1. Dois argumentos baseados na
natureza do novo concerto
Argumento 1 - Em Mateus 26:28
o Senhor Jesus Cristo fala de o meu sangue, o sangue do Novo
Testamento. Este novo "testamento" ou "concerto" é
um novo acordo, ou contrato, que Deus fez para salvar os homens. O sangue de Cristo
derramado em Sua morte, é o preço desse acordo, e diz respeito somente àqueles
a quem o acordo se aplica.
Este novo acordo, ou aliança,
é diferente do velho acordo que Deus fez com os homens. Pelo velho acordo (ou
concerto) Deus prometeu salvar todos os que guardassem as Suas leis: o
homem que fizer estas coisas viverá por elas. (Romanos 10:5; Levítico
18:5). Mas, em razão dos homens serem pecadores, eles não podem guardar as leis
de Deus. Portanto, o velho acordo ficou sem efeito.
No novo acordo, Deus promete colocar Suas leis em nossas mentes e escrevê-las em nossos corações (Hebreus 8:10). É claro, então, que esse acordo diz respeito somente àqueles em cujos corações e mentes Deus realmente faz isso. Desde que Deus, obviamente, não faz isso para todos os homens, todos os homens não podem estar incluídos no acordo pelo qual Cristo morreu.
Alguns têm sugerido que Deus
iria escrever Sua lei em nossas mentes se apenas crêssemos. Mas, fé é a mesma
coisa que ter a lei de Deus escrita em nossos corações!
Então, falar como alguns, significa
dizer: "se a lei está em nossos corações (isto é, como ela é, em todos os
crentes), Deus promete que Ele irá escrever Sua lei em nossos corações" -
o que é uma tolice! A natureza do novo concerto deixa claro que a morte de
Cristo não foi por todos os homens.
Argumento 2 - O evangelho, em
outras palavras, as novas sobre o novo concerto, tem estado no mundo desde os
tempos de Cristo. Contudo, nações inteiras têm vivido sem qualquer conhecimento
dele. Se o objetivo da morte de Cristo era salvar todos os homens, sob a
condição de que eles cressem, então o evangelho devia ter sido anunciado a
todos os homens.
Se Deus não providenciou para
que todos os homens ouvissem o evangelho, então, ou deveria ser possível que
todos os homens fossem salvos sem fé e sem conhecimento do evangelho, ou o
propósito de salvar todos os homens falhou, uma vez que nem todos os homens
ouviram o evangelho. A primeira afirmativa não pode ser verdadeira, pois a fé é
uma parte da salvação (ver a parte dois, capítulo cinco). A última afirmativa
também não pode ser verdadeira; seria próprio da sabedoria de Deus enviar
Cristo para morrer a fim de que todos os homens fossem salvos, sem, contudo,
certificar-Se de que todos os homens ouvissem o evangelho? Seria a benignidade
de Deus demonstrada através de tal comportamento?
Isso seria como se um médico
dissesse que tem um remédio que curaria a doença de todos. E, no entanto,
escondesse, deliberadamente, tal conhecimento de muitas pessoas. Poderíamos
realmente argumentar, nesse caso, que o médico pretendia, genuinamente, curar a
doença de todos?
Há muitos versículos bíblicos
que deixam claro que milhões jamais ouviram uma palavra sobre Cristo. E não
podemos apresentar outra razão para isso, senão a razão que o próprio Jesus
deu: Sim, ó Pai, porque assim te aprouve. (Mateus 11:26). Tais
versículos como Salmo 147:19-20; Atos 14:16; Atos 16:6-7; confirmam os fatos
de nossa experiência comum de que o Senhor não tomou qualquer providência para
assegurar que todos ouvissem o evangelho. Precisamos concluir que não é
propósito de Deus salvar todos os homens.
2. Três argumentos baseados
nas descrições bíblicas da salvação
Argumento 3 - As Escrituras
descrevem o que Jesus Cristo obteve com Sua morte como "redenção
eterna" (isto é, nossa libertação do pecado, da morte e do inferno para
sempre). Ora, se esta bênção foi comprada para todos os homens, então todos os
homens têm esta redenção eterna automaticamente; ou ela está à disposição de
todos os homens na dependência do cumprimento de certas condições.
