O MÉTODO HUMANISTA PARA FORMAR
UMA “IGREJA” FRAGMENTADA, SECULARIZADA, SEM DOUTRINA E SEM PASTOR
O método secular de células
para formar mega igrejas foi o método que deu a Paul Young Cho o título de
pastor da maior igreja do mundo. Com o termo igreja, aqui, entende-se aquilo
que Cho deu à luz, e não propriamente o que se tem entendido historicamente com a igreja do modelo neotestamentário.
Seguindo Cho, vários outros
líderes carismáticos também fizeram aquisição de títulos de pastores das
maiores igrejas do mundo. É evidente que a linguagem de maiores igrejas do
mundo tem um sabor de arrogância e pretensão humana de poder e glória.
É possível um presbiteriano
adotar o método de Cho e ainda assim continuar fiel ao presbiterianismo
reformado? A resposta é: não! Vejamos as razões:
1)
O movimento das células carece de fundamento bíblico para seu modelo
eclesiológico
REDE DE CÉLULAS: UMA ESTRUTURA
DESCONHECIDA DOS APÓSTOLOS E DA IGREJA PRIMITIVA
O movimento da igreja em
células, com toda a sua estrutura bem articulada e planejada, consiste de um
artifício moderno que nunca passou pela cabeça dos apóstolos. O método de
evangelização proposto por esse movimento também é totalmente estranho à evangelização
apostólica. Nos livros dos proponentes do movimento, nada encontramos ali de
significativo que prove a originalidade apostólica do movimento das células. Os
textos mais comuns usados pelo movimento são At 2.46 e At 5.42.
Ainda que Paulo e os demais
apóstolos esporadicamente tivessem usado reuniões em lares, o método
apostólico que fez a igreja se multiplicar estrondosamente no primeiro século
foi unicamente a pregação da Palavra no templo e na sinagoga para grandes
concentrações, e não reuniões em lares (At 3.1,11; 5.12,20,21; 9.2,20; 11.26; 13.5,14,15,16; 13.42,43;
14.1; 17.1,4; 18.4,19,26;
19.8; 19.9; 19.31). Como o
evangelho é poder (Rm 1.16; 1Co 1:18,24; 2.4), ele não precisa de acomodações
de locais e nem de circunstâncias, nem de persuasão, pois é poderoso para
salvar os pecadores onde eles estiverem e como estiverem. Os apóstolos tinham
essa visão (1Ts 2.5), e por isso preferiam grandes conglomerados de gente para
a pregação do evangelho. O evangelho da igreja em células só funciona nas
células porque é comprometido com a bajulação de pecadores e persuasão de
sabedoria humana; essa é razão porque eles menosprezam o templo e os grandes
conglomerados de gente. Possivelmente o evangelho das células não tem poder
para converter pecadores no meio das multidões. O método da bajulação e
persuasão é muito mais eficaz em pequenos grupos, corpo a corpo, ou
pessoalmente, porque só dessa maneira acontecem os laços sociais que prendem
seus fiéis muito mais rápido do que a verdadeira conversão pelo poder da
Palavra.
Durante os dias apostólicos
havia a necessidade das credenciais apostólicas serem vivenciadas pelo maior
número de pessoas que representassem nações e cidades; este era o instrumento
do primeiro século para expandir o evangelho por todas as partes do mundo em
pouco tempo. É por essa razão que o Pentecostes ocorreu em Jerusalém, bem como
essa cidade tornou-se o centro do Cristianismo para o mundo; as multidões
convergiam para Jerusalém. Depois das pregações apostólicas em mega reuniões (o
que nunca poderia ter ocorrido em lares) acompanhadas por suas credenciais,
cada pessoa voltava para seu país de origem com a mensagem do evangelho. Mais
tarde, quando os apóstolos chegam a esses lugares, já existe uma base
evangélica de poucos cristãos que tiveram contato com a mensagem apostólica.
Isso nunca seria possível se o método de evangelização fosse igreja em células.
