Deuteronômio 2:30 diz:
Mas Siom, rei de Hesbom, não
nos quis deixar passar por sua terra, porquanto o SENHOR teu Deus endurecera o
seu espírito, e fizera obstinado o seu coração para to dar na tua mão, como
hoje se vê.
Mas espere um minuto! Alguém,
lendo os versículos anteriores, pode desejar observar que Deus não causa os
eventos ali mencionados, mas que ele meramente permite que aconteçam. Tal consideração
ignora a onipotência e soberania de Deus. Ela pressupõe que existe alguma força
no universo independente de Deus; sem dúvida Deus pode agir contra essa força,
mas ele não o faz; e a força ou agente causa algum evento inteiramente à parte
da causação de Deus. Agora, é verdade que Daniel 11:362 não diz
explicitamente que foi Deus quem determinou o que deveria ser feito. Todavia,
quem mais poderia? É verdade também que Isaías não diz explicitamente que Deus
faz tudo. Isaías meramente diz que Deus faz tudo o que quer. Assim também, quando
Jó 23:13-14 diz que o Senhor cumprirá o que está ordenado a meu respeito, não
existe nenhuma afirmação explícita que Deus ordena e cumpre todas as coisas
para todo o mundo. Mas como poderia ser diferente, se os versículos forem
colocados no argumento geral do seu contexto?
O que perturba certos cristãos
é a ideia de que Deus causa eventos maus. Alguns cristãos querem até mesmo
negar que alguns bons eventos procedem do poder de Deus. Quando o dr. Billy
Graham pregou em Indianápolis, eu fui ouvi-lo. Perto do fim do culto, ele pediu
que as pessoas viessem até a frente e uma multidão veio. Com eles diante de si,
o evangelista Graham se dirigiu à grande audiência ainda em seus assentos e
criticou durante cinco ou dez minutos o Presbiterianismo. Você pode ter orado
por eles antes, e isso é bom. Vocês podem orar por eles mais tarde, e isso será
bom também. Mas nesse momento exato a oração é inútil, pois nem mesmo Deus pode
ajudá-los. Eles devem aceitar a Cristo por seu próprio livre-arbítrio, por si
mesmos, e Deus não tem nenhum poder sobre a vontade do homem.
Sem dúvida, isso é
Arminianismo completo. Mas a maioria dos cristãos fica mais perturbada com a
ideia de Deus causando eventos maus. O primeiro versículo dessa subseção diz
explicitamente que Deus endureceu o coração de Siom, rei de Hesbom.
Talvez Faraó devesse ter sido
usado para esse ponto. Quando Faraó é mencionado, algumas pessoas admitem relutantemente
que a Bíblia diz que Deus endureceu seu coração, mas retornam rapidamente
dizendo que a Bíblia também diz que Faraó endureceu seu próprio coração. Isso,
contudo, não é muito eficaz como uma resposta. Admitidamente Deus
frequentemente age por meio da instrumentalidade humana. A questão importante,
portanto, é se Deus é ou não a causa desses instrumentos. Ora, no livro de
Êxodo, o endurecimento do coração de Faraó é mencionado dezoito vezes,
adicionado a mais um versículo que se aplica aos egípcios em geral. Êxodo 4:21,
7:3, 13; 9:12; 10:1, 20, 27; 11:10; 14:4, 8 dizem, todos eles, que o Senhor
endureceu o coração de Faraó. O versículo extra diz que o Senhor endureceu o
coração dos egípcios (Êx 14:17). Isso é onze de dezenove vezes. Em Êxodo 7:14,
22; 8:19; 9:7, 35 nenhuma menção explícita de quem endureceu o coração de Faraó
é feita. Isso são cinco vezes. Os outros versículos, três em número, 8:15, 32 e
9:34 dizem que Faraó endureceu seu coração. Quem, então, em face de onze
declarações de que o Senhor endureceu o coração de Faraó pode negar que Deus é a
causa desse endurecimento? Não somente essa declaração é feita três vezes mais, mas ela é feita três vezes antes das outras declarações. Afinal, quem conduzia
os assuntos do Egito, Faraó ou Deus? Naturalmente Faraó também endureceu seu
próprio coração, pois Deus frequentemente usa a instrumentalidade humana em
certas situações. Mas a causa última, original e primeira é Deus.
