INTRODUÇÃO
Dentre
os vários temas que permeiam a carta aos Hebreus, temos a necessidade e a importância da perseverança na vida cristã. Vemos praticamente
por toda a carta que o autor encoraja os seus leitores a
permanecerem obedientes e firmes no evangelho da graça de Deus (2.1-4; 3.1,
12-19; 4.1-3, 11, 14-16; 6.1-3, 11-12; 10.19-39; 12.1-28; 13.1-25).
Se
fôssemos para resumir o tema da carta aos Hebreus em uma só frase, o
tema seria Perseverança na fé no filho de Deus!
Acerca do tema da carta aos hebreus, Simon Kistemaker escreve:
Acerca do tema da carta aos hebreus, Simon Kistemaker escreve:
O
apelo do escritor chega ao leitor numa fraseologia marcada pelas repetições:
Mantenham a fé, seja obediente, permaneça firme, vá a Deus e afirme a sua
salvação. O autor adverte sobre o pecado da descrença, que no final faz sua
cobrança e acaba em apostasia... À medida que o escritor exorta, ele também
ensina. Ele expressa seu interesse em que os leitores obedeçam à Palavra de
Deus, e assim ele os exorta. Ele também quer que seus leitores conheçam a
Palavra, e ensina.1
Podemos
dividir esta perícope em três seções:
Na
primeira seção, o autor vai tratar sobre a necessidade da perseverança (vs.1c);
na segunda seção ele mostra o foco da perseverança na vida cristã (vs.2); e, na
terceira seção, o autor conclui com a finalidade da perseverança na vida cristã
(vs.3).
ARGUMENTAÇÃO
1. A necessidade da perseverança na vida
cristã (12.1c)
Deus preserva o cristão da
apostasia e da perda da salvação por meio da perseverança dele. Embora seja
Deus quem o preserve (Rm 8.38-39; 1Co 1.8; Fp 1.6; Ef 1.13-14), todavia, o cristão tem um papel ativo e responsável na preservação de Deus perseverando.
Não é Deus quem persevera para o cristão, mas o cristão é quem persevera em
Deus (Hb 2.1; 10.25, 35; Jo 8.31; 1Co 16.33). Sendo assim, qual a importância
da perseverança na vida cristã?
1.1 A vida Cristã é uma corrida (vs.1c)
O autor da carta aos Hebreus
escreve aos seus destinatários, que não sabemos se eram judeus ou gentios [visto
que a carta está repleta de informações acerca da religião hebraica, e não se
dirige a nenhuma prática de origem gentílica ou hebreia, o título tradicional Aos Hebreus foi mantido], encorajando-os
a correr, com perseverança, rumo à carreira que lhes está proposta.
Note
que o próprio autor se inclui nestas palavras de encorajamento, dizendo que não
somente os seus destinatários deveriam correr e perseverar na vida cristã, mas
que ele, sobretudo, também deveria fazer o mesmo. No entanto,
de maneira proposital, o autor utiliza uma analogia para ensinar e encorajar
não somente os seus leitores históricos, mas os de todos os tempos sobre a
necessidade de perseverar.
O
autor tem em mente as competições esportivas que aconteciam nos estádios gregos,
especificamente as maratonas (Hb 10.36-39). Esse tipo de analogia também foi
usado por Paulo em algumas de suas cartas (veja 1Co 9.24-27; Fp 2.16; 2Tm 2.5;
4.7-8). Estes
cristãos conheciam os esportes que eram praticados pelos gregos na época, bem
como as competições que se davam nos estádios. Portanto, o autor utiliza um
exemplo simples, mas preciso e bem conhecido por estes cristãos, a fim de ensiná-los
e encorajá-los à perseverança na vida cristã.