Pelos dados bíblicos do Novo
Testamento, o crescimento espantoso da igreja primitiva nos dias apostólicos se
deu exclusivamente pela pregação pública a grandes auditórios, e não em
pequeninas reuniões domésticas providas de articulações pré-definidas e modelos
enformados. Além do mais, o método apostólico de evangelização pela pregação da
Palavra era muito distinto do que o movimento das células propõe. O método
apostólico continha apenas a pregação, e nada mais. No Novo Testamento nunca se
ouve falar do método “quebra-gelo” antes da pregação de Pedro, nem do método de
se tomar refrescos depois da pregação de Paulo, nem tampouco se ouve falar no
livro de Atos que os apóstolos fizeram reuniões em lares que consistiam de uma
mistura de lazer somado a uma caricatura de culto com participação de pagãos.
O cristianismo primitivo foi
incendiado em seus primeiros dias pela simples pregação da Palavra no templo, e
depois, continuamente, nas sinagogas. Esse era o método apostólico de
evangelização.
Os livros dos defensores da
igreja em células não contêm nenhuma teologia desse movimento dos dias da
antiguidade apostólica. Há muito tempo tenho procurado em livros e na internet
a base bíblica para o movimento, e até agora os autores da tese não têm se
preocupado muito com isso. Os livros de Comiskey e Neighbour (proponentes do
movimento), consistem de manuais estratégicos, sendo raro o uso das Escrituras,
e quando acontece, o autor emprega hermenêutica duvidosa. Neighbour usa textos
bíblicos apenas para referendar as células sem nenhuma análise.
As páginas do Novo Testamento
falam de um grande grupo que sempre está junto (At 2:44) e que cresce
assombrosamente. E que os evangelistas sempre falam para grandes grupos, os
quais se multiplicam logo após a mensagem. Dizer que essa multiplicação ocorria
em células é pura conjectura.
Em Atos 6.1-7, a razão para a instituição
dos diáconos era por causa da multiplicação da igreja e da sua vida em um
grande grupo. Se essa igreja tivesse sido administrada em pequenos grupos ninguém teria sido esquecido na distribuição diária. Para justificar esse
número, em nenhum lugar nas Escrituras comenta-se que esse grande grupo era
administrado por meio de pequenos grupos. Uma análise cuidadosa nos textos
acima apresentados demonstra que a igreja primitiva ainda era muito vulnerável
à perseguição, e que era muito importante a unidade da grande multidão por
causa das necessidades. Fragmentar-se naqueles dias implicaria em risco de
heresias e incorreria em muitos prejuízos para a igreja. Além do mais, a igreja
que estava nascendo, precisava estar perto dos apóstolos todo tempo.
O Novo Testamento usa apenas o
termo igreja para definir um grande grupo, e só reconhece apóstolos e
presbíteros como pastores sobre ela (At 14.23; 20.28), mas nada é revelado
sobre uma possível rede de micro igrejas ou células dirigidas por
mini pastores. Se o método da igreja em células tivesse sido o método
apostólico, de tanta importância para o crescimento da igreja, e se de fato
fosse a vontade de Deus para a evangelização do mundo, por que então nada foi
escrito ou citado pelos apóstolos e presbíteros nos dias da igreja primitiva
ou, posteriormente, referendado nas epístolas às igrejas?
Se o método das células não
foi utilizado pelos apóstolos e nem ensinado por eles, logo, o método da
igreja em células não pode se tornar um princípio imutável (ou axioma) da
evangelização, não sendo, portanto, um princípio divino, e sim, mais um
movimento de tonalidade humana, temporal, sujeito à adaptação social e
geográfica. Essa é a razão porque o movimento não dá certo em qualquer lugar. É
o que veremos mais adiante.
O CONTRA SENSO DOS PEQUENOS GRUPOS
O movimento de igreja em
células nada mais é do que um modelo secular de gerenciamento de empresas e de
megaigrejas.
A ideia de uma eclesiologia de
pequenos grupos defendida pelo movimento das igrejas em células é falsa. Na
verdade, o que o movimento defende é a eclesiologia da MEGA IGREJA dirigida por
uma única figura carismática. A estrutura eclesiástica defendida pelo movimento
é para comportar uma megaigreja por meio de pequenos grupos. Todos os líderes
de igreja em célula têm o sonho de ser chamado pastor da maior igreja. A
ideia por trás dos pequenos grupos debaixo de um líder leigo é o imenso grupo
debaixo de um líder carismático que se sobrepõe a todos.
