja em células é organizada em cima de uma mega
estrutura com ofícios bem definidos e institucionalizados. A verdade é que o
movimento é contra a instituição, estrutura e organização da igreja histórica e
contra seu culto. Quando o movimento surge dentro de igrejas históricas, sua
antiga estrutura está ameaçada. Essa é uma das razões por que os Estados Unidos
não assimilaram o modelo das células; os americanos não abrem mão do antigo modelo
eclesiástico histórico.
A mudança ou transição de
modelos ocorre sem muitos problemas em igrejas pouco doutrinadas ou de
pastorados pouco influentes em teologia. Já nas igrejas onde se tem um maior
grupo esclarecido na Palavra de Deus, ou que teve um pastor que prezou por uma
formação teológica da igreja, nesses grupos o movimento das células encontra
total resistência para ser implantado. De certa forma, manter uma igreja pouco
informada da doutrina consiste em vantagem para a implantação das mais estranhas
estruturas eclesiásticas do nosso tempo. Se o verdadeiro culto não
acontece com a reunião de toda a igreja, mas apenas nas células, merece
perguntarmos pelo culto das células e sua natureza. Vejamos:
O manual do auxiliar de célula nos dá o modelo exato do que acontece nos cultos das células, seguindo uma
ordem cronológica.
PRIMEIRO PASSO: quebra-gelo
Objetivo: interação - você para mim
Atividades: refrescos e perguntas/dinâmicas
Atmosfera: Não ameaçadora, de 15 a 20 minutos
Objetivo: interação - você para mim
Atividades: refrescos e perguntas/dinâmicas
Atmosfera: Não ameaçadora, de 15 a 20 minutos
SEGUNDO PASSO: adoração
Objetivo: interação - nós para Deus
Atividades: louvor e adoração
Objetivo: interação - nós para Deus
Atividades: louvor e adoração
Atmosfera: reverência e
gratidão, de 15 a 20 minutos
A primeira razão porque o
culto das células não se encaixaria no templo com uma grande multidão reunida é
a inviabilidade de se executar momentos de lazer sem tumultuar o conglomerado.
O culto das células é caracteristicamente um culto hedonista, marcado por uma
sessão de lazer antes dos outros estágios. Para o movimento, é importante não
criar um ambiente solene, e sim bizarro, para que as pessoas relaxem
psiquicamente, não criando nenhuma barreira para com a reunião. Essa estratégia
é uma metodologia humanista para preparar o recipiente para uma estratégia
humanista. Se os líderes das células tivessem uma visão do evangelho de poder,
nunca estariam preocupados em dar um jeitinho para que sua mensagem fosse
aceita. A questão é que dentro do movimento acredita-se mais no método do que
no poder de Deus.
O modelo do culto quebra-gelo
das células é o famoso culto arminiano da bajulação e apelação, que foi
condenado por Jesus e os apóstolos.
1 Ts 2:5 - A verdade é que
nunca usamos de linguagem de bajulação, como sabeis, nem de intuitos
ganaciosos. Deus disto é testemunha.
Jo 6:60 - Muitos dos seus
discípulos, tendo ouvido tais palavras, disseram: Duro é este discurso; quem o
pode ouvir.
Por esses textos, fica claro
que o modelo quebra-gelo do movimento das células é uma afronta à doutrina de
Cristo e dos apóstolos. Nem Jesus nem os apóstolos estiveram preocupados em
criar uma atmosfera “não ameaçadora” para o culto e a entrega da Palavra. O
evangelho é sempre ofensivo para os pecadores que não estão em Cristo. Pregar
um evangelho não ameaçador ou realizar um culto de bajulação é descaracterizar
o verdadeiro evangelho e mundanizar o culto. Com a máxima preocupação em
agradar os incrédulos com o método e a linguagem de bajulação, o culto da
igreja em células é, por natureza, um culto antropocêntrico.
É POSSÍVEL UMA IGREJA
PRESBITERIANA, QUANTO AO CULTO, ADOTAR OS PADRÕES DO MOVIMENTO DE IGREJAS EM
CÉLULAS SEM FERIR A CONSTITUIÇÃO, OS SÍMBOLOS DE FÉ E O MANUAL DE LITURGIA DA
IGREJA?
Vejamos, comparativamente, o
que ensina a Igreja Presbiteriana do Brasil e o movimento de Igreja em Células:
O Templo
Igreja Presbiteriana: local de
culto CI (Princípios de Liturgia) cap. II, art. 5
Igreja em Células: local de
mera celebração
Enquanto o templo é a
representação das assembleias solenes do povo de Deus na antiga aliança, para a
Igreja em Células o templo perde seu valor como local de adoração da
assembléia, e cai na mais completa informalidade litúrgica.
