Quanto tempo se espera que
levará para o desaparecimento maciço dos verdadeiros cristãos de todas as
nações? Muitos acreditam que esse evento está iminente porque sua principal
pré-condição, ou seja, o restabelecimento do Estado de Israel e a posse da
antiga Jerusalém já tiveram lugar. Essa crença é expressa em adesivos de
automóveis como o que declara: Se o motorista desaparecer, agarre o volante,
ou, Em caso de arrebatamento, este carro ficará desgovernado.
Segundo os cálculos iniciais
de Hal Lindsey, este arrebatamento secreto da Igreja já passou do prazo.1
Em 1970 ele predisse que “em quarenta anos desde 1948 [ano da formação do
Estado de Israel], ou por volta disso, tudo isso poderia ter lugar.2
Lindsey calcula os “quarenta anos” da duração bíblica de uma geração e alega,
com base na parábola da Figueira (Mt 24:32-33), que a formação do Estado de
Israel em 1948 assinala o início da última “geração” (Mt 24:34) que verá
primeiramente o arrebatamento, daí os sete anos de tribulação, e finalmente o
Retorno de Cristo em glória. Sendo que o arrebatamento, de acordo com Lindsey e
a maioria dos dispensacionalistas, ocorre sete anos (Dn 9:27) antes do
Retorno visível de Cristo em glória, já deveria ter ocorrido em 1981 ou 1982. O
que isso significa é que o tempo já se esgotou para essas predições
sensacionais, porém sem sentido.
A
Ascensão, Expansão e Declínio do Pré-Tribulacionismo
Origem do Pré-Tribulacionismo
A crença de que a Igreja será arrebatada súbita e secretamente antes da grande
e final tribulação é conhecida como pré-tribulacionismo. Sua origem é, em geral, identificada por volta dos anos da década iniciada em 1830. John N. Darby,
pregador anglicano que se tornou fundador dos Irmãos de Plymouth, é considerado
o expositor e promotor mais influente do arrebatamento pré-tribulacionista. Por
suas seis visitas à América e extensa campanha de literatura do
pré-tribulacionismo dos Irmãos de Plymouth, as ideias pré-tribulacionistas
espalharam-se rapidamente.
O período de expansão máxima e
predomínio do pré-tribulacionismo foi na primeira metade do século vinte. Homens
como Arno C. Gaebelein, C. I. Scofield, James M. Gray do Instituto Bíblico
Moody, Reuben A. Torrey, do Instituto Bíblico de Los Angeles, Harry A.
Ironside, da Igreja Memorial Moody, e Lewis Sperry Chafer da Faculdade
Teológica Evangélica (atual Seminário Teológico de Dallas) desempenharam um
importante papel na popularização do arrebatamento pré-tribulacionista.3
O fator único mais importante foi a ampla circulação da Bíblia de Scofield,
editada em 1909 e revisada em 1917, que inculcava tal ensino entre as massas
como o único ponto de vista bíblico correto.
Ressurgimento do
Pós-Tribulacionismo
Desde 1950, mais e mais eruditos evangélicos vêm
abandonando o pré-tribulacionismo e retornando ao pós-tribulacionismo histórico
que sustenta que a Igreja passará pela grande tribulação, ao final da qual
Cristo virá para ressuscitar os santos adormecidos e salvar os crentes vivos.
Crédito para o ressurgimento
do pós-tribulacionismo deve ser dado primeiro de tudo à influência de George E.
Ladd, Professor de Novo Testamento do Seminário Teológico Fuller. Alguns de
seus importantes livros sobre este assunto são Crucial Questions About the
Kingdom of God [Questões Cruciais Sobre o Reino de Deus] (1952), The Blessed
Hope [A Bem-aventurada Esperança] (1956) e The Last Things [As Últimas Coisas]
(1978). Sua respeitada erudição associada a sua dedicação aos princípios
evangélicos têm levado muitos eruditos evangélicos a repensarem suas posições
pré-tribulacionistas.
