Homens e mulheres que não têm
a visão de mundo bíblica, em geral, pensam em religião como a expressão mais
nobre do caráter humano. A opinião popular no mundo como um todo, de um modo
geral, considera a religião como algo inerentemente admirável, honroso e
benéfico.
Na realidade, nenhum outro
campo das humanidades — filosofia, literatura, artes, ou seja lá o que for —
tem a mesma probabilidade de causar mal quanto a religião. Nada é mais capaz de
causar tanto mal do que a falsa religião, e quanto mais os falsos mestres
tentam esconder-se por trás dos mantos da verdade bíblica, mais eles são, de
fato, diabólicos.
No entanto, emissários de
Satanás que aparentam ser benignos e amavelmente religiosos são comuns. A
história de redenção está repleta deles, e a Bíblia sempre adverte sobre esses
falsos mestres — lobos ferozes que se vestem de ovelhas, “falsos apóstolos,
obreiros enganosos, fingindo-se apóstolos de Cristo. Isto não é de admirar,
pois o próprio Satanás se disfarça de anjo de luz. Portanto, não é surpresa que
os seus servos finjam que são servos da justiça” (2 Corintios 11:13-15).
Fazendo seu discurso de
despedida em Éfeso, o apóstolo Paulo disse aos presbíteros daquela jovem, mas
já assediada, igreja: Sei que, depois da
minha partida, lobos ferozes penetrarão no meio de vocês e não pouparão o
rebanho. E dentre vocês mesmos se levantarão homens que torcerão a verdade, a
fim de atrair os discípulos (Atos 20:29-30, ênfase do autor). Ele os estava
advertindo de que falsos mestres se levantariam não só dentro da igreja, mas
que também chegariam despercebidos na liderança da igreja (cf. Judas 4). Isso,
sem dúvida, aconteceu em Éfeso, e aconteceu repetidas vezes em cada etapa da
história da igreja. Falsos mestres cobrem-se com vestes de Deus. Eles querem
que as pessoas acreditem que representam Deus, que o conhecem, que têm
discerni- mento especial da verdade e da sabedoria divinas, mesmo sendo
emissários do próprio inferno.
Em 1 Timóteo 4:1-3, Paulo
profetizou que a igreja dos últimos dias seria atacada por falsos mestres com
uma visão farisaica do ascetismo, a qual usariam como um disfarce para a
licenciosidade: O Espírito diz claramente
que nos últimos tempos alguns abandonarão a fé e seguirão espíritos enganadores
e doutrinas de demônios. Tais ensinamentos vêm de homens hipócritas e
mentirosos, que têm a consciência cauterizada e proíbem o casamento e o consumo
de alimentos que Deus criou para serem recebidos com ação de graças pelos que
creem e conhecem a verdade.
Observe como as Escrituras
dizem enfaticamente que os falsos mestres que gostam de usar o disfarce do
falso moralismo e esconder-se sob o pretexto da ortodoxia são maus, mensageiros
do diabo, mestres de doutrinas diabólicas. Mais uma vez, nada é mais terrivelmente
diabólico do que a falsa religião, e somos advertidos, repetida e
explicitamente, a não fazermos pouco caso de falsos ensinamentos, uma vez que
eles se parecem muito com a verdade.
Nunca os falsos mestres foram
mais agressivos do que durante o ministério terreno do Senhor Jesus Cristo. Foi
como se todo o inferno investisse com força total contra ele durante aqueles
três anos. E, sem dúvida, podemos entender isso. Ao opor-se ao evangelho e
tentar frustrar o plano de Deus, Satanás liberou tudo o que tinha contra Jesus
Cristo, desde seus esforços diretos para tentar Jesus (Mateus 4:1-11; Lucas
22:40-46) a demônios que o confrontaram enquanto fingiam reverenciá-lo (Marcos
5:1-13) — e tudo o que estivesse entre ambas as coisas, incluindo a infiltração
de Judas, o falso discípulo, a quem o próprio Satanás influenciou, possuiu e
capacitou para cometer o pior ato de traição (Lucas 22:3).
Mas a investida mais séria e
prolongada contra Jesus — e a principal campanha de clara oposição que,
finalmente, o perseguiu até a cruz — foi o incessante antagonismo dos fariseus,
instigado pelo Sinédrio. Eles, por sua vez, estavam
sendo controlados por Satanás. Sem dúvida, estavam cegos para esse fato, mas
Satanás os usava como fantoches em sua implacável campanha contra a verdade.