A
palavra perseverança, no grego υπμονή
(hupomnesis), pode ser traduzida como uma paciência
que resiste; denota firmeza e persistência. Essa palavra traz a ideia de uma
pessoa que tem a capacidade de persistir em suportar com firmeza inúmeras
dificuldades em diferentes circunstâncias da vida sem entregar-se ao desânimo. John
Macarthur define perseverança como a constante determinação de seguir em
frente, independentemente da tentação de diminuir o ritmo ou desistir.2
William Barclay corrobora:
O
termo paciência não implica aquela
pessoa que senta e aceita as coisas; a paciência que, cansada e cabisbaixa, se
senta com as mãos cruzadas e, conformada com os problemas e derrotas que a
assolam, vai levando a vida superando tudo. Antes, paciência aqui se trata da
paciência que domina as coisas. Os obstáculos não a intimidam, a demora às
vezes em ver as coisas melhorarem não a deprimem; o desânimo não lhe tira a
esperança. Porventura se o desânimo que provêm de dentro e a oposição de fora
tentarem contra esta pessoa, nada disso irá fazê-la desistir. Paciência aqui é
a firme persistência que não retrocede até obter a vitória.3
Desse
modo, poderiámos traduzir a palavra perseverança
υπμονή (hupomnesis) por “persistência”, pois se harmoniza melhor no contexto. Parafraseando o texto, era como se o
autor dissesse:
Assim
como um atleta, nas competições olímpicas, corre a maratona com persistência
até o seu objetivo, que é atravessar a linha de chegada e vencer, nós, como cristãos,
também somos atletas, porém, atletas no âmbito espiritual; portanto, devemos
correr a maratona da vida com persistência.
1.2
Na
vida cristã temos um alvo (vs.1c)
Além
de persistirmos na corrida da vida cristã, o autor da carta aos Hebreus escreve
que não corremos em vão, sem um objetivo, mas que corremos rumo à carreira que nos está proposta. A palavra
carreira Αγώνα (agona) [de onde
deriva a palavra portuguesa “agonia”], transmite a ideia de oposição, luta
contra os “inimigos” internos e externos (Fp 1.30; Cl 2.1; 1Ts 2.1-2 ).
Literalmente,
a expressão carreira que nos esta
proposta significa “maratona”, que é o percurso delimitado para o
atleta onde ele deve seguir correndo com perseverança até o fim da maratona. O
autor da carta aos Hebreus encoraja os seus destinatários e os
cristãos de todas as épocas que, “uma vez que se trata de uma maratona, e não de uma
corrida de curta distância”4, é imprescindível corrermos com
persistência este caminho que nos foi determinado.
O
Senhor Jesus traçou o nosso percurso de vida que devemos seguir, correndo
com perseverança, até o fim, rumo ao objetivo que não é a linha de chegada de
uma competição esportiva, mas a glória da salvação eterna, que será consumada em sua segunda vinda, que é a nossa maior vitória (2Tm 4.7; 1Co 15.57).
1.3 Na
vida cristã temos motivações (vs.1a)
Se na
maratona da vida cristã temos um alvo, e devemos correr com perseverança até
chegarmos nele, todavia, o autor da carta aos Hebreus nos mostra que temos
motivações para isso, para que não aconteça de nos cansarmos no meio da
maratona e querermos desistir (vs.3).
Conforme vimos anteriormente, o autor se coloca na
mesma posição de que os seus destinatários, isto é, ele também é um corredor
juntamente com eles, dizendo: Portanto,
também nós. A figura usada pelo o autor aqui é de um estádio na Grécia onde
aconteciam as competições esportivas.
Neste estádio, como em todos os outros, existem
arquibancadas repletas de pessoas que apreciam os esportes e torcem pelos seus
competidores favoritos. O autor chama estas muitas pessoas de tão grande nuvem de testemunhas. Em outras palavras, “o cristão aqui é comparado com um atleta que corre no
estádio ou na arena para conquistar a coroa da vitória, enquanto milhares de
espectadores nas arquibancadas são testemunhas da disputa”.5
A expressão nuvem
de testemunhas pode ser traduzida por “multidão de pessoas”. Portanto, as
muitas testemunhas mencionadas pelo o autor, de acordo com o contexto imediato,
são os crentes do Antigo Testamento, descritos no capítulo 11. Além de expressar “um grande número de pessoas, as
testemunhas revelam, sobretudo, a sua unidade no testemunho”.6 Contudo,
o que o autor enfatiza não são as testemunhas propriamente ditas, mas o testemunho
delas, a vida de fé que viveram os crentes do Antigo Testamento.