De acordo com nossa
experiência, não é verdade, de maneira alguma, que todos os homens têm redenção
eterna. Portanto, seria a redenção eterna disponível sob certas condições?
Pergunto, Cristo satisfez
essas condições por nós, ou apenas nos tornamos merecedores do cumprimento
dessas condições se outras condições forem cumpridas por nós? A primeira dessas
afirmativas, que Cristo realmente cumpriu todas as condições necessárias
quanto ao dom da redenção eterna, significa que todos os homens têm realmente
essa redenção; o que, como já temos visto, não concorda com nossa experiência a
respeito dos homens! Temos que dizer, portanto, que se Cristo não cumpriu as
condições para que todos os homens obtivessem a redenção, Ele deveria ter
cumprido essas condições apenas por aqueles que cumpririam outras condições.
Estamos agora andando em círculos, fazendo com que aquelas condições que foram
cumpridas dependam de que outras condições sejam cumpridas! Estes argumentos
demonstram quão irracional é supor que Cristo morreu a fim de obter a salvação
eterna para todos os homens.
Se insiste ainda que a
redenção eterna é obtida sob o cumprimento de certas condições, então, todos os
homens deveriam ser notificados. Mas, esse conhecimento lhes tem sido sonegado,
como vimos na Terceira Parte, capítulo um.
Além disso, se a obtenção da
redenção eterna depende do homem cumprir condições, então ou eles têm ou não
têm o poder para fazer isso. Se são capazes por si mesmos de cumprir as
condições necessárias, então temos que dizer que todos os homens podem, por si
mesmos, crer no evangelho. Mas isto é bastante contrário às Escrituras, as
quais mostram que os homens estão mortos em pecado e, portanto, não podem
cumprir quaisquer condições.
Se concordamos que os homens
não podem, por si mesmos, cumprir as condições para a obtenção da salvação
eterna, então, ou Deus intenta dar-lhes esta habilidade, ou não. Se Ele
realmente intenta isto, então, por que não o faz? Assim, todos os homens seriam
salvos.
Se, entretanto, Deus não
pretende dar a todos os homens a capacidade de crer, e, contudo, Cristo morreu
para que todos os homens tenham a salvação eterna, então, Deus está requerendo
dos homens que tenham habilidades as quais Ele recusa dar-lhes. Isto não seria
uma loucura? É como se Deus prometesse dar a um homem morto o poder de
vivificar-se a si mesmo, mas ao mesmo tempo não tenha a intenção de lhe dar o
poder prometido!
Argumento 4 - A Bíblia
descreve cuidadosamente aqueles pelos quais Cristo morreu. Lemos que toda a
raça humana pode ser dividida em dois grupos, e que Cristo morreu apenas por um
desses grupos.
Os versículos bíblicos que
mostram que Deus dividiu os homens em dois grupos são:
Mt 25:12 e 32 Jo 10:14,26; 17:9, 1Ts 5:9; Rm 9:11-23
Daí aprendemos que há aqueles
a quem Deus ama, e aqueles a quem Ele odeia; aqueles a quem Ele conhece, e
aqueles a quem Ele não conhece.
Outros versículos deixam claro
que Cristo morreu apenas por um destes dois grupos. É-nos dito que Ele morreu
por:
Seu povo - Mt 1:21
Suas ovelhas - Jo 10:11,14
Sua igreja - At 20:28
Seus eleitos - Rm 8:32-34
Seus filhos - Hb 2:13
Acaso não deveríamos concluir,
de tudo isso, que Cristo não morreu por aqueles que não são Seu povo, ou Suas
ovelhas, ou Sua Igreja? Ele não pode, portanto, ter morrido por todos os
homens.