2) O movimento das
células é montado em cima de
conceitos pentecostais, e isso é o que
motiva 90% da sua estrutura
Muitos pastores que querem
implantar as células em suas igrejas, sem contrair o estigma negativo do
movimento G12, têm afirmado que o movimento de igreja em células nada tem a ver
com o G12. Os que fazem tal afirmação estão mentindo e enganando a igreja. Os
movimentos de igreja em célula e G12 compartilham dos mesmos princípios e
filosofia secularizadoras de criação das megaigrejas. Vejamos o que diz Joel
Comiskey, um dos papas do movimento:
A implantação de células
sempre existiu na igreja em células. Agora ela está na dianteira do pensamento
em células, muito em virtude da influência da Missão Carismática Internacional,
em Bogotá, na Colômbia. Se alguém quer estar na crista da onda na compreensão
do ministério em células, é essencial entender a MCI e o “Modelo dos grupos de
12”. (Crescimento explosivo da Igreja, p.105, segunda edição, 2002)
Essa afirmação de Comiskey
desmente muitos pastores que estão passando uma falsa identidade do método de
igreja em célula. A igreja em células, na verdade, começou no movimento
pentecostal, com Paul Young Cho, e chamava-se grupos familiares. Conheci este
trabalho quando ainda era divulgado apenas pelas Assembleias de Deus.
César Castellanos, o fundador do
movimento G12, é reconhecido internacionalmente como o responsável pela
expansão do movimento em células em toda América latina. A única diferença
entre G12 e igreja em células é apenas o número 12. As células de César
Castellanos contêm apenas 12 pessoas, e seus pastores supervisores
jurisdicionam apenas 12 líderes, e assim sucessivamente.
Qual a importância de se saber
que G12 e igreja em células compartilham da mesma natureza? É que se os dois
movimentos compartilham a mesma natureza, então derivam da mesma fonte.
A natureza pentecostal do
movimento pode ser percebida tanto nas reuniões quanto nos escritos dos seus
defensores. Comiskey afirma que Deus mostrou a Castellanos que o número dos
convertidos que ele iria pastorear era maior que as estrelas do céu e os grãos
de areia do mar, e que Castellanos recebeu uma visão de Deus para criar o
sistema das células baseado nos 12 discipulos de Jesus (Crescimento Explosivo,
p. 105, 106).
Não apenas Castellanos com o
G12, mas o próprio Comiskey imita Castellanos, dizendo que Deus começou a falar
com ele, dizendo-lhe que ele tinha de começar um ministério em células (Crescimento Explosivo, p. 12).
Essas ideias supersticiosas de
revelação tem feito o movimento se popularizar muito no meio pentecostal. Mesmo
as igrejas históricas que se envolveram com o movimento já tinham simpatia pelo pentecostalismo ou tendências
pentecostais, e o massivo número de pastores que lideram o movimento de igreja
em células é pentecostal ou simpatizante.
O pentecostalismo do movimento
também está nas reuniões de células, as quais são estruturadas com
predefinições pentecostais. Comiskey
denomina de a reunião das células de uma aventura liderada pelo Espírito (Crescimento Explosivo, p.28).
É possível ouvir de alguns
líderes do movimento que, se não houver uma pitada de pentecostalismo nas
reuniões de células, o trabalho tende a morrer.
A Confissão de Fé e o Manual
de liturgia da Igreja Presbiteriana do Brasil, bem como seu mais novo documento sobre o assunto (Carta
Pastoral), proíbem qualquer visão pentecostal no seio da igreja. Os pastores
envolvidos no movimento com tendências pentecostais devem ser exortados pelos
seus concílios a abandonarem a prática pentecostal.
3) O movimento é fundamentado
em cima do pragmatismo e secularismo humano, nos quais o “sucesso” e o fracasso
das células é atribuído à habilidade humana
CÉLULAS BEM SUCEDIDAS OU
FRACASSADAS: UMA ARTE OU FALTA DE HABILIDADE HUMANA
No livro de Atos, podemos
perceber que a evangelização era o verdadeiro poder de Deus convertendo
multidões. Os apóstolos não tinham nenhum programa artificioso para prender a
atenção ou causar interesse nas pessoas por suas mensagens. Eles apenas
procuravam lugares onde o povo se encontrava em grande número, pregavam a
Palavra e o Espírito de Deus se encarregava da segunda parte.