Parece quase impensável que a
oposição mais ferrenha a Cristo viesse dos líderes mais respeitados do segmento
religioso da sociedade. Mas é verdade. Observe o amplo alcance do ministério
terreno de Jesus conforme registrado pelos escritores do evangelho e pergunte: Quem foram os principais agentes de Satanás
que tentaram frustrar a obra de Jesus e opor-se aos seus ensinamentos? De onde
veio a principal resistência a Cristo? A resposta é óbvia. Não foi do
submundo criminoso da cultura nem de sua baixa classe secular. Não foi de
excluídos da sociedade — coletores de impostos, pessoas desprezíveis,
marginais, prostitutas e ladrões. Pelo contrário, os principais emissários e
agentes de Satanás foram os mais devotos, os mais santos, os mais respeitados
líderes religiosos em todo o Israel — liderados pela mais rígida de todas as
suas seitas, os fariseus.
Toda essa estratégia foi, sem
dúvida alguma, armada e iniciada pelo próprio Satanás. Na verdade, tudo o que
Paulo quer dizer em 2 Corintios 11:14,15 é que o subterfúgio secreto é e sempre
foi a principal tática do diabo. Portanto, não deveria nos surpreender o fato
de que os inimigos do evangelho sempre foram (e ainda são) mais terríveis
quando religiosos. Quanto mais conseguirem convencer as pessoas de que eles fazem
parte do círculo da ortodoxia, mais eficientes serão no sentido de corroer a
verdade. Quanto mais fundo puderem infiltrar-se na comunidade de verdadeiros
cristãos, mais danos poderão causar com suas mentiras. Quanto mais perto
conseguirem chegar das ovelhas e ganhar a confiança delas, mais facilidade
poderão ter para devorar o rebanho.
Danças
com lobos
Qualquer pastor, no sentido
literal da palavra, incumbido de alimentar e conduzir um rebanho de ovelhas,
seria tido como louco se achasse que lobos poderiam ser animais de estimação
domesticados e trazidos para o curral. Suponhamos que ele, efetivamente, procurasse
e tentasse fazer amizade com filhotes de lobos, presumindo que conseguiria
ensiná-los a se relacionar com seu rebanho — insistindo contra todos os
conselhos sábios de que sua experiência poderia dar certo, e, se desse, os
lobos teriam a mansidão das ovelhas e as ovelhas aprenderiam coisas com os
lobos também. Esse pastor seria mais do que inútil; ele mesmo representaria um
grande perigo para o rebanho.
Quase tão ruim seria um pastor
com visão míope. Ele nunca viu claramente um lobo com seus próprios olhos.
Assim, acredita que a ameaça dos lobos é um grande exagero. Mesmo com suas ovelhas
desaparecendo ou sendo dilaceradas por alguma coisa, ele se recusa a acreditar
que são os lobos que estão fazendo mal ao seu rebanho. Afirma estar cansado de
ouvir os outros com suas advertências estridentes contra os lobos. Começa a
contar a história de “O menino que gritava lobo” para todos que vão ouvir. Por
fim, concluindo que a “negatividade” das outras pessoas em relação aos lobos
representa um perigo maior para seu rebanho do que os próprios lobos, pega seu
instrumento de sopro e toca uma música suave para fazer os cordeiros
adormecerem.
Então, é claro, temos “o
assalariado [que] não é o pastor a quem as ovelhas pertencem”. Ele “vê que o
lobo vem, abandona as ovelhas e foge. Então o lobo ataca o rebanho e o
dispersa. Ele foge porque é assalariado e não se importa com as ovelhas” (João
10:12-13). Assalariados egoístas,
pastores míopes e pessoas que agem como domadores de lobos predominam na
igreja, hoje. O mesmo acontece com os lobos vestidos de ovelhas. Francamente,
algumas roupas pós-modernas feitas de lã de ovelha não são nem um pouco
convincentes. Mas parece que alguns pastores não ficam indecisos quando o
assunto é soltar esses lobos sedentos entre seus rebanhos. Muitos são como o
pastor míope de minha parábola — convencido de que as advertências sobre a ameaça
de lobos pode ser mais perigosa do que os verdadeiros lobos.