Calvino ressalta que as virtudes dos santos do
Antigo Testamento são como que testemunhos a confirmar-nos para que, confiando
neles, como nossos guias e associados, sigamos avante rumo a Deus com mais
entusiasmo.7 Sendo assim, devemos olhar como motivação para a
vida de perseverança na fé destes crentes e seguirmos o exemplo deles; devemos
perseverar firmes na fé na maratona da vida cristã.
A motivação que temos para perseverarmos na
maratona da vida cristã está centrada no exemplo de vida que os crentes do
Antigo Testamento deram durante a vida. Estes crentes que estão no céu não são
os nossos espectadores em si, mas a vida deles no passado é testemunho para nos
encorajar a viver como eles viveram. Devemos procurar viver como Abel, Enoque, Noé,
Abraão, Isaque, Jacó, José, Moisés e Davi viveram (11.2, 4-5, 7-10, 17-29, 33, 39),
assim também como os primeiros mártires cristãos e os reformadores.
1.4
Na
vida cristã temos obstáculos (vs.1b)
Devemos ter como motivação para
perseverarmos na maratona da vida cristã o exemplo de vida dos crentes do Antigo
Testamento. O autor da carta aos Hebreus continua dizendo que esta motivação
também era oportuna devido aos obstáculos que há na maratona da vida cristã.
Devemos olhar para a vida que viveram os crentes do
Antigo Testamento em meio às muitas dificuldades e obstáculos que enfrentaram e
continuaram perseverantes, assim como eles perseveraram não desistindo da
maratona da vida com Deus. Não obstante, o autor enfatiza dois tipos de
obstáculos. Ele escreve que devemos nos desembaraçar
de todo peso e de todo o pecado que tenazmente assedia a todos. Vejamos,
pois:
i. Devemos
nos desembaraçar de todo o peso
A palavra desembaraçando-nos,
no grego άποθέμενοι (apothemenoi), é mais
bem traduzida por deixemos de lado (ARC, NTLH) ou livremo-nos. (NVI) No grego, esta palavra traz a ideia de uma roupa
longa e pesada que o atleta deveria “rejeitar ou abandonar”, pois seria um
obstáculo para ele na maratona. Poderíamos traduzir o texto deste modo: tirando de nós mesmos tudo o que nos
atrapalha.
O autor da carta aos Hebreus tem em mente aqui a
condição física e as roupas de um atleta. Para estar apto para disputar uma
maratona esportiva, o atleta precisa estar em boa forma física. Todavia, quando o atleta vai disputar uma maratona
esportiva, ele não se veste com qualquer tipo de roupa, antes, se veste com uma
roupa apropriada, que não seja pesada, isto é, uma roupa leve para se sentir
confortável durante a corrida, que consiste numa camiseta, shorts e tênis, e
pesa cerca de meio quilo, apenas.
ii. Devemos
nos desembaraçar do pecado que tenazmente nos assedia
A expressão tenazmente nos assedia ευπεριοτατον
(efperiotaton), é um adjetivo que pode ser traduzido como que nos cerca
tão de perto ou que tão de perto nos
rodeia. (ARC) Os destinatários
da carta aos Hebreus tinham inúmeros pecados que os estavam prendendo. Tais
pessoas estavam entrelaçadas em vários pecados que as assediavam constantemente. Havia pessoas com tendências à incredulidade (Hb 3.12), pessoas amarguradas e
impuras (12.15-16), pessoas renitentes em ouvir os profetas de Deus (12.25), pessoas
envolvidas com doutrinas estranhas (13.9), etc.
O pecado que nos cerca tão de perto é
o nosso próprio pecado, as nossas inclinações pecaminosas oriundas da nossa
natureza não redimida (Mt 15.19; Gl 5.19-21; Ef 4.22-31). Em outras palavras, livrem-se destes obstáculos, diz o
autor.
