13 de abril de 2016

As taças da ira de Deus


Texto base: Ap 16.1-21

INTRODUÇÃO

As sete taças da ira de Deus é o ápice do seu juízo. Semelhante e ao mesmo tempo conectada com as dez pragas no Egito e as sete trombetas, que são os alertas de Deus aos ímpios, as taças, porém, são a consumação da sua ira. No soar das trombetas, a ira de Deus estava entrelaçada com a sua misericórdia, nas taças a sua ira é inexorável!     

Hernandes Dias Lopes escreve:

Enquanto as trombetas causam tribulações parciais, cujo objetivo é trazer ao arrependimento os impenitentes, as taças mostram que a oportunidade de arrependimento está esgotada. As trombetas atingem apenas um terço da natureza e dos homens, as taças trazem uma destruição completa. Enquanto nos selos e nas trombetas há um interlúdio antes da cena do juízo, agora não há mais interlúdio; as taças são derramadas sem interrupção.1

Esta cena que precede a segunda vinda de Cristo e o juízo final pode ser dividida em quatro seções paralelas. Na primeira seção, é descrito o flagelo de Deus sobre os homens (vs.1-9). Na segunda seção vemos o flagelo de Deus sobre a besta e o seu reino (vs.10-11). Na terceira seção a terra é destruída (vs.12-16). Finalmente, na quarta seção a terra é extinta do universo (vs.17-21).


ARGUMENTAÇÃO

1. O flagelo de Deus sobre os homens(16.1-9)

A primeira taça (vs.1-2)

No texto em pauta, é dito que João ouve uma forte voz vinda do santuário dizendo aos sete anjos que derramem as sete taças da ira de Deus sobre a terra. Em seguida, o primeiro dentre os sete anjos derramou a primeira taça na terra, ferindo dolorosamente com feridas malignas as pessoas que tinham a marca da besta.

A voz que João ouviu vinda do santuário era a voz do próprio Deus. Em 15.8 o apóstolo enfatiza a glória de Deus e o seu poder. E em 16.17 é descrito que após o derramar das sete taças, Deus diz do santuário que tudo está feito. Portanto, é o Deus soberano e bendito no qual enche o santuário com a sua glória e poder que envia os seus sete anjos a derramar as sete taças. 

Todavia, as taças não devem ser entendidas como taças literais. As taças simplesmente denotam os juízos de Deus sendo executados. Semelhante a sexta praga no Egito, onde os homens e os animais foram acometidos de feridas purulentas pelo corpo (Ex 9.10-11; Dt 28.35), após o primeiro anjo derramar a primeira taça sobre a terra, a saúde das pessoas é afetada.

Os alimentos, especialmente os produtos da terra, serão infectados; ao serem consumidos pelas pessoas, elas ficarão doentes e terão seus corpos dolorosamente afligidos por inúmeras feridas purulentas. Não são os crentes, mas os ímpios, adoradores da besta, é que são o alvo indubitável da ira de Deus derramada nesta primeira taça.

A segunda taça (vs.3) 

Se na primeira taça os homens são atormentados por doenças excruciantes, agora, nesta segunda taça, o mar é o devastado. Após o segundo anjo executar o juízo de Deus, a água do mar se tornou em sangue como de uma pessoa morta, resultando na morte de todos os seres viventes no mar. Apesar dos efeitos das taças serem diferentes dos das trombetas, as duas cenas ocorrem paralelamente.2 Enquanto a segunda trombeta matou um terço das criaturas que vivem no mar (8.8-9), a segunda taça traz morte a todos os seres vivos no mar.3 O mar ficará completamente poluído e sujo pelos corpos das criaturas mortas! O suprimento alimentício provindo do mar é subtraído da raça humana.4 Este será um tempo de escassez! A fome será inevitável!

A terceira taça (vs.4-7)

Após o mar se tornar em sangue na segunda taça, não obstante, a terceira taça derramada torna também os rios e as fontes de água em sangue. Percebemos dois paralelos aqui:

Primeiro, temos o paralelo desta taça com a terceira trombeta, onde o juízo de Deus foi parcial; apenas um terço das águas se tornaram amargas, culminando na morte de muitas pessoas (8.10-11). O segundo paralelo é com a primeira praga no Egito, onde as águas se  tornaram em sangue (Êx 7.19; 17-18). 