Parece que o evangelicalismo
contemporâneo, em geral, não aprecia em absoluto nenhum tipo de atrito
doutrinário — muito menos o conflito manifesto com lobos espirituais. O
Manifesto Evangélico que citei na introdução deste livro claramente reflete
esse ponto de vista, expressando muito mais palavras de preocupação com as
relações públicas evangélicas do que com a solidez das doutrinas. O documento
confidencialmente afirma que “a mensagem evangélica, ‘as boas novas’ por
definição, é impressionante- mente positiva, e sempre positiva antes de ser
negativa”.4 Isso é um grande exagero — especialmente quando
consideramos o fato de que o esboço sistemático do evangelho feito por Paulo em
Romanos começa com as palavras: “Portanto, a ira de Deus é revelada dos céus”
(Romanos 1:18), e depois continua por quase três capítulos inteiros explicando
a profundidade e universalidade da “impiedade e injustiça” dos homens, que é o
que provocou, em primeiro lugar, a ira de Deus. Só depois que deixa claro que
não se pode escapar da má notícia é que Paulo apresenta as boas novas do
evangelho. Ele segue o mesmo padrão na forma abreviada de Efésios 2:1-10.
Como veremos, o próprio Jesus
nem sempre foi positivo antes de ser negativo. Alguns de seus discursos mais
longos, incluindo toda a passagem de Mateus 23, foram completamente negativos.
O recente Manifesto Evangélico
faz uma menção favorável “àqueles no passado por seu digno desejo de serem
fiéis aos fundamentos da fé”, mas, por outro lado, parece sugerir que a
militância em defesa das verdades centrais do Cristianismo sempre deve ser
evitada. Na verdade, a principal razão que o manifesto oferece para listar o
“fundamentalismo conservador” como uma das duas adulterações contrárias do
verdadeiro espírito protestante (sendo a outra o “revisionismo liberal”) é que
determinados fundamentalistas resistiram à tendência liberalizante com “estilos
de reação que são pessoal e publicamente militantes a ponto de serem
subcristãos”.5
O que se reconhece é que
supostos fundamentalistas, muitas vezes, comportam-se de maneira vergonhosa. É
certo que a rivalidade ciumenta entre determinadas personalidades “fundamentalistas”
de envergadura com frequência foi muito pública e muito pessoal — e,
decididamente, sub cristã. Na realidade, a agressividade de alguns líderes
fundamentalistas rompeu seu movimento e deixou o fundamentalismo clássico,
hoje, sem muitas vozes influentes. Mas, para ser claro, o problema com esse
estilo de militância nunca foi simplesmente que ela era muito pessoal ou muito
pública, mas que estava completamente equivocada e cada vez mais fundamentada
na ignorância, e não no entendimento. Parecia que muitos que estavam à frente
desse movimento não entendiam muito bem o que realmente era fundamental e o que
era periférico. Em outras palavras, eles não eram nem um pouco fundamentalistas
no sentido original da palavra. Tinham o estranho dom de se preocupar com
coisas pequenas enquanto ignoravam coisas terríveis. Isso não é fundamentalismo
autêntico, mas uma deturpação dele. Na verdade, é uma encarnação moderna do
espírito farisaico.
A resposta para o fracasso do
fundamentalismo, sem dúvida, não está no fato de os evangélicos renegarem
completamente o conflito e aceitarem lobos com um sorriso acolhedor e diálogo
amigável. Inquestionavelmente, é nesse sentido que a corrente evangélica está
seguindo no momento. O Manifesto Evangélico faz observações como essas sobre os
perigos do fundamentalismo enquanto, implicitamente, reconhece que o próprio
movimento evangélico está seriamente confuso e precisa ser reformado com
urgência. Dos “três principais imperativos” que o Manifesto lista, reafirmar
nossa identidade vem em primeiro lugar.6 Contudo, em nenhum momento
o documento sugere alguma estratégia para lidar com as muitas opiniões
extravagantes (incluindo incontáveis ecos do “revisionismo liberal”) que, no
momento, estão exigindo aceitação evangélica. Na verdade, o Manifesto como um
todo parece, de modo deliberado, emudecido de maneira a não dar a ninguém a impressão
de que pontos de vista alternativos estão excluídos da conversa evangélica.
