De certa forma, as nove marcas
de uma igreja doente poderiam simplesmente ser o oposto de tudo aquilo que
torna uma igreja saudável. Assim, igrejas doentes ignoram membresia,
disciplina, pregação expositiva e todo o resto. Mas os sinais dos males da igreja
nem sempre são tão óbvios. É possível que sua igreja ensine e entenda todas as
coisas certas e mesmo assim esteja em um estado terrivelmente doentio. Sem
dúvidas, há dezenas de indicadores de que uma igreja se tornou disfuncional e
doentia. Mas vamos nos limitar a nove.
1. Quanto mais periférico o assunto do sermão, mais as pessoas se empolgam.
Uma das coisas que eu sempre amei na minha igreja é que os sermões que eles
mais amam são os que lidam com os temas mais centrais da Bíblia. Eles amam
ouvir sobre pecado e salvação, sobre a glória de Deus, sobre providência, sobre
Cristo e a cruz. Não é que eles nunca ouçam (ou não gostem de ouvir) sermões
sobre o fim dos tempos, questões sociais, mordomia financeira, casamento ou
criação de filhos, mas eles parecem mais apaixonados pelas mensagens que focam
em culpa, graça e gratidão. Fico preocupado quando uma congregação se cansa de
ouvir sobre a Trindade, expiação, novo nascimento ou a ressurreição e quer
ouvir outra longa série sobre como lidar com stress ou as 70 semanas de Daniel.
2. A equipe ministerial da igreja não gosta de ir trabalhar. Todo
emprego tem seus altos e baixos. Todo escritório terá suas tensões de tempos em
tempos. Mas líderes leigos devem notar quando a equipe ministerial da igreja
parece desanimada, infeliz e parecem se arrastar para igreja todos os dias. Os
membros da equipe ministerial aparentam gostar de estar perto uns dos outros?
Eles falam entre si como amigos? Você os vê rindo juntos? Se não, talvez haja
algum desgaste, conflito ou algo pior.
3. O pastor e sua esposa não se dão bem. Eu não estou falando de
eventuais discordâncias ou crises que todo casal eventualmente enfrenta. Estou
falando de um casamento que se tornou frio e sem amor, um relacionamento
agressivo e sem paixão. Toda igreja deveria ter algum tipo de dinâmica para
questionar o pastor e sua esposa sobre como seu casamento está indo (ou se não
está). Igrejas podem suportar uma grande dose de conflito, mas raramente serão
lugares saudáveis e alegres se o pastor e sua esposa estão secretamente (ou
abertamente) infelizes e doentes.
4. Quase ninguém sabe para onde vai o dinheiro. Igrejas lidam com suas
finanças de formas diferentes. Conforme elas crescem, pode ser difícil, e até
desaconselhável, que todo mundo na igreja tenha algum tipo de voto sobre a
alocação de cada centavo. Entretanto, quando se trata de finanças, tender para
o lado da transparência raramente é uma má ideia. No mínimo, deve haver mais do
que apenas um pequeno grupo de pessoas que sabem (e decidem) para onde o
dinheiro vai. Não faça do sustento do pastor uma questão de segurança nacional.
5. A liderança nunca muda, ou sempre muda. Ambos são sinais
alarmantes. Por um lado, igrejas se tornam centradas em si mesmas quando nunca
há sangue novo entre seus líderes. Se seus presbíteros, diáconos, líderes,
pastores auxiliares, professores de EBD e líderes de música são os mesmos da
época da ditadura militar, você tem um problema. Talvez os velhos líderes são
gananciosos com o poder, talvez ninguém esteja sendo treinado, talvez nenhuma
pessoa nova tenha se tornado membro da igreja nos últimos vinte anos. Todos
esses são grandes problemas. Por outro lado, se os presbíteros nunca parecem
interessados em servir mais um mandato, os líderes nunca permanecem por mais de
alguns anos e os voluntários se voluntariam apenas uma vez, a cultura da sua
igreja pode ser muito restritiva, muito cheia de conflitos ou muito
intransigente com pequenas falhas.
6. Ninguém nunca se levanta para o ministério pastoral ou é enviado para o
campo missionário. Boa pregação inspira jovens a pregar. Clareza a respeito
do evangelho leva homens e mulheres a compartilhar o evangelho com aqueles que
não o conhecem. Igrejas pequenas podem não enviar trabalhadores todo ano, mas a
congregação que quase nunca produz pastores e missionários quase nunca é uma
igreja saudável.
7. Há um gargalo no processo de decisões. Isso pode ser culpa da
congregação. Alguns membros da igreja insistem em aprovar cada decisão, de
contratação de funcionários à duração do culto e à proverbial cor do carpete.
Se todo mundo precisa votar sobre toda decisão, sua igreja nunca será maior que
o número de pessoas que pode votar em todas elas com sabedoria (o que é,
normalmente, muito pequeno). Mas o gargalo também pode ser culpa do pastor. Em
algumas igrejas, nada acontece sem a aprovação pessoal e supervisão direta do
pastor – uma receita certa para rixas, crescimento reprimido e afastamento de
líderes capacitados.
8. A pregação se tornou inconstante. Isso pode ocorrer de diversas
formas. Talvez o pastor já não abra o púlpito para outros pastores da equipe
ministerial e um eventual convidado. Talvez o contrário esteja acontecendo e o
pastor parece estar recorrendo mais às alternativas do que deveria. Talvez a
pregação tenha se tornado mais agressiva, talvez sempre bata na mesma tecla ou
mostra sinais de falta de preparação. Talvez você tenha notado que o pregador
está cada vez mais dependente de vídeos projetados ou esboços de sermão
pré-preparados, ou constantemente reaproveita sermões de pouco tempo atrás.
Ninguém quer que a pregação seja entediante. Alguma variação é esperada e
bem-vinda. Mas tente observar mais de perto se os pregadores parecem
doutrinariamente instáveis, irritados ou exaustos.
9. Há problemas que todo mundo sabe mas que ninguém fala abertamente.
Igrejas doentes muitas vezes tem uma grande regra informal: a pessoa que fala
dos nossos problemas é o problema. Pode ser um pastor que não sabe pregar, um
pianista que sempre sai na hora do sermão, um presbítero que aparenta ter
problemas matrimoniais, um líder de jovens que não sabe falar com os mais
novos, um diácono que não parece se dar bem com ninguém ou um líder que lidera
por força e intimidação. Claro, muitos problemas devem ser resolvidos de forma
privada e discreta, mas isso não é desculpa para varrer para debaixo do tapete
o que é claro e visível para todos. Lidar com o que todo mundo sabe é, muitas
vezes, o primeiro passo para minar o poder de um problema.
Autor:
Kevin DeYoung
Tradução: Filipe
Schulz
Via:
Reforma 21