Dia do Senhor
Igreja Presbiteriana:
obrigatório para o culto público CI (Princípios de Liturgia) cap.I, art 3
Igreja em células:
relativamente para uma mera celebração ou qualquer atividade evangelística,
podendo-se até fechar o templo. Em algumas igrejas as celebrações acontecem de
seis em seis meses ou até de ano em ano, e nada tem a ver com o culto das
igrejas reformadas.
A visão reformada do Dia do
Senhor como o dia específico da adoração solene em assembleia é totalmente
desviada para uma concepção de um dia reservado para outras atividades, desde
que sejam da igreja. O culto público nesse caso não é necessário, pois ele já
ocorre durante a semana nas células.
Elementos do Culto
Igreja Presbiteriana: leitura
da Palavra de Deus, pregação, cânticos sagrados, orações e ofertas, ministração
dos sacramentos CI (Princípios de Liturgia) cap. III, art. 8
Igreja em células:
entretenimento (quebra-gelo), “adoração”, “edificação”, “evangelização”.
Na visão cristã reformada os
crentes, antes do culto, devem ter uma preparação espiritual com meditação na
seriedade do que vai ser feito, enquanto que na Igreja em Células as pessoas
precisam estar relaxadas, passando do entretenimento direto para a “adoração”.
Local de Culto
Igreja Presbiteriana: templo
CI (Princípios de Liturgia) cap.II, art. 5 Igreja em Células: nas células
Na concepção reformada,
qualquer lugar é local de verdadeiro culto (doméstico: no lar, público, no
templo), enquanto que na Igreja em Células o verdadeiro culto acontece só nas
células, sendo no templo apenas uma celebração.
8) O movimento não é defendido por nenhum teólogo reconhecidamente erudito
CÉLULAS: UM MOVIMENTO DE BAIXA
EXPRESSIVIDADE TEOLÓGICA NO MUNDO
O modelo de igreja em células
ainda permanece inexpressivo no mundo teológico. Os maiores defensores do
movimento não são reconhecidamente como eruditos ou homens do saber teológico.
A maciça maioria dos intelectuais e pensadores do movimento são pragmatas ou
missiólogos que estudam o fenômeno social moderno, suas cores, formas e
movimentos na tentativa de extrair brechas sociais nas quais possam acomodar o
evangelicalismo dos nossos dias.
O modelo eclesiológico e
pastoral das células não foi defendido por nenhum teólogo sério da escolástica
protestante nem depois dela. O movimento é produto da compreensão pentecostal
de igreja e sociedade que originou-se no século XX. Era de se esperar que a
igreja em células não tivesse muita expressão teológica, tendo em vista que os
pentecostais sempre foram inimigos dos estudos teológicos, carecendo, ainda
hoje, de tradição teológica séria. Podemos classificar o
movimento como mais uma filosofia prática dos nossos tempos que parece estar
auxiliando a igreja em crescimento numérico.
O que normalmente tem
acontecido é que muitas pessoas consideram a teologia do movimento das células
válida, pelo fato de poderem ver uma multidão sendo trazida para a igreja. Mas,
se o crescimento numérico da igreja referendasse uma boa teologia, certamente
Edir Macedo e seus colegas pentecostais seriam os maiores teólogos do nosso
século. Na verdade, eles não são teólogos, e sim, práticos, pois seus modelos
eclesiológicos funcionam muito bem com qualquer outro grupo social ou empresa.
Esse modelo eclesiológico não é retirado a partir dos estudos teológicos das
Sagradas Escrituras, mas a partir dos paradigmas psico-sócio-econômicos
encontrados em todas as sociedades. A prova do que estou falando é que o
movimento das igrejas em células
não funciona em
todas as sociedades
onde é implantado, pois, com
muita dificuldade, saiu da Assembléia de Deus da Coréia para umas poucas
sociedades de terceiro mundo.
Nos Estados Unidos, por ser
uma sociedade muito mais preparada teologicamente, o movimento das células não
consegue decolar. A tradição teológica americana acende um espírito crítico
para com o movimento de tal forma que não se abre para o pragmatismo das células.
Tudo isso acontece porque os americanos ainda são muito apegados aos modelos da
Palavra de Deus, e não abrem espaço para modelos sociais. Os americanos buscam
modelos da Bíblia para o social, enquanto que o movimento de igrejas em células
busca modelos do social para a Bíblia. Onde houver esse paradoxo a igreja em
células não se estabelece.
Autor:
Moisés Bezerril
Fonte:
Monergismo