O programa das células não é
diferente do movimento de crescimento de igreja de Peter Wagner e MacGravan. A
maioria dos proponentes desse tipo de movimento tem uma origem comum: o
seminário de Fuller. A visão desses novos pragmatas é a ênfase exagerada no
método e na estratégia humana, em detrimento da soberania e do poder de Deus.
Comiskey referenda seu ponto
de vista utilizando-se da afirmação de Macgravan:
Com relação aos métodos, somos
agressivamente pragmáticos – doutrina é algo completamente diferente.
Não poderia ser diferente.
Este é o mesmo pensamento de Peter Wagner quanto à famosa teoria das macieiras
maduras. O movimento de igreja em células copia o mesmo princípio de Wagner e
MacGravan, pois o tempo da frutificação das células é determinado por eles.
Os proponentes da igreja em
células determinam o tempo dos frutos de sua pregação, quando estabelecem o
tempo para a multiplicação dessas células e até a data de seu fechamento ou
reestruturação. Vejamos o que diz Neighbour:
A experiência de longos anos
com grupos constatou que eles estagnam depois de um certo período. Durante os
primeiros seis meses as pessoas atraem-se mutuamente; passado esse tempo elas
tendem a se tolerar. Por essa razão, deve-se esperar que cada grupo de
pastoreio seja multiplicado naturalmente após seis meses, ou que seja
reestruturado. (Ralph Neighbour- Manual
do Líder de Célula, p.113)
Com essa afirmação, Neighbour
deixa claro que as células são um método humano, altamente manipulável para
produzir frutos, sujeito a toda coloração social temporal, e consequentemente pragmático. Nessa visão, o Espírito de Deus não opera o que quer, quando quer e onde quer, nem o evangelho é considerado poder. O movimento das células está
totalmente desprovido da visão soberana de Deus na evangelização, (leia Mt
13:11,12). Eles abrem e fecham células dependendo do tempo que determinam para
o sucesso e o fracasso delas. O tempo de vida das células não é o tempo de
Deus, e sim o tempo que os seus líderes determinam. Dessa forma, o evangelho
não seria poder, mas sim filosofia, pois os homens podem manipular e determinar
sua atuação e eficácia.
Um outro aspecto que denuncia
a igreja em células como um movimento desprovido da visão divina do evangelho é que atribui-se o sucesso ou o fracasso
dessas células aos
líderes e suas estratégias. Vejamos:
Se os líderes das células
fracassam no alcance de seus objetivos, Cho os envia ao retiro da montanha de
Oração da igreja para jejuar e orar. Os líderes de células e os auxiliares que
conduziram suas células à multiplicação devem ser valorizados e elogiados em
público diante de toda a igreja. (Crescimento Explosivo, pp.25, 97)
Com essa citação, fica muito
claro que a visão pragmatista da igreja em células atribui o êxito ou fracasso
às pessoas que as lideram. Isto está de acordo com o sistema deles, pois, se as
células dependem de uma metodologia puramente humana, logo os resultados serão
resultados de autoria humana. Essa é a razão pela qual o crescimento das
igrejas em células está sempre relacionado aos nomes de seus pastores, e porque eles cultivam os elogios a si próprios diante da igreja. A igreja em
células é um instrumento de auto promoção e glória humana.
Mais interessante ainda é a
visão dos dois tipos de incrédulos que Neighbour apresenta em seu livro Manual
do Líder de Célula. Os incrédulos do tipo A são pessoas que estão prestes a
aceitar a Cristo. Os jovens podem ganhar estes para Cristo. Quando eles não se
tornam cristãos, é porque alguém não explicou ainda como aceitar a Cristo. Os
incrédulos do tipo B são os mais resistentes, que não querem estudos bíblicos nem se interessam por qualquer atividade cristã. Esses só podem ser alcançados
por adultos maduros, e pode levar meses para que consigam isso. Para alcanças tal
objetivo, eles precisam montar um grupo de amizade ou de interesse para
reunirem-se semanalmente com esses incrédulos para tratarem de assuntos não
religiosos. Enquanto isso, devem observar o grau de interesse desses incrédulos
por coisas espirituais. (Manual do Líder de Célula, p. 39,41).