Argumento 5 - Não devemos
descrever a salvação de nenhuma maneira diferente daquela que a Bíblia a
descreve. E a Bíblia não diz, em lugar algum, que Cristo morreu por todos
os homens, ou por cada homem em particular. Ela diz que Cristo deu Sua
vida "em resgate de todos"; entretanto, isso não pode provar que
signifique mais que "todas as Suas ovelhas" ou todos os Seus
eleitos. Se estudarmos cuidadosamente qualquer versículo que emprega a
palavra "todos" e o examinarmos em seu contexto, logo estaremos
convencidos de que, em lugar algum, as Escrituras dizem que Cristo morreu por
todos os homens, sem exceção de nenhum.
(Na Quarta Parte, capítulos
três e quatro, vamos considerar, detalhadamente, muitos versículos bíblicos nos
quais as palavras mundo e todos são usadas em conexão
com a morte de Cristo.)
3. Dois argumentos baseados na
natureza da obra de Cristo
Argumento 6 - Há muitos
versículos bíblicos que falam do Senhor Jesus Cristo tornando-Se responsável
por outros na Sua morte; por exemplo:
Ele morreu por nós - Rm 5:8
Foi feito maldição por nós -
Gl 3:13
Foi feito pecado por nós -
2Co 5:21
Tais expressões deixam claro
que qualidade de substituto de outro.
Ora, se Ele morreu em lugar de
outros, segue-se que todos aqueles cujo lugar Ele tomou devem estar agora
livres da ira e do julgamento de Deus. (Deus não pode punir justamente Cristo e
aqueles a quem Ele substituiu!) Contudo, está claro que nem todos os homens
estão livres da ira de Deus (ver João 3:36). Portanto, Cristo não pode ter sido
o substituto de todos os homens.
Se insiste ainda que Cristo
realmente morreu como um substituto de todos os homens, então devemos concluir
que Sua morte não foi um sacrifício bastante suficiente, pois nem todos os
homens são salvos do pecado e do julgamento!
De fato, se Cristo realmente
morreu em lugar de todos os homens, então, ou Ele Se ofereceu a Si mesmo como
um sacrifício por todos os pecados deles (neste caso, todos os homens são
salvos), ou foi um sacrifício por alguns dos pecados deles apenas (neste caso,
ninguém é salvo, pois alguns pecados permanecem). Nem uma nem outra dessas
declarações pode ser verdadeira, como nós já temos visto neste livro (Primeira
Parte, capítulo três). Deve ser evidente que não podemos dizer, de maneira
alguma, que Cristo morreu por todos os homens.
Argumento 7 - As Escrituras
descrevem a natureza da obra que Cristo realizou, como a obra de um mediador e
de um sacerdote:
Ele é Mediador de um novo
Testamento (Hebreus 9:15). Ele age como um mediador sendo o sacerdote
daqueles que Ele leva a Deus. Que Jesus Cristo não é o sacerdote de todos é
óbvio, tanto pela experiência como pelas Escrituras; nós já discutimos isso na
Segunda Parte, capítulo dois.
4. Três argumentos baseados na
natureza da santidade e da fé
Argumento 8 - Se a morte de
Cristo é o meio pelo qual aqueles por quem Ele morreu são purificados do pecado
e são santificados, então Ele deve ter morrido somente por aqueles que
realmente estão limpos de pecados e santificados. É óbvio que nem todos os
homens são santificados. Portanto, Cristo não morreu por todos os homens.
Talvez eu deva provar que a
morte de Cristo é, de fato, o meio para obter a purificação e a santidade. Vou
fazer isso de duas maneiras:
Primeira, o padrão de adoração
do Velho Testamento destinava-se a ensinar verdades a respeito da morte de
Cristo. O sangue dos sacrifícios do Velho Testamento fez com que aqueles por
quem era derramado se tornassem adoradores aceitáveis a Deus. Se foi assim,
quanto mais o sangue de Cristo deve realmente purificar do pecado aqueles por
quem Ele morreu? (Hebreus 9: 13-14).
Segunda, há versículos
bíblicos que declaram com clareza que a morte de Cristo faz realmente as coisas
que ela intencionava fazer; o corpo do pecado é destruído, para que não mais
sirvamos ao pecado (Romanos 6:6); temos redenção através do Seu sangue (Colossenses
1:14); Ele Se deu a Si mesmo para nos remir e nos purificar (Tito 2:14).