Ora, após essa digressão sobre
o caso paralelo de Faraó, podemos retornar ao caso menos conhecido de Siom, rei
de Hesbom, cujo espírito o Senhor tornou obstinado para o propósito de
entregá-lo nas mãos de Moisés. Podemos de fato retornar ao versículo, Deuteronômio
2:30, mas dificilmente podemos dizer algo adicional, exceto que não existe
nenhuma declaração que Siom endureceu seu coração. A conclusão imediata,
portanto, é que o endurecimento do coração humano está dentro do escopo da
atividade divina.
Mais tarde, na Bíblia, 1 Samuel
16:14 diz: E o Espírito do SENHOR se retirou de Saul, e atormentava-o um
espírito mau da parte do SENHOR. Esse versículo indica que as políticas,
vitórias e sucessos anteriores de Saul em unificar Israel tinham sido realizas
por meio do Espírito do Senhor. O Espírito Santo tinha lhe dado sabedoria e
força. Agora o Espírito Santo deixou a Saul. Nenhuma inquirição será feita
agora sobre se Saul tinha sido regenerado e nesse instante “desregenerado”. O
Espírito Santo pode habitar com um homem, especialmente um rei de Israel divinamente
selecionado, com diversos resultados. O que é claro aqui é que o Senhor enviou
um espírito para atormentar ou aterrorizar Saul. Que essa não é uma ocorrência
totalmente singular, será visto no próximo versículo.
Em 1 Reis 22:20-23, o autor
inspirado escreve:
Essa passagem afirma que o Senhor queria que Acabe atacasse Ramote de Gileade e fosse assassinado ali. O próprio Acabe também queria atacar Ramote, pois esperava capturá-la dos sírios. Todos os falsos profetas, conhecendo o desejo do rei, disseram-lhe o que ele queria ouvir e profetizaram sucesso. Jeosafá, contudo, o rei de Judá, que o acompanharia na batalha, queria uma profecia da parte do Senhor. Micaías, um profeta verdadeiro, mas um homem a quem Acabe odiava, foi encontrado e trazido diante deles. Primeiro Micaías concordou com os falsos profetas – talvez indiferente ou de alguma forma recusando responsabilidade. Sua atitude ficou evidente, pois o rei disse: Até quantas vezes te conjurarei, que não me fales senão a verdade em nome do SENHOR? (v. 16). Sendo posto sob juramento, Micaías predisse a morte de Acabe. Ele disse até mesmo a Acabe que Deus tinha enviado um espírito mau para o incitar à morte. A despeito de tal discurso claro, Acabe atacou Ramote de Gileade e foi assassinado, pois não podia resistir ao espírito de mentira que Deus tinha enviado. Acabe não podia resistir, pois Deus tinha decretado: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás. Na sequência Deus dirigiu uma flecha atirada a esmo até a abertura nas juntas da armadura de Acabe, e ele morreu. Agora, observe, foi tão fácil para Deus controlar a decisão de Acabe quanto controlar a flecha sem rumo.
E disse o SENHOR: Quem induzirá Acabe, para que suba, e
caia em Ramote de Gileade?... Então saiu um espírito, e se apresentou diante do
SENHOR, e disse: Eu o induzirei... Eu sairei, e serei um espírito de mentira na
boca de todos os seus profetas. E ele [o Senhor] disse: Tu o induzirás, e ainda
prevalecerás; sai e faze assim.