A influência de Ladd pode ser
vista nos seguintes significativos estudos produzidos por eruditos que acataram
o pós-tribulacionismo e têm escrito em sua defesa: The Greatness of the Kingdom
[A Grandeza do Reino] (1959), de Alva J. McClain, presidente do Seminário
Teológico da Graça, em Winona Lake, Indiana; The Imminent Appearing of Christ
[O Iminente Aparecimento de Cristo] (1962), de J. Barton Payne, Professor de
Velho Testamento na Faculdade Evangélica Trinity; e The Church and the
Tribulation [A Igreja da Tribulação] (1973), de Robert H. Gundry, Professor de
Estudos Religiosos na Faculdade Westmont, California.4
Tais estudos têm influenciado
numerosos eruditos dentro de instituições tradicionalmente pré-tribulacionistas
a retornarem ao pós-tribulacionismo histórico. A Igreja Evangélica Livre da
América, por exemplo, que no passado era defensora do arrebatamento
pré-tribulacionista, permitiu que professores da Escola Evangélica de Divindade
Trinity desafiassem o pré-tribulacionismo em sua conferência ministerial anual
em janeiro de 1981. Os desafios e respostas, publicadas em 1984 como um
simpósio intitulado O Arrebatamento: Pré- Mid- ou Pós-Tribulacionistas, oferece um debate bastante erudito sobre as questões relativas ao
Arrebatamento.
Um Pressuposto Equivocado.
Mesmo uma leitura superficial da literatura pré-tribulacionista é suficiente
para deixar uma pessoa ciente do fato de que a crença no arrebatamento secreto
repousa muito mais sobre pressuposições subjetivas do que no ensinamento
bíblico. O pressuposto principal é o de que Deus tem um plano diferente para a
Igreja em relação a Israel. Consequentemente, presume-se que a Igreja deve
ser removida da terra antes que Deus possa tratar com os judeus levando-os à
conversão em larga escala, mediante a experiência da grande tribulação.
John F. Walvoord, destacado
campeão do arrebatamento secreto, reconhece explicitamente a importância desse
pressuposto ao escrever: “A questão do arrebatamento é determinado mais por
eclesiologia do que por escatologia”. Em outras palavras, mais pelo entendimento
que se tem sobre a relação entre a Igreja e Israel do que por ensinos bíblicos
concernentes ao fim.5 C. C. Ryrie, outro pré-tribulacionista
destacado, expressa a mesma convicção, declarando: “A distinção entre Israel e
a Igreja leva à crença de que a Igreja será tomada da Terra antes do início da
tribulação (o que, num sentido mais amplo, diz respeito a Israel)”.6
Hal Lindsey vai ao ponto de
tornar a distinção entre Israel e a Igreja sua “principal razão” para crer que
o Arrebatamento ocorre antes da Tribulação.7 Alega que “se o
Arrebatamento tivesse lugar ao mesmo tempo da segunda vinda, não haveria
mortais deixados que fossem crentes; portanto, não haveria ninguém para ir para
o reino e repovoar a Terra”.8 Ou seja, uma vez que Lindsey presume
que o Reino messiânico predito pelos profetas do Velho Testamento será
estabelecido por Cristo por ocasião de Seu Segundo Advento como um reino
terrestre que consiste predominantemente de judeus mortais e crentes, então a
necessidade do arrebatamento da Igreja deve ocorrer antes. Como pode Cristo vir
estabelecer um Reino milenial judaico sobre a Terra se todos os crentes estão
arrebatados desta Terra por ocasião de Sua Vinda?
O Segundo Advento Dividido em
Duas Fases
Para solucionar este dilema, os dispensacionalistas dividem o
Segundo Advento em duas fases: Primeiro, uma vinda invisível para arrebatar
secretamente a Igreja, e, segundo, uma vinda visível sete anos mais tarde para
destruir os ímpios e estabelecer o Reino Judaico milenial. O raciocínio por
detrás desse arranjo pode parecer correto, mas está errado em vista de
fundamentar-se sobre o incorreto pressuposto de que há uma distinção radical
entre o plano de Deus para Israel e para a Igreja.
Não há base bíblica para uma
distinção radical entre Israel e a Igreja. O Novo Testamento não retrata o
futuro de Israel como um reino político milenial separado na Palestina, mas
como um de bênçãos duradouras compartilhado com todos os remidos de todas as
eras numa nova Terra restaurada.