Estes versículos, e muitos outros, enfatizam que a santidade é o resultado
certo nas vidas daqueles por quem Cristo morreu. Visto que todos os homens não
são santos, Cristo não morreu por todos os homens.
Alguns sugerem, inutilmente, que a morte de Cristo não é a única causa dessa santidade. Dizem que ela
somente se torna verdadeira ou real quando o Espírito Santo a traz, ou quando é
recebida por fé. Mas a obra do Espírito Santo, e o dom da fé, são também o
resultado ou o fruto da morte de Cristo! Assim sendo, essa sugestão não altera
o fato que a verdadeira santidade é o resultado certo somente nas vidas
daqueles por quem Cristo morreu. O fato do juiz dar permissão ao carcereiro
para destrancar a porta da prisão, não é a causa do prisioneiro ser posto em
liberdade; a causa é que alguém pagou seus débitos por ele.
Argumento 9 - A fé é essencial
à salvação. Isso é claro nas Escrituras (Hebreus 11:6) e a maioria das pessoas aceita
o fato. Mas, como já temos visto, tudo que é necessário para a salvação foi
obtido para nós por Cristo.
Ora, se esta fé essencial é
obtida para todos os homens por Cristo, então é nossa com ou sem certas
condições. Se é sem condições, então todos os homens a têm. Mas isso é
contrário à experiência, e também às Escrituras (2 Tessalonicenses 3:2). Se a
fé é dada somente sob certas condições, então eu pergunto: sob que condições?
Alguns dizem que a fé é dada
sob a condição de que nós não resistamos à graça de Deus. Contudo, não resistir
significa, realmente, obedecer. Obedecer significa crer. Portanto, o que estes
amigos realmente estão dizendo é: a fé é concedida somente àqueles que
creem (isto é, àqueles que têm fé!). Isso é completamente absurdo.
Por outro lado, alguns
argumentam que a fé não é obtida para nós pela morte de Cristo. Então, seria a
fé um ato de nossa própria vontade? Mas isso é bastante contrário àquilo que
muitos versículos bíblicos ensinam, e ignora o fato de que os incrédulos estão
mortos em pecados, incapazes de realizar qualquer ato espiritual (1 Coríntios
2:14). Portanto, volto à posição de que a fé é obtida por Cristo.
A fé é uma parte essencial da
santidade. No Argumento 8, mostrei que a santidade é obtida para nós pela morte
de Cristo. Portanto, Ele também obteve a fé para nós. Negar isso é dizer que
Ele obteve apenas uma santidade parcial, isto é, uma fé deficiente. Ninguém
sugere isso seriamente. Mais ainda, Deus escolheu Seu povo, como nos é dito, a
fim de que ele fosse santo; Deus "nos elegeu ... para que fôssemos
santos" (Efésios 1:4). Repetindo, a fé é uma parte essencial da
santidade. Ao eleger Seu povo para ser santo, necessariamente Deus decidiu que
ele teria fé.
Era parte do pacto entre Deus,
o Pai, e Deus, o Filho, que todos aqueles por quem Cristo morreu tivessem as
bênçãos que o Pai tencionava dar-lhes. A fé é uma das bênçãos que o Pai dá
(Hebreus 8:10,11).
As Escrituras afirmam
claramente que a fé é obtida para nós por Jesus Cristo, que é o autor e
consumador da fé (Hebreus 12:2). Declarações como esta e as declarações
dos três parágrafos acima, que acabamos de ler, confirmam, todas elas, que a
morte de Cristo obtém fé para Seu povo. Visto que não são todos os homens que a
têm, Cristo não pode ter morri do por todos os homens.
Argumento 10 - O povo de
Israel era, de muitas maneiras, uma espécie de ilustração da Igreja de Deus do
Novo Testamento (1 Coríntios 10:11). Seus sacerdotes e sacrifícios eram
exemplos daquilo que Jesus viria fazer pela Igreja de Deus. Jerusalém, a cidade
deles, é usada como uma figura do céu do crente (Hebreus 12:22).