Essa passagem afirma que o Senhor queria que Acabe atacasse Ramote de Gileade e fosse assassinado ali. O próprio Acabe também queria atacar Ramote, pois esperava capturá-la dos sírios. Todos os falsos profetas, conhecendo o desejo do rei, disseram-lhe o que ele queria ouvir e profetizaram sucesso. Jeosafá, contudo, o rei de Judá, que o acompanharia na batalha, queria uma profecia da parte do Senhor. Micaías, um profeta verdadeiro, mas um homem a quem Acabe odiava, foi encontrado e trazido diante deles. Primeiro Micaías concordou com os falsos profetas – talvez indiferente ou de alguma forma recusando responsabilidade. Sua atitude ficou evidente, pois o rei disse: Até quantas vezes te conjurarei, que não me fales senão a verdade em nome do SENHOR? (v. 16). Sendo posto sob juramento, Micaías predisse a morte de Acabe. Ele disse até mesmo a Acabe que Deus tinha enviado um espírito mau para o incitar à morte. A despeito de tal discurso claro, Acabe atacou Ramote de Gileade e foi assassinado, pois não podia resistir ao espírito de mentira que Deus tinha enviado. Acabe não podia resistir, pois Deus tinha decretado: Tu o induzirás, e ainda prevalecerás. Na sequência Deus dirigiu uma flecha atirada a esmo até a abertura nas juntas da armadura de Acabe, e ele morreu. Agora, observe, foi tão fácil para Deus controlar a decisão de Acabe quanto controlar a flecha sem rumo.
É muito provável que algumas
pessoas, lendo tudo isso, negarão que a Bíblia diz tais coisas; ou elas podem,
após checar na Bíblia para ver que as citações feitas aqui são exatas, reclamar
que essas considerações dão uma visão unilateral e, portanto, distorcida do que
Deus faz.
O primeiro grupo de pessoas são
aqueles que pensam que porque eles são cristãos (de algum tipo), tudo no que
eles creem deve ser doutrina cristã sadia simplesmente porque creem nela. Eles
creem, por qual razão é difícil dizer, que Deus não é a causa primeira e última
de todas as coisas porque ele simplesmente não pode ser a causa do mal. Esse
ponto de vista é, sem dúvida, absolutamente anticristão. A Bíblia o contradiz de
capa a capa; e a profissão de fé deles não é razão para supor que suas crenças
são bíblicas.
O segundo grupo de pessoas são
mais bem informadas. Eles têm lido a Bíblia e pelo menos admitem relutantemente
que Deus é causa de todas as coisas. Mas eles se queixam que o material aqui coberto
é unilateral e, portanto, constitui uma distorção da posição bíblica. Essa
queixa tem de fato certo mérito inicial. É verdade que o material desse
capítulo é unilateral. Se ele é, portanto, uma distorção ou não, é outra
questão. Sempre que qualquer livro começa a explicar determinado assunto, seu
argumento inicial deve ser unilateral, pela simples razão de que todos os lados
não podem ser impressos na mesma página. O lado que foi mencionado nas últimas
páginas é o lado que mais precisa ser enfatizado. Nenhum grupo de pessoas
notável que creem em Deus negam que Deus causa os eventos bons, mesmo que alguns
neguem que ele cause todos os eventos bons.
O mau entendimento popular e abrangente
da Bíblia consiste em negar que Deus causa eventos maus. Portanto, esse fato
deve ser primeiro estabelecido por vários exemplos a partir de todas as partes
da Escritura. O assunto não terminará aqui. Se o relato da predestinação
parasse aqui, alguém poderia dizer corretamente que o mesmo é não somente
unilateral, mas distorcido. O objeto culminante e mais imediato da
predestinação é a salvação dos crentes. A fé é o dom de Deus, e Deus escolhe,
elege ou predestina aqueles a quem ele dará fé. Essa ideia, e seus concomitantes,
não será omitida dessa explicação da predestinação. E então será visto que o
todo não é tão unilateral, afinal de contas. Todavia, para que o lado feliz seja
propriamente entendido e não concebido erroneamente num pano de fundo
não-bíblico, a presente série de versículos deve continuar um pouco mais. O
objetivo é mostrar que Deus causa todas as coisas – todas as coisas más e todas
as coisas boas.