Concordo com John Stott que diz que, na maratona da
vida cristã, tirar de nós todo o peso, significa abandonar o peso do pecado e
também outros pesos que podem não ser pecaminosos em si, mas que atrapalham o
nosso desempenho na corrida.8 Na pista da fé, observa Simon
Kistemaker, nós somos desafiados a ir longe. Portanto, devemos correr leves.9
Calvino, neste mesmo pensamento, escreve:
Deparamo-nos com todo gênero de cargas que nos
atrasam e embaraçam nossa corrida espiritual, ou seja, o apego a esta presente
vida, os deleites que o mundo proporciona, os apetites da carne, as
preocupações terrenas, as riquezas e as honras, bem como outras coisas desse
gênero. Todo aquele que porventura queira competir na corrida de Cristo deve
antes desvencilhar-se de todo e qualquer entrave; porquanto, por natureza já
somos lentos do que deveríamos ser; de sorte que não permitamos que outras
causas nos sirvam de atraso.10
Matthew Henry afirma que enquanto o pecado favorito de um
homem permanecer sem ser subjugado, seja qual for ele, este o impedirá de
correr a carreira cristã, porque lhe tira toda motivação para correr e dá
entrada ao desânimo mais completo.
Que deixemos de lado até mesmo aquele obstáculo que
não seja pecado em si, pois, se algum obstáculo também não edifica, tem sido um
peso para nós corrermos e tem produzido em nós desânimo, chegando ao ponto de
pensarmos em desistir da maratona, todavia, esse obstáculo que não era pecado
se tornou pecado e, portanto, deve ser deixado (2Tm 2.4). Parafraseando, o
autor da carta aos Hebreus nos diz:
Que deixemos tudo aquilo que nos atrapalha ou nos
torne lentos na maratona da vida cristã, em adição, aqueles pecados que são
como uma roupa longa e pesada que prendem e embaraçam os nossos pés, nos
fazendo tropeçar e cair!
2.
O foco da perseverança na vida cristã
(12.2)
O
autor da carta aos Hebreus enfatiza, agora, o alvo primário da maratona da vida
cristã, que é a obra, perseverança e posição de Cristo Jesus. Senão vejamos:
2.1
A singular motivação da vida cristã (vs.2a)
O
autor da carta aos Hebreus continua a nos encorajar sobre a necessidade da
perseverança na vida cristã, dizendo que devemos olhar firmemente para o autor e
consumador da fé, Jesus, salientando, agora, o resultado da obra da redenção
dos pecadores eleitos.
O
autor não coloca Jesus na mesma categoria daqueles crentes do Antigo
Testamento, mesmo apesar de terem vivido uma vida espiritual maiúscula na
presença de Deus. Antes, o autor coloca o nome de Jesus em proeminência, a fim
de que possamos nos concentrar e seguir como finalidade o seu exemplo de vida
terrena.
A
expressão olhando firmemente significa
“manter o olhar fixo sobre algo”. Literalmente
“fixar os olhos”. Devemos olhar sem
distração alguma para Jesus, o autor e consumador de nossa fé, como a maior
prioridade da nossa vida. O termo autor αρχηγòς (archegos), no
grego, significa “iniciador, originador”; denota que Jesus é que deu origem à
nossa fé.
O termo consumador τελειωτής (teleiotes), por sua vez, significa “alguém que conclui algo; aquele que
completa uma obra” (Hb 2.10). Sendo assim, era como se o autor da carta aos Hebreus
dissesse: Mantendo os olhos fixos naquele
que deu origem e completou a nossa fé, Jesus! Parafraseando:
Mantenham
os olhos em Jesus, que começou e terminou a corrida de que participamos!12
Como
corredores empenhados na maratona da vida cristã, não podemos olhar para os
lados. Olhar para os lados implica distração; significa desviar o nosso olhar
de Jesus, o objeto da nossa fé, o nosso alvo, e olhar para coisas que não são
importantes. Não
devemos nos distrair olhando para o estado lastimável em que a igreja
evangélica, em sua maioria, se encontra. Não devemos olhar para os pastores
corruptos e para a suposta “prosperidade” destes e para as adversidades da
vida. Devemos manter os nossos olhos focados em Cristo Jesus!
