1. Sua condição
Nunca será suficiente o
bastante enfatizar que os redimidos no céu, no período compreendido entre sua
morte terrena e sua completa ressurreição, não atingiram a glorificação final.
Eles estão vivendo no que geralmente é chamado de o estado
intermediário, não, contudo, o estado final. Embora, certamente, eles
estejam serenamente felizes, a felicidade deles não é ainda completa.
Sobre este assunto o Dr. H.
Bavinck se expressa como segue (minha tradução):
A. condição do santificado no céu,
embora sempre tão gloriosa, tem um caráter provisório, e isto por várias
razões: a) eles estão agora no céu e limitados a este céu, mas ainda não
possuem a terra que, junto com o céu, foi-lhes prometida como uma herança; b)
acrescente-se a isto o fato de que eles estão privados de um corpo, e esta
existência incorpórea não é um
lucro, mas uma perda, não é
um acréscimo, mas uma diminuição do ser, visto que o corpo pertence à essência
do homem; c) e, finalmente, a parte nunca pode estar completa sem o todo.
Somente na comunhão de todos os santos é que a abundância do amor de Cristo pode
ser conhecida (Ef 3.18). Um grupo de crentes não pode ser aperfeiçoado sem o
outro grupo (Hb 11.40). (Gereformeerde
Dogmatiek , 3ª ed., Vol. 4, p. 708,709).
Nisto nós estamos de comum
acordo. Mas isso não significa que entre este estado intermediário e o estado
final (depois da ressurreição) haja um intervalo completo, um total contraste. Pelo contrário, da mesma maneira que há em muitos aspectos imediatamente uma continuidade
entre nossa vida aqui e nossa vida no céu após a morte (veja, por exemplo, ]o
11.26; Ap 14.13), então, também há continuidade entre aquele estado
intermediário e o estado final. Estaria então definitivamente errado dizer a
respeito dos símbolos das Escrituras, que descrevem o estado final, que estes
não têm nada para nos falar com relação ao estado intermediário. A dourada
Jerusalém realmente pertence ao futuro, mas também ao presente, até onde este
presente pressagie o futuro. (Esta é a posição que eu mantive em meu livro More Than Conquerors, an lnterpretation of the Book of Revelation; veja
especialmente as páginas 238 e 243, a qual eu ainda apoio).
Pensando nisto é então
completamente legítimo usar Apocalipse 7.9-17 como base para um estudo sobre
o estado intermediário.
Agora, muitas das
características achadas aqui em
Apocalipse 7 são de um caráter negativo. Nós aprendemos que os redimidos são
libertos de toda provação e sofrimento, de toda forma de tentação e
perseguição: nunca mais sentirão fome, sede, ou calor. Há, também,
características positivas. O Cordeiro é o seu Pastor. O Cordeiro conduz o seu
rebanho às fontes da água da vida. Esta água simboliza a vida eterna, a
salvação. As fontes de água indicam a fonte da vida, para que, através do
Cordeiro, os redimidos tenham uma comunhão eterna e ininterrupta com o Pai.
Finalmente, o toque mais doce de todos: E Deus lhes enxugará dos olhos
toda lágrima. Não só as lágrimas serão enxutas ou até mesmo extirpadas;
elas são tiradas dos olhos, de forma que nada mais resta a não ser alegria
perfeita, felicidade, glória, doçura, comunhão, vida abundante. E o próprio
Deus é o Autor desta perfeita salvação.
2. Sua atividade
a. Eles descansam. Veja em Apocalipse 14.13. O corpo, certamente,
está em repouso no sepulcro e espera o dia da ressurreição. Mas a alma agora
descansa da competição da vida, do trabalho pesado, de se entristecer, da dor,
de sua angústia mental e especialmente de seu pecado!
b. Eles veem a face de Cristo. Veja em Apocalipse 22.4 (é claro que
isto será verdade em uma sensação até mais completa após a ressurreição). Os
olhos dos redimidos (sim, até mesmo as almas têm olhos; quem negará isto?) são
dirigidos a Cristo, como a revelação da Trindade de Deus. Aqui, nesta vida
terrena, nossos olhos são desviados frequentemente para longe de Cristo.
Desta forma, uma pessoa é lembrada como a famosa pintura de Goetze
("Menosprezado e Rejeitado dos Homens"), na qual pode-se notar como
todos os olhos são virados para longe das dilacerações por lança e da coroa de
espinhos do Salvador. Mas no céu nosso Senhor será o próprio centro de interesse
e atenção, porque ele será todo glorioso, e nós já não seremos egocêntricos.
Nós não poderemos virar nossos olhos para longe dele.
c. Eles ouvem. Eles não ouvirão os coros gloriosos e hinos descritos
no livro de Apocalipse? Cada um dos redimidos não ouvirá o que todos os outros
redimidos, ou o que os anjos, e o que Cristo lhes tem a falar?
d. Eles trabalham. Os seus servos o servirão. Haverá uma grande
variedade de trabalho, como está claro em versículos tais como Mateus 25.21 e,
também, 1 Coríntios 15.41,42. Será um trabalho feito de bom grado, alegremente.
Não diga que este trabalho é impossível pelo fato das almas estarem sem os seus
corpos. Os anjos – que também não têm nenhum corpo – não são enviados para
realizar tarefas?
e. Eles se regozijam. Porque toda tarefa os estará, assim, satisfazendo
completamente e restaurando, os redimidos cantam enquanto trabalham. Este canto
também irá, obviamente, ser diferente após a ressurreição. Ainda assim, não é
possível que as almas louvem a Deus? Não é possível para os redimidos terem
hinos em seus corações? Além disso, eles entraram na alegria
de seu Senhor.
f. Eles vivem. Até mesmo durante o estado intermediário, os redimidos
realmente estão vivos. Eles não estão sonhando. Nós não devemos conceber estas
almas como sombras silenciosas que deslizam por aí. Não, os redimidos vivem e
se alegram em uma comunhão abundante e gloriosa (sobre a qual nós esperamos
falar mais tarde, no capítulo 13). Além disso, é com Cristo que eles vivem.
Onde quer que você o ache, você os achará. Tudo o que ele faz, eles fazem (até
onde para eles é possível fazer). Tudo o que ele tem, ele compartilha com eles.
Se você deseja provas, veja em Apocalipse 3.12; 3.21; 4.4; cf. 14.14; 14.l;
19.11; cf. 19.14; 20.4.
g. Eles reinam. Eles compartilham com Cristo em sua glória real.
Autor:
William Hendriksen
Trecho extraído do livro A Vida Futura Segundo a Bíblia, pág
67-70. Editora: Cultura Cristã