Semelhante aos egípcios na época de Moisés que sofreram essa praga, não podendo beber das águas dos rios devido à sua contaminação (Sl 78.44), a terceira taça difere e complementa ao mesmo tempo a taça anterior nos seus efeitos.

Na segunda taça, as pessoas não têm mais o alimento provindo do mar devido a contaminação e poluição pelos corpos das criaturas mortas. Na terceira taça, tanto as pessoas como os animais ficarão sem água potável para beber também devido à poluição e contaminação dos rios. A água ficará imprópria para o consumo e, consequentemente, muitas pessoas morrerão. Nesta fase da grande tribulação haverá tanto escassez de alimento como de água!

Por conseguinte, enquanto o anjo derrama a terceira taça, ele declara a justiça de Deus no seu julgamento contra os que mataram os santos de todas as eras que recebem a punição merecida, e, ao mesmo tempo, engrandece a Deus como o justo juiz, eterno, santo, onipotente e vingador (vs.5-7). O julgamento de Deus atingiu um mundo rebelde, para justiça dos que foram martirizados (6.9) e em resposta às orações dos santos perseguidos (9.13).5

A quarta taça (vs.8-9)

Nesta quarta taça, vemos o quarto anjo executando o juízo de Deus, desta vez afetando o sol, intensificando o seu calor sobre os homens de maneira superlativa. Os pecadores que não se arrependeram quando o sol escureceu na quarta trombeta são agora punidos mediante a intensificação do calor do sol. O escurecimento eles podiam perceber e ignorar; quanto ao calor eles nada podem fazer a não ser senti-lo.6

A luz do sol normalmente fornece calor e conforto a todos os seres vivos, especialmente à raça humana; agora o sol veio a ser um poder destrutivo. Em vez de ser uma benção, o sol veio a ser uma maldição.7 O calor será escaldante sobre a terra! Além de sofrerem pela escassez de alimento e de água como resultado do juízo da segunda e da terceira taça, os seguidores da besta nesta quarta taça derramada sofrerão um calor insuportável, sentirão forte ardência no corpo todo, a ponto de serem queimados pela luz do sol. 

No entanto, mesmo diante de todo este sofrimento, os homens não se arrependeram de seus pecados. Pelo contrário, eles blasfemaram contra Deus. Simon Kistemaker ressalta que o fracasso (dos adoradores da besta – minha ênfase) em dar glória a Deus resulta do fato de Deus os abandonar. Deus faz com que os pecadores se endureçam em seus próprios pecados como um ato de juízo divino. Em suma, tais pessoas estão perdidas para sempre.8

2. O flagelo sobre a Besta e o seu Reino (16.10-11)

A quinta taça (vs.10-11)

Conforme vimos, os três primeiros flagelos atingiram a terra, o mar, os rios e o sol, cujo propósito era ferir e atormentar os adoradores da besta. Não obstante, este quinto flagelo é direcionado a besta e ao seu reino, ou seja, ao império de Satanás. Assim como o Egito ficou em densas trevas como resultado da nona praga (Êx 10.21-23a), o trono de Satanás, juntamente com os seus adeptos que compõe o seu reino, também será tomado de frondosas trevas.

A nona praga que fez com que os egípcios ficassem na escuridão por três dias “consistiu numa mudança física da natureza, mas o derramamento desta quinta taça provoca escuridão espiritual para todos os seguidores de Satanás. Essa escuridão espiritual começou no passado, continua no presente e é mundialmente abrangente”.William Hendriksen corrobora que o trono da besta é o centro do governo anticristão (veja Na 3.1; Hc 3.12-14). Quando a Assíria cai, ou a Babilônia, ou Roma, a totalidade do universo dos impenitentes parece entrar em colapso (17.9). Os iníquos perdem toda a coragem. Desesperam-se. Mordem a língua de tanta dor, não só por causa dos flagelos, mas, também, por causa das feridas que foram acometidos quando a primeira taça foi derramada.10

Michael Wilcock escreve:

O trono da besta é, de alguma forma, o maior golpe de Satanás. Ele invadiu toda a estrutura da sociedade humana, levando-a para longe do propósito inicial de Deus, pervertendo-a para satisfazer seus próprios fins. O resultado é o "mundo", a organização da sociedade humana, alienada de Deus. Este "mundo" é cópia da sociedade de Deus, a igreja. É o reino da besta em oposição ao reino de Cristo. E é sobre isto — sobre esta imponente estrutura, fruto do triunfo laborioso do dragão, sobre este reino coroado com o trono, e com o trono ocupado pela besta — que a quinta taça é derramada; e daí é a confusão.11