Em toda a literatura do
movimento da igreja em células, a linguagem e a ênfase sobre salvação ou
conversão nunca é em tom de uma visitação especial de Deus, e sim em tom de uma
atividade humana em adaptar pessoas pagãs a um estilo de vida cristã por meio
de métodos e estratégias manipuláveis. Com isso em mente, eles estipulam tipos
e classes de incrédulos, os métodos mais específicos para cada classe, os tipos
de evangelizadores que surtirão mais efeitos com determinadas classes, o tempo
e o número estimado para as conversões. Tudo isso é organizado por meio de
volumosos manuais, gráficos, tabelas, cálculos, pesquisas e muito, muito método
e estratégia. Os livros de Neighbour são volumosos, intermináveis e cansativas
receitas de como multiplicar células e fabricar “crentes” em série.
Nada dos métodos da igreja em
células foi citado ou empregado pelo cristianismo apostólico. A evangelização
apostólica era uma verdadeira visitação do poder salvador de Deus. O evangelho
era tido como poder de Deus, e a salvação de pecadores era de sua exclusiva
autoria. Os pecadores não passavam meses sendo convencidos ou sendo atraídos
por algo de seu interesse em grupos cristãos. Ninguém recebia glórias nem
elogios pela salvação de alguém. Os apóstolos não tinham um método nem uma
mensagem para cada tipo de pessoa. Os pecadores não eram tratados por classes
ou tipos, e sim pelo estado de desobediência ao evangelho. A mensagem do
evangelho não era travestida, nem camuflada para atrair pessoas nem tampouco
os apóstolos estiveram envolvidos em grupo de amizades para tentar convencer
pecadores pela simpatia sem ofendê-los. O evangelho apostólico sempre foi
ofensivo desde os dias de Jesus, (Leia João 6), e sempre foi poder. Estava
implícito na mensagem o poder para mudar os corações daqueles a quem Deus deu a
conhecer os mistérios do reino (Mt 13:12,13). Ninguém era convencido do
evangelho por se sentir bem num quebra gelo de um grupo social, nem porque
recebia atenção ou tinha necessidades sociais supridas. Tudo isso é fruto de
articulações humanas para distrair pecadores com um evangelho que não ofende
ninguém, e mantê-los agrupados socialmente num ambiente de pessoas moralmente
dignas. Nicodemos foi encontrado numa
situação semelhante, porém Jesus disse-lhe que ainda faltava-lhe nascer de
novo.
A constante avaliação social
do grupo, a incessante mudança de estratégias, e a incansável manipulação do
grupo para produzir frutos, a incansável ênfase e iniciativa de criação de
métodos deixam claro que a igreja em células é um sistema humano empresarial do
mundo capitalista moderno para gerenciar um mega grupo de religiosos.
4) A Bíblia é
descentralizada, e há
uma ênfase muito
grande no método e nas
estratégias
A ênfase exagerada nos métodos
e nas estratégias tem estigmatizado o movimento das igrejas em células como uma
visão secularizadora e humana sobre a igreja e o reino de Deus. Nunca
poderíamos esperar de uma abordagem humanista uma apreciação das Escrituras.
O movimento das células
levanta-se criticando o modelo histórico de igrejas, chamando-o de igreja
convencional. Declaram completa aversão ao
dia do Senhor, escola dominical e toda espécie de trabalhos eclesiásticos
herdados com a reforma protestante. Vejamos o que diz Comiskey:
Cheio de entusiasmo comprei o
livro de Cho Células Bem-sucedidas e comecei a ensinar líderes chave em minha
igreja. O entusiasmo durou por algum
tempo e demos
início a quatro células. Mas
depois que introduzimos o culto dominical, perdi o controle do meu enfoque nos
pequenos grupos. Os afazeres da igreja esgotaram as minhas forças. No entanto,
nunca perdi a visão e o entusiasmo para o que uma igreja poderia vir a ser por
meio do ministério de pequenos grupos. Planejamos atividades de escola
dominical, classes de novos convertidos e programas de visitação, todos com
pouco sucesso. (Crescimento Explosivo,
p. 11)
A maneira como Comiskey tenta
destruir o modelo tradicional de igreja é desonesta, pois ele usa uma
experiência própria mal contada para servir de paradigma da verdade. Esse é o
método pentecostal de se estabelecer a “verdade”.