“Nosso objetivo não é atacar ou excluir, mas recordar e reafirmar.”7
Afinal, “diferentes crenças e os diferentes grupos de crenças oferecem
respostas muito diferentes para a vida, e essas diferenças são decisivas não só
para os indivíduos, mas também para as sociedades e civilizações inteiras.
Aprender a conviver com nossas maiores diferenças é, portanto, de grande
importância tanto para indivíduos como para nações”.8 Duvido que
Paulo ou Jesus insinuariam isso.
O problema é que a reforma necessária
dentro do evangélicalismo não ocorrerá de fato se as falsas ideias que
enfraquecem nossas convicções teológicas essenciais não puderem ser abertamente
atacadas e excluídas. Quando a coexistência pacífica “com nossas maiores
diferenças” torna-se uma prioridade e o conflito em si é demonizado como algo
inerentemente sub cristão, toda e qualquer falsa crença religiosa pode — e irá
— exigir uma voz idêntica na “conversa”.
Na verdade, isso já vem
acontecendo há algum tempo. Veja, por exemplo, o que disseram algumas das
principais vozes dentro e em torno do movimento de emergentes. Tony Campolo é
um autor e palestrante popular, o qual tem grande influência em círculos
evangélicos. Ele acredita que os evangélicos deveriam dialogar com o islamismo,
à procura de um denominador comum. Em uma entrevista realizada por Shane
Claiborne, Campolo disse:
Acho que as últimas eleições
irritaram uma minoria significativa da comunidade evangélica, acreditando que
não queriam dar a impressão de ser contra homossexuais, contra as mulheres,
contra o meio ambiente, a favor de guerras, a favor da pena de morte e contra o
islamismo. Haverá um segmento do evangelicalismo, assim como há um segmento do
islamismo, que não estará interessado em diálogo. Mas há outros evangélicos que
vão querer conversar e firmar um compromisso comum de integridade com o povo
islâmico e o povo judeu, em particular.9
Brian McLaren talvez seja a
figura mais conhecida na conversa sobre emergentes. Ele acha que o futuro do
planeta — sem falar na salvação da própria religião (incluindo o Cristianismo)
— depende de uma busca cooperativa pelo verdadeiro significado da mensagem de
Jesus. Na avaliação de McLaren, isso significa um constante diálogo entre
cristãos e seguidores de todas as outras religiões. Ele está convencido de que
isso é da maior urgência:
Em uma era de terrorismo
global e de crescentes conflitos religiosos, é significativo notar que todos os
muçulmanos consideram Jesus como um grande profeta, que muitos hindus estão
dispostos a considerar Jesus como uma manifestação legítima do divino, que
muitos budistas veem Jesus como uma das pessoas mais iluminadas da humanidade e
que o próprio Jesus era um judeu, e (este livro afirma) sem que se compreenda
sua natureza judaica, não se pode compreender Jesus. Uma reavaliação
compartilhada acerca da mensagem de Jesus poderia prover um espaço ímpar ou uma
base comum para o diálogo religioso urgentemente necessário — e não parece ser um exagero
dizer que o futuro de nosso planeta talvez dependa desse diálogo. Essa
reavaliação da mensagem de Jesus pode ser o único projeto capaz de salvar
várias religiões, incluindo o Cristianismo [...].10
A congenialidade
indiscriminada, a busca pela base comum em termos espirituais e a paz a
qualquer preço, naturalmente, têm grande apelo, especialmente em um clima
intelectual em que praticamente a pior gafe que uma pessoa séria poderia dar é
afirmar saber o que é verdadeiro quando tantas outras pessoas acreditam que
outra coisa seja verdade. Além disso, o diálogo parece
mais agradável que o debate. Quem, senão um tolo, não preferiria uma conversa
calma a conflitos e confrontos?
Na verdade, vamos afirmar isso
claramente mais uma vez: de modo geral, evitar conflitos é uma boa ideia.
Cordialidade e congenialidade normalmente são preferíveis à fria aspereza.
