Algumas vezes, me pergunto se
o diabo não tem grande deleite na ironia, ao assistir-nos examinarmos ao mesmo
tempo em que perdemos o alvo. Embora eu esteja no Facebook e, portanto, pelo
menos sustente uma convicção provisória de que isso é permitido aos cristãos,
existem algumas razões para levantar algumas preocupações a respeito disso.
Privacidade e falta de privacidade, entretanto, seriam provavelmente a última
preocupação que eu levantaria. É com o anúncio público e controverso do
Facebook a respeito de sua mudança na política de privacidade que, no entanto,
muitos cristãos estão preocupados. Como, me pergunto, alguém pode usar uma
tecnologia que existe para dizer ao mundo “Estou aqui. Venham me observar” e
reclamar que o mundo está vindo observá-lo?
Qualquer pessoa que deseja
mais privacidade pode conseguir isso facilmente. Não use o Facebook. Se você já
usa, pare. Estamos nos comovendo moralmente por todos os motivos errados.
Estamos consternados com os proprietários do Facebook por ousarem mudar sua política
(o que, lembre-se, a política original defendia como uma decisão deles) ao
invés de nos abalarmos com nós mesmos por implicitamente quebrarmos o oitavo
mandamento. Pensamos que, por sermos usuários do Facebook, isso nos torna
proprietários do Facebook, e assim exigimos isso ou aquilo de seus
proprietários verdadeiros.
Dito isso, aqui estão algumas
preocupações muito reais que tenho em relação ao Facebook. Primeiro, ele se tornou um deus para nós? Quando Deus
ordena que não tenhamos outro deus diante dEle, Ele não quer dizer posicionado
acima dEle, mas em Sua presença. Se o Facebook tornou-se indispensável para
você, você precisa parar. Segundo, tornou-se uma imagem de escultura? Você
confunde a realidade do Facebook com a realidade verdadeira? Você realmente
pensa que tem 200 amigos? Terceiro, você tem tomado o nome do Senhor em vão?
Isto é, você, em momentos de fraqueza, difamou publicamente nosso testemunho
cristão? Você está rindo de seus antigos pecados com aquele velho colega da
faculdade ou da escola?
Quarto, o Facebook está me
dando a paz do Senhor ou me agitando? (E, por favor, note a grande diferença
entre aquela paz que excede a todo entendimento e a “paz” que recebemos quando
alimentamos um hábito, satisfazemos um vício). Fico tenso se não faço login?
Fico mais animado depois que desloguei? Quinto, estou honrando as autoridades
sobre mim? Esposas, vocês estão falhando em honrar seus maridos porque estão
muito ocupadas lendo sobre seus amigos? Filhos, vocês estão falhando em honrar
seus pais porque estão muito ocupados cutucando?
Sexto, essa tecnologia honra a
vida? O cyber-espaço pode ser um deserto inóspito, não porque é cheio de
pornografia e jogo, mas porque não é real, porque é gnóstico. Sétimo, você está
amando seu cônjuge no Facebook? O fluxo de nostalgia de reencontrar amigos há
muito perdidos te encoraja a estar insatisfeito? Você está secretamente olhando
para aquela antiga namorada? Você já caiu em adultério simplesmente por desejar
que pudesse ter dezesseis anos novamente? Ou você não sabe que o Facebook pode
facilmente degenerar em pornografia relacional? O poder da pornografia é que
você pode ter as alegrias da união sexual sem ter um relacionamento real com
uma pessoa real. O poder do Facebook é quase o mesmo. Oitavo, você está
roubando de seu empregador horas completas de trabalho porque tem um segundo
emprego no Farmville ou como chefão do Mafia Wars? Ou simplesmente porque você
está desperdiçando suas horas de trabalho jogando?
Nono, você está mentindo? Isto
é, o você que você apresenta no Facebook é o você verdadeiro? Essa tecnologia
tem uma capacidade perniciosa de tanto esconder a realidade quanto de nos levar
a pensar que a estamos mostrando e vendo. Por que nossas atualizações são todas
sobre nossas vitórias – Acabei de fazer cookies para a família; Meu filho
acabou de marcar o ponto da vitória; ao invés de nossas falhas? – Acabei de
gritar com minha filhinha; Deixei meu computador no aeroporto e ele se foi?
Mantenha atenção particular nesse ponto. Décimo, o Facebook está encorajando o
contentamento ou o ressentimento? Você está invejando a quantidade de amigos do
seu próximo? Você tem ciúmes de quantos “curtir” há nos posts dele se
comparados aos seus? Você está contente com a vida real que está levando quando
se afasta do teclado?
Por favor, não interprete mal
esse pequeno experimento de reflexão. Suspeito que poderíamos caminhar pelos
Dez Mandamentos à luz de nossa igreja e encontrar as mesmas tentações. Isso não
significa que você deva ficar longe da igreja. Significa que deveríamos ser
deliberados o bastante para saber o que estamos fazendo e porque estamos
fazendo. E deliberar começa por afirmar que nossos corações são não apenas
desesperadamente corruptos, mas enganosos também. Não precisamos proteger nossa
privacidade. Precisamos, ao contrário, expor nossos pecados à luz, à luz da
Escritura para que possamos nos arrepender e crer, para que Sua face
resplandeça sobre nós.
Autor:
R.C.Sproul Jr.
Fonte: Ligonier
Tradução:
Josaías Jr.
Via:
Reforma 21