Na visão da igreja em células, o culto dominical, a escola dominical, a visitação e a classe de novos
convertidos atrapalham o crescimento da igreja. Esse antigo modelo de trabalho
eclesiástico é chamado de “o velho paradigma da pesca de vara”, que deve ser
trocado se o mega crescimento da igreja é almejado.
O velho paradigma da “pesca
com vara” está sendo trocado por equipes de crentes que entraram na parceria
(comunidade) com o propósito de evangelizar almas em conjunto. Jesus usou a
parceria da pesca com rede para ilustrar o maior princípio de evangelismo:
nossa produtividade é muito maior quando trabalhamos em conjunto do que
sozinhos (Crescimento Explosivo, p. 81).
Como o movimento das igrejas
em células vem para trocar todos os velhos paradigmas da igreja “convencional”,
a visão de Palavra de Deus, conseqüentemente, também deverá ser mudada.
A igreja em células é uma
igreja que não se dedica ao estudo da Palavra. Os obreiros dessa nova
modalidade de igreja consideram uma perda de tempo o estudo das Escrituras.
Acham que doutrina e evangelização devem seguir separadamente, e uma coisa não
precisa da outra.
Qual a razão desta perspectiva
para com as Escrituras Sagradas? A verdade é que a própria dinâmica da igreja
em células não foi criada a partir do estudo das Escrituras, pois não se
encontra lá. Sendo assim, não haverá muita motivação ou apego para com a
doutrina, pois o que vale é o pragmatismo. Qual é, pois, a origem da dinâmica da
igreja em células? Vejamos a resposta de Comiskey:
Das minhas experiências
pessoais e por meio da pesquisa tenho descoberto princípios de dinâmica e
sugestões práticas para compartilhar com outros que têm a visão de alcançar o
mundo por meio de igrejas em células. (Crescimento
Explosivo, p. 13)
Qualquer análise feita nos
princípios e na dinâmica da igreja em células revelará que o novo paradigma que
veio para substituir o antigo da “pesca de vara” não se origina na Palavra de
Deus. Todo o modelo da igreja em célula é pura sugestão advinda das experiências
humanas. Muitos afirmam ter recebido revelações sobre o novo paradigma, bem
como outras experiências. Se sua origem é humana, logo a natureza humana
sempre será em primeiro lugar; se a dinâmica da igreja é encontrada na
experiência humana, para que a igreja em célula precisaria da Palavra de Deus?
Os manuais de implantação e
liderança da igreja em células são o produto da formatação de modelos de
interação e vivência social já conhecidos e experimentados em muitas áreas de
humanismo, adaptados para o grupo religioso; usam textos sagrados apenas
ilustrativamente. É impossível encontrar qualquer texto bíblico contendo os
princípios ensinados por Comiskey e Neighbour. Quando muito, utilizam-se de
princípios bíblicos muito gerais, os quais não dão sequer uma mera pista de um
paradigma de igreja em célula nem referendam suas sugestões pragmatistas. Se o
movimento nasce e mantém-se sem a Palavra de Deus, logo, nunca haverá aquela
ênfase na Palavra, como há nas igrejas reformadas. Essa é razão por que a
igreja em células é uma igreja de baixíssimo apego às Escrituras Sagradas.
A fragmentação e o descaso com
a preparação teológica da liderança da liderança da igreja são reflexos da
falta de centralidade das Escrituras na vida da igreja. Há uma mentalidade no
movimento, que ofusca o interesse pela Palavra e avulta a ênfase no método.
Nas reuniões de células, dedica-se muito tempo à parte social, e os líderes
estão muito preocupados com a impressão que vão causar nos visitantes.