Mesmo diante do sofrimento que se agrava no derramar de cada taça, os homens ainda não se arrependeram dos seus pecados expressos no final da sexta trombeta, que são o culto aos ídolos, assassinato, feitiçaria, imoralidade sexual e roubo (9.20-21). Eles continuaram neste estilo de vida pecaminoso! E mesmo sofrendo dolorosamente com feridas lancinantes, como efeito da primeira taça derramada, os homens continuaram a blasfemar contra Deus por causa de todo o mal que os estava assolando. Certamente o tempo do arrependimento se foi para eles!

3. A terra é destruída (16.12-16)

A sexta taça (vs.12-16)    

À medida que as taças vão sendo derramadas e os flagelos vão sendo executados, percebemos que o fim está muito perto. Esta taça é o último flagelo a ser executado antes do fim. No texto a lume, podemos observar que o sexto anjo derrama a sua taça sobre o rio Eufrates, que faz com que as águas sequem, a fim de abrir caminho para os reis que vêm do Oriente. Em seguida, João vê três espíritos imundos semelhantes a rãs saírem da boca do dragão, da besta e do falso profeta. Esses espíritos, diz o apóstolo, são os espíritos malignos que operam milagres e que vão incitar os governantes do mundo inteiro a se reunirem para o Armagedom, a grande batalha no dia final contra Cristo e a igreja.

No versículo 15, temos um interlúdio repentino que antecede o Armagedom e o retorno de Cristo. Diante disso, o Senhor admoesta os crentes a permanecerem vigilantes na fé (Mt 24.42; 25.13; Mc 13.33), e se conservarem vestidos com a palavra de Deus, a fim de resistirem e vencerem as tentações, o pecado, os ataques de Satanás e triunfarem sobre a mediocridade espiritual caracterizada pela nudez.  

Os três espíritos imundos que saem da boca de Satanás, do anticristo e do falso profeta que operam milagres não deve se entendido literalmente.Antes, os três espíritos “representam idéias, planos, projetos e métodos satânicos introduzidos dentro da esfera do pensamento e ação”.12 Esses espíritos operam sinais extraordinários através do anticristo e do falso, cujo intuito é enganar as pessoas do mundo inteiro e, em adição, os governantes, a fim de reuni-los para o Armagedom. “Essa batalha das nações contra Cristo e sua igreja é de inspiração satânica”.13   

13.13 - E realizava grandes sinais, chegando a fazer descer fogo do céu à terra, à vista dos homens. (NVI)

Mateus 24.24 - Porque surgirão falsos cristos e falsos profetas, e farão tão grandes sinais e prodígios que, se possível fora, enganariam até os escolhidos. (NVI)

Existem várias interpretações sugeridas pelos estudiosos acerca do termo Armagedom. Contudo, a melhor interpretação seria não entendê-lo literalmente como um lugar específico onde haverá a batalha final, porém, como um símbolo que representa o livramento de Deus para o seu povo em meio às veementes batalhas contra os seus inimigos. Simon Kistemaker considera o termo Armagedom como um símbolo por meio do qual Deus livra seu povo do mal e demonstra que ele tem poder e a força para subverter seus inimigos.14 Hernandes Dias Lopes acentua que o Armagedom é um lugar de muitas batalhas decisivas em Israel. Armagedom é um símbolo, mais do que um lugar. Fala da batalha final, da vitória final, quando Cristo virá em glória e triunfará sobre todos os seus inimigos.15

William Hendriksen sintetiza, complementando: 

O Armagedom é o símbolo de toda batalha na qual, quando a necessidade é grande e os crentes são oprimidos, o Senhor, de repente, manifesta o seu poder a favor de seu povo angustiado e vence o inimigo.