Desafortunadamente, é esse
pressuposto equivocado que determina a interpretação de textos bíblicos
aduzidos em apoio ao arrebatamento. Argumenta-se, por exemplo, que um certo
texto não pode referir-se à Igreja porque descreve a grande tribulação, que se
supõe aplicar-se apenas a Israel. Esse tipo de raciocínio circular, com base
num pressuposto gratuito, não é o método correto de interpretar textos
bíblicos. As conclusões devem ser extraídas de exegese cuidadosa, não de
pressupostos preconcebidos.
Quatro
Razões Para Rejeitar o Arrebatamento Secreto
Um cuidadoso estudo de textos
bíblicos relevantes quanto ao Retorno de Cristo sugere pelo menos quatro razões
principais para rejeitar o ponto de vista de uma Segunda Vinda de Cristo em
dois estágios.
O Vocabulário do Segundo
Advento
A primeira razão para rejeitar um arrebatamento secreto que antecede à
tribulação é o fato de que o vocabulário do Segundo Advento não oferece
respaldo para tal ponto de vista. Nenhuma das três palavras gregas usadas no
Novo Testamento para descrever o Retorno de Cristo, ou seja, parousia, vinda,
apokalypsis, revelação, e epiphaneia, aparecimento, sugere um arrebatamento
secreto pré-tribulacional como objeto da esperança cristã no Advento.
Os pré-tribulacionistas alegam
que a palavra parousia, vinda, é usada por Paulo em 1 Tessalonicenses 4:15 para
descrever o arrebatamento secreto. Mas em 1 Tessalonicenses 3:13 Paulo emprega
a mesma palavra para descrever a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo com todos
os Seus santos, uma descrição, segundo os pré-tribulacionistas, da segunda fase
do Retorno de Cristo. Novamente, em 2 Tessalonicenses 2:8, Paulo emprega o
termo parousia, vinda, em referência à vinda de Cristo que causará a destruição
do anticristo, um evento que, de acordo com os pré-tribulacionistas, supostamente
ocorrerá na segunda fase da Vinda de Cristo.
Semelhantemente, as palavras
apokalypsis, revelação, e epiphaneia, aparecimento, são utilizadas para descrever
tanto o que os pré-tribulacionistas chamam de arrebatamento (1 Co 1:7; 1 Tm
6:14) e o que chamam de Retorno ou segunda fase da Vinda de Cristo (2 Ts
1:7-8, 2:8). Destarte, o vocabulário da Bendita Esperança não propicia base
alguma para uma distinção do Retorno de Cristo em duas fases, uma vez que seus
termos originais são empregados intercambiavelmente para descrever o mesmo
evento. Mais importante ainda é o fato de que cada um desses três termos é
claramente empregado para descrever o Retorno de Cristo pós-tribulacional, o
que é visto como objeto da esperança do crente.
A parousia, por exemplo, é
indisputavelmente pós-tribulacional em Mateus 24:27, 38, 39 e em 2
Tessalonicenses 2:8. O mesmo é verdade de apokalypsis, revelação, em 2
Tessalonicenses 1:7 e de epiphaneia, aparecimento, em 2 Tessalonicenses 2:8.
Portanto, o vocabulário da Bendita Esperança exclui a possibilidade de uma
Vinda Secreta de Cristo para arrebatar a Igreja, seguida de uma tribulação de
sete anos e da Vinda gloriosa, visível para estabelecer o Reino Judaico
milenial. Os termos usados claramente apontam a um Advento de Cristo único,
indivisível, pós-tribulacional para trazer salvação aos crentes e retribuição
aos descrentes.
Nenhum Arrebatamento da
Igreja
Uma segunda razão para rejeitar um arrebatamento pré-tribulacional
secreto da Igreja é o fato de que não há qualquer indício no Novo Testamento de
um arrebatamento instantâneo da Igreja. A descrição mais notória do Segundo
Advento encontrada em 1 Tessalonicenses 4:15-17 sugere exatamente o oposto
quando fala que o Senhor desce do céu dada a Sua palavra de ordem, ouvida a voz
do arcanjo, e ressoada a trombeta de Deus ... os mortos em Cristo
ressuscitarão primeiro; depois nós, os vivos, os que ficarmos, seremos
arrebatados juntamente com eles, entre nuvens, para o encontro do Senhor nos
ares.