O próximo versículo é 2
Crônicas 25:16, que diz: Então parou o profeta, e disse: Bem vejo eu que já
Deus deliberou destruir-te. O profeta tinha acabado de repreender o Rei
Amazias por sua idolatria. O rei disse que tinha ouvido o suficiente, e se o
profeta não quisesse ser espancado, deveria se calar. Assim, o profeta terminou
seu discurso com a declaração: Bem vejo eu que já Deus deliberou destruir-te.
A ocorrência seguinte da
atividade determinadora e causativa de Deus não é necessariamente uma causação
do mal. É uma coletânea de eventos, alguns dos quais podem ser maus e alguns
bons. O versículo é Jó 14:5, que diz: Visto que os seus dias estão
determinados, contigo está o número dos seus meses; e tu lhe puseste limites, e
não passará além deles. Esse versículo refere-se ao tempo de vida de toda
pessoa. O homem, nascido da mulher, é de poucos dias... Quanto tempo um
homem vive, o número de seus meses, é decidido por Deus. Se Deus tivesse
decidido que Moisés ou Joe Doaks deveriam viver cinquenta e cinco anos, três
meses e onze dias, é assim que teria sido. Essa teria sido a fronteira ou o
limite além do qual eles não poderiam passar.
Após Jó vem Salmos, e Salmos
105:25 diz: Virou o coração deles para que
odiassem o seu povo, para que tratassem astutamente aos seus servos.
Essa é uma reiteração do que
foi encontrado em Êxodo, e nos traz de volta ao título dessa subseção. A
subseção tem sido aspirada pelo menos em dois pontos levemente diferentes. O
principal é que Deus determina as escolhas que os homens fazem. Mas visto que
os homens frequentemente fazem escolhas más, alguma atenção tem sido dada ao
fato que Deus causa o mal. Aqui, a coisa má é uma escolha humana. O salmista
está se referindo aos egípcios a quem o Senhor, anos após a morte de José, fez
odiar os israelitas. Odiar é um estado mental, uma escolha, possivelmente uma
emoção. Ele não é meramente, principalmente, ou nem mesmo de forma alguma uma
ação visível. Pode resultar em ações visíveis, mas o ódio em si é inteiramente
mental. Essa mentalidade é o que Deus causou nos egípcios. Deus fê-los pensar
dessa forma. O versículo diz claramente que Deus virou o coração deles para
odiar o seu povo.
Embora o mal e o ódio tenham
recebido certa ênfase nessa discussão, pois isso é o que muitas pessoas perdem
quando leem a Bíblia, Deus também causa decisões boas, inclusive tornando o ódio
em favor. Pois o SENHOR deu ao povo graça aos olhos dos egípcios, e estes lhe
davam o que pediam; e despojaram aos egípcios (Êx 12:36). Aqui Deus alterou e
reconstruiu completamente a atitude mental dos egípcios. Obviamente, ele
controla o que as pessoas pensam.
O próximo versículo tem um
pouco de embaraço que não precisa ser solucionado agora, pois um dos pontos
permanece não afetado. Provérbios 16:1 diz: Do
homem são as preparações do coração, mas do SENHOR a resposta da língua. A American Version, as traduções francesas
e alemães traduzem assim:
Os planos do coração pertencem
ao homem; mas a resposta da língua é do SENHOR.
À primeira vista, a tradução King James faz excelente sentido, e encaixa-se
perfeitamente com o curso do argumento presente. Assim, o versículo
significaria que o Senhor controla tanto o que um homem pensa, como o que ele
diz. Contudo, porque existe uma questão sobre a tradução, não seria sábio
selecionar uma que é alternativa simplesmente porque se encaixa com o argumento
presente tão bem. O argumento presente é tão abundantemente reforçado que não
precisa de um apoio duvidoso. A outra tradução poderia dizer que, a despeito do
que um homem pensa por si só, Deus controla as palavras que ele fala; ele pode
pretender negar um pedido de empréstimo, mas precisa expressá-lo em palavras.