Civilidade, compaixão e boas maneiras estão escassas, e deveríamos ter mais dessas
qualidades. Gentileza, uma resposta branda e uma palavra amável geralmente dão
mais resultados do que uma discussão ou uma repreensão. Aquilo que edifica dá
mais frutos com o passar do tempo do que a crítica. Cultivar amigos é mais
agradável e mais proveitoso do que partir para o ataque de inimigos. E,
comumente, é melhor ser carinhoso e manso do que grosso ou agressivo — principalmente
com as vítimas de falsos ensinamentos.
Contudo, essas palavras
restritivas são vitais: normalmente, comumente, geralmente. Evitar conflitos
nem sempre é o certo. Às vezes, é claramente pecado. Principalmente em tempos
como estes, quando quase nenhum erro é considerado sério demais para ser excluído
da conversa evangélica e em que lobos
vestidos de profetas, declarando visões de paz quando não há paz (cf.
Ezequiel 13:16), estão se infiltrando no rebanho do Senhor. Até o pastor mais amável e
mais gentil, às vezes, precisa jogar pedras nos lobos que vêm vestidos de
ovelhas.
Jesus
sempre foi “bonzinho”?
O Grande Pastor nunca esteve
longe de controvérsias abertas com os moradores religiosos de maior notoriedade
em todo o Israel. Quase todos os capítulos dos evangelhos fazem alguma
referência à sua contínua luta contra os principais hipócritas de sua época, e
ele não fez nenhum esforço para ser simpático em seus encontros com eles. Não
os convidou para o diálogo nem participou de uma amigável troca de ideias.
Como veremos, o ministério
público de Jesus mal estava encaminhado quando invadiu o que consideravam como
sendo território deles — a área do templo em Jerusalém — e partiu para um
comportamento violento e justificado contra o controle mercenário que tinham da
adoração de Israel. Fez o mesmo novamente durante a última semana que antecedeu
sua crucificação, logo depois de sua entrada triunfal na cidade. Um de seus
últimos discursos públicos importantes foi o solene pronunciamento dos sete
“ais” contra os escribas e fariseus. Essas foram maldições formais contra eles.
Aquele sermão foi a coisa mais distante de um diálogo amigável. O registro do
sermão feito por Mateus ocupa um capítulo inteiro (Mateus 23) e, como foi
observado anteriormente, está totalmente desprovido de qualquer palavra positiva
ou promissora para os fariseus e seus seguidores. Lucas refina e resume toda a
mensagem em três pequenos versículos — Lucas 20:45-47: Estando todo o povo a
ouvi-lo, Jesus disse aos seus discípulos: ‘Cuidado com os mestres da lei. Eles
fazem questão de andar com roupas especiais, e gostam muito de receber
saudações nas praças e de ocupar os lugares mais importantes nas sinagogas e os
lugares de honra nos banquetes. Eles devoram as casas das viúvas, e, para
disfarçar, fazem longas orações. Esses homens serão punidos com maior rigor!’
Esse é um resumo perfeito do
modo como Jesus lidava com os fariseus. É uma forte denúncia — uma crítica
pungente e declarada sobre a seriedade do erro deles. Não há conversa, não há
coleguismo, não há diálogo e não há cooperação. Somente confrontação,
condenação e (como registra Mateus) maldições contra eles.
A compaixão de Jesus, sem
dúvida, é evidente em dois fatos que delimitam esse discurso. Primeiro, Lucas
diz que, ao se aproximar da cidade e observar todo o seu panorama nessa última
vez, Jesus parou e chorou sobre ela (Lucas 19:41-44). E, segundo, Mateus
registra um lamento similar no final dos sete “ais” (Mateus 23:37). Assim,
podemos ter plena certeza de que, enquanto Jesus fazia essa crítica pungente,
seu coração estava cheio de compaixão.
Contudo, essa compaixão está
voltada para as vítimas dos falsos ensinamentos, não para os falsos mestres.
Não há nenhuma sugestão de empatia, nenhuma proposta de clemência, nenhum traço
de bondade, nenhum esforço da parte de Jesus de ser “bonzinho” com os fariseus.
Na verdade, com essas palavras, Jesus formal e sonoramente pronunciou a
destruição deles e depois os expôs publicamente como uma advertência para os
outros.
Isto é completamente o oposto
de qualquer convite ao diálogo. Jesus não diz: “Eles são, basicamente, homens
bons. Eles têm boas intenções. Eles têm algumas visões espirituais válidas.