O clamor, a trombeta e o grande
ajuntamento dos vivos e santos ressurretos dificilmente sugeriria um evento
secreto, instantâneo e invisível. Pelo contrário, como frequentemente se tem
assinalado, esta talvez seja a passagem mais barulhenta da Bíblia. A referência
a um ressoar “da trombeta” e paralelamente ao texto de Mateus 24:31 e 1
Coríntios 15:52, que falam de fortes sons de trombeta, corroboram a
visibilidade e natureza pública do Segundo Advento. Nenhum traço de um
arrebatamento secreto pode ser encontrado em qualquer destas passagens.
Nenhuma Remoção da Igreja da
Grande Tribulação
Uma terceira razão para rejeitar a noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional da Igreja é o fato de que tal noção não tem apoio das passagens que tratam da tribulação. Por exemplo, em seu discurso no Monte das Oliveiras, Jesus fala da grande tribulação que imediatamente precederá a Sua vinda e promete que por causa dos escolhidos tais dias serão abreviados (Mt 24:21-22, 29). Alegar que os eleitos são apenas os crentes judeus, e não membros da Igreja, representa ignorar que Cristo está se dirigindo a Seus apóstolos que representam não só o Israel nacional, mas a Igreja em escala ampla. Isto é confirmado pelo fato de que tanto Marcos quanto Lucas fazem referência ao mesmo discurso para a Igreja gentílica (Marcos 13; Lucas 21).
Uma terceira razão para rejeitar a noção de um arrebatamento secreto pré-tribulacional da Igreja é o fato de que tal noção não tem apoio das passagens que tratam da tribulação. Por exemplo, em seu discurso no Monte das Oliveiras, Jesus fala da grande tribulação que imediatamente precederá a Sua vinda e promete que por causa dos escolhidos tais dias serão abreviados (Mt 24:21-22, 29). Alegar que os eleitos são apenas os crentes judeus, e não membros da Igreja, representa ignorar que Cristo está se dirigindo a Seus apóstolos que representam não só o Israel nacional, mas a Igreja em escala ampla. Isto é confirmado pelo fato de que tanto Marcos quanto Lucas fazem referência ao mesmo discurso para a Igreja gentílica (Marcos 13; Lucas 21).
É também digno de nota a
grande semelhança entre a descrição que Cristo faz do arrebatamento da Igreja
em Mateus 24:30, 31 e a de Paulo em 1 Tessalonicenses 4:16, 17. Ambos os textos
mencionam a descida do Senhor, a trombeta que soa, os anjos acompanhantes e a
reunião do povo de Deus. Tais semelhanças sugerem que ambas as passagens
descrevem o mesmo evento. Contudo, em Mateus o arrebatamento de Cristo é
explicitamente situado após a tribulação (Mt 24:29), ao tempo da Vinda de
Cristo com poder e grande glória (vs. 29-30). O paralelismo entre as duas
passagens indica claramente que o arrebatamento da Igreja não precede, pelo contrário, segue à grande tribulação.
Cristo nunca prometeu a Sua
Igreja um arrebatamento pré-tribulação deste mundo. Antes, prometeu proteção em
meio à tribulação. Em Sua petição ao Pai, Ele disse: Não peço que os tires do
mundo, mas que os livres do mal (Jo 17:15). Semelhantemente, à Igreja de
Filadélfia Cristo promete: Eu te guardarei da hora da provação que há de vir
sobre o mundo inteiro, para experimentar os que habitam sobre a Terra (Ap 3:10). Se a Igreja estivesse ausente desta Terra durante a hora de prova, não
haveria necessidade de proteção divina.
Nenhum Arrebatamento
Pré-Tribulação nas Escrituras
Por último, a noção de um arrebatamento secreto
pré-tribulacional é negada por Paulo e pelo livro de Apocalipse. Em suas
admoestações aos tessalonicenses, Paulo explica que os crentes terão alívio da tribulação desta era presente “quando do céu se manifestar o Senhor Jesus
Cristo com os anjos do Seu poder, em chama de fogo, tomando vingança contra os
que não conhecem a Deus... (2 Ts 1:7-8). Em outras palavras, os crentes experimentarão
libertação dos sofrimentos desta era não mediante um arrebatamento secreto,
mas por ocasião da revelação pós-tribulacional de Cristo.