2.2
A base da motivação da vida cristã
(vs.2b)
Na
primeira parte do texto, o autor frisou “o resultado da obra da redenção”, desta vez, contudo, ele expande o tema, dizendo que, além de olharmos para Jesus, o
autor e consumador da nossa fé, (o resultado de sua obra), devemos também olhar
para a sua perseverança, porque Jesus, em
troca da alegria que lhe estava proposta, suportou a cruz, não fazendo caso da
ignomínia...
Vejamos
os quatro aspectos da perseverança de Cristo:
i.
... em troca da alegria
Essa
expressão não significa que Jesus
preferiu trocar a alegria celestial que outrora tinha antes da encarnação pela
morte de cruz, conforme acreditam alguns estudiosos. Antes,
pela a alegria, e não em troca da alegria, e para obtê-la, na
qual foi planejada na eternidade por Deus Pai, por ele mesmo e por Deus
Espírito Santo no conselho trinitariano, Jesus, o Deus filho encarnado, de
forma voluntária, “sofreu na cruz em antecipação da alegria de ser o salvador
do seu povo.13 Semelhante
a Moisés, que olhava para o seu galardão futuro (Hb 11.26), Jesus também olhava
para o galardão que iria receber das mãos do Pai após a conclusão da obra
redentora (Ap 5.9-10).
ii.
... que lhe estava proposta
Essa
expressão aponta para um tempo futuro, e descreve que, depois da sua morte de
cruz, Jesus foi glorificado e exaltado pelo Pai. Deus predeterminou o
sofrimento para Jesus (Hb 9.26; 1 Pe 1.20; Is 53.4-6), bem como uma alegria
indizível por ver a obra de redenção consumada. Jesus perseverou para que
pudesse receber a alegria de cumprir a vontade do Pai e exaltá-lo14 (Is
53.11; Sl 16.9-11; Lc 10.21-24; At 2.28).
iii.
... suportou a cruz
Simon Kistemaker
ressalta:
O
termo cruz, junto com o verbo suportar, reflete toda a narrativa do
sofrimento do julgamento e da morte de Jesus. Ele ficou sozinho durante seu
julgamento perante o sumo sacerdote e perante Pilatos. Jesus suportou a agonia
do Getsemâni sozinho. Ele carregou sozinho também a ira de Deus no calvário. Em
seu sofrimento, Jesus demonstrou visivelmente sua fé em Deus. Em obediência,
ele suportou a angustia da morte na cruz.15
iiii.
.... não fazendo caso da ignomínia
A
palavra ignomínia significa
“afronta”. Jesus não levou em conta a afronta dos judeus incrédulos e dos
líderes religiosos contra si, que planejaram e conseguiram com que ele fosse
crucificado e morto, uma vez que estes homens o tinham como um maldito e herege
(Dt 21.23; Gl 3.13). Jesus
não desceu da cruz conforme muitos queriam que ele descesse, tentando-o a isso
(Mt 27.40; Mc 15.30). Jesus suportou a afronta para que o Pai fosse glorificado
e os pecadores eleitos fossem redimidos, por isso ele está assentado à destra do trono de Deus, que indica a sua
posição de glória, autoridade e poder (Mt 28.18).
3.
A finalidade da perseverança na vida
cristã (12.3)
Tendo
em vista a perseverança na maratona da vida cristã e suas implicações, o autor
da carta aos Hebreus conclui suas exortações, dizendo que devemos considerar,
atentamente, a oposição que Jesus suportou dos pecadores contra si mesmo, para
que não venhamos a nos fatigarmos, desmaiando em nossas almas.
O
verbo considerar
significa “comparar, calcular, reputar”. O autor acentua que devemos considerar
o que aconteceu com Jesus, que, logo que acabara de nascer, já enfrentou
perseguição por parte de Herodes (Mt 2.13-18). Mais
tarde, quando iniciou o seu ministério, Jesus suportou afrontas, oposição, rejeição
por parte dos seus conterrâneos, os judeus incrédulos (Jo 1.11). Foi
maltratado, perseguido, espancado e morto pelas mãos desses pecadores (At
2.22-23) para que, pelo seu exemplo de vida de fé e perseverança em Deus, não venhamos
a fatigarmos, desmaiando na maratona da vida cristã.