Um verdadeiro israelita é um
crente (João 1:47) e um verdadeiro crente é um israelita (Gálatas 3:29).
Portanto, eu argumento da seguinte maneira:
Se a nação dos judeus foi
escolhida por Deus, entre todas as nações do mundo, para ilustrar Suas relações
com a Igreja, segue-se, então, que a morte de Cristo foi somente pela Igreja e
não pelo. mundo todo. A maneira como Deus tratou o Seu povo escolhido no Velho
Testamento é uma ilustração de que a salvação obtida por Cristo não é para
todos os homens, mas é apenas para o Seu povo escolhido.
5. Um argumento baseado no
significado da palavra "redenção"
Argumento 11 - A maneira como
a Bíblia descreve uma doutrina deve nos ajudar a entender a doutrina. Uma
palavra bíblica que é usada para descrever a salvação obtida por Cristo é a
palavra redenção. Exemplo: ... temos a redenção pelo seu sangue (Colossenses 1:14). Essa palavra significa "libertar uma pessoa do cativeiro
através do pagamento de um preço". A pessoa não está redimida a não ser
que seja libertada. Por isso, a própria palavra nos ensina que Cristo não pode
ter obtido a redenção para aqueles que não estão livres. A redenção universal
(assim chamada) que finalmente deixa alguns ainda no cativeiro é uma
contradição de termos.
O sangue de Cristo é realmente
chamado de preço, e de resgate, em alguns versículos bíblicos (veja Mateus
20:28). Ora, o propósito de um resgate é obter a libertação daqueles pelos
quais o preço é pago. É inconcebível que um resgate seja pago e a pessoa ainda
continue prisioneira. Por conseguinte, como pode ser argumentado que Cristo
morreu por todos os homens, quando nem todos os homens são salvos? Somente os
que estão realmente livres do pecado podem ser aqueles por quem Cristo morreu.
"Redenção" não pode ser "universal", como
"romano" não pode ser "católico"! A redenção tem que ser
particular, visto que somente alguns são redimidos.
6. Um argumento baseado no
significado da palavra "reconciliação"
Argumento 12 - Uma outra
palavra que a Bíblia usa para descrever aquilo que Cristo obteve mediante Sua
morte, é a palavra reconciliação: "...inimigos... vos reconciliou."
(Colossenses 1:21). Reconciliação quer dizer restaurar as relações de amizade
entre duas partes que anteriormente eram inimigas. Na salvação, da qual a
Bíblia nos fala, Deus é reconciliado conosco e nós somos reconciliados com
Deus.
Estas duas coisas têm que ser
verdadeiras; a reconciliação de uma parte e da outra são dois atos separados,
mas ambos são necessários para tornar uma reconciliação completa. É uma tolice
sugerir que Deus, por intermédio da morte de Cristo, agora está reconciliado
com todos os homens, mas que somente alguns homens estão reconciliados com Ele.
Espero que ninguém sugira que Deus e todos os homens estão reconciliados desta
maneira. Isso seria uma reconciliação capenga! Não há verdadeira reconciliação
a menos que ambas as partes estejam reconciliadas uma com a outra.
O efeito da morte de Cristo
foi a reconciliação tanto de Deus com os homens como os homens com Deus;
fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho (Romanos 5:10)
e nosso Senhor Jesus Cristo, pelo qual agora alcançamos a
reconciliação. (Romanos 5:11). Ambas as reconciliações são, também,
mencionadas em 2 Coríntios 5:19-20 - Deus ... reconciliando
consigo, e vos reconcilieis com Deus.
Ora, como esta dupla
reconciliação pode ser "reconciliada" com a noção de que a morte de Cristo é para todos
os homens, eu não posso entender! Porque, se todos os homens são, pela morte de
Cristo, assim duplamente reconciliados, como pode acontecer que a ira de Deus
esteja sobre alguns? (João 3:36). Sem dúvida alguma, Cristo somente pode ter
morri do por aqueles que estão realmente reconciliados.