Mas a verdadeira, grande e final batalha do Armagedom coincide com aquele período quando Satanás será solto, quando o mundo, sob a sua direção, do governo anticristão e da religião anticristã, o dragão, a besta e o falso profeta se congregam contra igreja para a batalha final, e a necessidade é maior; quando os filhos de Deus oprimidos de todos os lados clamam por socorro, então Cristo aparecerá de repente e dramaticamente para livrar o seu povo. Aquela tribulação final, aquela aparição de Cristo em nuvens de glória para livrar o seu povo é o Armagedom!16    

Sendo assim, a sexta taça e os seus flagelos descrevem o Armagedom e a segunda vinda de Cristo. Fatos que acontecem simultaneamente. “Quando Satanás percebe que a sua derrota é inevitável, ele incita as nações e os seus exércitos contra Deus. Nessa batalha final Jesus esmaga todos os inimigos debaixo dos seus pés. É o fim”.17   

 4. A terra é "extinta" (16.17-21)

A sétima taça (vs.17.21)

Com a sexta taça derramada, a terra foi destruída, agora, com o derramamento da sétima taça, a terra é "extinta". Essa taça afeta o ar, que provavelmente é restringido da terra, culminando na morte de todos os seres vivos. Depois disso, houve, então, relâmpagos, vozes, trovões e um forte terremoto. (NVI)

Esses sinais enfatizam a presença de Deus acompanhada do seu juízo. Podemos ver Deus também manifestar o seu juízo com um terremoto na abertura do sexto selo (6.12). No entanto, o terremoto aqui sobrepuja em poder todos os outros terremotos já ocorridos na história, pois destruiu completamente a grande cidade da Babilônia, partindo-a em três partes (17.18; 18.10, 18-19, 21). O império maligno de Satanás é totalmente destruído. Em seguida, é descrito mais uma expressão de juízo. É mencionado aqui, assim como em (6.14), na abertura do sexto selo, que todas as ilhas fugiram, e as montanhas desapareceram. (NVI) Essa passagem denota a terra sendo restaurada e transformada por Deus quando Ele se assenta no grande trono branco para o dia do julgamento (20.11).

Por fim, caíram sobre os homens, vindas do céu, enormes pedras de granizo, de cerca de trinta e cinco quilos cada. Assim como a chuva de granizo, a sétima praga no Egito atingiu e destruiu os homens, os animais e as plantações. “A chuva de granizo que matou os amonitas durante a conquista de Israel pela terra (Js 10.11), e a chuva de granizo, mencionada pelos profetas, é descrito como uma força destrutiva (Is 32.19; Ez 13.11, 13; 38.22)”.18 A chuva de granizo desencadeada pela sétima taça é ímpar em seu efeito. Essa chuva sobrepuja em poder às outras chuvas de granizo que ocorreram na história. Mesmo assim, os homens ainda blasfemaram contra Deus por causa deste terrível flagelo. 


CONCLUSÃO

Os Israelitas não foram poupados e passaram pelas dez pragas que devastaram o Egito. Porém, Deus livrou o seu povo do juízo. Deus livrou os Israelitas da chuva de granizo, que foi a sétima praga (Êx 9.26). Deus livrou os Israelitas do enxame das moscas, que foi a quarta praga (Êx 8.22-23).  Deus livrou os animais dos Israelitas da morte, que foi a quinta praga (Êx 9.4). Deus livrou os Israelitas das trevas, a nona praga. (Ex 10.22-23). Deus livrou os Israelitas da dor da morte do filho primogênito, que foi a décima praga (Êx 11.7). 

Semelhante aos Israelitas, a igreja passará pela grande tribulação assim como passará pelas sete taças da ira de Deus. Isso é uma verdade incontestável! Entretanto, os crentes serão protegidos do efeito assolador das sete taças. A igreja passará pelas sete taças, mas não sofrerá o juízo das sete taças. Os ímpios é quem serão terrivelmente flagelados por Deus.



NOTAS:

1. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 303.
2. Michael Wilcock. A mensagem de Apocalipse, pág 61.
3. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 555.
4. Ibid.
5. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 306.
6. Michael Wilcock. A mensagem de Apocalipse, pág 62.
7. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 560.
8. Ibid, pág 561.
9. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 562.
10. William Hendriksen. Mais que Vencedores, pág 122.
11. Michael Wilcock. A mensagem de Apocalipse, pág 62.
12. William Hendriksen. Mais que Vencedores, pág 123.
13. Ibid.
14. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 571.
15. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 308.
16. William Hendriksen. Mais que Vencedores, pág 123.
17. Hernandes Dias Lopes. Apocalipse, pág 308.
18. Simon Kistemaker. Apocalipse, pág 575.



Autor: Leonardo Dâmaso
Divulgação: Reformados 21