Isso sem dúvida não pode ser o que o versículo significa. Mas seja qual for o
significado completo, a ideia inclusa é que Deus controla o que um homem diz.
O próximo versículo novamente
não é especificamente um caso de mal, mas indica circunstâncias boas e más. Ela
é, contudo, uma afirmação específica que Deus controla os pensamentos dos homens.
Provérbios 21:1 diz: Como ribeiros de
águas assim é o coração do rei na mão do SENHOR, que o inclina a todo o seu
querer. Esse versículo declara o princípio geral, e um exemplo particular é
encontrado em Esdras 7:6: Segundo a mão
do SENHOR seu Deus, que estava sobre ele [Esdras], o rei [da Pérsia] lhe deu
tudo quanto lhe pedira. Deus controla todas as políticas e decisões governamentais.
Não somente Deus fez Faraó odiar os israelitas, mas fez com que Ciro enviasse
os cativos de volta para reconstruir Jerusalém. Ele também fez com que Hitler
marchasse para Rússia e fez com que Johnson expandisse uma guerra no Vietnã.
Deus muda a mente de um governador da forma como quer. Se agora temos hesitado
em dizer que Provérbios 16:1 afirma que Deus controla os pensamentos, bem como o
discurso de um homem, Provérbios 21:1 o diz claramente. Deus controla os pensamentos,
planos e decisões dos homens.
A seguir vem Isaías 19:17, que
diz: E a terra de Judá será um espanto para
o Egito... por causa do propósito do SENHOR dos Exércitos, que determinou
contra eles. Não há nada particularmente novo nesse versículo; é apenas
mais um que atribui a Deus a determinação de trazer tribulações a uma nação. Jeremias
13:13-14 é similar, porém mais completo:
Mas tu dize-lhes: Assim diz o SENHOR: Eis que eu encherei de embriaguez a todos os habitantes desta terra, e aos reis da estirpe de Davi, que estão assentados sobre o seu trono, e aos sacerdotes, e aos profetas, e a todos os habitantes. E fá-los-ei em pedaços atirando uns contra os outros, e juntamente os pais com os filhos, diz o SENHOR; não perdoarei, nem pouparei, nem terei deles compaixão, para que não os destrua.
Aqui a destruição determinada não é dirigida contra uma nação meramente
mencionada por nome e em geral, mas especificamente contra indivíduos. Deus
encherá essas pessoas com embriaguez e as atirará umas contras as outras.
Mas tu dize-lhes: Assim diz o SENHOR: Eis que eu encherei de embriaguez a todos os habitantes desta terra, e aos reis da estirpe de Davi, que estão assentados sobre o seu trono, e aos sacerdotes, e aos profetas, e a todos os habitantes. E fá-los-ei em pedaços atirando uns contra os outros, e juntamente os pais com os filhos, diz o SENHOR; não perdoarei, nem pouparei, nem terei deles compaixão, para que não os destrua.
Para concluir essa série de
versículos no Antigo Testamento, é apropriado citar Lamentações 3:38: Porventura da boca do Altíssimo não sai
tanto o mal como o bem?. Aqui Jeremias confronta o objetor que pensa que
Deus envia somente o bem, e não o mal. Esse é um equívoco fundamental sobre a
natureza e a atividade divina. Deus é a causa original de todas as coisas. De
sua boca procede tanto o bem como o mal.
Agora é hora de nos voltarmos
para o Novo Testamento, e uma vez mais uma série de versículos serão
selecionados, começando em Mateus e indo até o fim. Com a exceção do primeiro
versículo, todos eles conterão a palavra e a ideia de determinação. O primeiro
versículo contém a ideia, mas não a palavra em si.
Em Mateus 26:53-54 lemos:
Ou pensas tu que eu não
poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de
anjos? Como, pois, se cumpririam as Escrituras, que dizem que assim convém que
aconteça?
