5 de maio de 2016

Qual é a condição das almas no céu e o que estão fazendo?


1. Sua condição

Nunca será suficiente o bastante enfatizar que os redimidos no céu, no período compreendido entre sua morte terrena e sua completa ressurreição, não atingiram a glorificação final. Eles estão vi­vendo no que geralmente é chamado de o estado intermediário, não, contudo, o estado final. Embora, certamente, eles estejam serenamente felizes, a felicidade deles não é ainda completa.

Sobre este assunto o Dr. H. Bavinck se expressa como segue (minha tradução):

A. condição do santificado no céu, embora sempre tão gloriosa, tem um caráter provisório, e isto por várias razões: a) eles estão agora no céu e limitados a este céu, mas ainda não possuem a terra que, junto com o céu, foi-lhes prometida como uma herança; b) acrescente-se a isto o fato de que eles estão privados de um corpo, e esta existência incorpórea não  é um lucro,  mas  uma  perda,  não  é um acréscimo, mas uma diminuição do ser, visto que o corpo pertence à essência do homem; c) e, finalmente, a parte nunca pode estar completa sem o todo. Somente na comunhão de todos os santos é que a abundância do amor de Cristo pode ser conhecida (Ef 3.18). Um grupo de crentes não pode ser aperfeiçoado sem o outro grupo (Hb 11.40). (Gereformeerde Dogmatiek , 3ª ed., Vol. 4, p. 708,709).

Nisto nós estamos de comum acordo. Mas isso não significa que entre este estado intermediário e o estado final (depois da ressurreição) haja um intervalo completo, um total contraste. Pelo contrário, da mesma maneira que há em muitos aspectos imediatamente uma continuidade entre nossa vida aqui e nossa vida no céu após a morte (veja, por exemplo, ]o 11.26; Ap 14.13), então, também há continui­dade entre aquele estado intermediário e o estado final. Estaria en­tão definitivamente errado dizer a respeito dos símbolos das Escritu­ras, que descrevem o estado final, que estes não têm nada para nos falar com relação ao estado intermediário. A dourada Jerusalém real­mente pertence ao futuro, mas também ao presente, até onde este presente pressagie o futuro. (Esta é a posição que eu mantive em meu livro More Than Conquerors, an lnterpretation of the Book of Revelation; veja especialmente as páginas 238 e 243, a qual eu ainda apoio).

Pensando nisto é então completamente legítimo usar Apocalip­se 7.9-17 como base para um estudo sobre o estado intermediário.

Agora, muitas das características achadas aqui em Apocalipse 7 são de um caráter negativo. Nós aprendemos que os redimidos são libertos de toda provação e sofrimento, de toda forma de tentação e perseguição: nunca mais sentirão fome, sede, ou calor. Há, tam­bém, características positivas. O Cordeiro é o seu Pastor. O Cordeiro conduz o seu rebanho às fontes da água da vida. Esta água simboliza a vida eterna, a salvação. As fontes de água indicam a fonte da vida, para que, através do Cordeiro, os redimidos tenham uma comunhão eterna e ininterrupta com o Pai. Finalmente, o toque mais doce de todos: E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima. Não só as lágrimas serão enxutas ou até mesmo extirpadas; elas são tiradas dos olhos, de forma que nada mais resta a não ser alegria perfeita, felicidade, glória, doçura, comunhão, vida abundante. E o próprio Deus é o Autor desta perfeita salvação.

2. Sua atividade

a. Eles descansam. Veja em Apocalipse 14.13. O corpo, certa­mente, está em repouso no sepulcro e espera o dia da ressurreição. Mas a alma agora descansa da competição da vida, do trabalho pesado, de se entristecer, da dor, de sua angústia mental e especialmente de seu pecado!

b. Eles veem a face de Cristo. Veja em Apocalipse 22.4 (é claro que isto será verdade em uma sensação até mais completa após a ressurreição). Os olhos dos redimidos (sim, até mesmo as almas têm olhos; quem negará isto?) são dirigidos a Cristo, como a revelação da Trindade de Deus. Aqui, nesta vida terrena, nossos olhos são desvia­dos frequentemente para longe de Cristo. Desta forma, uma pessoa é lembrada como a famosa pintura de Goetze ("Menosprezado e Rejeitado dos Homens"), na qual pode-se notar como todos os olhos são virados para longe das dilacerações por lança e da coroa de espinhos do Salvador. Mas no céu nosso Senhor será o próprio centro de interesse e atenção, porque ele será todo glorioso, e nós já não seremos egocêntricos. Nós não poderemos virar nossos olhos para longe dele.

c. Eles ouvem. Eles não ouvirão os coros gloriosos e hinos descritos no livro de Apocalipse? Cada um dos redimidos não ouvirá o que todos os outros redimidos, ou o que os anjos, e o que Cristo lhes tem a falar?

d. Eles trabalham. Os seus servos o servirão. Haverá uma grande variedade de trabalho, como está claro em versículos tais como Mateus 25.21 e, também, 1 Coríntios 15.41,42. Será um trabalho feito de bom grado, alegremente. Não diga que este trabalho é impossível pelo fato das almas estarem sem os seus corpos. Os anjos – que também não têm nenhum corpo – não são enviados para realizar tarefas?

e. Eles se regozijam. Porque toda tarefa os estará, assim, satisfazendo completamente e restaurando, os redimidos cantam enquanto trabalham. Este canto também irá, obviamente, ser diferente após a ressurreição. Ainda assim, não é possível que as almas louvem a Deus? Não é possível para os redimidos terem hinos em seus corações? Além disso, eles entraram na alegria de seu Senhor.

f. Eles vivem. Até mesmo durante o estado intermediário, os redimidos realmente estão vivos. Eles não estão sonhando. Nós não devemos conceber estas almas como sombras silenciosas que deslizam por aí. Não, os redimidos vivem e se alegram em uma comunhão abundante e gloriosa (sobre a qual nós esperamos falar mais tarde, no capítulo 13). Além disso, é com Cristo que eles vivem. Onde quer que você o ache, você os achará. Tudo o que ele faz, eles fazem (até onde para eles é possível fazer). Tudo o que ele tem, ele compartilha com eles. Se você deseja provas, veja em Apocalipse 3.12; 3.21; 4.4; cf. 14.14; 14.l; 19.11; cf. 19.14; 20.4.

g. Eles reinam. Eles compartilham com Cristo em sua glória real.



Autor: William Hendriksen
Trecho extraído do livro A Vida Futura Segundo a Bíblia, pág 67-70. Editora: Cultura Cristã