7 de maio de 2016

Cristãos deveriam ter Facebook?


Algumas vezes, me pergunto se o diabo não tem grande deleite na ironia, ao assistir-nos examinarmos ao mesmo tempo em que perdemos o alvo. Embora eu esteja no Facebook e, portanto, pelo menos sustente uma convicção provisória de que isso é permitido aos cristãos, existem algumas razões para levantar algumas preocupações a respeito disso. Privacidade e falta de privacidade, entretanto, seriam provavelmente a última preocupação que eu levantaria. É com o anúncio público e controverso do Facebook a respeito de sua mudança na política de privacidade que, no entanto, muitos cristãos estão preocupados. Como, me pergunto, alguém pode usar uma tecnologia que existe para dizer ao mundo “Estou aqui. Venham me observar” e reclamar que o mundo está vindo observá-lo? 

Qualquer pessoa que deseja mais privacidade pode conseguir isso facilmente. Não use o Facebook. Se você já usa, pare. Estamos nos comovendo moralmente por todos os motivos errados. Estamos consternados com os proprietários do Facebook por ousarem mudar sua política (o que, lembre-se, a política original defendia como uma decisão deles) ao invés de nos abalarmos com nós mesmos por implicitamente quebrarmos o oitavo mandamento. Pensamos que, por sermos usuários do Facebook, isso nos torna proprietários do Facebook, e assim exigimos isso ou aquilo de seus proprietários verdadeiros.

Dito isso, aqui estão algumas preocupações muito reais que tenho em relação ao Facebook. Primeiro,  ele se tornou um deus para nós? Quando Deus ordena que não tenhamos outro deus diante dEle, Ele não quer dizer posicionado acima dEle, mas em Sua presença. Se o Facebook tornou-se indispensável para você, você precisa parar. Segundo, tornou-se uma imagem de escultura? Você confunde a realidade do Facebook com a realidade verdadeira? Você realmente pensa que tem 200 amigos? Terceiro, você tem tomado o nome do Senhor em vão? Isto é, você, em momentos de fraqueza, difamou publicamente nosso testemunho cristão? Você está rindo de seus antigos pecados com aquele velho colega da faculdade ou da escola?

Quarto, o Facebook está me dando a paz do Senhor ou me agitando? (E, por favor, note a grande diferença entre aquela paz que excede a todo entendimento e a “paz” que recebemos quando alimentamos um hábito, satisfazemos um vício). Fico tenso se não faço login? Fico mais animado depois que desloguei? Quinto, estou honrando as autoridades sobre mim? Esposas, vocês estão falhando em honrar seus maridos porque estão muito ocupadas lendo sobre seus amigos? Filhos, vocês estão falhando em honrar seus pais porque estão muito ocupados cutucando?

Sexto, essa tecnologia honra a vida? O cyber-espaço pode ser um deserto inóspito, não porque é cheio de pornografia e jogo, mas porque não é real, porque é gnóstico. Sétimo, você está amando seu cônjuge no Facebook? O fluxo de nostalgia de reencontrar amigos há muito perdidos te encoraja a estar insatisfeito? Você está secretamente olhando para aquela antiga namorada? Você já caiu em adultério simplesmente por desejar que pudesse ter dezesseis anos novamente? Ou você não sabe que o Facebook pode facilmente degenerar em pornografia relacional? O poder da pornografia é que você pode ter as alegrias da união sexual sem ter um relacionamento real com uma pessoa real. O poder do Facebook é quase o mesmo. Oitavo, você está roubando de seu empregador horas completas de trabalho porque tem um segundo emprego no Farmville ou como chefão do Mafia Wars? Ou simplesmente porque você está desperdiçando suas horas de trabalho jogando?

Nono, você está mentindo? Isto é, o você que você apresenta no Facebook é o você verdadeiro? Essa tecnologia tem uma capacidade perniciosa de tanto esconder a realidade quanto de nos levar a pensar que a estamos mostrando e vendo. Por que nossas atualizações são todas sobre nossas vitórias – Acabei de fazer cookies para a família; Meu filho acabou de marcar o ponto da vitória; ao invés de nossas falhas? – Acabei de gritar com minha filhinha; Deixei meu computador no aeroporto e ele se foi? Mantenha atenção particular nesse ponto. Décimo, o Facebook está encorajando o contentamento ou o ressentimento? Você está invejando a quantidade de amigos do seu próximo? Você tem ciúmes de quantos “curtir” há nos posts dele se comparados aos seus? Você está contente com a vida real que está levando quando se afasta do teclado?

Por favor, não interprete mal esse pequeno experimento de reflexão. Suspeito que poderíamos caminhar pelos Dez Mandamentos à luz de nossa igreja e encontrar as mesmas tentações. Isso não significa que você deva ficar longe da igreja. Significa que deveríamos ser deliberados o bastante para saber o que estamos fazendo e porque estamos fazendo. E deliberar começa por afirmar que nossos corações são não apenas desesperadamente corruptos, mas enganosos também. Não precisamos proteger nossa privacidade. Precisamos, ao contrário, expor nossos pecados à luz, à luz da Escritura para que possamos nos arrepender e crer, para que Sua face resplandeça sobre nós.




Autor: R.C.Sproul Jr.
Fonte: Ligonier
Tradução: Josaías Jr.
Via: Reforma 21