No segundo capítulo Paulo
refuta as concepções errôneas que prevaleciam entre os tessalonicenses de que o
dia do Senhor havia vindo. Para refutar esse equívoco, ele cita dois eventos
principais que deveriam dar-se antes da Vinda do Senhor, ou seja, a rebelião e
o aparecimento do homem da iniquidade (2 Ts 2:3) que perseguiria o povo de
Deus.
O que é crucial nesta passagem
é que Paulo não faz menção de um arrebatamento pré-tribulacional como um
precedente necessário para a Vinda do Senhor. Contudo, este seria o argumento
mais forte que Paulo poderia apresentar para provar aos tessalonicenses que o
dia do Senhor não poderia possivelmente ter vindo, uma vez que o seu
arrebatamento para fora deste mundo ainda não tivera lugar. A omissão de Paulo
desse argumento vital sugere fortemente que Paulo não cria num arrebatamento
pré-tribulacional da Igreja.
Esta conclusão também é
apoiada pela menção por Paulo do aparecimento do anticristo um evento
indiscutivelmente tribulacional que os crentes verão antes da vinda do Senhor.
Se Paulo esperasse que a Igreja fosse arrebatada deste mundo antes da
tribulação causada pelo aparecimento do anticristo, ele dificilmente teria
ensinado que os crentes veriam tal evento antes da vinda do Senhor. Que
interesse os tessalonicenses teriam no aparecimento do anticristo, juntamente
com a tribulação que o acompanharia, se devessem ser arrebatados para longe
desta Terra antes de esses eventos terem lugar? Assim, tanto por sua omissão
quanto por sua afirmação, Paulo nega o ponto de vista de um arrebatamento
pré-tribulacional da Igreja.
Nenhum Arrebatamento
Pré-Tribulacional no Apocalipse
O livro de Apocalipse trata em maiores
detalhes do que qualquer outro livro do Novo Testamento dos eventos associados
com a grande tribulação, tais como o soar das sete trombetas, o aparecimento da
besta que inflige uma terrível perseguição sobre os santos de Deus e o
derramamento das sete últimas pragas (Ap 8, 16). Conquanto João descreva em
grande detalhe os eventos tribulacionais, ele nunca menciona ou sugere um
Advento de Cristo secreto e pré-tribulacional para levar a Igreja embora. Isso
surpreende muito, em vista de que o expresso propósito de João é instruir as
Igrejas com respeito aos eventos finais.
João explicitamente menciona
uma incontável multidão de crentes que passarão pela grande tribulação. São
estes os que vêm da grande tribulação, lavaram suas vestiduras, e as alvejaram
no sangue do Cordeiro (Ap 7:14). Os pré-tribulacionistas argumentam que
esses crentes são somente da raça judaica, supostamente em vista de que a
Igreja em Apocalipse 4 a 19 não mais está sobre a Terra, mas no céu. Tal
raciocínio perde o seu crédito, primeiramente pelo fato de que em parte alguma
João diferencia entre os santos na tribulação que sejam judeus ou gentios.
João explicitamente declara
que os crentes vitoriosos da tribulação vêm de toda nação, tribo, língua e
povo (Ap 7:9). Esta frase ocorre repetidamente no Apocalipse para designar
não exclusivamente os judeus, mas inclusivamente todo membro da família humana
(Ap 5:9; 10:11; 13:7; 14:6). O Cordeiro, por exemplo, é louvado pelos 24
anciãos por ter resgatado homens de toda tribo e língua e povo e nação (Ap 5:9). Obviamente, Cristo não resgatou somente judeus, mas pessoas de todas as
raças.