Assim
convém que aconteça são as palavras importantes. Jesus tinha sido
traído. Pedro, assim aprendemos de João, desembainhou sua espada e tirou a
orelha de um servo. Então, Jesus repreendeu Pedro e lhe disse que ele, Jesus,
poderia reunir doze legiões de anjos; mas se ele o fizesse, como se cumpririam
as Escrituras, que diziam que assim convinha acontecer? A palavra assim inclui
a traição de Judas, a prisão e, por implicação, os julgamentos e a crucificação.
Essas coisas tinham que ser da forma como ocorreram.
Deveríamos pensar cuidadosamente
sobre as implicações da profecia com referência à extensão da atividade causativa
de Deus. Não é apenas o ato profetizado em sua individualidade que é fixado e
determinado pelo decreto de Deus. Todos os detalhes que precedem o evento e
tornam-no possível e real devem ser inclusos, pois de outra forma o evento não
aconteceria. Judas foi escolhido para seu papel repreensível, mas em
antecipação os pais de Judas tiveram que ser escolhidos. Alguém pensa que Deus
poderia ter escolhido Judas e ter profetizado que assim convém que aconteça,
sem saber quem seriam os pais de Judas? Se assim convém que aconteça, então
estava determinado que o sumo sacerdote deveria empregar um certo homem como
servo e enviá-lo à noite. O homem não poderia ter ficado doente à tarde e ter
ido para a cama, pois assim convinha que acontecesse. Ao mesmo tempo, Jesus
censurou os oficiais. Por que eles vieram até ele de noite, com um traidor?
Eles não poderiam tê-lo arrastado de dia, quando ele estava ensinando
abertamente no templo? Isso certamente indica o caráter covarde dos sacerdotes,
e de fato eles eram covardes e os oficiais vieram à noite, mas tudo isto aconteceu
para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta.
Todos os seis versículos
seguintes contêm, pelo menos no grego, a palavra determinar. Cada um deles
indica algum aspecto da determinação de Deus.
Lucas 22:22 diz: E, na verdade, o Filho do homem vai segundo
o que está determinado; mas ai daquele homem por quem é traído!. Esse
versículo é a predição de Cristo, enquanto ainda sentado na mesa no cenáculo, de
que Judas estava a ponto de traí-lo. Deve ser notado o fato que o que estava
prestes a acontecer tinha sido determinado. Não foi Judas quem determinou o que
aconteceria dentre em breve. Judas, sem dúvida, intentou trair a Cristo, mas ele poderia
ter fracassado. Não foi ele quem controlou todas as circunstâncias. Somente
Deus pode determinar o futuro. Deus determinou como o Filho do homem deveria
morrer.
Similarmente, o próximo
versículo, Atos 2:45, diz: A este que vos
foi entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, prendestes, crucificastes
e matastes pelas mãos de injustos.
O versículo é similar em
pensamento, porém mais explícito. No versículo precedente foi necessário concluir
que o poder determinativo era Deus eliminando todas as outras possibilidades.
Aqui, não somente Deus é explicitamente mencionado, mas é adicionada ênfase nas
palavras determinado conselho e presciência. Isso indica planejamento
deliberado.
Assim como esse evento (a
morte de Cristo) foi determinado, assim também todo evento é preordenado, pois
Deus é onisciente; e nenhum detalhe, nem mesmo o número de cabelos na cabeça de
alguém, escapa da sua presciência e conselho deliberado. Todas as coisas são
parte do seu plano. De tudo Deus diz: Assim
convém que aconteça.
Talvez o versículo mais
explícito e enfático nessas linhas seja Atos 4:28. Em Atos 4:27-28, lemos:
Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se
ajuntaram, não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de
Israel; Para fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente
determinado que se havia de fazer.