7. Um argumento baseado no
significado da palavra "satisfação"
Argumento 13 - E verdade que a
palavra satisfação não é usada na versão inglesa da Bíblia, com referência à
morte de Cristo. Mas, aquilo que a palavra significa, isto é, "um
pagamento total daquilo que é devido a um credor por um devedor" é um pensamento
frequentemente usado no Novo Testamento, quando se refere à morte de Cristo.
Em nosso caso, os homens são
devedores a Deus, pois falharam em obedecer aos Seus mandamentos. A satisfação
requerida para pagar nosso pecado é a morte - o salário do pecado é a morte (Romanos 6:23). As leis de Deus nos acusam, expressando a justiça e a verdade
de Deus. Perante elas estamos convictos de que somos seus transgressores,
merecendo, portanto, morrer. A salvação só é possível se Cristo pagar nosso
débito e, assim, satisfazer a justiça de Deus. Sua morte é chamada de uma
"oferta" (Efésios 5:2) e de "propiciação" (1 João 2:2). A
palavra oferta significa um sacrifício de expiação ou um sacrifício para fazer
reparação devido o pecado.
Propiciação significa uma
oferta para satisfazer a justiça ofendida. Dessa forma, podemos usar
corretamente a palavra satisfação para abranger todo o ensino bíblico quanto ao
significado da morte de Cristo.
Ora, se Cristo pela Sua morte
realmente fez uma satisfação por alguns, então Deus precisa agora estar
completamente satisfeito com eles. Deus não pode requerer licitamente um
segundo pagamento de qualquer espécie. Então, como pode ser que Cristo tenha
morrido por todos os homens e ainda muitos vivam e morram como pecadores sob a
condenação da lei de Deus? Reconciliem essas coisas aqueles que podem! Afirmo
que somente os que estão realmente livres do débito nesta vida podem ser
aqueles pelos quais Cristo pagou a satisfação.
8. Dois argumentos baseados no
valor da morte de Cristo
Argumento 14 - O Novo
Testamento fala, frequentemente, do valor da morte de Cristo, com a qual Ele
pôde comprar e obter certas coisas. Exemplo: é dito que a redenção eterna é
obtida "por seu próprio sangue" (Hebreus 9:12); é dito que a Igreja
de Deus foi resgatada "com seu próprio sangue." (Atos 20:28); e os
cristãos são chamados "povo adquirido" (1 Pedro 2:9).
Cristo por Sua morte, então,
comprou para todos aqueles por quem Ele morreu, todas aquelas coisas que a
Bíblia salienta como resultados de Sua morte. O valor da Sua morte comprou a
libertação do poder do pecado e da ira de Deus, da morte e do poder do diabo,
da maldição da lei e da culpa do pecado. O valor da Sua morte obteve a
reconciliação com Deus, paz e redenção eterna. Estas coisas são agora dons
gratuitos de Deus, porque Cristo as comprou. Se Cristo morreu por todos os
homens, por que então todos os homens não têm essas coisas? Será que o valor da
Sua morte não é suficiente?
Será que Deus é injusto por
não dar a todos aquilo que Cristo comprou? Tem que ser óbvio que Cristo não
pode ter morrido para adquirir essas coisas para todos os homens, e sim somente
para aqueles que realmente desfrutam delas.
Argumento 15 - Há frases que
são frequentemente empregadas para se fazer referência à morte de Cristo, tais
como: morrendo por nós; suportando nossos pecados; sendo nossa segurança. O
significado evidente de tais frases é que Cristo, em Sua morte, foi um
substituto de outros para que eles pudessem ser livres.
Se, em Sua morte, Cristo foi
um substituto de outros, como podem eles mesmos morrerem também, carregando
ainda seus próprios pecados? Assim sendo, Cristo não pode ter sido um
substituto a favor deles. Daí, fica claro que Ele não pode ter morrido por
todos os homens.
De fato, dizer que Cristo
morreu por todos os homens é a maneira mais rápida de provar que Ele não morreu
por ninguém. Porque se Ele morreu em lugar de todos, e, contudo, nem todos são
salvos, então Ele falhou em Seu propósito.
