João 13.27 – E logo que comeu o pedaço de pão, Satanás
entrou nele. (Almeida
Século 21)
Os evangelhos de Lucas e João
retratam duas ocasiões na qual Satanás entrou
em Judas Iscariotes. A primeira
ocasião ocorreu pouco tempo antes de ele combinar com os principais sacerdotes e
os capitães (que eram um grupo de segurança composto por levitas que guardavam
o templo) o valor em dinheiro (30 moedas de prata, de acordo com Mt 26.15, o
preço de um escravo, Êx 21.32) e a maneira como entregaria Jesus para ser preso
(Lc 22.3-5).
A segunda ocasião em que
Satanás entrou em Judas ocorreu na ceia, na quinta-feira, noite anterior à
crucificação, após ele ter ingerido o pedaço de pão molhado oferecido por Jesus, que consistiu na resposta da pergunta de Pedro e João de quem seria o
traidor. Após esta cena, além de os discípulos ficarem sabendo claramente quem
seria o traidor, contudo, o processo da traição formal de Judas se desencadeou,
deixando patente o sentimento maligno que estava em seu coração (Jo 13.21-26).
É importante enfatizar que o pão molhado não foi um ato espiritual, mas simplesmente um elemento usado por Jesus para ativar o que já estava latente
em Judas. Portanto, qual foi, então, o papel de Satanás na traição de
Judas? Dois fatores revelam o papel de Satanás na traição que João descreve:
1) A Instigação de Satanás
Em João 13.2, é mencionado que, durante a ceia, Satanás já havia colocado no coração
de Judas que ele deveria trair a Jesus. Não é possível saber quando isso ocorreu
pela primeira vez, entretanto, já no momento da ceia, Judas já havia aceitado a
sugestão de Satanás. A semente da traição já havia sido plantada no coração de
Judas. A flecha maligna de Satanás já havia acertado o seu coração. Satanás instigou Judas trair a Jesus fazendo uso de suas próprias
inclinações pecaminosas, isto é, o egoísmo e o amor ao dinheiro (Jo 12.3-6; 1
Tm 6.9-10).
2) Satanás entrou em Judas para que o seu propósito fosse cumprido
Satanás entrou em Judas para,
através dele, efetuar o seu “plano” maligno de matar Jesus e, talvez, matar ou tentar desviar os discípulos de anunciar o evangelho, impedindo,
assim, a sua expansão pelo mundo. Satanás talvez pensou que, matando Jesus,
todos os seus discípulos e seguidores iriam se dispersar e abandonar a fé, o
que, de fato, não aconteceu. Não obstante, o que significa, então, a expressão entrou nele? Satanás possuiu Judas realmente no momento da consumação da
traição? Judas teria sido sucumbido por satanás ao ponto de perder a sua
personalidade? Então, Judas não era responsável pelos seus atos porque estava possuído
por Satanás?
a) A entrada de Satanás em Judas não significa necessariamente possessão
No momento de uma possessão
maligna, a pessoa vitimada perde completamente a sua consciência e a vontade
própria. Ela é completamente sucumbida pelo demônio, uma vez que a possessão é
plena e absoluta. Geralmente, quando a pessoa é liberta da possessão, ela não se
lembra de nada do que aconteceu outrora sob o domínio maligno. Sendo assim,
Judas sabia perfeitamente o que fez e estava cônscio do ato hediondo que cometeu
traindo Jesus. Ele mesmo disse, tomado remorso em Mateus 27.4 – Pequei traindo
sangue inocente! (ARA) Uma pessoa possessa não teria essa reação de Judas nem tampouco se lembraria do que havia feito. Se fosse Satanás quem tivesse traído
Jesus usando a pessoa de Judas, Jesus teria dito que foi ele quem o
traiu. Contudo, Jesus é explícito em afirmar que foi Judas quem o traiu, e não
Satanás.
Lucas 22.22 – Mas a mão do que me trai está comigo à mesa. (Almeida Século 21)
Portanto, a expressão entrou nele
significa um tipo de domínio espiritual que Satanás exerceu em Judas, e não uma
possessão total, conforme ressaltou John MacArthur, em seu livro O Evangelho Segundo
Jesus, na página 138. Judas simplesmente foi dominado por Satanás, sendo o seu
escravo na trama e execução da traição de Jesus.
b) A entrada de Satanás em Judas não significa a perda da sua
responsabilidade moral pelo ato da traição
Embora a traição e o traidor de Jesus já estivessem decretados pela Soberania de Deus (Sl 41.9; Jo
13.18; Mt 26.21; 53-56; Mc 14.18; Lc 22.21-22; 37-38; Jo 6.70-71; 13.10-11; 21), todavia, ainda
assim, o traidor foi Judas, e não Deus. O Senhor determinou a traição, que foi algo
mal da perspectiva humana para um propósito final e maior, que foi
algo bom da perspectiva de Deus, ou seja, a redenção dos pecadores eleitos. Se
não fosse a traição de Judas, Jesus não teria sido preso, humilhado, espancado,
condenado e morto na cruz. E se Jesus não morresse e ressuscitasse, não haveria
a salvação (At 2.23-24; 3.18). O decreto de Deus estava se cumprindo no momento
da traição, mas Judas não estava isento de sua responsabilidade por conta disso. Judas traiu Jesus porque quis! Ele agiu de acordo com as suas
inclinações pecaminosas, que eram más e foram acentuadas por
Satanás.
Finalmente, a entrada de
Satanás em Judas não se refere a uma possessão maligna absoluta e irresistível;
antes, se refere a uma ação eficaz e manipuladora sobre Judas, que, no
final das contas, desconhecendo isso, tanto ele como Satanás estavam
cumprindo o bom propósito de Deus.
Autor:
Leonardo Dâmaso
Divulgação:
Reformados 21