Vamos conversar com eles.” Pelo contrário, diz: “Mantenham distância. Cuidado
com o estilo de vida e a influência deles. Sigam-nos e terão a mesma condenação
que eles.”
Essa visão certamente teria levado
Jesus a receber uma manifestação estrepitosa de sonora desaprovação da parte
dos guardiões do protocolo evangélico de hoje. Na realidade, sua visão dos
fariseus ridiculariza os pontos fundamentais da sabedoria convencional entre
evangélicos modernos e pós-modernos — a predisposição neoevangélica ao
coleguismo eterno e à obsessão dos emergentes por juntar todos os pontos de
vista em uma conversa interminável. Segundo os parâmetros de hoje, as palavras
de Jesus sobre os fariseus e o modo como ele os trata são impressionantemente
severos. Voltemos ao início do
ministério de Jesus e observemos como começou e como se desenvolveu a
hostilidade entre ele e os fariseus.
Acredito que muitos leitores
ficarão surpresos ao descobrirem que foi Jesus quem fez a primeira investida. E
foi um ataque incrivelmente forte.
NOTAS:
4. “An
Evangelical Manifesto: A Declaration of Evangelical Identity and Public
Commitment”, Washington, D.C., 7 de maio de 2008.
5. Ibid, 9.
6. Ibid, 4.
7. Ibid, 5.
8. Ibid, 3.
9. CAMPOLO, Tony e CLAIBORNE, Shane. On Evangelicals
and Interfaith Cooperation”, Cross Currents, primavera de 2005, vol. 55, n.°1. (Disponível
em www.crosscurrents.org/ CompoloSpring2005.htm.) Campolo não está defendendo o
diálogo meramente para o bem da paz política ou da harmonia cultural. Ele está
chamando expressamente um diálogo religioso entre evangélicos e muçulmanos com
o objetivo de uma “cooperação interreligiosa”. Subjacente a toda a entrevista
parece estar uma sugestão de que os cristãos deveriam tratar o Islã como sendo
igual (e como um potencial parceiro) em questões espirituais (começando com a
busca pela “bondade”). Claiborne abre a entrevista dizendo que ela foi feita a
pedido de um “devoto irmão muçulmano”. Embora Campolo declare que esse
recém-descoberto espírito de irmandade com outras religiões não significa
necessariamente que tenhamos de “abrir mão de tentar converter os outros”,
imediatamente acrescenta que isso significa que devemos parar de dizer que
muçulmanos que rejeitam Cristo estão em perigo de condenação eterna. Ele até
mesmo sugere fortemente que este é um aspecto em que os muçulmanos são
moralmente superiores aos cristãos: “A comunidade muçulmana é muito
evangelística, no entanto o que os muçulmanos não fazem é condenar judeus e
cristãos ao inferno se eles, de fato, não aceitarem o islã [...] O Islã é muito
mais misericordioso em relação aos cristãos evangélicos que são fiéis ao Novo
Testamento que os cristãos são com respeito ao povo islâmico que é fiel ao
Corão.” Ser “misericordioso”, na definição de Campolo, parece requerer a recusa
de dizer claramente que as crenças de outras pessoas são erradas — até mesmo
quando elas estão terrivelmente erradas. Campolo acrescenta: “Eu pen- so que há
irmãos e irmãs muçulmanos que desejam dizer: ‘Você põe em prática a verdade como
você a entende. Eu vou pôr em prática a verdade como eu a entendo, e deixemos
isso para Deus mostrar no dia do juízo.’” Ele diz mais: “Há muito na fé cristã
que pode sugerir exatamente a mesma ideia.” Na verdade, não há nada nas
Escrituras que justifique aceitar pessoas de outras religiões como “irmãos e
irmãs” ou manter esse tipo de diálogo entre crenças. Na verdade, as Escrituras
enfaticamente proíbem- nos de buscar terreno espiritual em comum ou cooperação
com religiões falsas (2 Corintios 6:14-17).
10. MCLAREN, Brian. A mensagem
secreta de Jesus: desvendando a verdade que poderia mudar tudo. Rio de Janeiro:
Thomas Nelson Brasil, 2007.
Autor: John
MacArthur
Trecho extraído do livro A outra face, pág 51-62.
Trecho extraído do livro A outra face, pág 51-62.