9. Um argumento geral baseado
em versículos específicos das Escrituras
Argumento 16 - Há um grande
número de versículos bíblicos que eu poderia usar para argumentar que Cristo
não morreu pelos pecados de todos os homens. Vou selecionar apenas nove, e, com
eles, encerrar nossos argumentos nesta parte.
1. Gênesis 3: 15. Este é o
primeiro versículo bíblico no qual Deus indica que há uma diferença entre o
povo de Deus e seus inimigos. "...sua semente" (da mulher) significa
Jesus Cristo e, portanto, também todos os crentes em Cristo. (Isto é claro a
partir do fato de que a profecia sobre a semente da mulher é cumprida em Cristo
e em Seu povo). "...tua semente" (da serpente) significa todos os
homens incrédulos do mundo (Vide João 8:44). Desde que Deus prometeu somente
inimizade entre a semente da serpente e a semente da mulher, é óbvio que
Cristo, a semente da mulher, não morreu pela semente da serpente!
2. Mateus 7:23. Cristo aqui
declara que há pessoas que Ele jamais conheceu. Contudo, em outro lugar (João
10:14 a 17) Ele diz que conhece todo o Seu povo. Será que Ele não conhece todos
aqueles por quem morreu? Se há alguns que Ele não conhece, então Ele não pode
ter morrido por eles.
3. Mateus 11:25-27. Conforme
estas palavras, é claro que há alguns dos quais Deus esconde o evangelho. Se é
a vontade do Pai que o evangelho não seja revelado a eles, Cristo não pode ter
morrido por eles. E nós devemos notar que Cristo, aqui, agradece ao Pai por
fazer esta diferença entre homens - uma diferença que somente alguns homens
ainda se recusam a acreditar!
4. João 10:11,15-16, 27-28.
Destes versículos fica bastante claro que:
1. Nem todos os homens são
ovelhas de Cristo.
2. A diferença entre os
homens um dia será óbvia.
3. As ovelhas de Cristo são
identificadas como "aquelas que ouvem a voz de Cristo"; outros não a
ouvem.
4. Alguns que ainda não são
identificados como ovelhas já estão escolhidos e se tornarão conhecidos
("outras ovelhas").
5. Cristo morreu, não por
todos, mas especificamente por Suas ovelhas.
6. Aqueles por quem Cristo
morreu são os que Lhe foram dados pelo Pai. Ele não pode, então, ter morrido
por aqueles que não Lhe foram dados.
5. Romanos 8:32-34. Destes
versículos entendemos com clareza que a morte de Cristo pertence somente ao povo
eleito de Deus e, também, que a intercessão de Cristo é somente em favor desse
mesmo povo.
6. Efésios 1: 7. A partir
deste versículo, podemos dizer que se o sangue de Cristo foi derramado por
todos, então todos devem ter esta redenção e este perdão. Mas, certamente, nem
todas as pessoas os possuem.
7. 2 Coríntios 5:21.
Portanto, em Sua morte Cristo foi feito pecado por todos aqueles que nEle foram
feitos justiça de Deus. Se Ele foi feito pecado por todos, então, por que todos
não são feitos justiça?
8. João 17:9. A intercessão de
Cristo não é por todos os homens, e, portanto, nem a Sua morte o foi. (Ver
Segunda Parte, capítulos quatro e cinco).
9. Efésios 5:25. Cristo ama a
Igreja e isto é um exemplo de como um homem deve amar a sua esposa. Mas se
Cristo amou outros tanto quanto a Sua Igreja, até ao ponto de morrer por eles,
então os homens podem certamente amar outras mulheres além de suas esposas!
Pensei que poderia acrescentar
outros argumentos - mas, considerando aquilo que já disse, estou certo de que o
que já foi argumentado é bastante para satisfazer os que se satisfarão com
argumentos; no entanto, aqueles que são obstinados não se satisfarão ainda que
eu inclua outros argumentos. Portanto, encerro meus argumentos aqui.
Autor: John Owen
Trecho extraído do livro Por quem Cristo morreu?, pág 49-70.
Editora PES