Toda a reunião é estrategicamente
preparada com vistas ao “método”, e não à Palavra. Nessas reuniões, a ênfase
não é conhecer a Palavra, mas proporcionar a experiência. As ideias de
mestres, professores, conhecimentos, doutrina, informações, tudo isso é
retirado da igreja em células e substituído por experiência:
A célula é aquele lugar em que
se dá apoio espiritual e emocional a cada membro. Ali a pessoa contribui com
seu envolvimento pessoal, não com os seus conhecimentos e informações. Para que
cada pessoa se anime a fazer isso, é preciso que haja um ambiente de estima,
aceitação e apoio. (Manual de líder de Célula, Ralph Neighbour, p. 173)
Com essa afirmação, Neighbour
ensina ao seu movimento o total descompromisso com o conhecimento da Palavra.
Essas reuniões não estão fundamentadas em cima do conhecimento da Palavra de
Deus, mas em simplórias conversas sobre suas “experiências cristãs” do dia-a-
dia e como elas entendem determinado tema.
A coisa mais estranha nesse
modelo eclesiástico é que as pessoas, nas reuniões das células, são estimuladas
a falar sobre a Palavra de Deus sem conhecimento e sem informação. Pergunto:
Qual a natureza de uma reunião sem o conhecimento da Palavra de Deus? Puramente
humana. Com uma roupagem de reunião bíblica, as células são reuniões de acomodação
psíquica e social. Veja que Neighbour enfatiza demais o ambiente de estima,
apoio e aceitação nas células.
Vejamos outra razão por
qual a Bíblia não é o centro das reuniões de uma igreja em célula:
ESTÁGIO: EDIFICAÇÃO
O foco se move agora para as
necessidades das pessoas presentes. A Bíblia será usada nesse momento; ela
é a ferramenta, e não o ponto central.” (Manual do Auxiliar de Célula, p. 40, Ministério Igreja em Células, Curitiba, PR,
edição IV, 2002)
O Foco da reunião da célula é
a necessidade humana, e não a glória de Deus. É evidente que, onde a ênfase
está na necessidade humana, a Bíblia nunca terá lugar de destaque. Ela, como
tantas outras, constitui uma das ferramentas para suprir as necessidades
humanas.
Uma afirmação contraditória de
Comiskey revela que as reuniões de células não são reuniões comprometidas com a
Palavra de Deus:
O encontro da célula não é um
estudo bíblico, mas a Palavra de Deus tem um lugar central. (Crescimento explosivo da igreja, p. 58)
Como pode uma reunião não
caracterizada pelo estudo da Bíblia ter a Palavra de Deus como centro? A
verdade é que a reunião de célula também usa As Escrituras, mas ela nunca foi o
centro da reunião das células. É claro que Comiskey faz essa afirmação contraditória
apenas para não chocar as denominações mais tradicionais.
Nas reuniões de células, o
termo edificação é usado como sinônimo de necessidades supridas, e nunca
aperfeiçoamento na Palavra.
As células são grupos pequenos
abertos focalizados no evangelismo que estão embutidos na vida da igreja. Elas
se reúnem semanalmente para que os seus participantes se edifiquem uns aos
outros como membros do corpo de Cristo, e para anunciar o evangelho àqueles que
não conhecem a Jesus. (Crescimento explosivo da igreja em células, p. 17)
Nessa citação, podemos
perceber que, edificação, na mentalidade da igreja em células, é uma ideia
muito simplória de relação com a Palavra. Crentes que edificam crentes quando
todos estão no mesmo patamar de maturidade parece ser absurdo. Somos edificados
por aqueles que têm mais maturidade do que nós, e nunca por quem compartilha da
mesma infância nossa na Palavra. Mesmo porque, dentro do movimento, os líderes
não são incentivados a ensinar nem a serem mestres, e sim, “facilitadores”.
Sendo assim, já é previsto que, não só a Palavra, mas muitos outros elementos
das reuniões de células promovem tal edificação. Essa é uma das razões porque
a Bíblia não é o centro do movimento.
Em nenhum lugar nas Escrituras
encontramos a idria de edificação
voltada para necessidades humanas. Edificação sempre está voltada para aperfeiçoamento no conhecimento de Cristo. O
conhecimento é a palavra chave para edificação (Ef 4).
Autor:
Moisés Bezerril
Fonte:
Monergismo