Observe a quantidade de
detalhes particulares nessa passagem. O contexto dos dois versículos é uma
oração espontânea de um grupo de crentes a quem Pedro e João tinham reportado a
experiência deles com os saduceus. O povo agradeceu a Deus pelo livramento dos
apóstolos. Eles glorificaram a Deus como criador. Reconheceram que ele falou por
meio de Davi com respeito à inimizade dos pagãos contra Deus. E eles particularizaram
esses inimigos na recente crucificação de Cristo. Porque verdadeiramente,
eles disseram em sua oração, nesta cidade (uma frase omitida na versão King
James), contra teu santo servo Jesus
(servo, e não filho, em referência a Isaías 42:1, 43:10, 52:13, e versículos
similares), a quem tu ungiste e
separaste para um propósito específico, Herodes e Pôncio Pilatos se ajuntaram
com os gentios e o povo de Israel para fazerem tudo o que tua mão e o teu
conselho preordenaram que acontecesse. Aqui é dito na palavra tudo o que que Deus preordenou ou predeterminou
a crucificação de Cristo com todas as suas circunstâncias relacionadas.
Circunstâncias explicitamente mencionadas são os dois homens, Herodes e
Pilatos. Ninguém pode supor que Deus, desde toda a eternidade, preordenou que a
crucificação acontecesse numa certa data – a plenitude dos tempos, não quando
sua hora não tinha chegado ainda (João 7:30, 8:20), mas somente quando sua hora
tivesse chegado (João 13:1, 17:1) – e então esperou que alguém levasse Cristo à
crucificação. Muito pelo contrário, Herodes e Pilatos estavam individualmente
inclusos no plano eterno; e porque eles estavam assim preordenados, os mesmos
se ajuntaram para fazer o que Deus tinha decidido de antemão. A palavra é
preordenado ou predeterminado. Aqueles que dizem que Deus não preordena
eventos maus não devem agora abaixar suas cabeças com vergonha? A ideia de que
um homem pode decidir o que ele fará, assim como Pilatos decidiu o que faria
com Jesus, sem essa decisão ser eternamente controlada e determinada por Deus,
não faz sentido com o ensino de toda a Bíblia.
Versículos suficientes foram
citados, mas para tornar o caso ainda mais massivo, uns poucos versículos de
menor importância serão adicionados. Atos 10:42 dá outro exemplo da decisão
determinativa de Deus. O versículo diz: E
nos mandou pregar ao povo, e testificar que ele é o que por Deus foi
constituído [“ordenado”, na versão do autor] juiz dos vivos e dos mortos”.
O versículo seguinte é Atos
17:24-26, que diz: O Deus que fez o mundo
e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra... determinando-lhes os tempos
já dantes ordenados e os limites da sua habitação. Uma pessoa fica ainda
mais impressionada pela força desse versículo, se tiver estudado as viagens do
povo. A maioria dos estudantes universitários sabe sobre as invasões da Ásia
que varreu a Europa por voltar dos séculos sete e oito. Eles podem relembrar
também as invasões bárbaras durante as quais Roma foi saqueada, em 410 d.C. Mais
tardes os normânios invadiram a França, e os anglos invadiram a Inglaterra.
Deve ser dito também que os habitantes da França ou Gália emigraram para a
Galácia. E por que os camponeses lituanos podem entender sentenças simples na
língua sânscrita? Embora possa tomar um cuidadoso estudo e uma longa pesquisa
traçar os caminhos dessas migrações e assim fixar suas datas, a causa delas, na
data, no limite geográfico, e nas decisões humanas que iniciam esses
movimentos, é o decreto de Deus. É Deus quem decide que pessoas devem mudar,
quando deverão mudar e precisamente onde escolheram parar de mudar.
Que esses versículos sejam suficiente por ora!
NOTAS:
1. Nota do tradutor: Subseção
1 (Deus Planeja e Age) do capítulo 3
(O Decreto Eterno e Sua Execução) do livro
Predestination.
2. “E este rei fará conforme a
sua vontade, e levantar-se-á, e engrandecer-se-á sobre todo deus; e contra o Deus
dos deuses falará coisas espantosas, e será próspero, até que a ira se
complete; porque aquilo que está determinado será feito”.
Autor:
Gordon Clark
Fonte: Biblical Predestination, p. 53-65.
Tradução: Felipe
Sabino
Via:
Monergismo