Êxtase de João, não
Arrebatamento da Igreja
O argumento de que a Igreja em Apocalipse 4 a 19 está
no céu baseia-se num falso pressuposto de que a ordem a João Sobe para aqui,
e te mostrarei o que deve acontecer depois destas cousas (Ap 4:1), refere-se
supostamente ao arrebatamento da Igreja no céu. Esta é uma interpretação sem
fundamento, porque o texto não fala do arrebatamento da Igreja, mas da
experiência visionária extática de João. Até mesmo John F. Walvoord, destacado
pré-tribulacionista, reconhece abertamente que “não há autoridade para ligar o
arrebatamento com esta expressão”.9
As semelhanças entre as
admoestações dadas nas cartas às sete Igrejas e as que são dadas aos santos que
enfrentam a tribulação sugerem que os dois são essencialmente o mesmo povo. Por
exemplo, quatro vezes nas sete cartas a necessidade para “suportar” é realçada
(Ap 2:2, 3, 19; 3:10), e se espera a mesma qualidade dos santos que passam
pela tribulação (Ap 13:10; 14:12). Semelhantemente, a necessidade de
vencer, expressa sete vezes nas cartas às Igrejas (Ap 2:7, 11, 17, 26;
3:5, 12, 21), é o próprio atributo dos santos na tribulação que venceram a
besta e sua imagem (Ap 15:2). Dificilmente se conceberia que João
tencionava atribuir as mesmas características a dois grupos diferentes de
pessoas.
A Igreja Sofre a Tribulação, mas não a Ira Divina
Em Apocalipse 22:16, Jesus reivindica ter enviado o Seu
anjo a João para testificar estas coisas à Igreja. É difícil ver como as
mensagens dadas pelo anjo a João poderiam ser um testemunho para as Igrejas, se
a Igreja não está diretamente envolvida na maior parte dos eventos descritos no
livro (Ap 4, 19).
O ponto básico da questão é
que a Igreja em Apocalipse sofrerá perseguição por poderes satânicos durante a
tribulação final, mas não sofrerá a ira divina. A ira divina, que é retratada
pelas sete pragas apocalípticas, não é derramada indiscriminadamente sobre
todos, mas seletivamente sobre aqueles que são portadores da marca da besta e
adoradores da sua imagem (Ap 16:2; cf. 14:9-10).
Tal como os antigos israelitas
desfrutaram da proteção de Deus durante as dez pragas (Êx 11:7), assim o povo
de Deus será protegido quando Sua ira divina cair sobre os ímpios. Essa divina
proteção é representada em Apocalipse por um anjo que sela os servos de Deus em
suas testas (Ap 7:3), de modo a que sejam poupados quando a ira de Deus vier sobre os impenitentes (Ap 9:4). Por fim, o povo de Deus será
resgatado pelo glorioso Retorno de Cristo (Ap 16:15; 19:11-21). Destarte, a
Revelação não retrata um arrebatamento pré-tribulacional da Igreja, mas um
Retorno pós-tribulacional de Cristo.
Conclusão
À luz das razões discutidas acima, concluímos que o ensino popular de uma Vinda Secreta de Cristo para
arrebatar a Igreja antes da tribulação final é um sinal errado do Tempo do fim
destituído de qualquer respaldo bíblico. Tal crença torna Deus culpado de
chocante discriminação, por dar tratamento preferencial à Igreja, que é removida
da Terra antes da tribulação final reservada aos judeus. As Escrituras ensinam
que a Segunda Vinda de Cristo é um evento único que ocorre após a grande
tribulação, e será experimentada pelos crentes de todas as eras e de todas as
raças. Esta é a Bendita Esperança que une toda nação, e tribo, e língua e
povo (Ap 14:6).
NOTAS:
1. Hal Lindsey, The Rapture: Truth or Consequences
(New York, 1983), p. 24.
2. Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth (Grand
Rapids, 1970), p. 54.
3. Para uma pesquisa breve,
mas informativa, do desenvolvimento do pré-tribulacionismo, ver Richard R.
Reiter, "A History of the Development of the Rapture Position," The
Rapture. Pre-, Mid-, or Post-Tribulational Symposium (Grand Rapids, 1984), pp.
24-34.
4. Ver também Norman F. Douty, Has Christ's Return Two
Stages? (New York, 1956); Alexander Reese, The Approaching Advent of Christ
(Grand Rapids, 1975).
5. John F. Walvoord, The Rapture Question (Grand
Rapids, 1957), p. 50.
6. C. C. Ryrie, Dispensationalism Today ( Chicago,
Moody Press, 1965), p. 159.
7. Hal Lindsey, The Late Great Planet Earth (Grand
Rapids, 1970), p. 143.
8. Ibid.
9. John F. Walvoord, The Revelation of Jesus Christ
(Chicago, 1966), p. 103.
Autor: Samuele
Bacchiocchi
Fonte: Monergismo