As
palavras fatigar-se e desmaiar significam desanimar e desistir. James
Moffatt diz que aparentemente, segundo Aristóteles, estas palavras eram
comumente usadas no mundo dos esportes nessa época, onde ele próprio
(Aristóteles) descrevia os corredores que desanimavam e caiam no final da
maratona depois de alcançarem a meta.16
CONCLUSÃO
Numa
maratona, sabemos que nenhum atleta, por melhor que seja a sua forma física, consegue manter o ritmo acelerado o tempo todo devido ao cansaço. No
entanto, como estratégia para conseguir vencer e chegar até o fim, o atleta se
intercala correndo em períodos rápidos e lentos. Assim é na vida cristã.
Nós,
como atletas espirituais, também estamos sujeitos ao desânimo em meio à
maratona da vida cristã; e, de fato, desanimamos algumas vezes. Elias desanimou
e caiu em um profundo esgotamento, mas o Senhor o animou e o fortaleceu, e ele
voltou a correr na maratona (1Rs 19.1-18).
Os
discípulos, após a morte de Jesus, desanimaram e ficaram trancados dentro de
casa, com medo da perseguição dos judeus (Jo 20.19). Porém, quando viram Jesus
ressurreto, foram animados novamente a perseverarem na fé (Jo 20.20-23). Pedro,
quando negou Jesus, por um momento desanimou da fé, mas logo foi restaurado e
animado pelo Senhor Jesus após a sua ressurreição, no mar de Tiberíades (Jo
21.15-17).
Contudo,
a questão não é desanimar ou correr mais lentamente devido ao cansaço das adversidades
da vida, mas se entregar ao desânimo, que significa parar de correr. São muitos
os que, em vista do desânimo, desistiram. Apostataram da fé! Quando
não mantemos o nosso olhar em Cristo, mas para o mundo ao nosso redor, para as
pessoas, para as dificuldades da vida e para nós mesmos, o desânimo sobrevém e
ficamos tentados a desistir de continuarmos correndo perseverantes na maratona da
vida cristã.
Porém,
quando mantemos o nosso olhar “fixo” em Cristo, não nos entregamos ao desânimo; antes, somos fortalecidos diariamente pelo Espírito Santo que habita em nós.
Quando entendemos e olhamos para a vida e o sofrimento que Jesus experimentou,
isso nos motiva celeremente a continuarmos firmes e perseverantes na maratona
da vida cristã como ele perseverou até o fim (Jo 16.33; 1Co 9.24-25).
NOTAS:
1.
Simon Kistemaker. Hebreus, pág 24.
2.
Bíblia de Estudo Macarthur. Notas de Rodapé,
pág 1710.
3.
William Barclay. Hebreus, pág 182.
4.
Comentário Bíblico Africano. Hebreus,
pág 1545.
5.
Fritz Laubach. Hebreus, pág 119.
6.
Fritz Rienecker e Cleon Rogers. Chave
Línguistica do Novo Testamento Grego, pág 529.
7.
João Calvino. Hebreus, pág 336.
8.
John Stott. A Bíblia toda, o ano todo,
pág 392.
9.
Simon Kistemaker. Hebreus, pág 519.
10.
João Calvino. Hebreus, pág 336.
11.
Dicionário Grego do Novo Testamento de
James Strong anotado pela AMG, pág 2423.
12.
A Mensagem. Bíblia em Linguagem
Contemporânea, pág 1721.
13.
Bíblia de Estudo Genebra. Notas de
rodapé, pág 1665.
14.
Bíblia de Estudo Macarthur. Notas de
rodapé, pág 1710.
15. Simon Kistemaker. Hebreus, pág 516.
16. James Moffatt. Epistle to the Hebrews, International
Critical Commentary series (Edimburgo: Clark, 1963), pág 199.
Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21